Tabu com Bruno Nogueira: “Roubei dinheiro aos meus filhos. Perdi o controlo e deixei a família para me dedicar às drogas”
Joana Beleza 3/7/23 - Episode Page - 1h 6m - PDF Transcript
Bem-vindos ao TABU, um programa onde nos rimos sobre assuntos que vocês provavelmente acham que não são para rir.
Esta semana vou passá-la com quatro pessoas com edições e juntos vamos tentar perceber se é ou não possível rir das dependências.
Eu não vou querer beber a vossa frente nesta semana porque acho que falta de respeito.
Mas como as histórias vão ser todas sobre álcool, ou muitas, é pago em talas, tá bem?
Eu não vou querer beber a vossa frente nesta semana porque acho que falta de respeito.
Mas como as histórias vão ser todas sobre álcool, ou muitas, é pago em talas, tá bem?
Eu consigo não imaginar o experimento que vai acertar uma semana assim, vou deixar aqui, parar de filmar e não ouvir nada.
Quando quiserem toca-lhe.
Eu acordei às duas, parecia uma passa com arco-nacionados, tudo o que havia, estava muito seco, muito seco.
Mas acho que acordei outra vez muito sequinho.
Passe-me o pão, faixa-me o ar ou o gal.
Acaba amanhã.
Desculpa estar a interromper o pequeno almoço do pão.
Maria passa o meu pão, não, é o Maria.
Comer para mim é sagrado, não brinca com o meu pão.
Não brinca com o meu pão.
Mas eu parece que sei à noite, é isso que eu sinto.
Uma palavra que é engraçada porque é resseca.
Fica bem no contexto.
Dá uma festa ontem a sério.
Obrigada, poupão.
Eu tive meia hora com o pão na mão.
Estou programando de tiro, pão.
O meu?
O pão é o que é? A casa é a pobre.
Como é que vocês lidam com a percepção das outras pessoas do que é um adito?
Há muita gente que acha que uma vez que se tenha consumido ou o que quer que seja, nunca se muda.
É, a ideia de drogar uma vez, não drogaça sempre.
É um estima.
Mas isso não é assim.
Só os exemplos disso.
Me sentia só olhar.
Às vezes.
É verdade?
É o mais o que sentia e o próprio tinha de solidar.
Acho que era mais isso.
Conheci outras pessoas que estavam igualzinhas a mim e eu achava que elas tenham o problema.
Meu problema estava controlado.
Eu era um drogado funcional.
Não era controlado, não era.
Não era nada controlado, a ilusão é que...
Nem se pensa nisso.
Durante a grande parte de meu uso que foi cumprido,
não tinha, não sou de nenhuma que era adito.
Comecei de uma adição ativa aos 9, 10 anos.
Como?
As primeiras experiências com álcool.
Pouco mais tarde com as titas de drogas leves.
E depois foi evoluindo por aí fora.
Mas os traços de óbvio cipo compulsivo, extrema sensibilidade e etc.
Vem muito atrás.
O mundo era muito pesado para mim.
Era uma sensação que eu tenho desde muito medo.
Quando eu encontrei esses alteradores,
foi como se tivesse encontrado para isso.
sobretudo quando comecei a entrar nas drogas leves.
Era muito bom porque ficava fora de mim,
as coisas, a dor diminuía imenso.
E, portanto, era uma forma de lidar
com essas emoções pesadas, com esse pesadelo.
Numa criança, se sentir o peso,
que agora não sinto com o 56,
é quase insuportável.
Precises de um escado.
O problema disso é que quando comeces a usar drogas
como, digamos, um refúgio,
os outros momentos em que não estás
começam a ser ainda mais pesados do que o que eram antes,
porque tens um termo de comparação.
E então os intervalos entre aquilo que vais consumindo,
vão reduzindo até não haver intervalo nenhum.
Tenhas noção clara daquilo que estávais a fugir.
Os meus pais passaram uma fase financeiramente complicada.
E isso fez com que os afetos também diminuíssem.
Os afetos passaram um bocadinho para segundo plano.
Portanto, eu vivia numa família onde o afeto
não era propriamente uma coisa central.
E eu tenho noção de que há um momento,
qualquer, ali entre os 6 ou 7 anos,
em que eu sinto que estou por minha conta.
Os meus pais já tenham tantos problemas
que eu não queria aborrecê-los com mais os meus problemas
ou com a minha dificuldade de me encaixar no mundo.
O que muitas vezes me levou a testar
até onde é que isso podia ir.
Estava com os meus estados a ver
até quando é que os meus pais iam reparar,
porque hoje costumam um bocadinho acreditar
como é que o meu filho, que tem hoje 31 anos,
quando este eu não ia reparar como o meu filho estava alterado.
Esse era a pergunta que eu tinha de fazer,
se nunca repararam.
Se repararam nunca.
Se falou, foi um tabu.
Meu pai tinha uma guerra-feira grande,
que desapareceu toda.
A gente se deu a cabo da guerra-feira
e também não couve conversa sobre isso.
Ele desapareceu, foi desaparecendo
e sendo substituído por água e chá
e não couve uma conversa séria para contar.
Então, mas o que se passa aqui, né?
E por que vocês acham que há tão pouco a gente
a falar abertamente como vocês estão a fazer
sobre a adição?
Acha que é com medo da repercussão?
Acha que ainda é uma sociedade que tem um problema
e não é uma sociedade que ainda não está preparada
para falar deste assunto abertamente?
Acho que há um falta de entendimento
do que é o problema.
Se continuamos, é um tabu.
Se continuamos a achar que é uma opção pessoal.
Não é tabu.
Eu acho que é mais...
Não virei nem ter connosco.
Sabe?
Não criei nem falar.
Se não houver motivo para dizer, não digo.
Obviamente não digo.
Não vou dizer a uma pessoa que acaba de conhecer lá,
só hoje.
Só eu digo para a pessoa.
Não é uma coisa que se diga.
É, mas se tivermos uma conversa e que surge
este assunto e surge muitas vezes
porque quase toda a gente tem alguém conhecido
ou família ou alguém que passou por isso
e normalmente eu falo da minha experiência.
Quando às vezes estou a falar, por exemplo, como agora até,
destes problemas de nos dar drogas
ou as consequências que se traem nas vidas das pessoas,
na minha vida,
eu não quero passar a imagem a quem estou a falar
seja aqui, seja no teu lado,
de que isto é eu vou glamorizar esta experiência.
Porque isto eu não me orgulho disso.
Usar não é bom, não é?
E, portanto, há que ter atenção muitas vezes
as pessoas entenderem que nós estamos aqui
quase cabrinho caro com uma coisa que é séria.
Eu ando a tentar matar, perante-nos, não é?
Provocar ataques cardíacos e abencer, não é?
Sim.
Eu era uma miúda certinha,
talvez porque também era a pessoa alçada do meu pai, não é?
Mas a verdade é que era um mundo
que me atraía.
Aquela crença de que a droga me podia dar
uma espécie de liberdade, não é?
Criatividade, loucura,
perante, eu procurava um pouco isso.
