Vamos para a Tua Terra: Venezuela
6/4/23 - Episode Page - 1h 4m - PDF Transcript
Pra tua terra, pra tua terra, pra tua terra,
Vamo-os, pra tua terra, pra tua terra, pra tua terra,
Vamo-os, pra tua terra, pra tua terra.
Por lo caminos de arágua e alas quatro e la manhã.
Olá Immanuel.
Olá Hugo.
Como é que tu estás?
Sempre bem.
Pronto para embarcar?
Vamos a isso.
Pois é, hoje a nossa viagem é até a Venezuela, que é um país do Norte da América do Sul,
onde mora mais ou menos coisa, 30 milhões de pessoas, as fronteiras são as esquintes.
Por baixo fica o Brasil, depois de um lado a Bolívia e do outro lado a Guiana,
com quem disputa de resto um território até é bastante considerável.
Do outro lado do Mar das Caraíbas fica também Trinidade Tobago,
isto foi só para poder dizer Trinidade Tobago,
que é o meu nome de país preferido no mundo.
Nunca estive, mas conto não morressem lá ir.
Foi a terra ancestral de vários povos indígenas,
um local destaque para os Timótocoícas,
que nos deixaram algumas da sua arte e também da sua cultura.
Claro, os europeus chegam lá, já sabemos todos, no século XVI,
e muita desta população vai ser dizimada,
não tanto pela força das armas, nesta região particular,
mas de uma forma até mais insidiosa pelas doenças,
contra as quais não tinham defesas.
Depois de ser uma colônia espanhola, durante vários séculos,
a independência vai chegar no início do século XIX,
primeiro como parte da Grande Colômbia,
e depois, propriamente dita como independente,
de 1830 para a frente.
Os 100 anos que vão seguir a independência
vão ser mercados por ditaduras militares,
até que depois, por volta do 1960,
portanto, já no século XX, mais do meio do século XX,
a Venezuela vai ser uma das poucas democracias da América Latina,
vão ser anos de grande desenvolvimento,
em que se fez quase tudo o que faltava fazer.
A coisa vai descambar nos anos 80 e 90,
como a crise económica que vai levar o povo para a rua,
às vezes com consequências trágicas.
Tudo isto vai terminar com a Revolução Bolivariana,
que vai levar ao poder,
Hugo Chávez, uma figura muito polarizadora,
dentro e fora da Venezuela.
Agora, as desigualdades económicas vão ser aliviadas
pela primeira vez em décadas,
mas vai se repetir, a coisa não dura muito tempo.
Depois, desde as eleições presidenciais de 2013,
a Venezuela vive uma espécie de impasse político e social,
e apesar de ter as maiores reservas patrolífras do mundo,
e de ser o maior exportador mundial de petróleo,
a pobreza já extrema fez com que qualquer coisa,
como três milhões de pessoas, tenham, basicamente, fugido do país.
O país que parece mergulhar, devagar numa ditadura.
Já vamos falar disso tudo,
porque neste cenário muito animador,
que acabei de fazer este retrato da Venezuela,
vamos falar com os nossos convidados.
Neste cenário nasceu em Marinário,
nasceu em Caracas, que é a capital, em 1977,
mas é filha de português de Aveiro.
Vem para Lisboa em 2018,
onde, para além de música, faz também o doutoramento
em história na Universidade Autónoma de Lisboa,
e também Alejandro Reyes Lutocero,
que nasceu em Caracas em 1995,
é filho de Venezuela,
veio para Portugal em 2017
e faz doutoramento em musicologia histórica
na Universidade Nova de Lisboa,
o mestrado.
Vamos começar pela Andrea,
que se vai apresentar de uma maneira muito particular.
Vamos lá, isso, Andrea.
Obrigada, Andrea.
Obrigada, eu.
Andrea, Alejandro, vamos saber primeiro isso.
Vocês já se conheciam, são amigos?
Somos.
Temos uma boa amizade.
A gente é a Venezuela, é verdade.
Gostava muito.
Desde a Venezuela, sim.
Eu fui a professora do Alejandro.
Foi a primeira professora da faculdade.
Foi a primeira aula que eu tive na Faculdade na Venezuela,
o primeiro semestre, a primeira aula a sete de manhã,
foi com a professora de Venezuela,
e o primeiro semestre, a primeira aula a sete de manhã,
foi com a professora Andrea e Marinário.
Sim, sim.
Desde então cultivámos uma bonita amizade.
E foi a professora Andrea que te falou de Portugal?
Por acaso, a que estava de Portugal,
veio a ver em...
Não, não foi, não foi por aí.
Mas, pronto, o acaso, o destino
acabou por juntar-nos na verdade e foi em Portugal,
mais do que na Venezuela, não foi?
Foi uma coisa muito engraçada,
porque eu estava, no ano de 2017,
ainda estava de férias em Portugal
quando a Alejandro, que viu uma fotografia
minha no Facebook, em Lisboa,
ou alguma coisa assim,
e disse, professora,
a professora está aqui em Portugal,
eu estoguei em Portugal, e eu...
Em Portugal? O que é que tu fazes em Portugal?
Pronto, então, combinámos para nos encontrar.
Quando eu regressei no ano de 2018,
já para viver em Portugal, para morar cá,
pronto, começamos a
construir uma amizade
muito linda que tem durado até dia de hoje,
e pronto...
Esperamos que tudo...
E vai, vai durar, vai durar!
Foi além de 2023, com certeza.
Já sabias a Alejandro desta
irança portuguesa da professora?
Sabia, porque a professora André Imaginário,
além de, pronto, dar aulas
na faculdade, lá na Universidade Central
da Venezuela, também tinha
espetáculos musicais, ela é uma grande cantora,
e cantava umas cantoras de fado na Venezuela.
Portanto, já conheci a Herança
e a linhagem portuguesa
que a professora tinha.
Falamos de Caracas
de quando nasceu,
falamos do seu bairro, nasceu em Caracas.
Eu nasci...
Pronto, eu nasci longe
da casa, porque foi numa clínica
no outro município,
na outra municipalidade.
Nasceu no sentido figurado, então.
Eu cresci, passei a minha infância
entre duas partes
de Caracas. San Bernardino,
que é uma urbanização onde nós morávamos
quando eu era menina, até mais ou menos
aos 9 anos, e Los Chorros,
que era onde a minha mãe tinha
e o meu pai tinham uma escola,
os meus pais.
A diferença de outros portugueses
não incursionaram
no comercio propriamente, senão até o fim.
Mas no começo
eles incursionaram na educação,
eles tinham uma escola
vocacionada
especialmente para os filhos portugueses
na Venezuela. Portanto, eu também aprendi
português lá naquela escola,
nos meus primeiros anos de vida.
E então passávamos
muito tempo aí, muito tempo aí.
Então, eram aqueles
lugares muito particulares.
E a cidade daquela época,
daquela altura
já era uma cidade
muito cosmopolita, porque acho que
Caracas tem essa particularidade
com muita presença
de estrangeiros.
Naquela altura, particularmente
de estrangeiros europeus,
de latinos,
italianos, espanhões,
franceses,
que se calhar menos mastinha também,
e portugueses.
Uma comunidade gigantesca de
portugueses, uma comunidade muito, muito grande.
