6/18/23 - Episode Page - 55m - PDF Transcript

Na tua terra, na tua terra, na tua terra

Vamos, na tua terra, na tua terra

Vamos, para a tua terra

Mi única virtuo e defecto es ser imperfecta

Mi lengua cuchillo doble filo en tu oreja

En esta vida y en la anterior soy guerrillerame

Matan pero vuelvo aparecer en esta tierra

Olá Emmanuel

Olá Hugo

Estás pronto para o mais uma viagem

Prontíssima

Prontíssima

Prontíssima

Hoje vamos até a Guatemala

Que é um país da América Central

Fica, vou ser um bocadinho

Os geógrafos não sei

Ficaram um bocadinho chocados

Mas é abaixo do México

Acima del Salvador das Honduras

E ao lado do Belize

Para mais ou menos visualizarem no mapa

E moram lá mais ou menos 17 milhões de pessoas

Todo o território da Guatemala

Foi o coração do Império Maia

Esta civilização mítica

Que faz parte do imaginário de todo o mundo

Todo o mundo

O seu sofisticado sistema de escrita

A escrita de uma maneira muito sofisticada

Não desfazendo o Claro Emmanuel

Também sou elaborado a arte, a arquitetura

As famosas pirâmides maias

Os avançados conhecimentos de matemática e de astronomia

E até esse enigmático calendário

Que nos parecia anunciar o fim do mundo para 2012

Hoje dizem que nem eles diziam nem os maias

Porque previam o fim do mundo para 2012

Nem o mundo de facto acabou em 2012

E 12 pelo menos não este universo

Em que nós estamos a viver

No outro universo paralelo

Se calhar o mundo acabou mesmo

Em 2012

Quase toda esta civilização maia

Vai ser arrasada com a chegada dos europeus

No século 16

Quase

Porque com uma resistência notável

Foi sobrevivente como pôde

E hoje existem 6 milhões de descendentes

Que ainda vivem na terra dos seus antepassados

E mantém viva quase 3 dezenas de línguas maias

Depois de ser uma colônia espanhola

Vai se tornar um país independente em 1821

Só que a história não foi fácil

O resto do século 19

Foi muito rico em estabilidade

Em convulsões internas

Depois já no início do século 20

Lá vai chegar mal fadada empresa americana

United Fruit Company

Que vai transformar basicamente a Guatemala

Num estado

Ou seja, esta companhia é um estado dentro do estado

E vai transformar a Guatemala numa espécie

De uma quinta gigante de produção de fruta

É daqui que vem a expressão

Republica das Bananas

Porque era a principal cultura nesta região

Com vinhos americanos ter no poder

Alguém que fosse um aliado

E isto vai ser uma série de ditadores

Ao longo de quase todo o século 20

Que vão os americanos apoiar

Há uma tentativa muito breve de democracia

Mas que os americanos rapidamente

Trataram de acabar com ela

Depois, claro, isto vai dar uma resistência interna

Do movimento de esquerda

Lá dentro, vai crescendo

Vai crescendo até que em 1960

Rebenta uma guerra civil

Entre o governo com o apoio dos americanos

E os rebeldes

A guerra vai durar quase 40 anos

40 anos

E depois no fim

O que é que temos?

200 mil mortos

Muitos deles maias

No chamado ou locaos de maia

Um país destruído e uma ferida

Quase insarável na sociedade de Guatemala

Hoje é um lugar do mundo

Onde a natureza foi tão generosa

Mas também um quarto da população

Vivo em risco de fome

Para sabermos o que é que se passa

Debaixo destes números tão tristes

Que vida pulsa

Debaixo desta história

A nossa convidada é Maria René Moral Islam

Que nasceu em 1985 na cidade da Guatemala

Que é a capital

Estudou design industrial

E depois já em Portugal

Onde vive desde 2013

Especializou-se na arte

E na ciência do vidro

O ano passado

Abriu

O ano passado é 2022

Se caso não estejam ao vídeo

Aqui em 50 anos

Abriu o seu próprio atelier em Lisboa

Que se não estiverem ao vídeo

Aqui em 50 anos

Está precisamente agora a fazer

51 anos

Que é uma coisa muito engraçada

Olá Maria René

Olá, como está?

Bom dia

Obrigado pelo convite

Obrigado de nós por estar aqui

Vou perguntar

A gente pergunta

Quase sempre isto acho

Que é uma pergunta boa para começar

Quais são as suas primeiras recordações

De infância?

De infância

Na Guatemala

Viajar muito no tempo

Sabes, Guatemala

Quando eu era pequenina

Lembro-me que ainda era um

Bom, a cidade de Guatemala

Ainda era muito tranquila

E ainda dava para andar da bicicleta

Na rua, frente à casa

Tínhamos um jardim

Que apenas tinha uma grade

Pronto, não era grande coisa

Era uma cidade que morava

Não muita gente, é isso

Porque eu sei que é a cidade mais

Populosa da América Central

Vive lá quase toda a gente

Sim, exatamente

Isso já vai para outro tema

Mas tens muita oportunidade

A trabalho está na cidade

Mas era uma cidade muito tranquila

Quando eu era pequenina

Não entendo

Isso mudou radicalmente

E hoje em dia já não conseguimos andar

Tamo facilmente da bicicleta

Na rua

Mas as recordações são boas

Ainda brincávamos, sabes

Na rua

Algumas ruas ainda eram

De terra, terrabatida

Sim, uma vida muito tranquila

Especialmente isso

Deu-vos de brincar na rua

Que seus amigos faziam essas

O que é que brincavam?

Sim, era...

Sabe, naquela altura

Ainda eram as brincadeiras escondidas

Não sei como falam

As escondidas

Apanhada

Sabe, aquelas bolinhas de vidro

Que a gente...

Brelindes, sim

Exatamente, brelindes

Brelindes

Brelindes

É do que foi sequer

A tua paixão por vida

Possivelmente

Tínhamos muito também outras

Muitas brinquedas ainda manuais

Sabe, uma coisa muito simples

Muitos jogos de...

Com músicas

Que enviam muita interação

Entre as crianças

Que jogávamos com as mãos

Pronto, tinhas que apanhar

Tinhas que ser mímica

Pronto, era uma vida super saudável

E depois também a parte da televisão

Se põe nele a ver os desenhos animados

Tínhamos muito, sim

Pronto, e nós tivemos

Uma grande influência dos Estados Unidos

Como já falaste

E então...