Sentias que não eras livre,
não tivesse mais docência em sentir-se livre?
Exatamente.
Se calhar, é desucaste no ponto certo.
Tinha 16 anos, 17 anos, 18 anos
e não era muito fácil eu poder, por exemplo,
ter a autorização dos meus pais
para isso irá à noite com os meus amigos.
A primeira vez que usei drogas foi, tipo,
não passei de escola.
Nunca me senti propriamente muito desgovernada
por usar essa droga leve,
porque estudava, fui trabalhar,
comecei a ser uma pessoa independente, autónoma.
Entretanto, casem-me com uma pessoa,
supostamente na altura,
é isto a que se calde dependente.
Eu não queria sequer...
Despertar isso.
E como essa relação depois passada uns anos acabou, terminou,
tinha toda a liberdade do mundo, aquela coisa que eu gostava tanto
e que queria tanto poder fazer tudo à minha maneira.
Essa atração que eu tinha por drogas
estava lá, especificamente sobre cocaína.
Um dia estava a falar com os amigos,
lá o telefone, não sei o que,
para crer de feiras, para não saber para onde, e não sei o que.
E, p'ra, olha, vai haver um cruzeiro,
aquela discoteca capital vai fechar e vão a Ibiza,
não sei o que, a grande festa, p'ra, p'ra,
e eu é, p'ra, sério, quero ir.
Bem, lá fui eu.
Foi aí que eu tive a minha primeira experiência com cocaína.
Estranho, porque nada levava a crer
que nessa viagem, talvez...
A sério?
Imaginava mais fomos verdes.
A sério?
Talvez fosse agora, não sei.
O sarocas de milho nunca ia para a coca.
É uma surpresa que me tivesse dito.
E então, e como é que acontece?
Acontece que, pronto,
eu vi-me lá no meio daquelas festas, não é?
E as pessoas, com alguma facilidade e à vontade,
estavam a consumir cocaína.
E eu é, p'ra, também quero.
E aquilo fazia-me sentir, p'ra, poderosa, basicamente.
E aí foi o meu primeiro sentimento,
foi a sentir poderosa, tipo,
eu posso fazer o que eu quiser.
Enfim, as drogas têm estas ilusões, não é?
Eu chegava à casa, ou ia a qualquer lado,
ou alguma coisa não me corria bem.
P'ra, sei que ele tivesse presente no meu dia.
Estava tudo bem.
Eu passei a começar a fumar, não é?
E aí foi fulminante.
E eu nunca imaginei
que aquilo se apodrasse de mim daquela maneira.
Eu nunca consegui, nunca mais resistir a parar.
Começas a desgovernar financeiramente,
começas a desgovernar fisicamente.
Foi muito rápido.
Eu, em três anos, destruí-o,
construí-os há set anos, basicamente assim.
Obrigado.
Quando ligar, castou eles.
O Jorge está ali, porque está com Covid,
não levou a segunda dose.
Também foi a única dose que ele não levou a segunda,
não foi?
De resto.
Nós hoje temos um programa muito bom para vocês.
É um programa tão bom
que eu acho que vocês vão ficar
como os nossos convidados, que é, garradinhos.
Que é que há tantos drogados a arrumar carros?
Não é?
Eles pensam, pronto,
eu posso roubar a minha família
para comprar droga
e bater em muitos conhecidos para me drogar.
Agora, que arregues em cima do passeio é que não.
Eu fico louca.
Mas foi bonito ouvir a história
de recuperação dos meus quatro novos amigos.
Perceber que estão todos a lutar
para serem a melhor versão deles próprios.
Agora também vos digo,
há uma parte de mim
que tem pena dessa recuperação,
porque eles drogados e alcolizados
riam-se muito mais deste stand-up.
Aliás, eu nem precisava dizer nada.
Eles viam só estas folhas no ar
e pensavam, ei, é puto!
Aliás, como é que eles agora fazem os livros?
Lindo!
Caraca, como é que isso?
Gostei muito de passar estes dias com eles.
Foi muito divertido.
Agora eu só vos queria pedir uma coisa,
que era para me devolverem a carteria o carro,
porque estava fazendo muita falta
para levar as miudas à escola.
O estigma do sociedade é achar que,
e nós falámos sobre isso,
é achar que uma pessoa viciada em álcool ou endróga
tem de ficar para sempre com esse rótulo,
como se ainda consumissem.
Portanto, eu tenho de vencer o vício
e o olhar da sociedade.
Se uma pessoa faz uma boa ação,
é pá, tenho de fazer várias
até uma pessoa achar que ela é boa pessoa.
Se uma pessoa faz uma má ação,
fica rotulada para sempre.
Por exemplo, eu uma vez
dei um soca à minha sogra.
Então hoje ela não fala comigo
e eu disse, já passou, já tem anos novos.
Quem é que era natal?
Os netos estavam a ver?
Está bem.
Eles riram-se.
O que é que interessa?
Eles riram-se.
Posso começar mais por fim.
Eu entrei em recuperação com 50 anos.
Eu vou fazer 62.
Quando eu me agarro às coisas,
eu vou me agarrando devagarinho.
Aguei uma álcool devagar.
Comecei a beber cedo aos 13, 14 anos.
Na minha adolescência,
é o 25 de abril,
e era a liberdade total.
Liberdade, aquela liberdade que a gente falou.
Liberdade.
Comecei a fumar erve na altura e gostei.
Sempre tive uma vida boémia.
Onde é que começa a dançar a minha adição?
Eu gosto de tudo o que me faz é diferente.
E eu encontrei isso muito,
isso nas drogas e no álcool, muito.
Entretanto, começa a aparecer,
nessa altura, começa a aparecer a coca.
A reje trabalho da noite.
Perfeito.
Perfeito.
Juntou-se com o tiro ao agradável.
Se não tivesse pedado,
já não era capaz de...
Naquela frequência.
Naquela frequência aí,
baixava muito, muito, muito, muito, muito,
e tinha que ter para estar lá em cima.
Mas estava ali no meio do álcool, no meio das drogas,
no meio da noite, no meio da...
Isso era uma adrenalina do caráter.
Vai.
Eu, eu.
Vai, até a época.
É para ele, é para ele.
Olha, Rui, para hoje.
É hoje.
Isso.
Boa.
Boa.
Ah, meu Deus.
Ah, quase.
E tem linhas?
São linhas brancas.
Se puderem ficar as linhas no mesmo sítio,
eu agradeci-me só para as pessoas que vão jogar assim.
O Rui conhece bem as linhas brancas,
é uma coisa que ele...
Vai.
Não, não, não.
Você não ouvi isto, Maria?
O que é que foi?
A Maria não ouviu.
A Maria não ouviu.
A Maria não está... Atenta.
Ouça lá, ouça lá o tio Brunês, explica.
Maria não faz...
Espera, Maria.
Só se não conseguir.
Deixa que ir no chão.
Deixa que ir no chão.
E vai, paciente.
Com o outro lado, com o outro lado.
Fiquei com a cabeça presa nas linhas.