É uma comunidade enorme.
Em alguma época da história,
que é parte do que eu estou a investigar,
em alguma época daquela migração,
porque aquilo que começou
entre a Segunda Guerra Mundial
e o final da Segunda Guerra Mundial,
Venezuela estava a abrir-se.
Havia ouve um governo
democrático
breve, naquela altura, nos anos 40.
E começou a abrir-se
a migração
estrangeira, especialmente
europeia, porque precisavam
modernizar o país, precisavam
maundir a obra, que a população
era muito pequena.
Pronto, então, convidaram
os europeus e muitos deles
eram portugueses.
No primeiro momento,
eram mais italianos.
Eu tenho a percepção que os portugueses
vinham, sobretudo, das ilhas.
Da madeira, da madeira do Norte.
Mas do Norte também há uma
percentagem grande. Mas sempre
das ilhas é mais, ou seja, da madeira.
Da madeira em particular é mais.
Pronto, então, no começo vieram mais italianos,
mas os italianos, logo que veio a ditadura,
ficaram mal.
Porque um líder italiano falou
em nome
da ditadura.
Não, em nome da comunidade
italiana,
a favor da ditadura. Mas sem
pela sua conta, realmente.
E então, os italianos
não ficaram muito bem vistos
e começaram a retornar porque tiveram
muitos problemas. Mas ainda assim,
uma comunidade muito grande. Os portugueses
continuaram a chegar.
Chegaram naquela política, logo
fecharam aquela política nos anos a seguir.
Eles continuaram a chegar e continuaram a chegar.
Foi a única migração que continua
a chegar sistematicamente.
E a madeira foi a que mais,
porque os do continente
que foram muitos no começo
nos anos 80, especialmente
depois daquela menção que fizeste
que levou o povo pra rua
e que total, quando começou
aquela crise econômica e social
da maneira... Lá nos lembramos todos, morreram
centenas de pessoas em confrontos nas ruas
com a polícia. Pronto, naquela altura, no final
dos anos 80, ou no percurso
dos anos 80 até o final,
os continentais
tenderam a regraçar.
Na maior parte deles, regraçaram.
E aquelas coisas que estão mais pra nós.
Ou seja, quem vinha do Portugal Continental
voltou, os da madeira disseram,
mas por uma...
Os da madeira estavam muito bem instalados
na Venezuela, porque fizeram um grupo
muito grande, muito forte, economicamente
e eu imaginei...
No comércio, quase sempre de supermercados, penso...
No comércio, em todo o comércio
mas especialmente em supermercados
e padarias.
Só o 80%
dos comércios na Venezuela
são portuguesas, 80%.
E o 60%
das padarias
são portuguesas.
E o pão que se leva
para o tradicional português? Não, eu não
compreendo o que é que aconteceu no meio.
Eu não compreendo o que é que aconteceu no meio.
A única coisa que há
é a bola de Berlín, que tem outro nome.
Mas é a única coisa portuguesa.
Bomba.
Bomba.
E não é feita com doce de ovos
e é feita com...
Uma equipe, não é?
Isso é mais moderno, mas com crema...
Temos aqui duas gerações.
Mas não é diferente,
porque eu penso que os padreiros
propriamente eram venezuelanos.
E na Venezuela
havia, antes de chegar os portuguesas
do século XIX, uma tradição de pão francês
muito instalada, porque antigamente
no século XIX, eram os franceses
os que levavam as padarias.
As bolais rísseis, claro, claro.
Quando chegaram os portugueses, provavelmente
contaram com o Monde de Obre.
Tiveram-se a adaptar ao que as tuas comiam, não é?
Sim, e se adaptaram e também deveram ter
Monde de Obre a Venezuela,
ou a França, ou já com aquela escola.
Pronto, se adaptaram.
Ou seja, não vamos encontrar a brua de milho?
É uma coisa
de casa especiosa.
É uma coisa de casa especializada.
Alejandro,
de facto, é uma presença muito grande
os portugueses, ou a gente tem amigos portugueses
ou a gente vai à padria
mesmo uma presença muito grande.
É muito grande, eu tinha, por exemplo, na escola
eu tinha muitos colegas que eram conhecidos por serem
os filhos dos portugueses, ou mesmo os portos
como é uma forma
familiar, assim, os portos.
O porto é o filho de portos,
ou mesmo é o porque pode ter acontecido.
Por exemplo, eu tenho um bom amigo
agora, cujos pais são os dois da Madeira,
mas que conheceram-se na Venezuela.
Portanto, foram as famílias
em diferentes alturas para Venezuela.
Acabaram por se conhecer, mas eram da mesma ilha.
E ele nasceu lá, mas tem toda a mais presença.
Aqui foram os anos 40, estamos agora nas terceiras gerações
de... Sim, sim, sim, sim.
E também, como estava a dizer Andrea,
houve uma continuidade
na migração, portanto, os pais
chegaram já nos anos 60, 70.
Ele nasceu por volta dos anos 90,
somos da mesma geração
e, portanto, era lá está, da segunda geração
a luz do Venezuela.
Mas é engraçado, porque, no caso particular
dele, ele nunca aprendeu bem português
em casa, ele, por coisas da vida,
ele estudou arquitetura, foi fazer
um mestrado no Brasil
e acabou por aprender português do Brasil.
Será que engraçado? Sim, sim, sim.
Portanto, está toda esta história.
Mas sim, de facto, a comunidade,
a cultura portuguesa, está
presente na Venezuela, até na...
Quando eu cheguei aqui a Portugal,
uma coisa que me surpreende, ainda hoje,
é o sabor
da comida portuguesa
é muito próximo, não é bem o mesmo, naturalmente.
Do que é que se faz na Venezuela?
É familiar, é uma coisa que não me estranha,
por exemplo, como eu poderia dizer,
em outros países de Europa.
Para calhar a partir, completamente normal?
Não, por acaso, por acaso,
para calhar eu não, mas, por exemplo, o bife,
questão de um bife com um ovo
em cima ou a questão de acompanhamentos com arroz,
uma comida do cotidiano,
o sabor, talvez a preparação, seja fênis,
mas é a questão do sabor, o alho,
há qualquer coisa que me é familiar
ou me era já familiar, não foi tão complicado
de adaptar.
Você tinha os contatos também com o Fado,
como falávamos há pouco, de literatura
sobre a Magus, sei lá.
É um pouco irónico, e um pouco,
acho que a investigação que está a fazer,
Andrea, tem muito a ver
com essa questão, sobre como a cultura
que na Venezuela se aprendeu da Portugal
é uma cultura para, já está sempre a ideia,
mas o que lhes é do português padero,
do português comerciante.
O que se diz isso no Brasil também, de certa maneira?
E, infelizmente, não há
uma profundamente
sobre a cultura literatura portuguesa,
por exemplo, que uma literatura tão rica e tão variada,
não era assim muito conhecida.
Aliás, o Fado,
na verdade, eu tenho o contato com o Fado
através da Andrea, ou seja, eu sei o que o Fado
é, ou pensava que sabia
que o Fado era só através da Andrea.
Depois o fenômeno do Fado, pronto,
já está, não se conhece,
mas porque não existem muitos
desenvolvimentos nesse sentido na Venezuela.