Pronto, quando era muito...

Cinco anos ainda só tínhamos

Dois, três canais nacionais

Logo, entrou televisão americana

Então, nós crescimos basicamente

A ver a televisão

Programas americanos

Muitas pessoas na quarta mala

Falam bem em inglês

A causa desta influência que temos, não é?

Então, basicamente

Temos os programas que eles vinham

Era o mesmo que nós tínhamos, não é?

Uma cultura muito americana

Muito americana

Sim, mais que programas...

Pronto, contenido, conteúdo...

Espanhol americano, se quiser

Guatemala e Teco

Nós estávamos a ter conteúdo

Norte-americano

Só, não se viam, por exemplo,

As novelas mexicanas, não?

Tinhas também

As novelas mexicanas, brasileiras

Claro, também tinhas isso

Mas eu acho que depois a geração mais jovem

Começou logo a ir mais para

A influencia norte-americana

Tinhas o MTV também, depois

Quando eu era adolescente, não é?

Claro, já falámos aqui

Esta guerra civil vai adorar de 1960

E até 1996

Portanto, nasceste

Com a guerra ainda...

Full blown, não é?

Tu tens recordações disso?

Sabes, não tenho

É o pessoalmente

Na cidade não acontecia muito

Acontecia, acontecia

Eu acho que também nos espais

Fiz um grande esforço

Por proteger-nos nesse sentido

Do que estava a acontecer

Mas mais à frente, quando...

Pronto, eu já mais cresci da

A minha mãe contou-nos muito

Estas histórias

Ela trabalhava na Universidade Pública

Da Guatemala, São Carlos

Que era... Pronto, era um sítio

Importante

Os estudantes tinham alguma verano

Exatamente, exatamente

E tinhas...

Ovia-se muitas coisas

Sabes, por exemplo

A minha mãe falava das orelhas

Que eram pessoas que estavam introduzidas

Para saber

As conspirações que estavam a acontecer

E depois os estudantes desapareciam

Por exemplo, não é?

Tive algumas situações

Onde tiveram bombas

E coisas assim, um bocadinho mais violentas

Claramente a minha mãe

Nessa altura, nós não

Não se apercebíamos do que estava a acontecer

Éramos muito de peteninos

Eu falo em nós porque era a minha mãe e eu

Mas, pronto

Foi só mais...

Já estávamos um bocadinho mais crescidos

Que nós ouvimos destas situações todas

Sim, mas...

Já depois da guerra acabar, isso?

Sim, e eu acho que os nossos pais

Elas viveram uma

Época muito, muito estressante

Muito forte, sempre muito próximo

Sabes, nunca sabias

Amigos que desapareciam

Pronto, situações muito complexas

E eu, então, acho que também viveram

Muitas situações de medo

E, sobretudo, sabes aquela

Quanto podias

Falar, expressar

O que acontece sempre com as ditaduras

E com situações destes

Os informantes

Sim, exatamente

Isso era, tu não sabias

Quem era a orelha ou não

Então, tinhas que ter muito cuidado

Da maneira em que tu expressavas

As tuas interesses ou tendências políticas

E tu agora quando olhas para trás

Agora, quando começaste a fazer essa análise

Quando olhas para trás, consegue perceber

Como isso afetou a vida dos teus pais

Como afetava a vida dos adultos quando eras criança

Tu ser sincera, pelo menos na minha própria

Experiência

Parece que há uma

Foi um desejo quase de apagar

A história, não se fala tanto

Como deveríamos, talvez

Claro que as pessoas têm muito presente

Esta época

Não entanto, foi uma atrocidade tão grande

Que, não sei se era a vontade

De deixar isso atrás

Mas não se fala tanto como

Como deveríamos

Sim

Porque a maneira como isto foi tratado

De aquelas comissões de reconciliação

A coisa ficou mais ou menos

Quase mais ou menos ficou

Resolvida por ali

Sim

E quase que tinha, havia uma vontade

Quase de esquecer rapidamente o que tinha acontecido

Depois de tiver...

Pronto, o...

Um dos últimos

Pessoas a estar no poder, que foi o Rios Monte

Ele foi a juízo

Foi julgado

Mas ele já estava em uma idade avançada

Em dois mil e três, eu acho que isto foi

Foi achado culpável

De genocídio

Não entanto

Não conseguiram levar à frente

As sanções

Para se disser e finalmente

Ele terminou por morrer antes do caso ser resolvido

E fala-se

Faltam um filme do Tarantino

Sim, exatamente

Há um ponto final

Um bocadinho mais dramático e evidente

Não é que sim

A questão, numa guerra civil

Há sempre dois lados

E tem essa particularidade de ser

Ainda que os americanos tenham apoiado uma das fações

De ser dois lados do mesmo país

Com dividida

Ainda é a sociedade

A sociedade de Guantemateca

Imensamente sim

Quantas pessoas ainda há

Com uma nostalgia de ditadura

E do apoio americano

Sim, era o que eu tinha de disser

Precisamente, eu acho que

É resultado a divisão social

Nós temos uma

Para já, há um abismo

Desequilíbrio

Econômico e social, gigantesco

E isso faz com que

A cultura e a sociedade

Tenham, pronto, há um impacto gigante

A causa disso

É difícil falar disso porque

Se tu tivesse acesso à educação

E tens

Algumas oportunidades na vida

Para sair adiante

Para já, já estás de um lado

Diferente da história

No entanto, na Guatemala ainda tens

A metade do país

No outro lado da história

Onde não há acesso à educação

Não há acesso à saúde

É uma lista

Um bocadinho sem fim

Então, difícil porque

Esta separação, imagina, eu fui à escola

Claramente, a minha perspectiva é diferente

Eu consigo ver as sobras das duas

Lá dos histórias

Eu tive o privilégio

De ter uma história diferente

E, desde os olhos, pronto agora

Eu nisto na Guatemala, mas há uma

Divisão muito grande

Eu acho que ainda se vive muito

Dentro da...

Ajuda-nos a perceber um bocadinho

Entre as pessoas do campo e as pessoas da cidade

Entre as pessoas com mais educação

A menos educação formal

É entre descendentes de colonizadores

Ou descendentes de indígenas

Como é que é esta divisão?