Com o outro lado.
É para aquele lado, não é, em frente.
É para outra vez as linhas.
É para outra vez.
Para a Beatriz.
As linhas perseguem.
Para a Beatriz.
Eu em gravidade do meu primeiro filho com 23 anos.
Na altura, o meu desespero foi tal,
que a minha vontade foi de acabar com a minha vida,
porque eu não sabia como é que havia de fazer
para resolver o assunto.
As drogas vieram muito já nessa altura.
Para me acalmar.
Não há uma explicação do porquê que eu me tornei amadita,
porque há uma coisa que nasceu comigo.
É aquilo que eu sinto.
Nasceu comigo.
E eu acredito que isto é ireditário.
O terceiro adito, a adição.
Eu acredito que é ireditário.
É o que eu acredito.
Para trás, na minha família, há problemas de alcoolismo,
de parte do meu pai, não tanto da minha mãe,
que eu faço pelos meus filhos hoje,
o melhor que eu sei,
se eles cheirão aditos ou não,
eu acho que sim.
Eu tinha os meus 12, 13 anos.
Comecei a fumar cháros.
Eu achava que as drogas eram algo que tinha entrado na minha vida,
mas o álcool teve desde o princípio lá.
A realidade é que eu nunca passei do oitavo ano.
Eu já tirei o oitavo no ano e, muito mais tarde, já em adulta.
Eu dava-me com grupos que tinham muitas drogas duras,
e eu não usava.
Porque associavas àquilo...
Não criá-lo para a minha vida.
Isto acontece aos meus 19 anos, 20 a 20,
que é quando eu conheço, então, o pai do meu filho mais velho,
que consumia coisas pequeninas.
Coisas pequeninas eram já heroínas...
Era heroína em quantidades pequeninas,
porque eu tinha visto quantidades muito grandes.
Eu, nas pequeninas, achava que podia ensinar o outro,
que era possível fumar de vez em quando e não ficar agarrado.
E aí, começas a fumar...
E quando dou por mim, eu estou agarrada.
Sem me perceber, quer dizer,
tu não tens uma consciência...
É incrível isso, tu sabes.
Você não queria perguntar se no momento não há percepção de...
Ok, já embarquei num bairro.
Não, não tinha essa percepção.
Para já portava apaixonadíssima.
Foi uma lua de mel com drogas.
Foi o meu primeiro grande amor.
Portanto, eu fiz um, dois em um.
Eu sou uma meme, tenho segura.
E a heroína, especificamente,
veio me acalmar, porque passas a viver num hondo,
e eu falo, está tudo ok?
Deixas-te sentir este tipo de...
Eu continuo a achar que aquilo salvou uma vida, percebes?
Até conhecer depois o que meço hoje, de mim própria,
e de aprender a gerir estes sentimentos que eu tenho,
que nem sempre são fáceis.
E que toda a gente tem.
E aprender a gerir isto,
não foi uma coisa que me ensinaram...
Os meus pais não me ensinaram isso.
Os meus pais também não sabiam.
E o que você tinha que fazer?
Ter um dinheiro para sustentar esses vícios.
Traficar.
Ok.
Erva.
O que pudesse traficar?
Traficava as xis, comprava sabedores,
e dividia em pequenas horas.
Dava para fazer um meninheirinho.
Aí ressaquei muito.
Ressaquei muito.
Sentada naquele farão,
no alto de Campo Lida,
ressaquei muito.
Eu queria fazer.
Quero que as outras pessoas faziam.
E por que entrei em repressão antes de fazer
o que qualquer pessoa que leve este caminho faz?
Que o que é?
É vender o corpo.
Pois é.
Pois é.
E houve muitos dias,
em que não havia ninguém para comprar,
a ressaque era muita.
E houve as outras,
ali a despacharem-se.
E claro que sim, questionei.
Como era essa decisão?
Tudo bem que está.
E nem sempre é fácil para os amigos
e familiares destes meus convidados
voltarem a confiar neles.
Acreditarem que desta é que ele.
Eu penso que há uma maneira
de resolver isto, que é
a família e os amigos
também serem bebados e drogados.
Acabar de desconfiança.
Por que é que são sempre os aditos
que estão num estado pior
a terem de ir ao encontro
da expectativa dos outros?
É para não, assim que liberavam-se as coisas.
Em vez de ser ao Paulo,
tens de deixar a droga.
Não, é errado, devia ser.
Ao Paulo, tens de ir uma colher a mais
que você que é amor.
Alco-cocaína,
heroína, mulheres
já repararam que as coisas em que vocês
viciaram, se vocês fossem uma estrela rock
não era problema nenhum.
Era mania, já viram vocês a anos
de tentar deixar a droga
e era muito mais fácil aprender a tocar a guitarra.
Estava resolvido, mota.
Imagino que a pandemia tenha sido
particularmente complicada para um viciado
em cocaína. Deve ser difícil ouvir
que não consigo cheirar nada.
Nem eu.
Nem eu.
Nada.
Quando foram à vacina,
imagino.
Imagino.
Será que chegou
uma enfermeira e perguntou
para se é que querias? Não, dê-me cá a seringa
que eu sei como é que eu gosto disso.
Deve estar. Já estou habituado,
não leva mal.
Já repararam que só se diz que uma pessoa é viciada
em jogo, se perder.
Se ganhar é um profissional das apostas.
É como um gajo, tentar assaltar de um prédio
para o outro, se falhar é estúpido.
Se conseguir é para cura.
Era um tal de polo.
Eu vou puxar para a frente também.
Senhora, se posso ter aqui uma coisa que vou deixar?
Eu vou puxar para a frente.
Aqui ele está.
Ele não caiu ninguém.
Tá bom.
Ele está aqui bué cavalo de luz.
O Shakira.
Você segue a faixa.
É o meu bebê.
Vai para o c**o.
Ai, porra.
Imagina que tu eras cavalo.
Pensávamos.
Agora se começassemos todos aos pinotes.
Eu sou as cavaleiras que pensávamos.
Vou mandar isto chegar a expulsar.
Tô só a levar um pássaro.
Ah, não.
Já vem.
Pode fazer festas no cavalo?
Pode, pois.
O sexo, o jogo, o álcool e as drogas
não conseguiam viver sozinhas.
Eu pera o sexo, tinha que ter álcool e tinha que ter droga.
Eu pera o jogo, tinha que ter álcool e tinha que ter drogas.
Como é que essas outras adições se começaram a manifestar na tua vida
e como é que tu percebesse que era uma adição?
Quando eu comecei a jogar todos os dias.
Casino?
Sim, qualquer coisa de casino.
Quando comecei a roubar dinheiro aos mochiles
a desgear dinheiro da firma
e quando comecei a perder o controle
o desgoverno total de mim.
Eu deixei praticamente a família para indicarem atrás
mais as drogas e aos bons prazeros pessoais
e não me importei com a família.
A família me ficou para trás.
Tu estes casado quanto tempo?
Tive casado 20 anos.
Já não tinha liberdade.
