5/28/23 - Episode Page - 57m - PDF Transcript

pra tua terra, pra tua terra, pra tua terra

Vamos para a Tua Terra!

Para Tua Terra!

Para Tua Terra!

Vamos para Tua Terra!

Tua Terra!

Olá Emmanuel!

Olá Hugo!

Tudo bem?

Estás bom?

Estou ótimo!

Mais uma voltinha e mais uma viagem!

Vamos a isso!

É verdade!

Hoje vamos até o Senegal!

É um país na costa ocidental de África.

Fica abaixo da Mauritânia.

Eu gosto de resumir, geográficamente assim,

quando temos muito científicos abaixo.

Fica abaixo da Mauritânia,

acima da Guiné Conakry e da Guiné Bissau.

Ao lado do Mali e com um enclave dentro do seu território,

a Gambia, do lado do Oceano,

não fica muito longe de Cabo Verde.

É casa de 17 milhões de pessoas,

de vários grupos étnicos,

sobretudo os Olofos e os Fulas,

e quase toda a população.

É muçulmana.

Já foi casa de vários impérios,

é verdade, andaram por ali os Tais Olofos,

os Ganeses também,

até a chegada dos europeus no século XV.

Quando se diz geralmente,

a chegada dos europeus,

não vai correr particularmente bem o resto do tempo.

Já estamos habituados aqui neste programa.

É verdade, tal como o resto desta costa,

também este sítio Senegal,

onde os portugueses, os holandeses, os ingleses e os franceses

fizeram o seu comércio de escravos.

Os franceses vão ficar mais tempo com o seu poder colonial,

até o século XX, até que em 1960,

o Senegal e o Mali tornam-se independentes,

formando uma federação, que vai ser logo de sua vida,

cada um dos países, seguiu o seu caminho.

O caminho do Senegal é anotável,

e uma raridade nesta parte do mundo,

claro que houve uns celulos aqui e ali, alguns abusos de poder,

pessoas que talvez tenham ficado um bocadinho

tempo a mais no governo,

mas todas as mudanças políticas no Senegal foram pacíficas

e a democracia foi crescendo e ficando mais forte.

O Senegal não é um país rico em recursos naturais,

sua grande riqueza são as pessoas,

isso podia-se dizer todos os países,

mas no caso do Senegal é particularmente notório,

e esse é o papel que tem tido os vários governos.

O investimento maior no orçamento do Senegal

é na educação, isso é incrível,

é um dos grandes fatias do orçamento,

e tem tido a maior riqueza entre as nações,

que é a paz.

Hoje nós conhecemos o que?

A música, claro, conhecida no mundo inteiro,

a cor dos tecidos, e até aquele que já foi

o rally mais famoso do mundo,

para nos falar mais do Senegal,

a nossa convidada é Saida Tina,

Kadi Diato Seia, que pediu para tratarmos por Radi,

e que nasceu em 1974 em TS,

que é a terceira cidade do Senegal,

a uns 70 quilómetros da capital, que é, como sabemos, Dakar,

estudou comunicação, relações públicas,

educação de infância entre o Senegal e em Portugal,

onde vive desde 1999,

e é na Câmara Municipal de Braga,

que trabalha como diador intercultural,

a coordenar vários outros projetos.

Vamos à nossa clássica pergunta,

vou-te pedir que feche os olhos agora um bocadinho,

e os abra em TS em 1974,

e o que é que nós vimos, sabríssemos agora os olhos nessa altura?

Olá, muito boa tarde.

Em 1574, era outra coisa,

porque não tem nada a ver com o TS que o conheço.

Quando comecei a saber o que é que é o mundo,

o que é que são as pessoas.

Mas digamos que é uma região que fica a 70 quilómetros da Dakar,

não tem nada a ver com Dakar,

porque a Dakar é aquela tal capital cosmopolita

que o mundo inteiro conhece,

que essa fica sempre a sombra da Dakar,

mas também tem o seu encanto,

tem as pessoas,

tem aquele sossego que a Dakar não tem,

mas também falta ali o dinamismo que a Dakar tem,

e eu nasci, cresci em 10,

fiz lá os meus estudos desde o primário até 12º ano,

só depois de bacaloria, que é o 12º ano aqui,

que fui para a Universidade Dakar,

porque naquela altura...

Era impossível estudar fora da cara disso.

Exatamente, só havia, não por acaso,

quando eu entrei foi na altura em que abriu a segunda universidade da Dakar,

a segunda universidade do Senegal,

que fica em Saint-Louis, Gaston-Bergé,

porque em...

Saint-Louis é a segunda cidade, não?

Saint-Louis, não, infelizmente foi ultrapassada.

Hoje em dia eu posso dizer que é a segunda cidade,

em termos populacional, em termos de infraestruturas,

mas também em termos de economia, não tanto,

porque temos uma outra região no centro,

chamada de Urbel, e com o morridismo,

que é uma confreria religiosa,

muito dinâmica em termos econômicos,

e esses realmente estão ultrapassar um bocado de Ties,

não em termos populacional,

mas em termos de dinamismo econômico.

Dinamismo econômico.

Exatamente.

Se calhar até Ties,

acaba por ter uma qualidade de vida mais simpática

do que essa dinamismo todo de Dakar.

Sim, sim, sim, muito mais simpático.

Eu o que digo, porque eu, jovem,

depois de 12 anos,

pela primeira vez vou para Dakar,

está a ver aquela...

aquela descoberta.

Claro.

E aquilo não tinha nada a ver

com aquilo que eu conhecia,

porque nós em Ties,

posso dizer, os nossos bairros

são como umas pequenas aldeias.

Toda a gente conhece toda a gente.

Briga-se na rua.

Exatamente.

Briga-se na rua.

Não éramos muito pobres,

mas não éramos ricos,

mas também não éramos pobres.

Comíamos bem,

mas não tínhamos aquela abundância, né?

Agora em Dakar,

ali é que a pessoa sente o que é desespero,

porque às vezes a pessoa pode estar bem por fora,

mas por dentro há muita coisa a faltar.

E aquela solidariedade que se vê facilmente

nas aldeias, nos bairros,

não existia ainda Dakar,

porque sendo uma cidade cosmopolita,

muita gente ao mesmo tempo

era muito complicado,

que eram um por si e deus por todos.

Mas isso ainda, já nos anos 90,

se notava essa...