Para já, na história, tens

Pronto, o crióio

Que era o espanhol que já nasceu

Na Guatemala

Que sempre vem de lado

Da parte mais conservadora

Que ficaram com grandes partes

Da terra da Guatemala

Então, até certo ponto, tens esta linarra

Que nós falamos desta linha

Que tem sido mais favorecida desde sempre

Apesar das independências

Tem sido o controle político

Exatamente, o poder tem estado

Deste lado e depois do outro lado

Tens...

As pessoas locais, indígenas

Sempre menos favorecidas

Entretanto, tiveste misturas

Mas eu acho que, em geral

Tampoco não está mal de ser

Uma coisa que é óbvia

Que há um lado de história

Que sempre tem sido mais favorecida

E então, tudo recai

Depois na falta...

Tu falas da separação

Que está a provocar isto

A falta de oportunidade, em todo o sentido

Para as pessoas menos favorecidas

Tanto do poder da educação, da saúde

Absolutamente, eu te imagino

Ainda há pessoas que moram em sítios tão remotos

Que não têm acesso a um centro de saúde

Não têm que

Tomar um ato-carro, sim

Encontrar-se um ato-carro para ir à escola

É só por disser-te algumas situações

Enquanto tu, sim, moras

Moras em uma cidade...

Na capital, em uma cidade

Tens mais possibilidades de ter estes serviços

Mas ainda temos, desafortunadamente

Vês-te ainda um bocadinho

Esta situação de oligarquia

De

Pronto, do lado mais favorecido

Da sociedade

Eu te dirias que esse lado mais favorecido

Tendencialmente terá pessoas com mais nostalgia

Da ditadura

Que é esfavorcida economicamente

E do lado das pessoas mais desfavorcidas

Estará um apoio

Que foram os movimentos de guerrilha

Sim, sabes que é um

Tema delicado

E ainda sensível, mas...

A veracessões do lado e do outro

Pronto, na minha opinião

As coisas ainda funcionam um bocadinho igual

Só que, pronto, como nomes diferentes

E agora, sumado

A corrupção sempre tem estal

Só que agora é uma coisa

Um bocadinho mais...

Nem mais aberta, mas é uma coisa

Muito bem

Plasmada na nossa

História política, pronto, atual

Sim, eu fui aqui procurar o ano

Rigoberta Menchu

Ganhou o Prémio Nobel da Paz

Uma das duas pessoas da Guatemala

Que tem o Prémio Nobel não da paz

Já vamos falar do outro

Em 1992 ela ganhou

Este Prémio Nobel da Paz

Na defesa dos direitos...

Isso na guerra estava ainda a acontecer

Dos direitos dos povos indígenas

Uma das heranças da guerra civil

Foi um massacre de população maia

Se passaram 30 anos deste Prémio Nobel

Mudou alguma coisa

Desde esta altura

Mudou em que sentido?

Na defesa dos direitos dos indígenas

Hoje é uma parte da população

Mais protegida, menos protegida

Eu acho que tem avido vários esforços

Também tem

Partidos políticos

Representados por indígenas

Se realmente mudou alguma coisa

Não tenho certeza

Existe representante de Fidalis

Já tem CEOs

Que têm indígenas

Presentadores de telejornal

Mais representatividade

Políticos, não é?

Existe isso já

Porque eu acho que é um bom indicador

Acho que não

Como deveríamos

Ou esperarias

Ainda tens uma

Representante do Pronto Político

Tem um grande partido que se chama

Sassamia que está a lutar por estes direitos

Mas ainda

Há um longo caminho

Para correr

Todas estas

Problemas, estas circunstâncias

Mais adversas fazem sempre

Em todos os países

Nascer, sobretudo nas pessoas mais novas

Esse espírito mais rebelde

Mais contestatário até

Quase todas as pessoas da tua geração

Nasceram ainda nos finais

Como é que isto se nota

Na música, na cultura

No que as pessoas mais novas andam a fazer

Eu acho que na arte

Tu conseguias ver muito

Destas situações

A arte está sempre mais envolvida

Sim, nós tivemos alguns anos

Uma situação política

Bastante crítica

O Congresso foi incendiado

Tiveram aí uma resposta

De uma geração muito jovem

Que estava em contra

Estavam querendo diminuir

O presuposto na área de saúde

E a resposta foi

Bastante abrupta por uma geração

Muito jovem

Mas isto, como te disser

Ainda há opiniões muito contrárias

No país

E eu consegui ver, imaginando essa altura

Eu estou mais envolvida com a área das artes

E a resposta

Por exemplo, tivemos manifestações

E as pessoas na área das artes

Queriam ir a manifestar

Queriam ser parte deste movimento

Enquanto, vamos dizer

Esta outra

Da sociedade

Que não tem nada a ver com as artes

Era uma aberração o que estava a acontecer

Então são mentalidades completamente opostas

Na mesma geração

Na mesma geração

É um fenómeno, ao contrário

Das convulsões sociais dos anos 60

Que aconteceram em todo o mundo

Em que os mais novos

Estavam associados aos movimentos

E IPs até à esquerda

Sabemos que os jovens

Estão muito associados

Em movimentos de extrema direita

Como aconteceu no Brasil

É um caso paradigmático

Eu li uma explicação interessante

De um politógo brasileiro

Que dizia como

Os jovens por natureza

Revotam-se contra o poder instalado

E estes longos consulados da esquerda

Fizeram o que fosse revolucionário

Nesses países, foi precisamente

A extrema direita

Vês isto acontecer na Guatemala

Sabe da Guatemala

A gente nunca devia falar mal da terra

Pronto

Não devíamos falar mal da nossa terra

Mas uma coisa que tu ouves

Muito entre as generações

Não só mais novas

Também mais velhas

É que faz falta um bocadinho mais

Da espírito revolucionário hoje em dia

Porque antes tínhamos

Mas parece que se perdeu aí qualquer coisa

E eu acho que também isso

Na minha opinião, como disse mais uma vez

Tem muito a ver com as comunidades

Da sociedade tem que não querer perder

Nós perdemos a vontade

De lutar

Porque claramente estamos

Em uma situação muito mais confortável

Perdeu-se um bocadinho de

Sabe exatamente a lidar de uma sonhadora

E revolucionário afinal do dia

Não entanto, como disse

Isto é uma reflexão minha

E não é caso na Guatemala

Com este discurso que até é um pouco populista

Uma perceção social

Da corrupção completamente indémica

Faz os jovens dizer, não me interessa nada

Estar envolvido

Porque há sempre essa perceção

Real ou não, de que o mundo

É governado por um homem

Brancos de 60

De grisalhos que rouba dinheiro

E fóspa

Por um lado é isso e por outro lado

A falta da vontade de estar

Mesmo envolvido

Como é meter as mãos na massa

É mais fácil puxar para um lado

E continuar com a tua vida

Que realmente ter que ir

Exatamente na frente

Como é que eram os teus anos na faculdade

Você estudou arte, não é?