Já me tinha que justificar demais
para a merda que fazia.
Já tinha justificado mais
para a droga e pós-copes e para as noitadas que eu tinha.
E vi que estava a prejudicar-me a mim.
Porque o princípio sempre...
pensava sempre primeiro em mim
e depois a prejudicar os meus filhos
e a minha...
a mãe dele, se percebe.
Que lado é que tem os seus filhos nessa altura?
O meu novo tinha 15 anos
e a mais velha já tinha 18.
Já se apercebiam de tudo.
É isso que eu tinha a perguntar.
Eles assistiram a muita coisa.
Que tudo te arrependes, mas que na altura
não te davas quanto que eles estavam a assistir.
Sim, sim.
Uma vez te cobraram?
Tenho medo de falar nisso.
Eu penso que sim.
Cobraram.
Mas eu mecia aquilo.
Eu mecia a cobrança que tive deles.
Era uma coisa que eu mecia.
Acho que a maior desculpa
que eu consegui pedir
para todos, todos os que me conheciam
e gostavam de mim.
A maior desculpa que eu lhes dei
foi um exemplo.
Foi a minha mudança.
É, para uma sala de palmas para a obra.
Sim, senhor.
Trabalhas bem.
A comida não é muita, mas é.
Acordei às cinco da manhã
só para ver se apanhava isso.
Fazer este miminho.
É muito, também.
Vou fazer este miminho.
Foi bonito a tua parte para cada dia.
Foi lindo.
Eu estou emocionado.
Queria saber com vocês
quais são os preconceitos
mais comuns
em relação a um avito.
Começa logo
no seio familiar
nas pessoas mais próximas
a ganhar a confiança novamente
às pessoas.
E quando existe um conflito, alguma coisa
que nunca rolou bem, como qualquer outra pessoa
para ti?
Ou um negócio que não fizesse bem,
ou uma decisão, ou a tua opinião
seja lá o que for.
As pessoas têm muita tendência a dizer assim,
quem é isso?
Eu às vezes digo assim, olha, não tenho um autocolante
na testa a dizer drogada para sempre.
Há volta de uns 15 anos de repressão,
a minha mãe dizia-me que ia pôr a casa
e que começa a casa.
Começa, salve seja, fumaça a casa.
É, efetivamente,
algo que acompanha as pessoas
que vivem de perto contigo
para o resto da vida. O medo de te voltarem a ver
um dia,
compreendos?
É aquilo que eu disse à minha mãe, faz o que achas,
porque agora é a casa na minha atua.
Mas não deixes de sentir dentro de mim
bolas ao fim deste tempo todo.
Mas achas que é por não confiar em ti
ou por saber
que o buraco existe, não é?
Essa tentação existe, apesar de tudo.
Existe?
É como aos seguros, faz um sur,
a espera de não ter um acidente.
Claro.
A espera de que tu não recaias.
Nunca senti nenhum tipo de discriminação
nem da parte da família,
nem da parte de amigos,
nem da parte de ninguém.
Aliás, já aconteceu o contrário,
é que as pessoas têm uma ideia,
é drogada, é aquela pessoa ira-chiba
e dizer, mas não fazia a mínima ideia
e realmente
é transformador para a pessoa,
a opinião é transformadora,
porque de repente ver
um caso à frente dela, o drogado,
não é aquilo que eu imaginava.
Mas vocês também estavam isso em relação
a arrumar a carro?
É engraçado.
Acho que é essa opinião geral.
É como os recuperados
dizerem que agora vivem um dia de cada vez.
É só para avisar a malta
que eu agora estou a viver
de 2 de agosto
até 7 de setembro.
Se virei a minha barba a crescer,
é normal, que eu estou a viver tudo aqui.
Olha o tabaco, vida!
Cura para o vosso problema.
É horrível, porque no fundo,
a maneira que vocês têm
de ficar-me melhores,
é pararem de considerar
que vocês sabem.
Por exemplo, eu adoro cozido.
Se me dissessem que
ou nunca mais comia cozido
ou nunca mais viajo minhas filhas,
a minha primeira pergunta era
tem chorizo de sangue?
Não, então é uma mesa para um.
Uma coisa que eles partilharam comigo
foi que nunca se sentiram drogados,
porque para eles, os que estavam na rua arrumar carros,
é que eram os drogados
que estavam em um pior estado.
Eles viam chegar ao pé dos arrumadores e dizer
que tinha aqui uma moedinha,
é para a droga, e eles dizem
que não, a resposta é errada,
mas é para a minha.
Deus, boa noite.
Em Portugal, parece que
há uma tolerância mais alargada
com o álcool.
Se uma pessoa dá umas linhas de coca
ou está à heroína, é um viciado.
Mas se vê 4 bagaços só acordar,
é pai, um ganho maluco.
O que? O Jorge Alcoólico?
O Hortepa.
Sabes que lá bebesse muito mais?
Coimbra para cima é assim e
fala-se muito de álcool e drogas,
mas uma pessoa pode ser viciada
em qualquer coisa.
Desde que seja enxesso e descontroladamente,
é sempre um vício.
Por exemplo, eu gosto de crianças,
mas se eu gostar enxesso
e descontroladamente,
eu vou preso, pessoal.
Então, pensando que se vocês tivessem poupado
todo o dinheiro que gastaram na vida em droga,
neste momento,
dava para comprar
imensa droga.
Falta!
Alcoólico é a primeira droga, digamos.
É uma droga com as outras,
e talvez até é que causou
maiores danos na minha vida.
Depois começam a aparecer
as drogas leves.
Aí havia também
ansiolíticos, ouvintes ao dia de pínios,
aquelas coisas para dormir e calmanos e tal,
que eu ia misturando-me com o álcool
ou que íamos misturando-me com o álcool?
Não eram meus,
eram da minha mãe,
que uma altura teve com uma depressão.
Eu utilizava para experimentar
ou íamos arranjando, ou da mãe de alguém.
Houve um período em Portugal
em que as drogas leves tiveram, não sei o que,
que se passou exatamente, mas houve uma seca.
Não havia a venda.
Então, as pessoas, os sítios que se vendiam às drogas leves
começaram a vender as drogas duras.
Esse foi o meu primeiro contacto.
Há falta de uma coisa que põe-te só,
olha, não, já não tenho isto, agora só tenho aquilo,
na altura heroína.
O facto de ser criativo publicidade
e trabalhar-se com a criatividade
havia mais ao dispor
que o droga, ou pelo menos,
era uma desculpa para se consumir.
As duas coisas?
Muitas vezes é isso, não é?
As duas coisas?
Para criar, às vezes é preciso estar no estado.
Estamos a falar no final de 80,
em princípio de 90,
e até quase até aos anos 2000,
havia muito
essa ideia de que
qualquer um era uma droga de trabalho,
uma droga estimulante,
era bom para trabalhar,
havia confertura em quase todos os exercícios que eu passei.
E, de certa forma,
eu acreditava que se parasse de usar drogas,
eu ia perder a criatividade.