Eu digo, notava-se, porque eu

saí daqui a si,

para Dakar, naquela primeiro ano de transição,

porque lá no Senegal,

os nossos governos

investem muito na educação.

E eu...

Eu não sei se me diz há uma mentira,

de grandes fatias do orçamento...

Eu não sei se não,

eu sou fruto de sede,

e eu sou fruto destas boas políticas de educação,

porque a gente, como eu,

os pais não podem pagar os estudos

e por mérito,

porque lá toda a gente é necessitado,

mas por mérito, em função das médias,

é que se poderia adquirir as bolsas dos estudos.

E eu tive bolsas,

mas também, como todo o país africano,

está sempre um atraso.

Imagina chegar...

Os meses foram diferentes.

Imagina chegar em Dakar, em setembro,

para começar os estudos.

E a bolsa começaram em dezembro.

E as bolsas só apareceram no mês de abril.

E durante aquela mes...

Aquelas tempos todo,

era um bocado complicado.

Eu lembro uma vivia na casa de uma tia minha, realmente,

uma pessoa muito simpática,

com seus filhos e tudo,

acolheram-o muito bem,

mas nem tudo chegava.

Claro, ao fim de dois meses já estava a pensar,

que era muito complicado.

Era muito complicado.

E os meus pais também,

não podiam ajudar economicamente,

que não tinham para mais ajudar-me.

E então, o pouco que tinha,

onde vivia da casa da minha tia

para a universidade,

porque a minha tia vivia no Suburbi,

em Parcel, a Saní,

para a universidade de Xerranta yoke.

E na altura havia aquelas sistemas de carrapito,

que é aquelas transportes

muito típicos do Senegal,

porque hoje em dia já não existe.

Uma espécie de carrinhas de caixa aberta.

Mas ainda vai também.

Estamos mais desenvolvidos,

porque aquilo também era o que era.

Eu ia cair de vez em como bom.

Uma vez ou outra, eu ia cair de lá.

Hoje em dia está no museu.

E dentro de aquelas carrinhas,

do Suburbi,

para a universidade,

tinha mais ou menos 150 francosefa,

um equivalente

de 50 cento,

para pagar transporte.

Ou pagava o transporte,

ou na altura do almoço,

tinha que comer qualquer coisa,

na universidade, tinha que decidir.

E lembro-me sempre,

uma vez perguntaram-me num programa como esta,

e eu estava a falar sobre

a minha paixa,

ou no pé,

porque aquilo era uma iguaria,

chegar a mil dias até o dinheiro que chega,

para poder comer aquilo,

e também ter o suficiente

para poder regressar a casa.

Mas também,

mesmo quando não tinha dinheiro para regressar a casa,

Senegal tinha uma coisa muito engraçada,

que hoje em dia já não se vê,

por razões de segurança.

Pedimos boleias,

de um sítio para o outro até chegar para casa.

E não era só eu,

era eu e muitos outros estudantes.

Rapazes e raparigas,

e as pessoas colaboravam,

mas hoje em dia, com essas histórias

de aptos, essas coisas, todas,

as pessoas são mais desconfiadas.

Claro, isso deixa de ser mutável,

que nos anos 90,

um país que está a apostar

de tal maneira no ensino,

que mesmo pessoas mais necessitadas,

como tinha acabado de dizer,

que tinha que escolher, ou entrar a moçar,

ou apanhar o outro carro,

tinham acesso à universidade,

estavam a ajudar a universidade,

isso é uma revolução, não é?

Nós tínhamos acesso à universidade,

a um sistema de triagem,

realmente eu digo,

e não sou eu a dizê-lo,

sou os mais,

os mais capazes,

é que poderiam ter acesso à universidade.

Porque eu, no meu bairro,

na Aldaia, onde eu estudei

na Escola Primária,

lembro-me que

tínhamos aquelas abrigos provisórios.

Não tem nada a ver com os abrigos provisórios,

aqui em Portugal, quando a esposa caixa,

eu amou,

porque nos nossos abrigos provisórios

não havia banco suficiente.

A metade da turma ficava no chão

a brincar enquanto o outro metade

tinha para escrever, e trocávamos.

E, naquele universo de

quase 70 alunos

no primeiro ciclo,

só uma

percentagem mínima,

é que passava o primeiro

examo para ir ao ensino médio,

que é o sexto ano,

e eu lembro-me

que eles estudaram comigo,

não conheci nenhuma

que foi até a universidade.

Passavam mais rapazes do que raparigas.

Passavam mais rapazes.

Porque também, se calhar, as raparigas

tinham muitas outras, aquele clássico que nós sabemos,

muitas outras atividades

em casa de ajudar os pais.

Mas a atividade nos todos tem,

eu também tinha.

Para além dos estudos, chegava à casa,

tinha as minhas tarefas domésticas,

como ir buscar água no poço,

para a casa,

lavar a louça, ajudar a minha mãe.

E nos tempos

de férias grandes,

que coincidicam a época de chuva,

e a mostama é o campo.

Cultivar amendoim.

É, e eu já sei o processo todo

desde o início.

Até a colheta,

isso tudo também, já passei por isso.

Mas eram tempos felizes.

Eram as crianças, e isso fazia parte

da vida.

Uma pessoa que nasceu em Dakar,

não sabe do que eu estou a contar,

porque Dakar isso não existe,

mas enquece, nós tivemos

a oportunidade de viver essa experiência.

E quando chegou a Dakar, e a universidade,

é outro mundo completamente diferente.

Claro, estava em casa de uma tia,

portanto, mais ou menos em família,

mas e o mundo,

as pessoas que conhece na universidade,

vinha gente de todo o Senegal?

Pois é, vinha gente de todo o Senegal,

pessoas até com situações mais precares

do que eu, é por isso que...

Zonas mais rurais eventualmente?

Exatamente, eu no Senegal ainda guardo,

porque quando iniciamos todos,

entrei na Faculdade de Direito,

hoje em dia tenho amigos que estão

no mundo jurídico,

e quando nos lembramos, daquelas vezes

que eu vou para o Senegal, e a gente fala

daquelas épocas em que partilhávamos

Ban de Arle,

quer dizer, os bancos para

as pessoas desesperadas.

Mas não é

aquela desespero com

senso-urizo, não, é o contrário.

Porque nós encarávamos isso

como algo passageiro.

É uma situação normal.

Tínhamos sonhos,

ou seja, a situação

estava complicada, mas tínhamos sonhos.