São coisas relativamente separadas, Andrea,
ou seja, a comunidade portuguesa
e a comunidade venezuelã,
ou os venezuelanos são...
Eu acho que, nesta altura,
os portugueses estão muito mais
em... estão integrados.
E o que pode acontecer
é que, por exemplo, já na terceira geração
pode não ter tanto contato
com as raíces.
Eu penso que, normalmente...
Ou seja, passa a ser quase uma curiosidade.
Ah, tenho...
Exatamente, mas eu penso que isso é normal
em qualquer terceira geração
que já está a andar.
O conhecimento
que há na Venezuela
dos estrangeiros, em geral,
como qualquer parte do mundo,
tem um bocadinho de estereótipos, não é?
Mas é normal, aqui em Portugal,
também estereótipos sobre nós
ou sobre pessoas
de outros países também, sobre os espanhões,
sobre os italiários, etc.
E, por exemplo, o meu trabalho
tem sido precisamente de divulgar
estes outros aspectos na cultura
venezuelana sobre a cultura portuguesa
que não são tão conhecidos.
E, agora, há já...
Há um circuito dentro
da Venezuela que tem interesse
no fado, por exemplo.
Já nós fazemos...
Eu sinto-me muito honrada
de ser da primeira geração
que levou o fado
em eventos por bilhete,
porque anteriormente
era tudo dentro da comunidade.
Era uma coisa muito endogámica
por dizer de alguma forma.
Só os portugueses aqui, um verbo.
Podiam convidar alguém, mas sempre assim...
Ah, vem para o nosso evento total.
Mas não pensavam
que podia sair fora,
só que fosse uma figura internacional.
Claro, claro.
Mas não de produção própria.
Pronto, logo...
Eu pretendo
aquela primeira geração que decidiu
porque eu vou deixar isto
embaixo de quatro paredes
em casa. Vou sair com isto.
E, pronto, e tem começado assim.
Mas, dentro de qualquer...
Apesar disso, eu tenho que dizer
que a cultura venezuelana
tem-se tornado numa cultura muito aberta
para os estrangeiros.
Ou seja, lá ser estrangeiro
agora, neste momento histórico
da vida, não é visto como uma coisa negativa
e, pelo contrário,
os estrangeiros têm
recebido muito acolhimento
nos últimos 40 anos
ou nos últimos 50 anos.
Se calhar no começo não era bem assim.
Mas hoje
é tão assim que as pessoas pensam
que sempre foi assim. Então, dizem,
aqui na Venezuela nunca houve
coisas contra os estrangeiros. Não, houve.
Houve alguma vez no passado
quando o fenómeno foi novo.
Mas quando a mudornização
começou,
sempre aquelas coisas dos estrangeiros
vêm a tirar-nos o trabalho,
em todas as partes é igual.
Todas as partes dizem a mesma coisa.
Mas logo viram que não,
que produziram o trabalho, que criaram
lugares do trabalho, que fizeram,
e então, pronto,
eu acho que agora há uma coisa boa
dos venezuelanos para falar
outra vez da cultura venezuelana
aberta à influência estrangeira
e muito aberta a pessoas de todo tipo.
Antes da influência estrangeira,
qual é a cultura
venezuelana?
Vamos tentar perceber um bocadinho isso.
Claro que começa, obviamente, antes
da escada dos espanhóis ou dos europeus.
Qual é a base
cultural
venezuelana?
Não é uma pergunta fácil, não é?
Não, queres começar tu?
Posso tentar começar, porque
é fácil.
As culturas da Espanha América,
no geral, são muito complexas
por causa das diversas influências
que houve ao longo do processo de colonização
e depois do processo de independência.
E cada país,
segundo as influências
ou o nível de desenvolvimento
que a Espanha, neste caso,
deu às províncias, ou às espaços,
tiveram um diferente percurso.
No caso da Venezuela, de facto,
um país com algum desenvolvimento
a partir do século 18, finais do século 18.
Antes disso, era uma província.
Portanto, perante
o reino da Espanha, era
administrativamente secundária.
Ou seja, grandes instituições
não havia, como era o caso o Doméstico,
que era um virreinado.
Claro, os países acabam por ser erdeiros
da própria colonização.
Exatamente, mais desenvolvidas
com instituições administrativamente,
tiveram mais investimento.
Também isso note-se
ao longo da sua história.
No caso da Venezuela, como um petróleo,
não foi uma grande questão até o século 20.
De facto, o país era
uma província até o século 18,
em 1777.
É tornada capitania já.
Era um país
uma historiadora, ali,
Espina e Torreta, que fala um país de passagem.
Portanto, era um território de passagem.
Não havia grandes raíces.
Existia, naturalmente, uma cultura capital caracas.
Existiam grandes famílias, que eram os proprietários,
os mantuanos, que, de alguma forma,
desenvolveram
economicamente o país,
mas não era um país como era, por exemplo,
o verreinado, o território verreinado
que hoje em dia é a Colômbia,
ou no caso do novo México,
que hoje em dia é o México.
Portanto, é só no século 19
que, ironicamente,
paradoxalmente, a Venezuela
lidera as independências
de grande parte dos territórios
de antigos territórios espanheiros.
Portanto, a cultura venezuelana
é uma cultura muito complexa,
que se desenvolve realmente, e a partir do século 19,
como hoje em dia,
diríamos, a volta de fenómenos
muito específicos, por exemplo, a independência
do país é um fenómeno fundamental
para a nossa cultura, mas que é também
muito fortaleitória.
Não é o que começa a história.
O que ficou das esculturas indígenas originárias?
Tem ficado coisas.
É difícil de terminar, porque
o México também houve uma grande
mistura.
Há um antropólogo
já clássico,
Darcy Ribeiro,
que fala muito da questão
das diferenças entre os povos da América Latina.
Ele fala de três tipos de povo.
Os povos
testimunham,
que são povos como o México, como o Peru,
por exemplo, como o Coador,
que tem um grande componente indígena
que ainda nós podemos ver
no funcionamento.
E, maioritariamente, a população
é indígena.
Temos os povos transplantados,
que seriam, por exemplo, os Estados Unidos.
Ou seja, a ponto de se instalaram
predominantemente,
os grupos europeus, mas não se misturaram.
Ou
deram cabo daquelas populações
que aconteceu,
ou fizeram reservas
para que aquelas populações
não passassem desses territórios.
Isso aconteceu nos Estados Unidos,
por exemplo, mas não só,
aconteceu na Argentina
em ser do ponto de história.
E logo estão os povos novos,
Venezuela,
o Brasil e a Colômbia.
Que se criou, digamos,
da mistura dessas pessoas.
Exatamente, que são povos que começaram
a surgir desta mistura,
que era muito mais
muito mais intensa,
foi muito mais aberta
em termos um bocadinho mais oriçontais
e fizeram outro tipo de sociedade.
Para mim, por exemplo, quando eu conheci
o Rio de Janeiro, eu sinto que
não fui para lá de nenhum,
eu sinto que estou em Caracas. É igual.
Ou seja, eu sentia...
Claro que há diferenças que nós sabemos,
mas eu sentia que sociologicamente
era mais ou menos a mesma coisa.
