Vamos para a Tua Terra: Afeganistão
3/5/23 - Episode Page - 57m - PDF Transcript
Na tua terra, na tua terra, na tua terra
Vamos, na tua terra, na tua terra
Vamos, para a tua terra
Olá, cá estamos nós mais uma vez, olá Emmanuel
Olá Hugo, tu estás fixe?
Sim, sempre, muito bem
Olha, hoje vamos enfiar-nos nos nosso avião espacial e vamos espacial, espacial, espacial
Sim, e vamos até um lugar muito especial, vamos viajar até Afganistão
É um país de 40 milhões de pessoas, fica no coração da Ásia, não tem mar, não tem vista para o mar
É rodeado de um lado pelo Irão, do outro pelo Pakistan
E depois de outro lado ainda pelas repúblicas do Turkmenistão, do Uzbekistão e do Tajikistão
Para além de uma muito pequena fronteira com a China
É composto por muitas etnias, o Afganistão, curiosamente ou não
Os turcomanos, os Uzbeks, os Tajiks, que dão precisamente nome àquelas repúblicas que eu falei
Mas o grupo principal são os Pashtuns, que são quase metade da população
E que dão nome à língua, lá se fala o Pashtun, ou a língua mais falada
Hoje em dia é um país, quase exclusivamente islâmico
Mas já foi um importante centro budista, hindu, zoroasta também
Isto porquê?
Porque ao longo da história foi sendo disputado umas vezes pelo poderoso Irão
E outras vezes pela poderosa Índia, com vários nomes de impérios que lá andaram
Eles tentaram, e não só eles, mas nunca conseguiram realmente lá se instalar
Daí que na história o Afganistão tenha passado com este nome curioso
O cemitério de impérios, porque muitos por lá ficaram
No século XVIII vai chegar ao poder uma dinastia de reis
Que vai unificar estas tribos todas e vai criar um estado com as fronteiras mais ou menos como elas existem
Hoje a coisa vai durar, depois parte-se assim em rendes pequeninhos
Com nomes de cidades que nos fomos habituando a ouvir
Às vezes pelas melhores, às vezes pelas maiores razões
Erat, Kandahar, Kabul e a partir daí depois tem sido mais ou menos assim
Uma guerra civil durante 70 anos
As montanhas que são curiosamente uma das belezas naturais do Afganistão
São também um motivo porque as guerras sobretudo as civis lá duram tanto tempo
Na guerra civil e nas montanhas
Depois seguem-se três guerras com o Império Britânico
Chegamos aos anos de 1920 e vai chegar alguma calma com uma monarquia constitucional
Que depois vai ao ar em 1973
E desde então nunca mais houve verdadeiramente paz
Primeiro há uma guerra com os soviéticos
Depois há uma nova guerra civil entre o exército e os rebeldes Mujahidin
Depois em 1996 os talibãs chegam ao poder e lá vão ficar a fazer as suas atrocidades
Até serem expulsos em 2001 com a invasão americana
Isto depois do 11 de setembro
Ao fim de 20 anos os americanos vão se embora mais ou menos sem avisar
E os talibãs sem grande surpresa
Voltam a conquistar o poder
O Afganistão é hoje uma espécie de país adiado
É um dos lugares mais perigosos e mais pobres do mundo
Onde a maior parte das pessoas continuam à espera de poder retomar a vida
Que entretanto tem sido interrompida
E para falar em vida a do nosso convidado
Podia transformar ele próprio num herói de um drama histórico sobre o século XXI
Não fosse a história ser verdadeira e claro ser a vida dele
Fala do Farid Valizadeh
Nas famílias 1997 na cidade de Policumri
No nordeste do Afganistão
Ele vive em Portugal desde 2012
É estudante da arquitetura, campeão de box
E faz parte da equipa de refugiados do Comitê Olímpico Internacional
O que falta aqui dizer no meio
É uma história da incrível viagem do Farid
Que com apenas 8 anos saiu da sua cidade
E fez, muitas vezes a pé, os mais de 4 mil quilômetros
Que o separavam de Istanbul na Turquia
Olá Farid, bem-vindo
Obrigado
Eu já disse que este do Afganistão com 8 anos
Quais são as suas recordações mais antigas do teu país?