E muitos desses

estudantes, que tinham situações

mais precares do que eu,

passávamos os dias

lá a tentar matar o tempo,

desespero das aulas a tarde,

para depois voltar a casa,

para o Ministério, uma revisão

digna à noite.

Mas tivesse um ambiente muito

democrático, porque calcule

que tivesse na mesma turma,

alguém que os pais

não tinham, por exemplo, tido acesso

à educação, que eram pessoas

com dificuldades económicas grandes,

eventualmente uma rural, e havia

de ter também ao seu lado,

filhos de políticos,

pessoas que tinham...

Era uma grande solidariedade.

Que não havia sequer, provavelmente a porta do carro

para...

Havia uma grande solidariedade também,

porque desses estudantes que tinham,

pelo menos, os pais poderiam pagar,

pelo menos, os livros de direitos,

que eram muito caros.

E eles sempre estavam sempre

para estudar, e eu lembro-me,

eu não podia pagar nenhum livro.

E no primeiro ano,

eram quase 1.500 alunos no primeiro ano,

20.50 que passaram no segundo ano.

Eu fiz parte das 60.50

pessoas, e

nunca tive dinheiro para comprar um único

livro, mas os amigos que emprestavam

ou os fascículos, essas

coisas ali, para facilitar o sistema.

E chumbavam às vezes,

os amigos dos livros.

Mas fazia muita diferença ter os livros,

fazia mesmo muita diferença, não é?

Fazia diferença. Hoje em dia, eu acho que

até as coisas estão muito melhor,

muito melhor. Enquanto que na minha

época só havia duas universidades, hoje em dia,

há cinco universidades públicas,

para além das escolas públicas,

privadas escolas públicas

que dependem do Estado e que se entram

por concurso. Ou seja,

a oferta está muito

maior. E, nesse sentido,

o Senegal realmente está muito

à frente de muitos pais africanos, porque

nós somos um dos raros

pais africanos a acolher

muitos estudantes

estrangeiros. É verdade?

O que será assim do segredo?

Ou seja, nós estamos... nasceu mais

ou menos 14 anos,

14, 15 anos depois da independência

do Senegal.

Portanto, assistiu praticamente

o nascimento do Senegal,

como ele é hoje em dia, não é?

Teve essa hipótese que nem toda a gente tem

de assistir a um país,

a dar os seus primeiros passos.

Mesmo quando estava na universidade nos

anos 90,

o país tinha 30 anos, mais ou menos.

Foi o segredo. Sentia que estava

na construção de qualquer coisa

que era maior

que as partes.

Eu sempre sentia que

através de educação é que nós podemos

erguer também. O meu pai

era o professor primário.

É o funcionário público. E o meu pai

sempre incentivou os nossos estudos.

Embora eu, na minha família,

as mais velhas,

as raparigas mais velhas nos estudaram

muito, porque naquela altura também

chegava-se ao sexto ano,

a partir de 12, 13 anos,

a paixa e a rapariga chumbavam,

continuavam os estudos.

E como sociedade, quericas, mulheres,

a vão casar.

O meu pai, sobretudo, sempre me incentivou

a estudar.

Que era ao contrário, dando mais importantes

para as mulheres de educação.

E quando ela se percebeu que eu tinha capacidade

para avançar também, até eu sentia

ao detrimento das minhas irmãs

que me dispensava

de algumas tarefas domésticas

para eu poder estudar.

Isso não dava chatiça em casa?

Dava, mas eu era já sempre uma maneira.

Então a cadinha vai para a mesa, porque...

Foi ali que ganhei um gosto de ir

a biblioteca e aquela lista.

Alfaravistas, trocar livros,

porque eu não parava dinheiro na mal.

Todo o dinheiro que tinha

era para trocar com aquelas livros lá,

naquelas...

Não sei como é que se chama aqui,

para a terra.

E elas tinham loja no chão.

Uma espécie assim, claro.

Exatamente. A pessoa chegava lá, dava 50 francos CFA,

e elas davam-te um novo livro,

mas tu tinhas de trazer um outro livro.

Exatamente.

E eu, assim, era a minha forma de estudar.

Assim, ganhei também

o gosto de ler,

de descobrir o mundo,

mas também de sonhar

com outra coisa, sincero, do Senegal.

Ali, comecei a descobrir que

realmente o meu mundo não era só

chess,

não era só Dakar,

havia muito mais,

porque estava a começar a despertar

sobre outras formas de vida,

mas também sobre a condição

da mulher.

E foi ali que comecei

o meu esquecionamento

para com os meus pais, sobre tudo,

a minha mãe, porque nós no Senegal

os homens têm direito a ter 4 mulheres.

Está a ver o que é?

E eu vivi numa família...

É, numa família polígama.

E sempre dizia

as minhas mães,

não, isso não tem que ser.

Nós também temos que ter voz

na matéria.

Não temos que aceitar isso.

Mas questionar essa parte cultural

de dentro, uma coisa é

de fora,

parece-nos óbvio

para um ocidental poder criticar

ou achar que

é tentatório da dignidade da condição

da mulher, mas visto de dentro

que podia ser problemático estar a questionar

essa questão.

Isso é por isso que eu digo a questão

de educação, porque nós quando educamos

uma pessoa, damos a essa pessoa

feramente para pensar por si próprio,

em vez de seguir

o pensamento geral

e aquilo que aceite culturalmente,

porque nós... E que aceite sem

questionar de nunca, não é? Exatamente.

Agora, os livros têm essa

coisa. E eu quando vejo

os nossos governos incentivarem

hoje em dia para ir a gesturar

realmente fico muito contente, muito

orgulhoso nisso. Sabias que no Senegal já

tivemos uma primeira ministra mulher

e hoje em dia, as mulheres

estão a tornar cada vez mais

independentes.

E da Carta na área dos negócios, na área

cultural? Sim, sim, sim.

Da Carta é pela sua posição

geostratégica, não é só

dos negócios, mas Senegal também

somos... destacámonos

pela democracia

e estabilidade social

e política que temos,

o que é raro em África.

Qual foi o truque? Foi

não ter tido uma... como outros

países fizeram o seu caminho

para a independência, aconteceu

em muitos países africanos, ter um

herói, uma espécie do herói da

pátria, que depois rapidamente se transforma

no ditador. E o Senegal

não teve isso. Nós não tivemos

isso no ditador. Foi essa diferença?