Nessa fase,
eu sou um salto grande, também,
que era...
havia uma pessoa,
um dia eu costumava comprar
as minhas drogas leves,
o meu axis para ter lá em casa,
e ele tinha passado
das drogas leves para o crack.
Eu nunca tinha experimentado,
nunca tinha usado a cocaína cheirada,
nunca tinha fumado cocaína
em forma de crack.
E ele disse,
ah, não, pai, eu agora já não tenho nada disso,
e tal, agora tenho aqui uma outra coisa,
e tal, pronto, estou a deixar lá experimentar isso.
E experimentei uma vez,
saí de casa dele para ir embora,
voltei para trás,
fiz isso umas três ou quatro vezes,
e depois acabei por ficar lá,
meio de...
a consumir.
Aí sim,
tinha perdido o controle,
e se o quiser esperar,
eu também me aconsegui.
E todos,
drogado,
cuidado,
cuidado,
drogado,
drogado,
cuidado,
cuidado.
Tive sorte nunca ser presa,
não é, por exemplo,
porque assisti,
coisas de manobras,
não é de esquemas,
de roubar em pessoas,
e não sei o que, cartões, de crédito,
não sei o que, é que é uma pessoa, faz tudo na altura,
há muitas coisas que eu não cheguei a fazer,
graças a Deus, mas a adição é tão forte,
que tudo mesmo que queira esperar,
eu não conseguia.
Eu continuava a lutar comigo,
para aprender, não estava a conseguir.
Os meus pais apanharam-me,
basicamente foi assim,
e isto passaram-nos há cinco, quatro meses,
quando eu andei mesmo assim, de roda livre,
até que a minha família nunca desistiu de mim,
e levaram-me vim para o lentejo.
Estivei numa casa,
estive entrenada,
dois anos e um mês, entrenada,
num centro de tratamento tipo terapia ocupacional.
O que é que corre mal depois?
O que é que corre mal? Porque de certa forma,
eu não trabalhei o meu interior,
eu estive ocupada,
e tive distraída,
e passava dois meses de queio.
Pouco tempo depois,
e eu já estava
muito mal outra vez,
com o comportamento, obcebe, como possível.
E depois disso?
Exigia-lhe um bocado de dinheiro aos meus pais,
e não sei o que, porque estava secado,
e estava doente a ressacar,
e queria usar,
e aí eles perceberam que
nunca oucia fazer nada comigo.
Eu cheguei ao ponto de assaltar a casa dos meus pais,
para roubar o ouro todo.
Eu fiz isso,
de alguma vez eu me imaginava,
já lhes pedi perdão,
e fiz-me forer imenso,
minha mãe é
uma pessoa que o mais acreditou
em mim até hoje.
Eu acho que sem ela não tinha entrado em recuperação.
Tenho três irmãos, rapazes,
e eles disseram-me,
olha, não te queremos mais aqui.
Meu pai dê-me 40 euros,
e disse, rezerrasca-te,
e eu tinha 46 anos,
e eu não sabia
que ia fazer mais da minha vida.
E é isso que
fiquei mesmo sem chão.
Temos que se apontar ao Luís,
que atravessa ao Rio d'Or,
que é um sítio maravilhoso.
Eu nunca pensei em matar-me,
nunca pensei, porque meu pai disse-me,
mata-te, porque é melhor que
se deixamos todos de sofrer.
E eu sei que aparei
a meio da ponte,
foi mesmo uma passagem,
para uma outra vida,
que eu tive ali.
Nem sei bem rezar,
mas eu falei comigo,
falei para o céu, falei para o rio,
e envoquei a minha avó,
que se chama Beatriz,
porque é mãe da minha mãe.
Eu nunca reconheci ela,
ela morreu muito cedo,
eu não tinha nascido,
e talvez ela seja uma estelinha
para proteger-me.
E, portanto,
essas pessoas que me viram
nessa transformação,
perceberam que eu tinha um problema?
É.
É o quê? Casa de banho?
Claro.
Ele aproveita a hora das refeições
para ir à casa de banho.
Agora, que só muito dá a ver a opinião
do Rio em relação a este assunto.
Vamos só ouvir um bocadinho.
É também a melhor forma de ouvir-me.
Mais pacífica.
Imagina que a voz do Rui era isto.
Olha.
Rui!
Está assim.
Já foi.
Olha, já lá está. Mas foi melhor assim,
ele estava a se ferir muito.
Uma salva de pôrmos para os jorges que estão ali.
Os jorges, aos 10, 11 anos,
já bebiam o álcool que os pais tinham em casa
e misturavam com os comprimidos da mãe.
Caramba!
Parecia uma bimbi com pernas.
Os jorges sempre se sentiam desajustados da sociedade.
Eu vou dar um exemplo.
Os colegas estavam sempre a discutir,
mas eu não vou ter o leito primeiro.
E os jorges a pensar se punham o whisky aos válvios primeiros.
Mas atenção, o jorges é especial.
O jorges é capaz de ser das únicas pessoas na história do mundo
que com 10 anos bebiam o whisky mais velhos do que ele.
Há pouca gente a conseguir este feito.
Em 1999, ele conhece uma rapariga com quem veio a casar,
acreditando do ele que o casamento ia salvar.
Mas no próprio dia do casamento e na lua de mel,
abandonou a mulher para ir para o bairro consumir droga.
Ora, está uma lua de mel de sonho.
Sim, senhor.
Amor, queres ir de lua de mel?
Quer? Põe, Jorge. Boa.
Então boa viagem.
Boa viagem que eu tenho aqui para o bairro,
queres de cor... Não se troga sozinho.
Tá bem?
Não eras a mal.
Agora vejam só se a comédia não se escreve sozinha.
De onde é que o Jorge é natural?
Rio Tinto.
Rio Tinto. Obrigado e boa noite.
Claro que é.
Parece que estava a adunhar, não é?
Com tantos... Se tivesse nascido no luso, hoje não estava aqui.
Quando teve uma depressão,
o psiquiatra explicou-lhe que a heroína era perigosa,
mas que a cocaína até seria antidepressiva.
Cá está. E aí vamos nós.
Tenho a certeza que foi estão médicos, Jorge.
Eu juro, está aqui um médico a dizer-me
para consumir cocaína.
Juro que ela até sia o de cima do unicórnio,
para me dizer isto.
Está aqui este castorre.
Vamos deixar a mente... Ah, um pato.
Viram o pato? Viram o pato que estava aqui.
De certa altura, o Dilar era vizinho dos Jorge.
É pá, o Dilar vizinho do Jorge.
É perfeito.
Nasceu em Rio Tinto.
Tenho vizinho que é Dilar.
O que é que uma pessoa quer mais na vida?
Vizinho, tem um raminho de salsa? Não.
E crack? Ah, isso tem.
Então traga-me um raminho de crack,
se eu sempre for a pé até a bragança.
Eu sempre achei que o humor fazia parte da recuperação.
Eu não ia entrar em recuperação para ser uma pessoa triste
e se eu moria com o que era no passado.
Ele ia fazer uma pessoa diferente, com luz.