O primeiro

Eu estudei na Guatemala Design

É mais artístico, matemática ou física

Sim, mas

Não foi assim

Era menos artístico, era um bocadinho

Mais formal

Os anos foram bons

Acabados de sair da escola

A gente era muito jovem

Estavas a experimentar a liberdade

Que era

Na Guatemala

E emancipámos-nos muito tarde

Agora está a começar a mudar

Mas normalmente tu saias da casa dos teus pais

Quando te casas, eu acho que hoje em dia

Os meus amigos já começam a mudar

Mas as 18 ou 19 anos ainda

Estás em casa dos teus pais

E ir à faculdade é a liberdade completa

Não é a primeira vez que tu experimentas

Pois te ver fora de casa não vivias

Eu fiquei em casa

Em 2013

E era na faculdade, você não trabalhava a tua mãe?

Não

Menos mal

Podia ter sido

Podia estar melhor

Minha mãe deixou de dar aulas muito muito antes

Sim, muito cedo

E pronto

Mas por acaso foi a minha tia

Era professora

Na licenciatura

Na que eu estive

Mas pronto, se eu já não tenho nada a ver

A universidade ligada à conversa que nós estamos a ter

Pois, aí já não

Completamente

Havia-te espírito revolucionário

Tinha desaparecido

Queriam era formar-se

Em profissões para ganhar dinheiro

Isto era uma universidade privada

Então o espírito revolucionário

Não existia

Para ser completamente sincero

Era completamente outra mentalidade

As pessoas estavam muito focadas

Em uma formação

Que eles permitissem o pregoce

Sim, completamente diferente

Aqui não há espírito

A universidade que eu te falava era universidade pública

E aí ainda hoje

Pronto, vive-se de

É o ninho da Constituição

Era muito comum ir-se estudar para

Para os Estados Unidos

Claro, quando havia dinheiro para isso

Sim, eu acho que é uma tendência bastante grande

Na Guatemala por sair do país

Se afortunadamente

A causa da falta de oportunidades

Os óperes imigram muito

Muito, exatamente

Quem tiver...

Quando há possibilidade

Econômica

Estados Unidos é uma opção porque está perto

E, no entanto

A educação é muito cara

Em Estados Unidos

Imagina, muitas pessoas em Espanha

A causa da língua também

Sim, pela Europa

Também outros

Cítios em centro-américa

Ou América do Sul

Panamá, por exemplo

México também, no Norte

Mas também tem toda a parte

Pronto, a parte

Donde as pessoas procuram

Outro futuro se intercassera

Os estudos, não é?

Sim, aí é Norte-América

O American Dream

O American Dream, exatamente

E a parte artística, quando é que aparece isso na tua...

É muito clichê

Que isso é sempre estudar artes

Mas, desde muito cedo

Sabes a ideia de que

O artista vai ser pobre

Estava muito presente

E pronto, não consegui ir para as artes

Logo, quando terminei a escola

Os seus pais não achavam boa ideia

Não achavam boa ideia

Eu, inicialmente, fui para o design

Porque era próximo das artes

Mas parecia uma...

Pelo menos, o nome era mais formal

No entanto

Sempre tive...

Estava sempre nas artes

Então, envolvimos alguns projetos artísticos

Logo, na Guatemala

Assim que terminei a faculdade

Comecei a trabalhar em um instituto

Que dava aulas de arte

Trabalhei com crianças

E depois com adultos

E, finalmente, tive uma curiosidade

Gigante pelo vidro

E na Guatemala não tinha formação

Em vidro, então fui procurar

Uma formação em vidro

Fui-se um curso muito curto

Nestaos Unidos

Que são muito conhecidos pelo vidro

O Studio Glass

Como é que você acha essa formação pelo vidro?

Viste uma exposição?