Nós tivemos um poeta

que ali eu fosse dar sem gorra.

Aliás, toda a gente conheceu, achou, porque

deixou uma grande obra, era

escritor, era poeta, era

político, mas sobretudo

era o pai de ideologia

do Conceito de Nigritut.

Nigritut quer dizer

aquilo que valoriza

a cultura africana, sobre

tudo os africanos

que subiram o colonialismo.

Ou seja, é uma apapriação

daquilo que era nosso.

Isso dá um certo orgulho.

Nosso Senegalês sabe o que que os outros

africanos dizem.

Dois Senegalês quando se encontram

em algum lado, deixam de entender

francês. Começam logo a falar

aquela língua deles.

Porque para nós isso é normal,

é um orgulho, eu passar

na rua e ver um Senegalês assim.

Agora, voltando ao pai

daquela democracia,

nós Senegalos tivemos sorte,

realmente, e as circunstâncias

sociais também

ajudaram bastante. Mas eu digo

sobretudo que é

a vontade política dos homens.

Porque há uma altura

de vida,

no momento certo, um político

ou um decidor político

podia tomar outras decisões.

E nós, na sua introdução, falou sobre isso.

Nós sempre tivemos

transição democrática.

Um dos raros

países africanos que nunca se viu

um golpe de Estado.

Na costa ocidental,

não sei se é raro, acho que é o único

no que o mestre conseguiu lembrar.

Outra coisa, um dos raros

países africanos, em que há sempre

uma estabilidade social e um

bom entendimento para além do

bom cohabitação religiosa entre

os muçulmanos e cristão.

Nós temos

o país 95% da população,

5% do muçulmano e 5%

cristão, mas

é um exemplo

da cohabitação. E isso

que era

o mundo religioso cristã,

que era o mundo religioso muçulmano.

Também salientam isso. E fazemos

questão de manter isso. Porque não sabemos

tudo assim em África. E,

aliás, várias partes do mundo.

Quando pegamos o caso de

Médio Oriente, já é um exemplo

que ninguém deseja. Mas

fazemos questão de

manter essa coesão.

Porque no Senegal, o termo

de pássaro, chama de pássaro,

jamo, é algo muito

importante para nós. Aliás,

voltando ao pai

da estabilidade democracia

que é Senghor,

ele popularizou a palavra

Teranga, Senegal.

Teranga é um

conceito, é uma forma

de viver no Senegalês.

Ou seja, uma palavra que

quer dizer aceitar o outro

como indivíduo. Estabelecer

uma harmonia, mas

sobretudo a hospitalidade.

Ou seja, quando for para Senegal

um dia e alguém te chamar

convidar para a sua mesa,

isso é Teranga, Senegalês.

Esses Senegalês são pessoas

muito afáveis, muito

conversadores. E eles fazem

questão mesmo

de fazer os outros sem

saber. Isso é cultural.

É por isso a palavra Teranga,

que não existe em francês,

tem que ser mesmo em Wallof.

Essa Teranga,

Senegalês, remete logo ao país.

E isso é uma particularidade

do Senegal. E é algo

que todas as etnias

do Senegal partilham.

Todas as culturas e

religiões partilham.

Isso também é o segredo

daquela paz. Você se encontra com

que seja comum

exatamente porque

se cada um, cada grupo

quer ter vontade também

de participar

nesta coesão, coesão

haverá. Agora, quando há

grupos que querem mesmo

impor a sua vontade e os outros

não aceitam, isso ali

vamos ter conflitos, como alguns

países, por exemplo da Africa

Occidental. Claro, olhando ali para a volta

podia ter corrido

mal porque

implicou muito sofrimento a muitas pessoas

e às vezes por guerras

que não dizem nada

às próprias populações.

Guerras tribais, ou guerras por

questões religiosas,

ou guerras por questões

políticas. Não, nós,

graças a Deus, fomos

poupadas a isso e espero que

continuemos sempre assim. Claro, e qual

é a influência

que o Senegal pode ter

nos seus vezinhos? Sabemos que

tem uma importância grande, por exemplo, na

Guiné-Bissau, que é o exemplo que nós conhecemos

melhor em Portugal. Influência a um bocado

acabei de dizer o grande

o grande número de

estudantes africanos

sua região da Africa Occidental

que vão para Senegal estudar. Isso já é

uma influência. Sabemos que na

Guiné, com a Guiné-Bissau,

estudam-se geralmente na Senegal.

Porque para essas

piscas também, todos os piscos

querem, os dois Guinés,

Mália, NG, Togo

Gambia

Não, Gambia

não apropriamente, porque

temos uma diferença da língua

que são inglês.

Somos irmãos inglês colonizaram,

não somos os franceses. Agora,

todos aqueles países da Africa

Francófona, Senegal

exerce uma grande influência nestas

países. Não é só

em termos de

não, mas também em termos

económicos. Porque

os países que estão dentro, que não

têm acesso ao mar, como é

o caso de Mali,

o porto dele depende de

Dakar, está a ver?

E outro país

também, que é o Burkina Faso, é exatamente

a mesma coisa. Eles transitam

do porto da Dakar

para o interior do país.

E Dakar usa Dakar, aqui no sentido

do Senegal, o governo Senegalês,

para poder, para influenciar de maneira

positiva a política interna

deste país, ou não?

Não sei se influência será

politicamente, mas

economicamente sim, porque há uma certa

interdependência entre Senegal

e esses países, porque esses países

também dependem um bocado de Senegal

para alguns sectores

da economia. Como o Senegal também

tira muitos dividendos, com essa

sim, sim.

Ser a porta de entrada, não é?

O presidente da África é um caso

particular. Cada país

tem

sua particularidade.

Nós no Senegal, somos Senegal.

Mas os presidentes

africanos

procuram sempre, não

fazer em, qual é a palavra,

ingerência

nos assuntos

estatais dos outros. A única vez

que isso ocorreu

foi

durante as últimas, Não.

Antes de a sessão

ao poder do presidente

de Gambia, porque

tinha lá, Gambia tinha um dictador

durante mais de 18 anos, que aí

já é. Por incrível que pareça

foi para as eleições, e perdeu. E não

queria largar o poder.

E como nós todos sabemos,

Gambia está dentro do Senegal.

Tem uma faixazinha, nós.