E acho que o humor é essa a porta.
Mas é assim, para viver,
nós temos que ter prazer na vida, não é?
Porque se não for para isso, o Dilar...
É estar a melhor ir ao Zadra.
É difícil para cá-se gozar em comigo
que eu gozo muito mais de qualquer outro.
Tanto é parte boa.
Eu soube logo o primeiro a gozar com as minhas fragilidades
e a brincar com isso.
Tanto é meio difícil de atacar-me.
Não há muito pão de agarrar.
É aí que vais ficar...
Não sei se que eu vou fazer.
Sim, claro.
Mas é que é a magia do humor.
É que há sempre pessoas que não voçam.
Estão campeadas em um mês.
Do dia em que se encontrar um humor que toda a gente está campeado.
Deixe-me ser grato.
Isso é...
Isso é...
Porque há...
Há amigos e há lindos.
São...
Corte a direita.
Por que você põe um bocado de maionese nisso?
Você põe um bocado de seco.
E se você comer isso de seco, é que vai te ficar negarigando.
Pô...
Esse cara está com a maionese com um bocadinho de gambá lá no meio.
E empurra o cupão.
É que a maionese com gambás.
É, mas olha, é um prazer ver ele comer também.
É, pai, é uma maravilha.
Tu come, tu dá gosto de ver-te comer.
Dá gosto, dá gosto.
É sério.
O que é que estás a fazer?
Ela.
Pai Rui.
Ah, é para mim Rui.
Não é essa posição.
Está assim?
Pai Maria, corre.
Ah...
Alma lá.
Chupa.
É minha.
Acredita.
Acredita.
Boa.
Boa.
Não se sente nada aos traques que eu fizeste.
Nada?
Tô antecer as Atletas Olímpicos.
Tô antecer a droga pedidas e...
Passado um ano e meio de estar em recuperação,
eu fiz uma maratona.
Isto é recuperação.
Ótimo para ela.
E deixei de fumar no dia anterior.
Eu segui-me sempre.
Ele antes do paro, ele deixou de fumar.
Eu sempre deixei de fumar,
depois eu vais de treinar para uma maratona o dia a seguir.
Depois nunca mais quero fumar, porque costas tanto respirar,
que vais sempre para fora.
Mas é, respirar é fixe.
Respirar é uma coisa porra.
Não tenha sábado.
Não tenha sábado.
Quem fica fora agora?
Não tenha sábado de respirar.
Quem fica fora agora?
Eu.
Oxigênio.
Oxigênio puro.
Nunca houve aquele limite de
não posso consumir mais porque não tenho dinheiro.
Não.
Infelizmente, não.
Infelizmente, não.
Ah, para quem me entende.
Nunca pensei que eu fosse drogado
para as párboas, que eu nunca pensei.
E a tua família...
Nunca estou, não.
Estas pais têm um irmão.
E nunca suspeitaram?
Um irmão, sim.
Também formado.
Alô, dona Marta.
Um irmão.
Irmão, eu sei que estava ali no quarto.
Não sei.
Oxigênio.
Ah!
Oi.
Ele também tem a recuperação.
Porque também vai ter lá no fundo.
E...
E também é dito.
Ai, tchau, tchau.
A idade dos meus pais e dos pais dos meus amigos
nunca perceberam, obviamente, o que era
a droga.
Porque não havia.
E eles nem sabiam que a gente estava...
Pensavam que a gente só via cópsis
e que fazíamos aquelas molqueiras
e eu fui para tratamento com 50 anos
e a minha mãe disse
mas tu és drogado, meu filho.
Ah!
Veia bem.
Tu és drogado.
Tens, tens.
Vem aqui.
Oh, Silva!
A minha derradeira recuperação
começa quando
eu baixei os braços e percebi
que tinha realmente um problema muito grave
e que tinha que pedir ajuda
que eu, sozinha, não era capaz.
Eu imaginava ter netos
e os meus filhos
tamos todos a filmar um chá.
Era a imagem que eu tinha
de futuro. Era giro, era cool.
Era divertido.
Era divertido e assim não era.
Resolvo de pedir ajuda
a um centro de tratamento
todos os dias de manhã e para lá.
A noite eu pôr um grupo,
estes grupos de auto-ajuda
e aprendi neste processo
a partilhar a meninador
para não estar tão sozinha.
Era possível
conviver com outras pessoas
sem beber um copo.
Era possível ir a uma discoteca
sem beber um copo
e divertir-me.
Eu divirte muito mais hoje
do que na altura.
Porque chegava ali uma certa altura
já não me estava a divertir, estava só
e eu não me estava a divertir.
Eu tenho uma doença
chamada adição
que é por resta da minha vida.
Salve, Pamas, Pai Maria.
Salve, Pamas, Pai Maria.
Querida Maria.
Ah, eu tenho que ver.
Ah, eu tenho que ver.
Eu tenho que ver.
A Maria diz que é
técnica designer de unhas.
Só o facto de deixar
que é designer de unhas
que já se nota que deu na droga
e que ainda não está bem.
Não lhe digo a nada.
Não lhe digo a nada que ela não sabe.
Na casa Maria partilhou
que uma das coelas do consumo de droga
foi a perda de memória
o que me dá medo é que ela esqueça
que foi drogada
e começa a drogar-se para experimentar.
Vamos por um positivo.
Aos 22 anos,
engravida e tenho seu primeiro filho,
o Fábio.
Não se faz.
Fábio.
Fábio é uma bonita maneira de dizer
pronto, não me já tens.
Só não é drogada se não quiseres.
A Maria diz que fez um dos filhos
sobre o efeito da droga
e quando deu à luz disseram
que foi uma heroína e ela
para casa até foi.
Eu quero que eu tenha no armário
depois de ter um filho
conseguiu ficar um mês e meio
sem usar drogas
mas ao fim de três meses
estava novamente agarrada
eu nem quero imaginar
a que é que sabia
o leite materno
devia dar dez a zero
Red Bull.
Aliás, até uma medida como é que o Fábio
não é o campeão de 100 metros
depois de ver aquilo
ai meu filho é hiperactivo
e depois devia ser o que
um painonhas.
Eu numa altura, numa refeição normal
beberia vinho
eu não tenho feito
porque acho que isso pode ser
calma mal
Cuidado que eu não conheço.
Não, não, não.
Estou a tentar usar as palavras certas
por respeito
e a minha questão é
imagino que
no dia a dia isso aconteça
Seus que lhes dizem
não vou beber uma cerveja porque senão
vou te estar a provocar
Não, não.
Nunca é tido com uma falta de respeito
Eu acho que até o sinal de recuperação
é eu poder estar
ao lado de alguém que bebe
e não me fazer confusão nenhuma paz
resulta que vais te fazer a garrafa
Não, não.