Então, a nossa história...
O Brasil é um país com muitas
diferenças de igualdades sociais.
É igual que nós.
Mas era isso que eu queria chegar,
é mais ou menos a mesma.
Então, agora, claro,
há algumas diferenças adicionais
aquelas que eu conheci naquela altura
no Brasil. Mas pronto,
o que eu quero dizer com isto
é que eu tenho um problema
com o conceito das raízes.
Raízes temos
agora, o que não tínhamos seguramente
são aqueles investimentos
institucionais.
E aqueles investimentos institucionais
também no aparato educativo.
E, sim,
a educação é um espaço
onde se cria uma espécie
de cultura comum.
Então, se a educação não é forte,
isso é o que faz difícil
o sentido de pertencer.
O sentido de pertença.
E, pronto, isso faz difícil.
Mas, com tudo,
claro, Venezuela
emerge com uma ideia de identidade
nacional, mas eu acho que isso é
uma parte da Argentina, a partir do século XIX.
E o que é o século XIX?
O século dos nacionalismos.
Não só lá, o século dos nacionalismos
na Europa.
E os nacionalismos precisamente
começam, ou seja, a nossa
primeira, o primeiro passo
da independência foi a firma data
do... Não, não foi a firma data.
Foi aquela coisa do 19 de abril.
Mas que no começo foi
para apoiar ao rei da Espanha
em frente das invasões
na Poliónia.
Mas logo viram, mas agora
vamos fazer uma independência.
Pronto, e então logo no ano a seguir
fez a declaração da independência
e logo começou a guerra, começou tudo.
E então, a Venezuela forma
parte daquele discurso internacional
como todos os países
que a procura de uma identidade.
Então começa a invenção da identidade.
Quem é que somos?
Temos de definir isso, porque se é um estado leico,
desde nós podemos definir
só como uma população católica
e já.
Então começa aí esse processo
e nesse processo vieram
todas as ditaduras que te falaste.
Uma breve democracia nos anos 40
a de 3 anos que logo foi por outra
ditadura, até a lata que chegou à democracia
que estamos a perder.
Que marcas é que se deixa um país ter
vivido os seus primeiros 100 anos
de existência como uma ditadura?
Qual é, repeta a primeira parte
que não ouvi?
Você acha socialmente, politicamente
na própria cultura política?
Ter sido uma ditadura de tanta parte
da sua história?
Eu vou depor este caso, a Venezuela
não só que viveu muitas ditaduras
também viveu uma guerra civil
muito importante no século XIX
na segunda metade do século XIX.
Aquela guerra deixou
uma ferida enorme
na população
para começar a morreram muitos homens
e as mulheres
ficaram sozinhas.
Isso é uma parte
e logo nesse
percurso se criou
um grande medo
aos confrontos
sociais de tipo civil.
Então, na Venezuela
tem havido, no desenvolvimento do tempo
uma atitude
de desesperança histórica aprendida.
Eu estou terrível.
A democracia
que chegou
no ano 58
e que só fez-se
realmente democrática no ano 60
e tal quando aprovaram
a primeira constituição democrática.
A democracia
veio representar
uma primeira experiência
de conseguir
paz social
sem confrontos, sem mortos graves,
sem, ou sei, no graves,
não, morto toda é grave,
mas sem enormes quantidades
de mortos e tal.
Então, aquilo foi
a nossa esperança
e representou por 40 anos essa possibilidade.
Mas a atitude
de desesperança aprendida
com respeito ao confronto do cidadão
perante o poder
aí está. E as pessoas têm muito medo
da violência
se espalhar.
Porque há o trauma histórico
provavelmente já esquecido
mas inconscientemente assimilado
da guerra civil do século XIX
mas todos os traumas históricos
da guerra da guerrilhas que houve
nos anos da ditadura
e também nos primeiros anos da democracia
porque também não é que a paz fez-se
de um dia para o outro. Agora somos pacíficos, não?
Houve ainda
aquela percepção do cista de escamba
vai correr muito mal essa ideia.
Exatamente, exatamente.
Ou seja, eu medo sempre
a fúria popular
a os confrontos
a confraticidas.
Pronto, um bocadinho o temor disso.
No final dos anos 80
houve aquele episódio que chamamos
é o Caracasso
que ainda não percebo porque é porque aquilo
começou em Guarena.
Mas por ontem
mas Caracas foi a grande replicadora
do que aconteceu em Guarena realmente.
Vamos explicar um bocadinho, isto são protestos
sociais que levaram muitas pessoas para a rua
e a repressão policial foi enorme
e morreram de facto sus.
Não sei de um número certo, mas centenas de...
Sim, morreram centenas de pessoas
Exigiram o que?
Milhares condições de vida?
Estavam a fazer saqueiros.
Saques?
Portanto sim, a vandalizar...
Não havia, era uma situação exada
uma situação de confusão
porque certamente
as pessoas estavam a reagir
a uma pressão social
que havia por questões
de injustiça social
de má distribuição da riqueza
mas
não era um protesto
organizado
não era isso
então as pessoas saíram a rua
começaram a roubar todos os
a fazer um saco de todos os
comerços que havia
por acaso a comunidade portuguesa foi muito afetada
estamos a falar de 80%
já tirem as contas
e muita gente voltou nessa altura
Como é que isso é visto
na filosóela hoje em dia
esse movimento histórico
como uma barbarica que aconteceu
mas pessoas que se passaram para a rua queimar coisas
ou como uma reação
uma situação política e económica
é visto como uma reação
política e econômica
mas também há
visões encontradas
com respeito a esse acontecimento
as duas
pensam nisto como uma coisa política e econômica
mas não da mesma forma
por exemplo a posição do governo
é que
este movimento
foi um movimento do povo
para reivindicar a sua
luta tal
e o povo é bandeirado de um processo
outra parte da população
pensa
que o alvo
ou seja que causa uma certa alva que foi errada
pensa que isto foi uma coisa
que não é meritória
isso quer ser envolvido
no mérito de uma luta
mas como isto foi realmente algo
aparentemente espontâneo
e
sem direção
sem objetivo, não havia um objetivo
o objetivo não era de rocar o governo
o objetivo
não existia, foi
uma expressão
que saiu para a rua e então consideram que isto
é uma expressão da crise social
mas não um movimento popular propriamente
como é que aprendeste isto na escola
já que nasceu depois
desta
história
ou seja já estudaste na história isto
estava às 15 ou 20 anos depois de isto ter acontecido
por acaso não era
a história que eu aprendi na escola
chegava até a ditadura
de Marcos Pérez Jiménez
depois se falava em democracia
e depois dos anos 80 para a frente
eram sempre aquelas zonas incentes
que a gente ainda estava
vivendo de novos
lembro minha professora de história
tinha 15 anos quando o Caracas
aconteceu e ela própria não sabia muito bem como contar
porque era uma ferida ainda aberta
com uma questão lá está com muitas possíveis leituras
e que por esse motivo
não se discutia abertamente
quando se fala de história
da política na Venezuela
tem de sempre ter esse cuidado
de começar para perceber de que lado
o que opinião é que a pessoa tem
em tudo porque
a vida Venezuela não é
é muito dividida politicamente
e muitas coisas como nós chegamos
a polarização infelizmente
também chega às aulas e note-se
aliás porque também a questão educativa
por exemplo na minha geração