Exatamente. Se aquilo

reventar, isso

vai sobrar para o Senegal. E ali, o presidente Senegalês e Tadeu, exatamente, eles tiveram

mesmo que tomar as decisões para poder negociar com aquele presidente dictador e, graças

a Deus, correu tudo muito bem, conseguiram tirar o homem de lá e ninguém morreu, porque

estava-se a prever uma situação realmente de um momento para o outro, podia ser um conflito

armado e já no Senegal, tenham milhares de gambianos nas regiões de Limitrov e isso

cria estabilidade. E ali, o Senegal e o exercício de Senegalês teve mesmo que agir. Foi uma

das raras vezes, não lhe chamam ingerência, mas também era uma questão também de direitos

humanos porque um perdeu e simplesmente não queria sair do poder, mas isso também é

tipicamente africano. Mas que é uma experiência que o Senegal não teve? Não, não, não. Continua a ser,

há muitas... se pudesse dizer depois que não conhecem bem África ou que não conhecem

África de todo, há muito este modelo de grandes cidades no caso do Senegal e Dakar,

que depois são muito diferentes, são mega cidades, que depois são muito diferentes

do resto todo do país. Ainda aí essas cintrias grandes. Exatamente, há uma grande desigualdade

dentro da Dakar e que, aliás, eu comecei a falar sobre isso, porque eu, também quando

fui para Dakar, já era uma mocinha, meio adulta, conheci mais Dakar do que a minha

propiricidade. Mas é tudo completamente diferente. Foi em Dakar que comecei a me perceber o que

é que o mundo, porque a minha aldeia, a minha região lá, tivesse, não era aquilo que é hoje em dia,

hoje em dia também desenvolveu. Mas lá está, temos quando eu cheguei aqui, as pessoas diziam

que por trocar a República das Bananas todo, nem Lisboa, o resto não tem nada. No Senegal

nós estamos ainda, temos isso, porque uma pessoa está em Dakar, estando na zona de

Cornish, Almadi, pode-se pensar que estamos numa qualquer cidade europeia. Passado alguns

quilómetros para ir ao Suburbio, vai descobrir outra realidade. Mas isso também está a

mudar gradualmente. E também estamos com o Luba. Como é que se queria uma unidade nacional

em uma realidade tão diferente, como as das outras? Não, mas isso é, tipicamente, eu não diria

no Senegal, muitos países africanos assim. Porque às vezes temos dentro de infraestruturas que tens.

A capital engloba tudo, embora Dakar também. Há uma coisa que aconteceu em 2012, para abrir

um bocadinho Dakar, em vez de concentrar tudo, criou-se uma nova cidade. No início de quando

começou em 2012 ninguém acreditou que é a cidade da Jamiajo. Ficou o lado Dakar, é isso?

Exatamente. A primeira das coisas que se fez foi deslocar o aeroporto, que é aquilo que está a acontecer

em Lisboa, em que o Mábio está a terra e não estamos a ver a matrícula.

É verdade, sim, é assustador.

Então Dakar era exatamente a mesma coisa. A primeira medida que se tomou foi deslocar o aeroporto a 50 km.

Essa aeroporto fica na minha vez.

Isso é interessante, agora sabemos como é que foi resolvido.

Pode ser, olha, vamos dar ideias.

Vamos dar ideias.

E então, construí-se um novo aeroporto, que é chamado Aeroporto de Dakar, que fica na minha região,

em 50 km Dakar. Agora, o trajeto do Aeroporto de Dakar quase construiu-se uma nova cidade.

Ou seja, tudo alto a estrada, via rápidas.

E, para além disso, chegas a Jamianha, que é aquela tal nova cidade, para tirar a Dakar,

todo aquele movimento populacional muito densa e também aquela grande concentração

da carro, embora ainda está lá. Basta ir de dia, ainda está lá.

Mas, pelo menos, alguma coisa foi tirada.

E essa nova cidade tem, para além dos grandes estádios, estádios de fútbol, de basquete-bolo.

Alguma indústria também.

Exatamente, uma indústria, aliás, há muitas empresas portuguesas lá também,

que passam lá informação, sobretudo ligadas às infraestruturas, à construção.

E, para além disso também, existem outras infraestruturas.

Ou seja, gabinete ministerial, que eram concentrados em Dakarville, agora vem para a Jamianha.

Ou seja, isso permite, para além de ter o serviço em Dakar,

mas também ter o serviço junto daquelas populações.

E essa zona está mais perto do subúrbio.

Essa nova cidade também tem casas, casas para habitar,

das casas de grandestanding, casas também para os bolsos mais...

Classe média, ter classe alta, classe média.

Exatamente, tem tudo isso para além do aeroporto,

só para continuar nessa coisa de tirar um bocado do movimento a Dakar.

Também avançou-se com a construção do terra,

que é o convoy express regional, que liga o subúrbio a Dakar,

porque antigamente eu, quando andava na universidade para fazer a parcela,

a casa de minha tia, para chegar lá com o trase, e tu não sei o que...

São horas?

Eu levantava, apanhava o autocarro às seis da manhã, e às nove, ainda não chegava.

E aquilo era uma coisa, um trajetório de nada.

De nada, depois.

Mas, tinha que se passar por aquele go slow todo, até chegar,

hoje em dia, com o terra, uma pessoa, vende mais longe, até centro de Dakar,

por 20 minutos ou 15 minutos, uma coisa assim.

O progresso chega sempre...

Não, um progresso.

Quando já não precisamos dela.

Aliás, são os outros africanos quando chegam a Dakar,

dizem, oh, parece que estamos em Paris.

E a Paris também nos enche um bocado orgulho, é verdade?

É possível, provavelmente possível, viver longe e trabalhar no centro de Dakar.

Exatamente.

E hoje em dia, da minha casa nos enche, porque eu vivo...

Quando vou para Senegal, tenho a minha casa lá, enche-se,

desche-se para ir trabalhar em Dakar, não preciso de viver em Dakar.

É só pegar o carro em uma hora, já estou lá.

É como uma pessoa via...

Você está a 70 quilomes.

Isso é outro mundo, é de repente abrir outro outro mundo.

Exatamente, está a ir trabalhar no porto e viver em Braga.

E hoje em dia, isso é possível também.

Lá está, tivemos alta estrada também, que liga da Guerra Segunda Cidade,

algo que não existia na altura em que eu fui para a universidade.

Já vamos a Braga.