Do meu país tenho poucas recordações
Que como saiu muito cedo, mas só que as recordações são muito fortes
Então, são as coisas que todos os afganistas conhecem
E todos nós fizemos, por exemplo, as sextas-feiras
Ver o jogo de buscacha e tipo
É um jogo de cavalos com borregue-morte
É isso, por exemplo, nunca saí da minha...
É tipo polo, tipo polo?
É tipo polo, mas só que há um borregue-morte
É muito mais agressivo
Tem uma círculo no meio de um lado do estádio
Não é estádio, é tipo um ar livre
De outro lado tem uma bandeira e depois há vários cavaleiros
Vem lá, tipo, tirar aquela borregue-morte com força física em cima do cavalo
E tem que lutar à volta daquela bandeira para chegar
Só que é esse jogo, até lá e voltar
Muitas vezes pessoas caem no cavalo e ficam pesados
E está de 300 ou 400 cavaleiros
Ah, teu futebol é uma seca comparada com...
E lá, tipo...
Nós não temos bom futebol, é por isso
Isso é um jogo incrível, deve ser incrível
Lembras de ser miúdido e de...
É isso, como se todas estas feiras nós íamos ver
Por isso é uma coisa mesmo natural da Norte da Afganistâmica
Especialmente na cidade de Pelo-Romberg
Nós gostamos de ver isso e gostamos de fazer
Fala um bocadinho nesta tua cidade
A minha cidade é no meio dos dois montanhas
É tipo um vale e há um rio
É um rio água doce que vem das montanhas
Antigamente era super limpo, que dá para beber
Mesmo clarinho, agora não sei como funciona
Porque já passou muitos anos
Muitos anos mais ou menos
Tem 26, né?
Tem 26, mas passou por volta de 15 anos
E muitas coisas aconteceram
Eu volto à guerra americana e etc
As coisas passaram, tipo a história da Afganistâmica
A ano passado até agora muda muito
E agora está ali, vamos estudar no poder
E a cidade é grande, tem muita gente, tem pouca gente
Como é que é?
A minha cidade não é muito grande
Mas também não é pequena, se calhar
Tenho 300 mil pessoas por volta disso
É uma cidade que é feita no meio de um montanhas
Ao pé de um rio e tem um estrada nacional
E mais nada, aquela é a frente e volto
E depois, quanto tu tinhas?
Oito anos?
Começas esta viagem?
Eu sei do Afganistâmico em 2006
Agora ficam nove anos ou oito anos
Eu não sei qual é a diferença
Se contar com a minha idade
Foi a maioria, tipo, coisas que...
Recordações que eu tenho, não são coisas bonitas
Por exemplo, sempre a passar a ver
Por exemplo, ir à escola primária
Vamos ver os tanques de nato, americanos
Passava ao pé da rua
Ou quando era fugido a caminho
Havia montanhas que secas, que não há nada
E frio, tivemos que andar a passar
É coisas que eu tenho na recordação
Sem ser guerra, é o natureto, as montes
Porque a geração dos teus pais
Já ela própria, praticamente ninguém tinha conhecido paz
Já as pessoas já tinham crescido elas próprias
Acho que a geração dos meus pais
Antes da guerra rússia
Já conheciam o Paz, mas desde que começou
Aquela guerra entre a União Soviética e a Afganistâmica
Acho que ninguém conhece o Paz
Havia um Paz, tipo, nas certas cidades
Que não havia guerra extrema
Por exemplo, não havia explosão
Todas as dias, tipo Kabul ou Kandahar
Mas também não tinha segurança da vida
Mas só que pessoas viviam na sua maneira
Tipo, era bem calmo
E nem sempre...