era muito comum
as famílias da classe média
os filhos irem em escolas privadas
embora existia um sistema
educativo e assiste um sistema educativo
a público não está
não um investimento real que garantisse
um mínimo e portanto
uma pessoa em uma escola privada muitas das vezes
uma escola católica portanto isso já
enquadra um pouco o contexto
ideológico que pode
poder ver aí mas não condiciona obviamente
e portanto as vezes também
se tentava por causa desta eu vivi
na verdade eu cresci
num país que foi aos poucos
chegando a um ponto de polarização tal
que por um lado
ou assumias uma postura a outra
ou por outro lado tentavas inhibir-te
nunca ir lá está em confrontos
dos necessários e a escola
às vezes tentava ser era muito
muito confuso no sentido das vezes
havia um espírito de polarização
e obviamente havia professores que eram contra
ou a favor isso era muito claro
pode ser muito claro mas
nas aulas tentava haver uma neutralidade
uma limpeza uma moderação
e tu lembras-te por exemplo
nos testes de história eu desejo dizer assim
deixa-me cá escrever o que eu acho que o professor
vai querer óbvio não por acaso não porque lá
havia essa tentativa neutralidade
limpeza aqui este é um espaço neutral
vamos tentar fazer isto neutral
aliás eu lamento muito como a história
às vezes foi dada na escola
porque não promovia um discurso crítico
e que era o que é necessário
e o que é mais necessário
especialmente para uma realidade tão confusa
como a Venezuela o que mais falta é um bocado
de moderação e de olhar para as coisas
de forma crítica na escola
o tipo a história que é fundamental
para perceber porque é que chegamos onde chegamos
era dada a estar como tentava
uma profilaxia de forma
que só soubesse os factos
e datas
e pronto era isso que aprendias
não um desenvolvimento, uma discussão
sobre como
tenho a dizer no que seria aqui
o 9 ou 10º ano
existia uma disciplina
chamada cátadeira bolivariana
cátadeira bolivariana era
isso já depois da revolução
não, não, não
você também fala muito do contexto ideológico
eu já estudei a cátadeira bolivariana
era uma coisa que formava
parte do 9º ano só
e era só para estudar
o pensamento de Simón Bolívar
para explicar quem está a ouvir
a revolução bolivariana
pode ter dois sentidos
podemos estar a falar das independências
em relação à espanha do inicio do século XIX
com Simón Bolívar e é também o nome
que depois é dada pela subida
os seus dados ao poder
sim, mas que realmente não está
fundada no pensamento do Bolívar
mas ele estava, sim, sim
sim, sim, sim, sim
mas explicamos aqui que há revolução bolivariana
e uma questão que tem a ver com a história
essa disciplina era sobre o Simón Bolívar
sobre o Simón Bolívar e o pensamento
mas que é interessante porque a cultura venezolana
e tentando voltar à pergunta do inicio
tentando perceber o que é a cultura venezolana
está muito marcada pela figura de Bolívar
o Bolívar é o pai da pátria
aliás com a revolução bolivariana
do Hugo Chávez na constituição
penso que é o no segundo artigo
o pai está fundado sobre o pensamento do Bolívar
há historiadores que dizem que é uma espécie de teocracia
não fundada no Deus mas numa figura histórica
chamada Simón Bolívar
portanto há um uso
um abuso da figura e do nome
Simón Bolívar porque estão ideológicas
mas que vai além de uma questão
atual, é histórica
desde a morte de Bolívar
há dias e horas a todos os presidentes
de alguma forma quiseram alinhar-se
ou se mostrarem como descendentes
ou continuadores
em todo o espectro
todos dizem que são continuadores do Bolívar
a oposição do governo
até aqueles que me digam
que eu sou descendente
do Bolívar da linha total
é incrível
é uma figura que é o pai da pátria
de muitos países
a grande questão
é essa visão paternalista
ainda existe e traz
muitos contras para assim dizer
que nos pensem
fazer esta sensação do pai
que é necessário
devia-se rejegar
devia-se pensar outra vez
devia-se repensar a visão do
do Bolívar porque
tem condicionado muitas vezes
a nossa capacidade ela está crítica
para a anterralia política
porque estamos sempre de alguma forma
e a cátara da Bolívariana como disse para mim um exemplo
estamos sempre
seguidos ou de tal forma mergulhados
nisso que perdemos um bocadinho horizonte
o horizonte crítico
isto merece um bocadinho de música
só para que saibam
a importância que tem Bolívar no pensamento
da cultura venezolana
só este patacinho
depois
uma boa prova
Como o século XIX precisava de uma identidade e precisava marcar a distância com a corona
espanhola, com a corona espanhola, a história, o estudo da nossa história se concentrou
no século XIX como era próprio e se ignorou o passado, porque além, como não havia
aquele investimento nas estruturas tal que houve em outros lugares, a educação na
vernozela se concentrou no século XIX, que o século das lutas e então é a visão
clássica da história, a história dos homens, a história dos homens militares, é Bolívar
e além está tudo centrado na figura da Bolívar, Bolívar é o que faz a independência,
José Antonio Sucre é o amigo de Bolívar, José Antonio Pais é o traidor de Bolívar,
é tudo a volta de Bolívar, Francisco Miranda é o precursor de Bolívar, então isso faz
Muita gente se chama da Simón, não, não, mas quem tem alguma coisa a ver com Bolívar
tem orgulho em sentir, ah, eu sou qualquer coisa da Bolívar.
Então, claro, o que é que acontece quando dizia um historiador venezuelano que quando
este tipo de perspectiva histórica acontece fixada nos indivíduos, além disso, homens
e militares, temos uma percepção messiánica da história, então…
E é assim que é possível essas ditaduras irem aparecendo…
Claro, exatamente, porque é sempre a ideia…
Este é que vai ser o pai da padre, como falávamos, África.
A esperança aprendida do poder do povo tem como contraparte a figuração de um
messias político que nos vai redimir, e foi assim que entramos neste momento histórico
também.
Foi assim que entramos neste momento histórico, e ainda não conseguimos sair, porque ainda
conseguimos pensar assim, estamos a espera de uma pessoa que tal…
De mão forte, que venha cá por ordem, e normalmente o militar, o Chávez por acaso
tentou, através do tentado militar, chegar ao poder, foi preso, depois foi libertado
e, portanto, corresponde a figura clássica, a figura bolivariana de um homem forte militar
que sabe como aquelas coisas têm de ser feitas, e virá cá a salvar a pátria.
Sim, para nós, a figura do indivíduo heroi é muito importante, e pronto, se pode ter
a ver também há outros messianismos no mundo, só que, se calhar, não são uma tendência
nacional, mas são uma das tendências.
Em Portugal existem o sebastianismo, por exemplo, porque estão também em espera…
Sim, e essas figuras, já tivemos também uma ditadura muito longa que deixou essa ideia
de um pai, a Pátria acho que é um bom exemplo, e que com a carga toda que tem pai e Pátria,
a risa é a mesma palavra, e isso é transversal a todas as idades, ou nota-se um desencantamento
com essa ideia das figuras, por exemplo, nas gerações mais novas.