Queria ainda falar um bocadinho mais do Senegal e, sobretudo,

esta ideia do enorme desenvolvimento econômico,

pois também já vamos à parte cultural, mas econômico.

Está a ser feito, com preocupações ambientais,

este desenvolvimento.

Nós sabemos que a África, como um todo,

claro, África é sempre tão diversa,

não é um continente tão diverso, mas tem sido,

tem tido a hipótese de ter o seu desenvolvimento econômico,

corrigindo os erros que o mundo dito occidental

cometeu, sobretudo, em termos ambientais.

Vemos muitas iniciativas de desenvolvimento verde...

Há algumas iniciativas, sobretudo,

de energias renováveis, porque, hoje em dia,

Senegal, sobretudo, para a electrificação do mundo rural,

isso se faz, através da energia solar,

que nós temos só 365 dias por ano.

Sim, só não tem anoite.

Já a noite é um calor, que é pra tirar de outra forma.

E a ideia, agora, é electrificar todas essas zonas,

que até agora não tinham electricidade,

através das energias renováveis.

Isso é um passo que está a dar, realmente, o Senegal,

e começou desde 2015, acho eu,

porque existem lá empresas alemães, holandês,

que o saiba, e também alguns de Canadá,

que estão neste mercado, e francês, claro,

são os antigos colonizadores, que estão neste mercado,

e é um mercado realmente muito interessante,

e Senegal está a avançar.

Agora, no que diz respeito a outros recursos

e a outras políticas verde, também é assim.

Nós somos um pequeno país,

a um bocado falou que não tínhamos recursos,

mas eu vou lhe dar uma novidade.

Agora temos gás, temos petróleo.

Sim, senhor.

E sempre vai ser bom?

Vai ser bom, e estamos a construir uma coisa boa,

para que isso não seja uma mala edição,

como é em outros países africanos,

ou em outros países do mundo, em que...

Em que foi mais uma maldição do que mais?

Exatamente.

E o nosso petróleo, o nosso gás,

a partir de 2024 vai sair da terra.

Ou seja, estamos a falar de uma coisa já real,

cor dos contratos já foram assinados,

ou seja, ensais já foram feitos.

E isso, nesta fase de exploração do petróleo e do gás também,

estamos muito conscientes e sensibilizados,

também, com essa energia verde.

Claro que não podemos seguir

todas as metas que os mundos já desenvolvidos querem,

porque nós também queremos...

Não pode ser a custa do desenvolvimento dos outros países.

Também queremos um pouco de desenvolvimento,

queremos uma melhoria de vida das populações.

E isso tudo também implica algumas medidas,

não serão tomadas, mas outros, claro que vão ser tomadas,

para tentarmos também ajudar o ambiente,

porque Senegal também sofre muito da avança do deserto.

Já vive bastante perto do Ceará.

Exatamente, exatamente.

Às vezes, com aquelas ventos da área,

não temos tantos ventos, mas é que os ventos secam.

E as chuvas cada vez mais raras.

E quando vem, é logo...

O deserto está a ganhar quilômetros,

quer para cima, quer para baixo.

Exatamente.

E quando chove lá, é passam logo inundações,

chuvas estrenciais que impedem as pessoas,

impedem qualquer atividade econômica.

E as pessoas vêm às suas casas,

seus bens, seus pertences, desaparecer.

Às vezes, essa imagem na televisão é uma desolação.

Isto também são aquelas mudanças climatéricas.

E eu acho que todos os países do mundo,

incluindo hoje em dia o Ocidente,

estando a sofrer essas consequências,

devemos ter todas uma certa consciência também

para pensar um bocado verde e para o futuro da humanidade.

Claro que sim.

Em termos sociais, é mais fácil hoje ter uma mulher no Senegal

do que foi ser nos anos 90, que é onde falo a povo.

Muito mais, muito mais fácil,

porque é verdade que temos uma cultura patriarcal,

em que o homem é que manda, o homem é que tem direito,

o homem é que tem voz,

o homem é que pode casar quatro vezes a mulher,

o coitado só tem que se submeter às leis dos homens.

Mas as coisas estão a mudar, porque é como qualquer sociedade.

Nós também vamos subir a influência do mundo à volta.

Pegar pessoas como eu, mulheres que são independentes,

não dependem de ninguém.

Aquela Senegalese que tem hoje em dia uma certa independência

dos financeiros, tem voz.

Ou seja, não dependem de nenhum homem para dizer o que pensam,

para fazer o que querem,

ou para chegar onde querem.

Claro que a crítica social,

aquela olhar está sempre lá.

Aliás, como aqui também,

as mulheres para chegarem aos patamar dos homens

têm que trabalhar o novo.

No Senegal tem que trabalhar ainda o tripo.

Mas mesmo assim, comparativamente à época da minha mãe,

já era outra coisa,

eu posso ter a liberdade de discutir com os homens,

com os religiosos, sobre o poligamia,

a dizer que não estou de acordo.

É impensável.

Porque se uma mulher tira essa conversa.

É exatamente impensável.

Eu posso dizer para todos os olhos,

eu não aceitaria o marido poligam,

mas na época dela...

Ainda é como na sua geração.

As mulheres da minha geração ainda assim,

mas as mais novas, as coisas estão a mudar.

Porque também é assim.

Mas que ela tem da parte dos homens,

também deixa de ser essa topo.

Porque assim, os homens sabem que tem esse direito.

No Senegal temos uma coisa curiosa,

porque quer na legislação, no nosso código civil,

os homens têm direito a ter quatro mulheres.

Isso já vinha de religião,

e foi aceite pela legislação.

Mas quando o homem casa,

na altura de ir ao registro civil,

tem duas opções,

o ser monógamo.

Que é a primeira vez que casa, não é?

Sim, mas o problema da monogamia

é que é uma decisão iravogável.

Por quê?

Ou seja, quando for ao primeiro casamento,

se tem que ser monógamo,

não pode voltar a casamento.

Exatamente, por isso,

muitos homens, mesmo que ficam com essa mulher

durante toda a vida, dizem mal.

Põe lá, poliga-me, por favor, não.

Não vá ao diabo de celas.

Pode ir lá, olhe, por exemplo, mal não faz.

Por exemplo, poliga-me, mal não faz.

Exatamente, e muitos homens fazem isso.

E o crioso também é que as mulheres aceitavam.