Eu estava a ver um documental

Do Dale T. Hulli

Que é um artista muito reconhecido

Na área do vidro

E fiquei completamente

Maravilhada pelas esculturas

Que ele fazia para a Antona Guatemala

Que, como eu disse, há muito pouco trabalho em vidro

O vidro soprado parecia uma coisa

Quando é jovem

Eres muito

Eu acho que o vidro exerce esse fascínio

Sobre toda a gente

Em Portugal

Há algum tempo

Uma exposição sobre o Lalique

Que era um dos maiores colecionadores

De Lalique

Acho que foi um dos tipos

Que fez com que o Lalique continuasse

Não desistisse

E a exposição tinha pessoas que iam dormir para lá

Para praticamente ser um sucesso

Grande pelo vidro

Sim

Desculpa

Você acha que em Portugal

Há muito

Há uma história em vidro

E

É de facto que a coleção

De Lalique na Govê

É lindíssima, mas não só

Você tem um museu de vidro na Marinha Grande

E para

Minha surpresa

Há muitos artistas

Em vidro

Porto

Há muito para ver

Mas ainda na Guatemala

Como é que entre os teus amigos

Foi-te mudando

Deixando os teus amigos

Do design industrial

Sim

Começando a sair à noite

Para outros

Como é que era essa vida

Mais artística da cidade

As artas estão sempre mais ligadas

A uma cena on the ground

Mais alternativa

Mas no meu caso

Eu acho que é muito

Muito interessante

Há pessoas que conhecias lá

Uma variedade muito grande

De pessoas, de pensamentos

E, em efecto, foi assim

Como tu estás a disser, fui deixando o grupo

Da faculdade

Tínhamos poucas coisas em comum

E fui criando um grupo mais alternativo

Criamos à noite, claro

Músicas, sabes de locais

Foi muito interessante porque

O centro da cidade da Guatemala

Ao início

Era a mais importante

A volta do Palácio Nacional

Chama-se Centro Histórico

É a Sona 1

Não estamos divididos por Sonas

E depois da Sona

O centro terminou por

Perder o prestígio

E, pronto, as pessoas já não gostavam de ir

Na geração

Dos meus pais

Não, inicialmente era lindíssimo

Era como ir ao Xiado

Os armazéns do Xiado

Era tudo o comércio

Funcionava lá

As grandes lojas

Era lindíssimo

Depois terminou por ficar um bocadinho

Esquecido, degradado

Sabe que o Xiado passou também

Eu acho todos os centros da cidade

O Xiado também passou por essa fase nos anos 70

Ficar um bocadinho lá

E o centro da cidade

Tornou-se bastante perigroso

Então as pessoas

Começaram a evitar

Nós com os artistas

Exatamente, os artistas sempre

Somaram contra a salvar o bocadinho

Sim, invadir outra vez

No bom sentido

O centro da cidade

Empeçaram a criar dinâmicas

Interessantes, sabes, claro, o bar

Está sempre muito ligado com a vida

Mas galerias, exposições

Tanto que

Voltou a criar um interesse

Por esta zona da cidade

Hoje em dia

Já está muito mais

Já é uma opção novamente

Para que as pessoas consideram

Quando vão sair, sabe?

Esqueitar o bar onde tu ias

Quanto tinhas 18 anos, hoje é um café

Gormia ou um restaurante gormia

Também acontece, sim

Também tem que passar por isso

Essa altura

Dessa vida mais noturna

Como misturado

Era em termos artísticos o ambiente

Ou seja, tinha esses atores

Misturados com os escritores

Gente que estava a escrever, gente que estava a pintar

Como é que era esse...

Talvez muitos artistas visuais

O artista plástico

Está por todo lado, né?

E músicos

Era difícil a vida, ou seja

Temos económicos

Viva disso

Na Guatemala, especialmente

As pessoas têm os outros trabalhos

E vão fazendo arte

Paralelamente

Mas, pronto, não é isso na Guatemala

Isso é um factor comum

Em muito sítio

Estavas a falar das misturas

Encontravas um bocadinho a tudo

Mas eu acho que a música

É interessante porque

Mais à frente tu vais falar da música

E tenho um emocional imenso

E também tenho a ver com estes movimentos

Sabe estas

Retoma dos artistas

Pronto

Esta desejo

Por conquistar novas dinâmicas

Na cidade

Especialmente na cidade de Guatemala

Como estava a falar

Tem criado muito interesse em diferentes grupos

E aí, talvez, porque tu já me perguntaste

Esta separação, esta divisão

Termina por dissolver-se um bocadinho

Na parte

Claro cultural

Ou seja, na arte que se junta

Pessivelmente

Diversidade tão grande na Guatemala

Seja a diversidade étnica

Se usar esta palavra

Ou até social, não é?

Muito interessante

Nós estamos aqui a falar com a Maria René Morales Lam

Sobre o seu país, a Guatemala

E temos também a ouvir

Temos estado a ouvir música

Escolhida pela nossa convidada

Música da Guatemala

Uma das cantoras que podem ouvir

Na playlist que se chama

Vamos para a Toda a Terra, no Spotify

Rebeca Lane

É uma das artistas que têm gostado

Uma das cantoras que têm gostado a ouvir

Muito nova

Está a fazer trabalho

Isso que gostavas a dizer com este tema

Ouvir uma das músicas sobre menstruação feminina

Uma música muito

Empoderamento

Feminino

Está na ordem do dia estas discussões

Eu acho que sabes da nível mundial

Mas na América Latina

Tivemos uma grande

Repressão feminina

Aliás, até foi

Um ano 46

Acho eu que a mulher

Não tinha direito de votar

E temos ainda uma cultura

Mas isso está bastante forte

E acho que as novas generações

O que tu estava a dizer

Tem começado a mudar

Esta situação

Rebeca Lane

Nas canções dela

É muito direta

Na maneira de querer comunicar

Pronto

Já chegamos a um limite

Estamos prontas para mudar a história

Basicamente

É incrível a música da Rebeca Lane

É mesmo incrível

E há muitas outras pessoas a fazer

Este tipo de trabalho

Nestas várias áreas

Além do feminismo

Eu já estava a me lembrar

Desta galeria

Há várias galerias da arte

Que estão a fazer trabalhos fantásticos na Guatemala

Uma delas é a ultravioleta

Aliás, elas trouxeram alguns artistas

A Arco-Madrid

Tem representação indígena

E também tem outros artistas

Várias algumas mulheres

Tem Helen Ascoli

E outras mulheres artistas

Que estão a entrar com uma força gigante

A Marilyn Boror

Também é descendente indígena

Aliás, ela está

Se eu não estou mal

Ela está no...

Uma peça dela foi adquirida

Pelo reino a Sofia

Em Espanha

E não é só a reivindicação

Pronto, indígena

Mas também feminina

É uma força feminina muito forte agora

Nesta coisa que agora se chama luta interseccional

Sim, basicamente

A nova geração

Está muito bem com muita força

Sim

Claro, temos falado também da literatura

Miguel Ángela Asturias

O prémio Nobel da literatura

Deixou uma longa...

Claro, já morreu, não é?

Mas dá uma longa tradição

Literária

Na Guatemala

Acastas aqui o livro do Eduardo Alfonso

Eduardo Alfonso, sim

Que faz parte de uma geração um bocadinho mais...

Mais contemporânea, sim

Sim, foi engraçado, sabes

Porque o Eduardo Alfonso

É irmão do David Alfonso

Que foi o meu...

Uma professora da escultura

Quando era muito jovem

Foi uma primeira professora da escultura

Depois aqui em Portugal

Eu acho que é um ano atrás

Um amigo meu, um grande amigo meu português

Ofereciam um livro do Eduardo Alfonso

Pronto, sinceramente

Nunca tinha lido nada dele

E achei muito incrível

Porque o meu amigo tinha interesse

Oferecer-me alguma coisa que tinha encontrado

O Eduardo Alfonso é contemporâneo

Ele teve que sair...

Ele saíram da Guatemala

Exatamente, ele saíram da Guatemala

E também, pronto

Aliás, consegues estas

Literatura aqui em Portugal

E é interessante porque ele também fala

Uma perspectiva

Pronto, de quem saiu da Guatemala

A causa de todos aqueles conflitos que nós falámos

Mas é uma visão privilegiada

Para poder, como no teu caso

Ou seja, vais uma vez por ano visitar

Tomar o pulso do que está a acontecer lá

Mas consegues ter essa distância

Que é ingrata, ou sabes

É ingrata porque, claro, como um indivíduo

É incrível ter a oportunidade

De sair e conhecer outras coisas

Sabes e...