Sim, agora há um desencantamento de tal ordem, de tal tamanho que também ninguém quer saber
nada de Bolívar, mas também não é assim, não é bem assim.
Claro, quando se diz que os políticos todos sempre falam em nome de Bolívar, eles não
reconhecem alguma coisa, Bolívar não foi sempre igual, Bolívar mudou no percurso da
sua vida.
Então, o que é que faz a diferença entre os políticos?
Qual é o momento da história de Bolívar que eles escolhem?
Porque o Bolívar antes…
As religiões são exatamente, é exatamente a história das religiões…
O Bolívar é nenhum tipo de religião civil…
Claro, quando se viu a um monte de x, disse, não sei o que, quando tinha o pau-vale y,
disse…
Então agora, agora as novas gerações não querem saber nada do cuidado do homem, porque…
É um efeito pendular, foi tanto, tanto, tanto, se carregou tanto nessa tecla, que agora
é o esgotamento desse, mas obviamente isso não é bom, é um efeito natural, porque
o pêndulo que chegou a um ponto vai com a mesma força para o outro extremo.
Ainda há alguém que tenha interesse político na Venezuela, afim, desta história toda.
As pessoas já estão completamente fartas de Bolívar.
Eu ia dizer a pecado, a polarização foi um fenómeno dos anos 2000.
Antes dos anos 2000 não havia uma polarização, não estou a dizer que não havia problemas
sociais que é outra coisa, estou a dizer que não havia a polarização.
Ou seja, o ódio entre quem, por exemplo, é pro Chávez e quem é pro Chávez armaduro…
Não havia, por exemplo, polarização entre esquerda e direita nos anos, até o final dos
anos 90.
Eu não existia.
Com nos anos 2000, começa a ver, ou seja, já no 98, a partir da campanha de Chávez,
começa a ver uma polarização, que é quando se começa a falar de uma polarização, porque
há uma crise social, evidente que não podemos negar, havia um problema grave na Venezuela.
E então começa aquela polarização, chegou a uns limites muito altos no ano 2015, quando
foi a eleição da Assembleia Nacional, que já não é, pronto?
Nunca foi efetivamente.
A situação política da Venezuela, uma pessoa perde um dia, porque não lê jornais
um dia e já não percebe-se nada.
Ah, já não percebe-se nada.
Nem nós, nem nós.
Não percebe-se nada.
Ah, é um horror.
É um horror.
É que ninguém percebe-se.
É uma confusa.
Deixe-me chamar um intérprete.
Um intérprete de complexas.
Ou um astrólogo, alguma coisa.
Nos últimos anos, nos últimos oito anos, já desde 2015, já não existe propriamente
uma polarização.
E o que quero dizer é que as pessoas já baixaram esse nível de confronto, estão a,
pode ser bom, pode ser mal, não sei, pode ser que esteja aí a ferver alguma espécie
de novo, nova perspectiva social.
As pessoas agora estão a tentar arranjar a sua vida, a ver como é que saem para frente.
As tuas cifras, por acaso, são tímidas.
Já são 6 milhões de venezuelanos fora do país por migração.
São 7.
7.
Imagina, ainda eu estava tímida.
São 7 milhões.
Pronto, são 7 milhões já fora do país.
Isso é um terço da população.
Isso é muita gente.
É muita gente.
É um país que naquela, quando tudo começou, tínhamos 30 milhões.
E a gente ira pé para o Brasil, a ver se é assim.
O Brasil e a Bolívia.
Para os Estados Unidos.
Para os Estados...
A pé.
A pé mesmo.
É incrível.
E pronto.
Sim.
E pronto, agora, agora já não existe como tal uma polarização, o qual não quer dizer...
Como se não existia polarização?
As pessoas aceitam a situação ou...
Não é que aceitam.
É a questão da desesperança aprendida.
E já, por exemplo, todos eles pensam que...
Pronto, que as coisas não estão bem, que isto é um problema, que cada vez é pior.
Mas pronto, o que é que fazem?
Tentar fazer o melhor possível para suas vidas.
Também tenho a dizer aqui, que eu lembro-me já muito bem, porque foi sobretudo na minha
adolescência, entre 2014 e 2000, a estado de 15 ou 16, houve duas grandes ondas de protestos
que foram, de alguma forma, lideradas por uma geração jovem, que será uma geração
5 anos mais velho do que eu, e que esgotou, especialmente, uma parte da população que
acabou por ir embora, entre essas pessoas.
Sou parte, sinto que sou parte dessa geração.
E que, por outro lado, as pessoas que ficaram com esse sentimento, essa atitude, essa esperança,
também se esgotaram a um esgotamento da discussão, do confronto político e uma necessidade
de continuar com o cotidiano.
A vida segue.
A vida tem de ser, além deste confronto, desta discussão, desta polização, desta violência,
porque, de facto, desde que o Chávez chegou a ter sua morte e continuando com o Maduro,
a violência discursiva do poder e também a resposta que recebia de outros lados era
muito, muito difícil.
Eu sinto que a minha concessão política de uma república está fundamentada numa violência
verbal muito forte.
Porque é o que eu via.
Uma pessoa ligava a televisão e aos poucos, e isso foi piorando naturalmente, mas os poucos
via como o discurso em pobrecias, ou seja, as ideias iam ficando cada vez mais pobres,
mais vazias de conteúdo para ser simplesmente ataques adóminas.
Portanto, era o outro, porque o outro não é o que o só.
É mesmo essa polarização no discurso, depois mesmo em grandes movimentações populares
que o Chávez conseguia, porque tinha um carisma muito grande, isso sem dúvida.
O seu discurso era agressivo.
E havia uma certa magia de ser o bad boy do mundo, né?
O tipo que dizia, chamava nomes, o Presidente da América.
Mas era um bad boy com um bolso muito forte, porque tinha um dinheiro, o dinheiro do patróleo
permitia-lhe ser o bad boy e ter dinheiro.
Era um rapaz mal comportado da turma que fica lá...
E que também depois paga a toda a gente.
Foi muito engraçado uma vez que ele estava a falar numa cimaira, acho que foi, e o rei...
Porque não te acalha, assim.
Foi muito engraçado, porque claro, ele falava muitíssimo.
Ele queria ser um líder internacional, não foi o único.
O Carlos Andrés Pérez também queria.
O Maximão Bolívaro foi, não é?
Sim, mas ele foi mesmo.
Ele foi mesmo.
Ele não dizia, ele fazia.
Mas estes eram o que mais diziam do que faziam.
Pronto, mas é interessante, dentro de tudo isto, há uma coisa que eu queria resgatar,
que é, apesar de que nós vivemos nos meios de comunicação na Venezuela,
o que tu vives com as pessoas do teu entorno e com a sociedade do teu entorno é convivialidade.
O povo venezuelano é muito dado convívio.
Ter um bom convívio com a vizinhança, ter um bom convívio com a família, com os amigos.
Isto é um valor muito importante.
Há uma história interessante que aparentemente aconteceu, mas eu não estou segura.
Mas pronto, vou contar, porque é representativa do que eu quero dizer.
Nunca deixem que a verdade se entrepõe entre vocês uma boa história.