Ainda continuam a aceitar,

mas já não é a mesma coisa,

porque as mulheres, independente,

mesmo que o marido tenha direito a ter mais uma mulher,

se por acaso, aquela homem casa uma segunda vez,

elas vão se embora.

E os homens também são cientes disso.

Outro coisa também que os homens são cientes

é que não querem ter o mesmo vida com os pais deles,

porque perceberam-se que fazendo muitos filhos

não vão ter aquela qualidade de vida que querem.

Porque já cresceram em famílias, monógamo.

Já souberam aquelas privações todas que viveram,

e não querem...

A pressão era religiosa ou também era social?

Era uma questão de estatuto social.

Porque antes da religião também,

homens africanos casavam com, sei lá quantas, né?

Pelo menos a religião veio limitar.

Mas mesmo assim,

os homens hoje em dia começam a pensar

antes disso de entrar em um segundo casamento,

porque é mais em termos de...

como é que será o futuro dos meus filhos?

Será que o que vou partilhar com mais uma mulher

a fazer filhos?

Vou dar uma melhor qualidade de vida aos meus filhos?

Será que vou conseguir proporcionar uma educação de qualidade?

Porque voltando da educação hoje em dia no Senegal,

terão a universidade, claro,

que as universidades públicas são os melhores.

E, aliás, toda a gente batalha para entrar no público.

Agora, do primário até lá,

se possam tiverem os maios,

mais vale ir para o privado.

É como aqui.

Esse ano privado é muito melhor e mais garantido.

E um homem é necessitação, sabendo que...

Vai ter cinco filhos.

Exatamente.

A educação dos seus filhos,

sustentar uma mulher a casa, essas coisas todas,

pensam muitas vezes.

Não quero dizer que ficam um fiel à mulher.

Isso é outro assunto.

Mas, pelo menos,

não arranjam uma segunda mulher oficialmente aos olhos do mundo.

Claro.

Sim, eu estava pensando isso.

Nós estamos aqui a falar sobre uma coisa muito diferente da Europa,

a poligamia masculina.

Mas, de facto, ela existia.

Só não está a ver a escrita do papel quando as pessoas...

Pelo menos é mais honesto ter escrito no papel quando se vai casar.

Não sei se eu honesto.

Estão a juntar duas mulheres numa mesma casa,

ali com confusão também.

Não sei.

Não sei qual dos dois sistemas é que é o melhor.

Tudo o que sei é que a poligamia realmente não é...

O cara não é que sabe de si, mas por mim,

não é aquilo que desejava a mim nem a nenhuma outra mulher.

É isso.

E é bom poder ser uma escolha das mulheres, claro.

Estamos proses a começar a nossa viagem.

Exatamente.

Vamos...

Estamos mesmo.

Estamos.

Podemos viajar.

Podemos viajar.

Temos muitas sugestões.

Temos bastante.

Sim.

Temos estado a ouvir música para já.

Para falar com a Cadi do Senegal.

Sim, Cadi do Senegal.

Então, vamos viajar até lá.

Vamos até o Senegal para ir gastamos 652 euros, mais ou menos, e de volta.

Agora já não estamos só naquela gente saudiva.

Há possibilidade de fazer dois voos direitos, mas está um pouco mais caro.

Fiz aqui um meio termo que é vamos com escala, 9 horas, escala em Madrid,

e vimos direto 3 horas e 55.

Isto é até a capital de Dakar.

Podemos pegar também na sugestão da Cadi, que nos falou do Cebojane,

o arroz...

Cebojane.

Com peixe.

Ah, é o arroz com peixe.

Aliás, eu...

É o nosso tal...

Também o património...

Também o patrimônio cultural.

É o patrimônio cultural.

Em 2021, é que assim, é uma...

Qualquer turista, qualquer pessoa que vá para o Senegal,

tem que provar mesmo o famoso Cebojane.

E se também, para prepará-lo, não me perguntam como é que é,

porque eu não sou muito boa lá na cozinha.

Mas procura-se no Google, como é que é a receita.

Exatamente.

Assim vai lá, né?

Mas a preparação é toda um ritual, porque isso leva tanto tempo para ser feitas.

Mas vale a pena provar, porque é saboroso.

Um arroz assim colorido, que tem o peixe todo.

Normalmente, come-se tudo junto, no mesmo prato.

O arroz está, e depois coloca-se o peixe nos legumes,

como o cenoura...

O peixe é assado, ou é...?

Uau, isso é uma pergunta muito complicada.

O peixe é frito, é assado em cozinha, e tudo lá vai dentro.

E é aquele mesmo caldo lá que leva o peixe, que leva os tomates,

que leva os legumes, tudo.

É que vai cozer no fim o arroz.

Eu...

Eu deixo aqui o convite,

porque eu também sou dirigente de uma associação de imigrantes,

aqui em Portugal.

E nós normalmente, todos os anos, fazemos um evento cultural,

que é chamado Jantar Temático Senegal, né?

Em Braga.

São convidados também, se quiserem, são convidados.

Aliás, passa a publicidade.

Este ano, queremos fazer isso no Corporate Club do Sporting Club da Braga.

Que eles abriram nos esportes, e realmente, um agradecimento...

Meu agradecimento a, realmente, o Sporting Club da Braga,

para essa ajuda, para nos fazer realizarmos o tal Jantar.

E nessa Jantar, normalmente, nas edições anteriores,

nós apresentamos sempre este prato de abujão.

E por incrível que pareça, é aquela prato,

que as pessoas comem mais pressa.

Recorre-se da comida que nós podemos preparar, o levar.

E, em outras ocasiões também,

porque ali, aquela preparação, as mulheres lá da associação fazem isso,

cozinham da forma tradicional, com aquelas panelas muito grandes,

onde tudo entra, e aquele ritual todo, que quase leva todo dia para preparar.

É diferente, claro, que nós temos aqui, hoje em dia,

restaurantes, onde só podemos comer, e assim.

Mas...

É diferente.

É diferente.

É o próprio ritual de preparar.

É diferente, é diferente.

E eu, realmente, digo, quando uma pessoa vai para a Senegal,

vale a pena provar o Jantar.

Peça para que não seja muito pecado, porque...

Boa ideia.

Boa ideia.

Porque, às vezes, nem toda a gente aguenta.

E, também, outra coisa incrível, só para terminar aqui,

para quem não é intolerante e que não é alergico,

que os melhores amendoins do mundo estão no Senegal.

Ah, pois é.

Eu adoro amendoim.