A guerra nunca acontecia assim como se fosse
Dois lados, tipo, estaram de esperar um do outro
A guerra começa de manhã, tarde acaba
Parece que descansa à noite, depois voltam a começar
É sério?
É sério, é um bocado...
E é uma espécie de guerra de guerrilha, não é?
Sim, é porque...
E eles estão nas montanhas
Porque os talibães gostavam, eles
São profissionais de lutar nas montanhas
E os americanos tinham tanques
O governo antiga tinha tanques, aviões, etc
Por isso, eles atacavam nas horas que conseguiam ver
Com as horas que conseguiam usar bem o corpo
E a arma, porque eles só tinham que lascar
Então, tinham cerdas horas para a guerra
Mas o que era mais feio deles era...
Quando fazia, tipo, uma pessoa que metia uma bomba no seu corpo
Explodia numa escola, numa faculdade, não é?
O hospital, esse que era feio
Mas o resto do guerra, o pessoal não o via muitas vezes
E tentavam manter a sua vida mais ou menos normal, não é?
A vida normal, dentro as possíveis
Tu fostas à escola, fizeste a escola primária lá mesmo?
Eu fiz a escola primária até um, dois anos, assim
Depois eu tive que fugir
Pois perdeste os teus pais e resolves, quer dizer, alguém decidiu por ti
Aos de oito anos fazer esta... começar essa viagem
Como é que foi? Lembra-te desse dia?
Eu vim um dia da escola mesmo, normal
Vim para casa, da minha escola até casa
Nós andávamos com os amigos
Cheguei à casa e o meu tio, adetivo disse que assim, olha
Tens que ir embora
Eu meti-lo num grupo, fiemos até Kabul
Depois de Kabul, ir a Jalalabad, de Jalalabad e ir a Pakistan
O que é que se faz pelo Pakistan?
Porque no fronteiro, dentro da Irã, na Afganistão, um deserto muito seco
E também a fronteira da Irã, tipo...
É mais difícil?
É mais difícil, por causa dos militares e por causa de eles disparam
Não quero saber se é humana, é animais, o que é que for
Tu fostas como pessoas que conhecias, ou não conhecias ninguém?
Não conheci ninguém
No início, quando nos saímos, nós tivemos uma pessoa...
Um agente de viagem, tipo, agente de viagem, não
É aquelas pessoas que saibam montanhas
Elas recebam um certo dinheiro e depois elas te levam para uma cidade para outra
E depois elas têm outra pessoa, elas são muito organizadas
Tem outra cidade, outra pessoa, outra pessoa leva-te de uma cidade para outra
E depois de um país para outro
Algum veja onde é que for possível, eles apoiam-te, metam num caminhão, qualquer e...
Se lhe diz que tratavam de maneira diferente por ser uma criança, ou era...
Não, por causa eu estava, para mim era divertido
Umos tempos era divertido, depois começou a ser difícil, porque o caminho era muito duro
E depois, ao nível físico, estava cansado mais, mais psicologicamente
Por causa, como um criança não tem noção, acho que...
Era como se fosse uma aventura, é isso?
Sim, sim, é mesmo, eu não sou uma aventura
E fostas que conhecias cites onde nunca tinhas estado, não é?
Não, eu não conhecia nenhum lado
Eu nem sabia onde fica a Pakistan, onde fica a Iraw, não tinha conhecimento nenhum
Era um criança, ou naquele tempo, por isso
Quanto tempo é que levou essa viagem, por exemplo, para Teovra?
Até seis no Afganistão?