E conseguir

Perseguir os seus sonhos

Mas é muito ingrata também

Perceberes que pertaneza-se a uma realidade

Que está fora de...

O que nós estamos a viver

É estranho, quando vais a casa

E às vezes conversas

A tua família está praticamente toda na Guatemala

É estranho, parece que já estão a falar

De uma realidade que já é difícil

É estranho, e é estranho não só

Adoro a Guatemala, adoro a Guatemala

É incrível, mas é estranho

Porque tu tens que normalizar uma

Realidade que é chocante

Não deixa de ser chocante

Tu voltas, é lindíssima

A família está lá

A questão de...

Estas injustícias sociais

Não mudam, e isso é chocante

Sovretudo quando tu

Por exemplo, tu acá tens

Pronto, não vou fazer comparações agora

Mas é uma realidade completamente distinta

Nós falámos, temos um quarto

Da população, está mais ou menos 6 milhões de pessoas

Em risco de fome

Isto não pode não ser notável

Ou seja, nota-se com certeza

Quando se está a passear pelo próprio país

Talvez na cidade

A cidade é uma bolha

Como é sempre a capital

Tem sonas onde é mais evidente

Mas assim que tu saias

Da cidade, da capital

É que tu começa a saber a realidade

Do país

E tu viajas bastante, tens viajado bastante

Quando estava na Guatemala, e agora

Sabes quando vou, tens sempre a ver família

Amigos, ficas com menos tempo

Mas o interior do país é incrível

E é o que vale a pena

Mas aí também é um de tu

É uma realidade e também é linda

Porque as pessoas

A Guatemala é procurada pelo

Pelas paisagens, a geografia

Mas a qualidade humana é incrível também

Nós não vamos falar disso tudo

Com Emmanuel que nos vai fazer o roteiro de viagem

Faz os roteiros de viagem

Um dos mais biodiversas

Do mundo

Outro dos livros

Popolvoo, penso que é assim que se diz

Que é o livro sagrado dos Maia

Eu acho que também se encontra

Em todas as línguas do mundo

Quão presente está

Na arte, a irança

Maia, é quase impossível fazer o que é que seja

Da música, o teatro, a literatura

As artes visuais sem passar pela cultura

Maia

Sim, sabes que é uma coisa que está presente

Isso é o imaginário

Tu cresces, tens obrigatoriamente

A que ler o Popolvoo na escola

É um livro incrível

No entanto, acho que nós temos uma particularidade

Que é, muitas vezes

O Guatemal Teco, que era fugir um bocadinho

Da sua própria tradição

Então, em relação, o que tu falaves

Em relação às artes

No mais contemporâneo, não há uma grande relação

Talvez

Claro, tem artistas

Mais representantes da

Indígenas

Que têm uma relação muito forte

Do contrário, eu acho que

Por exemplo, o outro dia estava

Falar com o Guatemal Teco

Que ele disse-me, não

É muito difícil pegar na tradição

Porque eu não sinto que tenho direito

Porque eu não sou indígena

Então ainda tem esta...

Deve ser tudo muito complexo

É um território difícil

Poder ser quase uma

Propregação cultural

Nós chamamos o Ladino

Que é a mistura do Espanhol

Com indígena que é branco, em princípio

Mas eu acho que muitos de nós ainda

Não sabemos o que somos

E isso, em princípio, é crítico

Não é, tu nasciste num país

Onde

Nem tu sabes bem

O que é dentro dessa sociedade

E então, aí

A partir daí, pronto

Há muito conflito na hora da criação

Eu suponho eu, pelo menos visto de fora

A ver a perceção

Do que o ser espanhol

O que dizem os panes, os presidentes espanhóis

É que é a norma

E o ser maia, que no fundo era uma sociedade

A milhares de anos

O desvio a norma é que é

Não ser, não fazer parte

Da sociedade normativa

É uma loucura, sabes

Porque devemos estar

A agarrar muita força

Nesta cultura

Verdadeira

Do país, não é

Mas sim, tem a tendência

Para o contrário

Tu conheces bastante bem

A riqueza da multiculturalidade

Porque tens uma particularidade biográfica

O teu avô materno

Era

Tinha a tendência japonesa

E também chinesa

Fala-nos um bocadinho desta

Tu conhecesse o teu avô?

Não, não conheci ele

Fala do que nesta irança que recebesse

Sim, sabe, ele fale-se

Antes de, pronto, quando eu nasci

Mas claro que tínhamos

Aqui é a parte interessante

A família

Tem rasgos físicos, asiáticos

Mas depois, quando os meus avôs chegaram

Vis-avôs chegaram a Guatemala

Terminaram por querer se adaptar

Tanto a sociedade guatemalteca

Que cancelaram a cultura deles

Então tu tens visivelmente

Uma herança asiática

Mas completamente

Inserida na cultura guatemalteca

Mas claro que há

Mas a contas foi um movimento

De migração grande

Forte

Da Ásia, de China, Japão para Guatemala

Sim, e ainda hoje

Há uma comunidade

Significativa asiática na Guatemala

Muito trabalhadores, por certo

Especificamente, no nosso caso

Temos as artes muito presentes

A causa desta parte asiática

Do lado da minha mãe

Há muitos dos meus primos

Que têm sensibilidade para as artes

E, pronto, aquilo que

Falam da herança

Sim, exato

Fostes de descobrir também

Tivesse interesse por descobrir

Tenho muito interesse

Tenho muito interesse por ir a Japão

Ainda não fui

Especialmente porque agora estou mais envolvida

Na área do craft

Interesse-me muito

E sabes que o Japão tem aquela

Pronto, excelência

Aquela história muito rica

Então tenho muito interesse por ir lá

E descobrir esta

Conseguir ver

Manteve-se a memória do sítio Izato

Boa cidade etc

Sabe familiarmente

Mais uma vez

Eu acho que apagamos um bocadinho a história

Sim

É o factor comum aqui

Deste lado, sim

Agora fala-nos de como é que

Chegaste da Guatemala

A Portugal

Foi no 12.000 L.I.T.