É uma coisa que sempre começou a descobrir recentemente,

que só quando vinha em Portugal há uma comida dos 10 anos,

que eu descobri que tinha alergia.

Ah, que chatei ser alergicamente,

e é ser a pior coisa do mundo.

Mas, mesmo assim, continuou a comer.

Continuou a comer.

Em relação aos pontos de interesse,

vamos falar aqui das questões da Radi.

Claro.

Em relação ao lugar imperdível,

falou-nos, falou-deia, Ilha de Gorré.

Exatamente. Ilha de Gorré...

Não sei se é um lugar imperdível,

porque tornou-se imperdível pelas piores razões.

Ilha de Gorré era a antiga casa dos cravos.

É uma ilha pequena, que fica em frente à década,

vai-se pelo Fereboto,

uma ilha muito visitada pelo mundo inteiro,

muitos peregrinos, turistas,

e também jovens em idade escolar,

que vão conselhar os professores para aprender um bocado sobre a história.

Era o interposto dos cravos, era isso?

Era o interposto dos cravos e um dos maiores,

que foi fundado entre o século XV e XVI pelos portugueses.

E nessa ilha, quando uma pessoa vai,

tem lá um museu também dos cravos.

A ilha destaca-se pela...

chamada Casa dos Cravos,

e também que contrasta com os mansões...

grandes mansões dos seus mercadores.

Muito dos cravos

eram traficados no interior da África

e chegando à década, naquele ilha de Gore,

é ser o último paragem antes de embarcar.

E a ilha tem uma coisa curiosa,

que é aquela tal chamada porta de ida sem volta,

que é aquela porta mítica que uma pessoa vê assim

e o resto é todo o oceano.

Os cravos eram assim empurrados dentro do barco,

ou seja, uma vez está daquele lado

nunca mais esquinça-áfrica, nunca mais volta.

E nessa ilha, o que é curioso

e o que vale a pena chamar as pessoas

é que nos deixa uma lembrança.

É uma lembrança triste,

uma história, uma altura realmente

muito sombria da história da imunidade,

porque a escravatura e influiçamento

sempre existiam na história da humanidade,

mas a África é aquele que mais sofreu

com aquela dura realidade.

Aliás, o que sempre a mãe sofreu

e ainda continua a sofrer.

Ilha de Gore, já que foi o maior entreposto

dos cravos entre o século XV e XVI,

aliás, os português reinaram durante mais 141 anos

e depois vieram holandês, francês e inglês,

aí por gente, até a abolição da escravatura

em 1860, se não me engano.

Hoje em dia, essa ilha, pelas razões que acabei de dizer,

é erguida como patrimônio mundial da imunidade,

isso desde 1978,

ou seja, estamos de falar de uma coisa

muito há muito tempo,

porque a história que ela carrega

uma pessoa vai para lá e visita e precisa ser muito forte,

porque nós todos sabemos sobre a escravatura,

já ouvimos relatos, mas quando chegamos lá no museu

e vimos aquelas cordas,

as salas onde eram presas, as crianças

separadas das mães, as mulheres separadas dos maridos

e também uma coisa curiosa, as mulheres mais bonitas

não eram vendidas para ir para a América,

eram vendidas aos donos dos cravos,

que podiam fazer o que querem com ele.

E os filhos que nasciam dessas,

claro que eram muito mais privilegiados

e continuavam, perpetuavam aquele comércio dos cravos.

Isso, quando uma pessoa vai lá,

a realidade que encontra não tem nada a ver

com aquilo que lemos nos livros.

É real, e nos lembramos que realmente

isso é algo que não se pode repetir.

E às vezes, no meu olhar de africanos,

quando ouço alguns portugueses e com razão,

orgulharam-se do seu país descobridor

e lá no meu fundo,

foi mais dominador do que o descobridor,

mas também entendo o lado deles.

Só que, por muito duro que seja,

eu digo sempre uma coisa,

nós temos que nos lembrar do que é que foi,

mas também temos que ultrapassar.

Acho que foi o papo João Paulo II,

em 92 quando foi em Degar,

ele pediu publicamente desculpa,

perdão à África pelo crime que foi cometido,

todos os crimes que foi cometido pelo nome da igreja.

E isso acho que é um acto simbólico.

E outra coisa que eu digo muitas vezes

em as minhas conversas,

porque acho que nós temos que ter a memória em mente,

mas também temos que saber ultrapassar,

porque ao passado, o passado ao passado pertence.

E eu acredito opiamente que temos que acaminhar

para um futuro com liberdade, com igualdade.

Aliás, liberdade é essa que me permitiu enquanto africana,

chegar aqui a falar sobre o que sinto

numa estação da Rádio Televisível,

portuguesa, né?

E é essa liberdade.

E eu quero acreditar que isso é o mais valioso.

Temos que caminhar junto,

nesta liberdade e igualdade,

e o mundo vai ser melhor.

Maravilha.

Nós temos muito mais sustões,

temos sustões de livros também,

de filmes, de música.

Temos estado aliás a ouvir a música,

que também pode ser apanhada na nossa playlist do Spotify.

Vamos para a tua terra.

E essas sustões todas estão na descrição deste episódio.

Foi Rádio, que nos teve a falar do Senegal.

Foi um belíssimo programa, uma belíssima conversa

sobre este país de África,

cuja maior riqueza são as pessoas

que têm apostado na educação.

E por isso, têm conseguido a paz.

Foi bom resumo de Senegal?

Muito, muito bom.

Eu acho que não poderia fazer melhor.

É paz, as pessoas, a harmonia,

porque nós também fazemos para que isso continua.

Maravilha, nós voltamos para a semana.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

Vamos para a tua terra.

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Quando perguntamos a Saidatina Khadidiatou Seye qual o segredo da paz e da prosperidade do seu país, a nossa convidada não hesita na resposta: ter tido um poeta como herói da independência. A viagem esta semana é ao Senegal.



O Senegal num prato: o famoso Cébujén (arroz com peixe), reconhecido como património imaterial da Humanidade.

Num livro: A mais secreta memória dos homens, de Mohamed Mbougar Sarr, (Prémio Goncourt em 2021) e autor também de «Terre Ceinte » e «De Purs Hommes»

Num filme: Camps Thiaroye , de Sembene Ousmane

Num lugar imperdível: Ilha de Gorée

Na música: Youssou N’Dour; Souleymane Faye; Orquestra Baobab