Não há problema nenhum
Não, se você for um copo pra mim
vocês são lambões
Nós passamos a ser extra terrestres
Uau
Não
Obviamente, eu sei que vocês não passam a ser extra terrestres
a única coisa é
parte dos conhecimentos
da realidade dos outros
saber o que pode ser ofensivo ou não
É simpático da tua parte
de alguém que está conosco
a verdade é assúlida
Acho que não te importa
Mas realmente
Eu não faço as vezes nenhuma
Tenho um de saudades disso
de beber um copo pra refeição
ou de beber uma cerveja ao final do dia
Não é bebeira, não é...
Sim, sim, sim
É aquela coisa de sabi-lo bem
Juntar-se com outra pessoa
desde um bom vinho, relaxares
está muito associada ao propósito
Sabe, saudades
Ficou lá
Foi uma coisa que ficava lá atrás e que eu não posso
Fazia mais
Sabes que a gente está...
É o make-up, é meio braço, estás a ver
Estou a estar a ver isso
ou estás a ver aquilo que estás a ver
É meio braço
Estava perto da estação de sambento
E encontrei na passadeira
numa passadeira
uma amiga minha
com quem ousei, drogas
E ela diz-me assim
Anda para este lado
O lado da recuperação
Lá da vida
Eu disse, eu quero, ajuda-me
E para onde estava ali a ajuda
Ela ligou para um amigo
E quatro dias depois
eu fui para um centro de tratamento
E aí houve um trabalho interior
muito profundo
Não sei mais conhecer outra vez
e a perceber realmente
O que é que eu era?
O que é que eu tinha feito pela minha vida?
E para onde é que eu quero ir?
Basicamente é isso que eu decidi
Eu não quero mais estar ali, não quero viver assim
Eu não quero ser prisioneira de uma droga
Eu quero realmente escolher o meu dia, acordar
E não ter obsessão
E hoje em dia, quando acorda
e nunca mais obceguei por droga
É maravilhoso
Só isso
E aí
Sala de palmas para a Beatriz
Viva Beatriz
A Beatriz começou a consumir
dizela como muitos adolescentes
começaram num passeio de escola
uuuuuuuh
Ninguém
Os colegas estavam todos de uma visita
de estudo e ela numa visita de chuto
Logo ele veio lá
A Beatriz
trabalhar um ano em design de interiores, mas no fundo já tem anos de experiência
disso em casa dos pais.
Esse serviço de prata não fica bem aqui, põe não, então vamos dá-lo para a minha
casa.
E este cartão de crédito também não combina bem com os cortinados, põe não, pães.
Vou levar.
Também disse que teve dois anos numa clínica no alentejo.
Dois anos.
Será que era uma clínica de zentoxicação?
É que não estava em que ela estava, não terá só entrado num palheiro.
E ficou lá dois anos.
Só dois anos depois é que entrou lá o dono e disse, está, doura, doura?
A começar é a época das vendimas, eu tenho que tirar o trator, sai lá daí, minha mina.
Entre 2006 e 2007, esteve internada numa associação de tratamento em recuperação.
Um tudo, o relacionamento com o adito, também internado na associação, fez com que ela
voltasse ao mesmo.
Um dia que havia três conheções, um homem que tem os dentes todos, apareceram aqueles
velhotos que vivem no interior e vão ver o mar pela primeira vez, está bem?
Ah, é assim.
Eu só tinha visto nas novelas, mas nunca...
Mindo.
De aqui para atrasar a dente.
Eu pensava que os homens só tinham a dente e são aqui.
Também estou de cocaína porque, estou a citar, num parque de diversões, eu gosto da montanha
russa, não é do carroçel.
E é estranho porque, normalmente, é no carroçel que está o cavalo.
A Beatriz espera que, falando abertamente do consumo e edições, não venha com isso
a glamorizar a dependência.
A Beatriz, agora é tarde, porque quando tu falaste de roubar os dois pais, fugir dois
meses para o mato com o drogado, é normal que as pessoas em casa fiquem todos.
Ah, eu também quero ter esse lamuro.
Todos os dias que isto está capa, isto vai ficar de droga na troma.
Eu sinto que não é na aproveitar este nariz como deve ser.
O normal de toda a tua vida é em que tu ficas seis meses fechado a consumir.
Estava numa fase emocionalmente muito perturbada, depois com a morte de meu pai, eu queria
solir um fosso, gostava muito de lhe ter dado essa aprenda, que era ter-me conhecido
em recuperação, mas não o conheceu, não chegou a conhecer.
E aquilo teve um efeito devastador, basicamente desistido de viver, não é?
Eu não sabia se era de dia, se era de noite, que estava fechado em casa, não me lembro
quase nada deste período, destes seis meses, foi um período de facto muito negro.
Não me lembro de ter comido, acho que a maior parte as vezes não comia, se quer, não
sabia quando é que dormia, quando é que estava acordado e por aí fora.
Já não pensava em deixar de consumir, pensava em deixar de viver, já estava na fase em
que eu só não tinha coragem para ter-me uma vida, portanto, eu li uma vez que sementes
de maçã tinham uma quantidade de cianeto, que se tivesse a quantidade suficiente de
sementes de maçã, aquilo matava um pessoa.
Então eu andei meses a colecionar sementes de maçã para ter, para depois ter aquilo
e...
Isto é completamente insano agora, quando olho para trás, nem reconheça essa pessoa,
mas eu estava nesse ponto, tinha pagões e nem sabia o que é que andava a fazer, e não
tenho conhecimento do que é que me aconteceu no último dia antes de entrar na recuperação,
não faço ideia do que é que aconteceu, e aconteceu em casa de uma pessoa muito especial,
uma amiga que já me tinha ajudado imensas vezes em situações em que eu estava pior
e queria tentar parar, e estava em casa dela, e eu devia ter feito qualquer coisa tão
bom que no dia seguinte ela disse para chega, não te vou poder aturar mais, ou faço qualquer
coisa sério, por ti, ou então eu não te posso ajudar mais, pronto.
E eu fiz isso por ela, e eu só tenho um amigo para que tenha o mesmo problema que tu, tudo
bem, então marca lá com ele, dá-me um contacto, que eu vou lá até que não, e fui para a
minha primeira reunião, e quando cheguei lá de facto foi, foi a desligar a casa, foi
o sentir que se calhar ainda havia uma hipótese, foi o que eu pensei, se calhar ainda há aqui
uma hipótese, porque não tentaram, deixando-me tentar.
Eu estava esfarto de clacionar carose, não sei.
Você não tinha sido tipo após carose, não.
Desculpa lá, dá-me a verdade, e eu também me já me riria, dá-me a trabalhar, porque
está aqui a lançar, e está na porra.
Pareceu mais rápido que as drogas, porque já eram há muitos anos a tentar morrer com
drogas, e eu não consegui, carossos de lançar, estás desculpa, estás desculpa.
Eu disse que a tua recuperação foi por amor, o que é que lhes é isso?
Eu apaixo bem pela minha surda, com quem me casei mais tarde, e eu apaixo bem perdidamente,
contive com ela a usar, ela entrou em recuperação, foi ela que me abriu os olhos, e que me pôs
aqui, que me mudou a vida, e que foi ela, e estou grato, e depois de estar em recuperação,
a nossa relação anterior destruiu tudo, o nosso futuro todo, essa relação anterior.