Exatamente, exatamente.
Uma boa frase.
Vou aplicar esta.
Vou contar esta história.
Esta história é que um pescador recebeu na costa de Venezuela, por comanar,
aqueles lados de tal, recebe a visita de um empresário.
Este pescador era o que tinha, naquele povo voado pequeno,
o negócio de comercio do peixe.
Era muito sucedido.
Mas o que ele fazia?
Trabalhava de segunda às sextas e no sábado e domingo,
era com os amigos a jogar dominó e beber cerveja.
Chega este homem que vê, tem olho e diz,
olha, se eu posso ponho a trabalhar, estas pessoas para mim,
fazemos um comercio, etc.
Tem que fazer um investimento.
Se tu fazes um investimento comigo, trabalhas para mim,
aquele era o líder dos peixeiros, dos pescadores,
os pescadores, trabalhas para mim.
Trabalhamos juntos, fazemos uma sociedade,
fazemos um trabalho intenso, nada de dominóis,
descanso por agora, só por um tempo,
15 anos de trabalho e logo isto vai dar certo,
porque eu já tirei os números e no fim desses 15 anos de trabalho intenso,
vai ter finalmente a recompensa do teu trabalho,
vai poder viver com o dominói, com a beber, etc.
Então o homem fica a pensar assim e diz,
mas espera um momento, quanto tempo que dizeste o que tenho que fazer isso?
Pronto, são 15 anos, mais ou menos 10 a 15 anos, etc.
para que tu possas ter a vida que tu gostas de dominói e tal,
sem problema, e o homem respondeu, mas eu já faço isso.
Tenho ou não tenho razão?
O sentido do trabalho tem de ser compartido com a convivialidade,
a convivialidade é um valor, o espaço de nós falar.
É isso que tem aguentado a Venezuela pelas piores coisas,
seja econômica, seja social, seja política,
é esse espírito de ajuda.
É convívio, de ajuda, de tal, mesmo que os meios de comunicação
teimam em fazer uma representação negativa do venezuelano,
que acho que isso acontece em todas as partes do mundo,
sempre a pôr culpas sobre o povo que o povo não tem.
Os meios de comunicação venezuelanos, é isso que falo.
Claro, claro, está a falar dos venezuelanos.
O venezuelano pode aguentar toda esta situação,
porque há muito convívio.
Eu fui para lá agora em novembro e dezembro
e encontrei uns amigos professores universitários.
Quero dizer que fui para uma apresentação do último livro
de Rafael Cadenas, que ganhou o Prémio de Poesia Miguel de Cervantes,
na Espanha neste ano.
É um grande prémio internacional, grande, grande prémio.
E ele estava a apresentar o livro lá em Caracas.
Estavam os professores noços, a poeta Gabriela Kieser,
estava o doutor em Filosofia, Humberto Ortiz,
então eu chego a falar com eles e então eu pergunto,
Humberto, como está tudo?
São todos os professores universitários
que ganham, se calhar, 20 dólares por mês na faculdade.
Já eles estão retirados, já estão reformados
e agora estão a fazer as coisas que eles gostam.
E eu pergunto, como é que estão aqui a situação e tal?
E ele me disse esta coisa que eu vi na sua cara
e vi em todo o espaço, porque aquilo estava cheio de gente assim,
a ver o Rafael Cadenas falar e a ler a sua poesia.
E ele dizia, é o melhor momento da minha vida,
porque agora é que as pessoas estamos a entender
que temos de fazer aquilo que nos faz felizes.
E eu agora estou a fazer este espaço profissional.
Chegou aos seus anos de dominoida.
Chegaram aos seus anos de dominoida,
mas assim a fazer cultura, a fazer poesia,
a fazer teatro, a fazer tal, porque tudo isto
continua a acontecer mesmo que o país está ao contrário.
Então, isto é possível porque?
E, por exemplo, no fenómeno do teatro,
que é uma coisa coletiva por excelência,
é porque há convívio?
Porque há convivialidade.
Então, isto para a nossa cultura é muito importante.
Tu conheces um venezuelano agora
e ele já é o teu melhor amigo.
Ele tende de tocar de alguma forma.
Olha, eu fiquei um bocadinho avergonhada porque eu cheguei aqui,
eu estendi a mão e abanhei a toda a gente,
porque para mim é assim, nós temos que tocar as pessoas a alguma forma.
Não dá pronto.
Porque nós temos, precisamos, esse contato.
E assim, e na segunda vez que tu vais ao encontro de um venezuelano,
ele te dá um abraço, porque para ti, para ele,
já tu és um amigo.
Ah, eu fiz um amigo.
Eu fiz um amigo na Antena 3.
E assim, pronto, é mais ou menos isto também
para falar de coisas lindas,
porque eu penso que mesmo que está toda esta situação,
venezuela é um país que merece ser conhecido por aquilo bom que é
e tudo, tudo nesta vida passa.
E as pessoas aprendem,
mas realmente, eu tenho muitas saudades da venezuela,
como é óbvio, tenho muitas saudades,
porque realmente as pessoas encontram sempre um carinho muito perto
e uma solidariedade muito perto.
E vida social, muito intensa.
Ninguém fica em casa.
Todas as pessoas sempre têm um espaço de convívio,
adaptado a suas circunstâncias, mas têm mesmo na igreja,
na igreja também.
Não é só ir à missa.
As pessoas vão para a missa e logo vão beber o café
e logo vão, está, está, está, há mesmo convívio.
Isso é o que nos faz manter a razão.
E é para lá isso que vamos, porque Emmanuel vai-nos agora contar
exatamente tudo sobre como e o que fazer.
Vamos até as coisas lindas da venezuela.
A verdade, sejam...
A vontade para interromper, até porque vamos navegar
aqui um bocadinho também nas questões do Alejandro e da Andrea.
E começo, como sempre, pela viagem de Lisboa até Caracas, a capital.
A ida e volta fica por 811 euros,
com escala em Madrid e duração de 13 horas,
mais ou menos sensivelmente o voo.
Dá para ir ao corte inglês de...
Dá para ir ao corte inglês de Madrid.
Mais perto, sim.
Ou fazer compras no próprio aeroporto.
Com um resulti-free, né?
E passando aqui diretamente aos lugares impredíveis
do Alejandro e da Andrea, o Alejandro eligeu
as praias do Parque Nacional Morrocói.
Não sei se não esquece falar um bocadinho destas praias.
Bom, essas praias estão muito legais também à minha infância
e parte da minha adolescência, porque os meus pais...
A praia é um fenómeno venezuelano também.
Ir à praia, estar na praia, desfrutar à praia
e ficar com grandes queimaduras da praia.
Portanto, Morrocói é um parque nacional
que, de Caracas, estará a umas 5, 6 horas de distância de carro,
que tem uma série de ilhas pequenas,
ilhas que nós chamamos cariossos,
que são mesmo formações, uma espécie de pequena ilha
que está dentro de uma espécie de barreira de coral,
por assim dizer, bastante grande,
que faz com que as águas não só sejam muito calminhas,
como também muito cantinhas e muito transparentes e azuis.
E ver se peixinhas da espécie...