Após ter feito

O curso de vidro nos Estados Unidos

Tive

Uma série de coincidências

O professor de um curso nos Estados Unidos

É americano

E ele é hoje em dia o professor

Do mestrado de vidro aqui em Portugal

Na Vicarta

Que é o departamento de conservação

E restaura da FCT

Eles têm este mestrado

E ele falou-me na altura

Fica completamente apaixonado pelo vidro

Da Marinha Grande

Isto é dentro da faculdade

Mas ao visto falar no vídeo da Marinha Grande

Ele estava a dar o curso nos Estados Unidos

Ele falou-me do mestrado

E estava à procura de continuar os estudos

Então apliquei para o mestrado

E terminei por...

Já tinhas ouvido falar Portugal?

Sim, tinha ouvido falar, mas eu não conhecia ninguém

Nunca, sabe-vos, nunca tinha viajado pra cá

Pois estou a Google ver Portugal

Tive que ver o Google

Exatamente

Foi incrível porque

Sabe-vos, vocês têm as costas todas

O surf e a faculdade está na costa Caparica

E claro, tu estás na América

A ver fotografias da costa de Caparica

E surf e parece um cancun

Sabe-vos, achas que vai ser uma coisa assim

De férias o ano inteiro

E disse, pronto

Achei uma boa ideia

E não, realmente foi uma boa escolha

Ao início, uma loucura

Porque sem conhecer ninguém

E sem falar a língua

Foi claramente difícil

O dia a seguir da minha chegada

Queria voltar

Deves-te lembrar como se fosse uma América

Eu queria voltar a água de mala

Logo o dia a seguir

Sabe-vos, eu cheguei a uma costa de Caparica

Com tormentas

Estava bastante vacia

Porque não era a temporada alta

Pronto, eu pensei que realmente

Tinha feito uma escolha

Mas eu apaixonei-me muito rapidamente

Depois disso

Encontrei pessoas incríveis

Logo no primeiro dia

E foi isso que me fez ficar

Fiz amigos da primeira noite

Foi assim uma coisa extraordinária

Uma sorte gigante

No meio da tempestade

Vou dizer sincero, eu chorava muito

Chorava e chorava e chorava

E não tinha wi-fi no Airbnb

Fui a beber uma cerveja

No bar que estava por embaixo, no prédio

E o senhor do bar disse, homem

Mas está a chorar porque

Esperei, eu vou lhe apresentar aqui

Uns amigos que eu tenho portuguesas

Mas eu não queria, claro

Eles se acolheram-me

Tornaram seus meus amigos

São amigos até hoje

São tipo as pessoas mais incríveis do mundo

E foi graças a elas que eu fiquem em Portugal

Isso é incrível, eles já lavam 10 anos

Como é que é ser artista em Portugal?

Agora pode dizer na vontade

Pois foi uma pausa

Não, não, é realmente bom

Eu também estive 4 anos aqui

Fiz o mestrado

Mais em status de estudante

Depois comecei a assistir alguns artistas

O que é incrível aqui

É que tens muitos artistas

A trabalhar com diferentes médios

Que isso é fantástico

Mas depois fui embora para

Suécia

Fiz uma pós-gradação

E uma recidência artística

E fiquei lá 3 anos

Então isso também criou uma

Choraste do primeiro dia na Suécia

Também, não

Olha, quase mas não

Depois voltei para Portugal

Tenho estado sempre envolvida

Com pessoas

Da área artística

Como tu estava a dizer

O que é incrível, é que é muito acessível

Ter contacto direto com artistas

Há sempre as posições

Agora tens um grande fluxo de estrangeiros

Também a trabalhar nas artes

Uma imensa quantidade de galerias

O que termina sempre por ser muito

Interessante, é uma oferta grande

E diversa

Dediquem-me a minha arte

Um tempo e, mas agora

Estou mais virada a parte do ateliê

É abrir o ateliê

O público

Fazerem comendas, trabalhar

Producendo o trabalho de outras pessoas

Onde é que podemos visitar o ateliê?

O ateliê é nas terceiras de Santa Polânia

Rua Fernanda Maganhães, número 16

Bem-vindos, quando quiserem

Mas isso também, não só

Gosto muito a parte

A dinâmica de interação com as pessoas

Gosto muito a parte de produção e design

Uma influência também da minha carreira anterior

Mas

A minha formação

Também porque a parte artística

Se tu não consegues ter algum

Sucesso, também é difícil

Não é sustentável, isso sabemos bem

Então, também a procurar

Uma maneira de poder continuar

A trabalhar no

Médio que eu adoro, que eu vidro

Mas pronto, também

Minha maneira rentável

Exatamente, exatamente

A nossa viagem

Assustante

Será tudo que fazemos

A nossa viagem

Infelizmente, não

A física, não vamos mesmo

Ficamos 6 de vontade

Já vinhemos, já tínhamos

O originamento de vontade, que nos era Guatomal

Leva-nos a passear por favor

Para irmos até

A cidade de Guatomal, a capital

Temos de desembolsar

Uns módicos 996€

E de volta

O voo tem duração mais ou menos

De 21 horas com escala

Em Frankfurt e nos Estados Unidos

O que ver, eu vou me socorrer aqui

Antes de passar as minhas

Sustões da Maria

Que nos deu bastante

E eu não sei se é um bocado ingrado

Perguntar isto, mas todas as que nos destes

Qual é que

Destacas como obrigatória na Guatomal

Sítios para ver

Obrigatoriamente eu diria o Lago de Etitlán

Que tem toda a volta

Volcões e muitos povos

Povos, não é?

Aldeias

Cheias de artesanato

E tradições muito fortes

Lago de Etitlán, é mágico

É muito longe

Não, duas horas

Como é que se viaja lá dentro?

Vais falar disso? Não, eu ia perguntar

Se sempre há combois

Põe-me, quero já ir

Tivemos um comboio, mas não

Afortunadamente

Tem carreteras bastante

Confluídas

Muito trans

Há-te as estradas que fazem bem?