Do Afganistão, sei, em 2006, por volta de junho, acho assim
E depois, cheguei no maio, abril de 2018
2008
Lembra-se de chegar a um sítio e pensar-se, não percebe nada do que essas pessoas estão a dizer
Para a língua já não ser a mesma, lembra-se disso
Por exemplo, quando cheguei no Paquistão, as pessoas diziam que não entendia nada
Porque elas falam paquistanês ou pashtun
Porque naquela área, a fronteira, toda é pashtun
E depois, quando cheguei no Iraw, elas falam língua persa
Mas só que a minha persa com elas é totalmente diferente
Porque nós temos sotaques
Elas falam muito mais poética, nós falamos mais direitos e não entendia nada
E depois, quando cheguei no Cortistão, entre Turquia e Iraw
Por exemplo, lá até tenho uma história que tinha divertido
É, sabes, salsicha
Por exemplo, no Afganistão, nós não temos culturas de salsicha
E eu nem conheci o que é salsicha
Eu pedi pastilhas, que na minha língua dizem sajik
E pedia um criança, tipo, podes me comprar um sajik
E ela trouxe um salsicha e eu disse, ok, vocês mais digam isso
Eu disse, ok, isso é salsicha
Tipo, eles chamam sujuque, aquela salsicha
Por isso eu não percebi nada língua, mas culturas e pessoas
É sempre diferente
São 4 mil quilómetros, é muito tempo
Quanto tempo é que levaste a fazer essa viagem e ter chegado a Estambul?
Eu não sei bem porque, algum vez que estivemos parados
Por causa de movimentos de militares, de polícia
Por causa de check-in de toda a volta da cidade
Nós ficamos parados há dois semanas num campo qualquer
E paramos, dormimos lá
E depois passava, depois andávamos há dois semanas
E depois chegávamos no outro campo qualquer
Quando andas, tipo, 20 km a andar, tipo, torna-se 3 ou 4 dias
Já sei, algum vez por causa dos montanhas de tempo, de temperatura e tudo
Tornou-se mais difícil e por medo e de sempre esconder e fugir
Por exemplo, nós não podíamos andar durante o dia
Durante o dia nós dormimos em algum lado
Mas durante a noite andávamos porque era escuro
Ou seja, já havia uma rede organizada em trás
Agora dormimos aqui, as pessoas sabiam, havia quem apoiasse as pessoas
Era isso, dormimos nesta casa
Era um grupo muito grande que estava viajado
É sempre o grupo mudava
Por exemplo, até Zaidan do Irão
Eu tinha um grupo por volta de 200 pessoas
200 pessoas?
Chegamos lá e depois a polícia atacou, a polícia de Irão
Atacou e toda a gente ficou desparada
Eu fiquei lá sozinho num deserto
Não tinha minimidade onde aqui estou
Mas só que eu segui o caminho das pés
Sozinho mesmo?
E tinha um garrafino de água e andava assim
Andava aqui
E naquele tempo uma pessoa não pensava o que vai acontecer
Mas só que eu vinha o caminho, olha, vou andar
E estava todo escuro
Mas num deserto não fica um escuro escuro
Que é durante a cidade quando fica
Mas lá tem um escuro que tem luzes de estrelas
De lua até fica bonito
O que pensavas nessas alturas?
Já não lembro o que pensava mas não ligava muito
E exacantar?
Exacantar?
Cávas tristes? Cávas com medo?
Claro que eu tinha medo
A criança tem beias medas
Qualquer criança no mundo inteiro
A noite é uma coisa que é assustadora
Mesmo em casa no seu quarto
Quanto mais não seja no deserto
Sim, no início primeiras dias eu chorei bem
Eu se lembrei porque aquele tempo era criança
Chorei mesmo, a chorar não ajudava
Porque o dor da cansada das pernas
Porque já era difícil
E depois o calor de dia e frio da noite
Gostava mesmo, me parecia uma fome
E um criança quando tem fome já não aguenta
Ainda não tem problemas
Se quando ficar com fome parece que a minha paciência
Todo desaparece
E não podias fazer uma birra?
Não podias estar sozinho?
Não podias gritar em ninguém
E não podias esperar do mimo
Não podias em ninguém porque não há nada
Ainda ficas um bocado assustada
Se há algum animal, alguma coisa vêm de comer
Mas, pá
Aquele tempo, acho que aparecia a motivação para andar
E depois ias conhecendo pessoas pelo caminho?