Bem, se peixinhas, é mesmo um paradisíaco,
é aquela fantasia paradisíaca de uma pessoa...
Ah, o trópico com as árvores, as palmeiras e tudo.
E era muito branquinho.
Era muito branquinho, é um calor muito forte,
mas também muita boa comida e muito bom convívio, como dizia a Andréia.
Portanto, lá está Morrocói para mim, é a minha infância,
as minhas primeiras camaduras, estar na piscina, até as tantas,
e pronto, já devia sair, porque está a quimar.
Andréia, demos a sugestão do Monte Ávila.
Dela Ávila.
A Lávila é a montanha que separa Caracas da costa de Lagoaira,
e é uma montanha que atravessa a cidade inteira,
ela é um grande muro de contenção do mar,
e de facto nós chamamos que Caracas é a sultana do Ávila,
porque ela está, assim, aos peixes daquela grande enorme montanha,
e aquela montanha separa da praia.
Não há um túnel?
Não, há um teleférico.
É um teleférico.
Não que chatíssimo, imagina.
É um teleférico.
É um teleférico.
Não tens de contornar, lamentavelmente,
tens de contornar.
Há uma parte que tem os túneis,
mas tens de contornar muito.
Mas o próprio Teleférico também é uma atração já ensina,
o Teleférico leva até a montagem.
Lá acima, o Ávila é parque nacional também,
está cheio de cascatas e pequenas quebradas,
tem caminhos também já feitos,
as pessoas fazem acampamentos lá acima.
Perdão-se também, mas depois aparecem.
Mais ou menos, são 2.000 metros.
2.200 metros, e o pico na aguata.
O ponto mais alto é o pico na aguata,
e pronto, tem o Teleférico,
e o Teleférico dá a um hotel,
que é o Hotel Humboldt,
que curou a um dos picos da montanha.
Humboldt como o tipo das plantas?
É exatamente, porque o Humboldt
conheceu o Ávila.
É claro, porque ele foi,
eu viveu na Venezuela
e ele fez os estudos botânicos lá.
O tipo das plantas?
Claro, claro.
Coitadinho.
É o tal tipo das plantas.
O tal tipo das plantas.
Tenho aqui sempre o tipo das plantas.
Um dos maiores botânicos.
É mesmo isso.
Esse é um programa bom,
o Monte Ávila, de fazer,
quando se está em Caracas,
poder passar lá o dia.
É exatamente.
É para passar um dia incrível,
até podes passar um fim de semana.
Tem vários lugares,
que são pontos de interesse,
como o Gallipan,
que é o povo que faz os cultivos
das flores que se vendem em Caracas.
Está pertinho do Teleférico,
tem também o Parque Lothineuado,
para aqueles que gostam de treinar,
um tramo mais curto,
que é Sabaz-Niebes,
eu não gosto,
porque eu não gosto de treinar.
A direita acha que é o que eu via todo?
Não, não, não.
Está a pensar que estava a extracar.
Só em termos de tempo,
de resto,
em termos de sustentos.
Claro, mas como é que eu falo muito?
Estás a ver.
Estás a ver.
Quero que vá com mais uma música.
Claro, sim, claro, sim.
E para falar em cascatas muito rapidamente,
é na Venezuela
que está a maior do mundo,
Santo Anreal.
A maior cascata do mundo está lá.
Vamos passar diretamente à comida.
Claro.
O Alejandro deu-nos como sugestão
se calhar o Prato Nacional da Venezuela,
o Pabellone Criolo.
Certo.
Que é arroz.
Arroz, aveijão preto,
carne desfiada.
Vem com também uma coisa chamada tarrada.
A tarrada é banana pão fatiada,
muito boa frite,
e às vezes tem um alvo frito em cima.
E a Andréia deu-nos dois claros.
O alvo frito será a interessa portuguesa?
Pode ser, acho.
Não sei.
E a Andréia deu-nos dois clássicos,
no Zé Lanos os tecanhos e as arepas.
Ah, sim.
As arepas são uma espécie de...
Tortilhas.
Tortilhas de milho.
Branco.
Branco, percozido.
É muito fácil de fazer já.
Agora, já,
em todos os supermercados continentes
e todos os outros.
Isso é uma massa que se faz na hora
e é recheia com qualquer coisa salgada.
Sim, por favor, salgada.
Não doce.
Queis, fiambre, carne desfiada,
frango desfiado.
Até fazem arepas de bacalhau,
na Venezuela já fazem arepas de bacalhau.
Tudo o que quiserem por lá dentro vai.
Então, é um pequeno almoço tradicional?
Ou um jantar.
Ou, claro, o segundo.
Mas o mais comum é que seja o pequeno almoço do país.
As pessoas fazem isso do pequeno almoço.
Quem quiser lhes boa,
o sítio que tem essa sugestão.
Sim, sim.
E no porto também, curiosamente,
na rua se defeita lá uma casa só de arepas.
E os tecanhos, ainda que numa versão muito adulterada,
como é característica dessas cadeias,
há uma cadeia de fast food que agora tem tecanhos.
Ah, sim, sim, exatamente.
E os tecanhos são queijo,
um pausinho de queijo,
embrulhado em farinha de milho e é frito.
E nós dizemos que é o rei das festas.
E, cuidadinho, do...
Deixe-me só tirar um tecanhozinho assim.
Um empregado de mesa que sai com aquilo.
Porque todas as pessoas vão...
Aquilo é bom quente.
Então, toda a gente vai onde está o empregado de mesa.
É o croquete de Venezuela.
São as festas do tecanho.
Exatamente, exatamente.
Bom, nós...
Há muitas outras sugestões de livros também e de filmes.
E, claro, a música está tudo na descrição do episódio,
para quem quiser apanhar nas plataformas.
Cada pessoa apanha.
Onde quiser.
Onde quiser.
A música está na playlist do Spotify.
Vamos para a tua terra.
E vamos acabar com a música,
como não podia deixar de ser.
Ah, sim?
Ah, eu tento não fazer.
André, tocar-nos o que pode ser.
Obrigado aos dois.
Obrigado, Alejandro. Obrigado, André.
Vamos para esse passeio tão importante e interessante pela Venezuela.
Obrigado.
Para.
Pela.
Tenha o pelo.
Para.
Tenha o bigote.
Chorreau.
Tenha a larva.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Para.
Pra Tua terra, pra Tua terra
Vamos pra Tua terra
Pra Tua terra, pra Tua terra
Vamos pra Tua terra
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Andrea Imaginario foi professora de Alejandro Reyes-Lucero na Universidade de Caracas. Agora, juntam-se em Lisboa para falar do seu país. E trazem música ao vivo. A viagem esta semana é à Venezuela.
A Venezuela num prato típico: tequeños e arepas, (no bar Kule, Lisboa); pabellón criollo
Num livro: El Dios de la Intemperie, Armando Rojas Guardia; Doña Bárbara, Rómulo Gallegos
Num filme: Historias pequeñas, Marziano Tinocco
Num lugar imperdível: O monte Ávila; As praias do Parque Nacional Morrocoy
Na música: Simón Díaz; Carota, Ñema y Taja); Inocente Carreño; Aldemaro Romero; Rincón Morales (tudo na playlist Vamos Para a Tua Terra no Spotify.