Não, as estradas

Lago de Etitlán deve estar a duas horas

Mais ou menos

Depois tem Zutical, em Petén e toda a parte do Mirador

Que é onde estava

A cidade mais forte

Da Maia

Civilização Maia

As pirâmides estão lá também

A Petén é mais forte

É muito mágico ver as pirâmides

É incrível

É incrível

É incrível mesmo

É jeito

São coisas

Gigantescas

Tirando-te o álito

E Zutical

A Guatemala, aliás, tem sido um bocadinho

Opaquada, ficado na sombra

Sabes de outros países

Mas logo vais lá e ficas

Boca aberto

Como nós dissemos

Mas por outro lado

Se calhar um bocadinho

Protegido o turismo de massa

De xusma de milhares de pessoas

É muito concorrido

Mas depois tu tens outras cidades

Que estão o Mirador

Ainda tens pirâmides gigantescas

Que estão cobertas pela selva

Exato, vigentes

Porque a Selva tomou conta disso tudo

Então há zonas em que tu passeias

E de repente das-te como

Uma pirâmide?

E aquela diversidade natural incrível

E depois

Para terminar com a tua pergunta

Tical, Lago de Itlán, Lago Isabel

Também é incrível, que é a conexão

Com o Sénago do Caribe, um Atlântico

Antigo a Guatemala, que é antiga cidade

Colonial, é linda

Mas aí é extremamente aturística

Chichicáster Nango, temos fortes tradições

E que pelo colíter

Tem um mercado incrível

Sobretudo sabes

O que mais ressalta

Quando tu veis a Guatemala são as coras

Os tecidos, não é?

Os padrões, e lá tu tens

Umas referências lindíssimas

Cheiros, comidas

E também as tinhas deixadas

A sugestão de Sembuque Champay

Que é um parque natural

Fica numa pequena aldeira no norte

E é difícil

Tu tens que ir de auto-carro

E depois tens ainda que ir de um jeep

Um bocadinho com geres

Aquelas piscinas naturais

Turquesa, lindíssimo

Só que no caso de Sembuque Champay

Tá rodeado da selva mais uma vez

Na comida, que é sempre uma parte

Que nos diz bastante

Deste-nos a sugestão de Feijão Preto

Volteado, em Tortilha de Milha

Sim, olha, isto é o que tudo

Guatamalteco conhece e come

Quase a diário

O milho e o Feijão Preto

É a baça da dieta na Guatemala

Feijão Preto, volteado

Que aí cerca foi refrito

Então é mais um purê

Feijão Preto

Metas com a Tortilha, um bocadinho de natas

E pronto, eu tu pequeno almoço

O almoço é o jantar, tanto faz

E tu perguntavas, onde a poço...

Isso deve ser incrível, não é?

Isso é ótimo

Faço muito caio

Aliás, perguntaram-me

Onde a poço exate

Claro, o Feijão Preto

É um restaurante mexicano

Tal como o restaurante de Guatamalteco

Ainda não conheci

É capaz de ver alguma coisa muito escondida

Que eu ainda não ouvi

Tu dices de escadas à procura de um rapaz

E encontrei

Só que eu acho que

Ele estudou cocinha

Mas não necessariamente da Guatemala

Mas eu di um desafio

Para fazermos um evento

No teu atelier

Talvez

É muito engraçado porque um

Vecinho meu morou no São Vicente

E os vecinhos são espetaculares

E um vecinho estava com muito interesse

E a curiosidade da Guatemala foi ver a comida

E ele disse, Maria, tens que cozinhar um dia para nós

Só que eu não cocinho assim tão bem

Pronto

E para não assim tão complexo como é a comida

Guatamalteco

E então ele disse

Eu vou te arranjar um espaço

E tu fazes uma comida para os

Vecinhos

Mas ele foi falar

No Clube da Futebol

Foi pedir se podíamos fazer lá um evento

Então, o espaço temos

Agora precisamos do cozinheiro

Já tem o assistente do cozinheiro que sou eu

E agora só precisamos

E já encontrei o rapaz

Agora é só organizar

Estamos avisando

Mas há mais pratos

Só para terminar o Kaqik

Que é uma sopa maia

Feita de Peru

Há as iláchas

Que significa trapos

Há as tostadas de macarrão

E para sobremesa

Há o bolo de três leches

Tu tens a base

Quase todos os pratos da Guatemala

Como isso é este o Subanique

O jocón, pepeano e lechas

São todos

A base é carne

Pode ser peru, frango, carne de vaca

E estão sempre num molho

Com vegetais e acompanhados de arroz

Interessante é essa parte

São tomate

Pimentos

Diferente tipo de chiles

De chiles

Secos

Alho, cebola

Vai tudo a ser fumado ou assado

E só depois

É tudo moído

E é a base das molhas

São molhas muito

Com sabores fumados

Um bocadinho, não picante

Um bocadinho, sovos de

Estos sovores em todos

Com as carnas

Afinal é muito saudável

Tens sempre vegetais e arroz

Ficamos cheios de fome

E com vontade, cabra, um restaurante

Guatemala Teca em Portugal

Oplomentos que vejo as festas

E são vicentes de comida

Foi incrível, obrigado

Tivemos Maria Rene Morales Lam

Que nos veio falar

Da Guatemala

Várias sugestões

Musicais

Literatura

Cinema

Isso tudo pode ser visto na descrição deste episódio

Nós vamos voltar

Para a semana, se não nos apanhar

Nas ondas de rádio

Pode também ouvir em podcast

E a música escolhida para os nossos convidados

Está sempre em Vamos para a Tua Terra no Spotify

Adeus

Obrigado

Para a Tua Terra

Para a Tua terra

Para a Tua terra

Para a Tua Terra

Vamos

Para a Tua Terra

Para a Tua Terra

Para a Tua terra

Para a Tua Terra

Para a Tua Terra

Vamos

Vamos para a Tua terra

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Foi o coração do império maia, essa civilização mítica que faz parte do imaginário de todo o mundo. A artista María Renée Morales Lam regressa a casa para nos falar da beleza sem fim e também dos enormes desafios do país onde nasceu. A nossa viagem esta semana é à Guatemala.



A Guatemala num prato: feijão preto “volteado” em tortilha de milho feitas à mão e com crème fraiche (não há restaurante guatemalteco em Portugal).

Na literatura: Miguel Ángel Asturias (o prémio Nobel); Eduardo Halfon; Popol Vuh (o livro sagrado dos Maia)

No cinema: Ixcanul, de Jayro Bustamante

Num lugar (ou vários): Lago Atitlán; Tikal, Semuc Champey; Chichicastenango; Río Dulce; Cobán; Cenote de Candelaria; Xela, Antigua.

Na música: Joaquín Orellana; Rebeca Lane; Jesse Baez; Rafa Rodríguez.