Eu não quero se forer mais.
E de hoje sou a dita da comida, adoro ir ao submargal.
Oi, oi, oi, oi, oi, oi.
O que estás a meter aí dentro do saco?
O que é que tu...
Eu não preciso comprar coisas, não preciso para nada, meu, eu não preciso de comprar
um pudim, três caixas de ovos de aveiro e um molotov, não preciso, eu vivo sozinho
e não preciso, mas já estava tudo dentro do cabelo.
Mas com estas coisas que lhes tu foi um pudim, molotov, ovos de aveiro, põe o estudo nos
sítios, ou deixas tudo ali na zona desconselado, oi, oi, oi, oi vais fazer o caminho todo
para trás, oi, oi, a...
Estou a dizer?
Deve pensar que o que é nessa, não, de repente uma pessoa encontra um abato de priscoz
ali na...
O pé do Dolin Cepate e foi o Rui, que é dolly, acho que o Rui vai outra vez lá para
a tele, ó o Rui tem que fumar 14 cigarros que há fora, agora o Rui vai para o lado.
Oi, meu.
Não se assegou, mas bonita é.
É linda.
Essa coisa de ser aquela tarteira, não é?
Agora percebe-se bem por que é que tu estás cá, Bruno, porque a gente podia responder
às perguntas sem estar às cá, mas tu é muito bom a partir tardes, é assim.
Claro.
Eu via mais.
Quer ajuda, Bruno?
Não, eu estou ótimo.
Não é preciso partir mais, já está.
Está?
Não está.
Ele está.
Ele está.
Quero mais.
Cortar o prato.
Olha, posso cortar?
Não.
Não.
Não.
Não podes cortar, tu fizeste.
Agora que passa a faca por baixo.
Ai, mas tem uma base.
Ui, gisto.
Você quer cortar a chapa?
Não é para comer a chapa, Bruno, não é?
A chapa não é, não quer a chapa.
Eu sabia, você não acha que eu não sabia que isto tinha aqui uma chapa por baixo?
Mas ele é delicado.
Está tudo sujo.
Quem?
Não estou nada sujo.
Como é que está sujo?
É o que é.
Está tudo sujo.
Está tudo sujo.
Olha o peixe, está lindo.
É tão ódio.
Vamos lá, é?
Mas vai?
É bom, é bom, é.
O laos vai, meu, juz, entre mim.
E se acham que a Beatriz, o Jorge e a Maria eram bons drogados?
Perparem-se até conhecerem o Ruinho, mas ela pode a espalvuja.
O Ruinho não trabalha, diz ele, por opção.
Trabalha, trabalha, e até começou a ser de que isto bebe-se e fumar das novas cinco
lá trabalha.
Ou a pessoa não se pode extrair com chamadas ou com fotocópias, ali, nunca tirou férias.
Tem ali os pulmões, parece uma assessora da D'Alcatrão, hoje acerto o Rui tornou-se
DJ, e faz sentido que ele já estava habituado a fazer misturas, portanto, também me disse
que a certa altura roubou dinheiro dos pais, mas também nos próprios filhos, é uma espécie
de Natal ao contrário.
Papá, o que é que tens para mim?
Descalma, e tu, pequenino, o que é que tens para mim?
Lá a partir daquele pouquinho de milho, papá está a ficar aqui com a boca seca, cheia
de comissões.
Vai lá, papá, papá, tem que ir ali, está com o rinito, o papá não dá.
Além de drogas e álcool, o Rui também se viciou em sexo e no jogo.
Ele não é esquisito, é uma pessoa que não é esquisita, tenta tudo, quer jogar poker,
não pode ser, não pode ser heroína, não tem, é tomando de vida dois pipis e a conta,
e não só lá isso.
Pronto.
Que devida, não é, são 35 anos de drogas e álcool, no fundo, ele teve três décadas
a marinarem vinha d'alhos, o Rui quando morrer, se optar por ser cremado, vai se notar no
raio de três quilómetros, vai cheirar a chamfana.
E contou que só há 50 anos é que a mãe descobriu que ela era drogado, até lá nunca
suspeitou.
Ao 50 a mãe lembrou-se de dizer, oh Rui, cheira amatabaco, tu foste sair ontem, cuidado
com as companhias Rui e Miguel, levam um casaquinho pelas costas, casamento do Rui
não durou muito, porque segundo ele, queria fazer coisas que não eram bem permitidas
no casamento adultério, festas diárias, e eu aqui no meu casamento, preocupado, se
deixei o tempo da sanita para cima, recebem, vidas, aquilo que eu diguei, amor, desculpa
ter deixado a palha no chão da casa de bem, e o que o Rui diz é, amor, desculpa ter
deixado estas quatro senhoras aqui no chão da casa de bem, é que é que é, não é,
até as senhoras nunca calma, é, deixa-me viver porra, virem só ao contrário, as quatro.
A sala de palmas para os meus quatro convidados, Maria, Rui Manoel, Abiatriz e Jorge, muito
obrigado a todos, tem prazer, até breve.
Como imaginou o futuro, o que é que imagina?
Sei que estou no caminho certo, isso eu tenho certeza da absoluta, eu cada vez mais gosto
da pele que eu visto como Maria, o futuro, já me deu medo, hoje em dia não dá, é
engraçado.
A coisa que eu tenho muito desejo é continuar a sentir gratidão por todas as pessoas que
nunca desceram de mim, e pai comece pela minha família, pelos meus pais, não é, eu quero
ser grata a essas pessoas, porque foi uma segunda oportunidade de vida que eu quis agarrar
e quero conservar, conservar muito, é isso.
Eu sei a minha vida toda a crescer diferente, e hoje em dia eu quero ser igual a toda a
gente, não quero ser um estranho, quero ser como toda a gente.
Estou quase atingido, estou atingido, um nível de, vivei um dia só de cada vez, sabe?
Escolhi uma música que é de um senhor que também resolviu entrar em recuperação,
que é o David Bowie, e que morreu com 40 anos de recuperação, ou 40 anos, ou o que
que foi?
E é uma vitória.
É uma vitória de todos os dias, portanto, é como isto, ser um emocionar um bocadinho,
não estranho.
Está bem?
Muito bem.
Just for one day
We can be heroes
We can be heroes
Just for one day
We can be heroes
Just for one day
Bravo!
Boa, Jorge!
Boa, Jorge! Obrigado!
Muito obrigado a todos!
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É possível rir das dependências? Neste terceiro episódio de Tabu, Bruno Nogueira reúne quatro convidados com problemas de adição e vício. O álcool, as drogas, o vício no jogo e no sexo, são uma realidade nas vidas de Jorge Pinto, Beatriz Brandão, Rui Correia e Maria Nobre, que aceitaram o convite do humorista para partilharem o seu testemunho, como exemplo de força, coragem e prova que o humor pode mesmo salvar-nos a todos dos momentos mais sombrios. “Álcool, cocaína, heroína... Se vocês fossem estrelas rock, não havia problema nenhum”.
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