Não, porque no caminho, por exemplo,
Eram da área as pessoas
Tentava fugir dessas pessoas porque não entendia a língua
E sim, via uma pessoa que vinha de mesmo caminho
E eu tinha um ar, tipo, dá para perceber
Estavas muito desconfiado, não é?
Sim, não podias desconfiar em ninguém
Podias estar em qualquer lugar
Não podias desconfiar porque se confiasse
O meu tio não me mandava no caminho disso
Claro
E tu conseguias, se quiseses, ligar para casa
Ou falar com o...
Não fui a tê-la movida
Não havia nada, não havia maneira nenhum
Estavas completamente por ti próprio
Eu tinha um Nokia, tipo, 111 daquele tempo
Aquele... cada país
Hoje em dia, tipo, de todos os países
Consegues ligar com o roaming, etc
Mas naquele tempo não dava aquele
Aquele tempo tinha que mudar-se em cartas
E eu não sabia a língua
Eu estava na cidade para ir pedir isso
E é uma coisa caro naquele tempo
Claro
E tinhas um objetivo, onde é que cria zero
Desde o momento em que tinha saído
Já era com a ideia de chegar à Turquia
Chegar a Estambuna
Não, eu não sabia o nome das cidades
Nem eu sabia onde é que estava a destinação
Mas só sabia que eu, por exemplo, hoje andava
Via um luz, tipo, de noite
Um luz de qualquer lugar, tipo, 500 km
Tipo, dá para ver um luz bem fraco de longe
Diz assim, ok, vou tentar chegar aquele luz
A minha expiração sempre era chegar a aquele luz
Mas, tipo, hoje...
E depois eram dias e dias até chegar aquele luz
É, sim
Há algum momento, tipo, havia um montanho à frente
Toda a gente, quando havia linhas de
Pes das pessoas, ia dizer, ok
Esse vai para aquele montanho
Mas o montanho, cada vez, ficava afastado
Porque não ia explodir estradas, os adentados
Não ainda é o estrada, é escondida, tipo, não
O estrada não dá
Ele sempre repasse o carro, os policias
E nós já aprendemos durante o caminho
As pessoas quando estavam a falar
Que havia tráfico organo
E várias tipos de tráficas e galação
E tudo aconteça
Por isso, sempre tive que fugir das pessoas
Porque...
Sem ser pessoas, ninguém consegue te fazer mal
Isso é a minha cabeça que...
Tive que adaptar, mas...
E dormias ontem, a parte das vezes?
Estava bom tempo nesse...
Não, não, lá, tipo, noite fica mesmo frio
E dia ficava calor quando estava no verão
Mas no inverno, por exemplo, estava nevo, estava todo
E eu...
Encontrei algum barraco, encontrava um...
Eu já te lembro que uma vez, tipo...
Andei numa cemitérias antigas
Porque havia lá um buraco
E o esqueleto todo, tirei fora
E lá dormi, porque estava quentinho
E isso não foi uma vez que acontecia
Várias vezes que eu fiz isso, por exemplo
Na área de...
Entre Turquia e Irã, porque estava muito frio
Então não conseguia aguentar o frio
Num lugar aberto, então entraram no buraco
Porque naquele tempo, não preocupava
Estava em cabeça de um esqueleto
Vai fazer alguma coisa, queres saber se...
Que está quentinho lá ou não
E eu conseguia fazer isso
E para comer, como é que fazias?
Apanhavas fruto que houvesse?
Frutas que calhavam nos campos, por exemplo
E eu...
Ah, roubei boas nessa área
Muitas frutas mesmo
E depois, algum vez, tipo...
Há até uns meses que estava a andar
É um parte mais difícil da comida
Que foi mesmo entre a Turquia e...
Irã e Irã
Porque aí não sabia mesmo a língua nada
Tipo, por exemplo, entre a Irã e Pakistan
Ainda conseguia pedir alguém comida, alguma coisa
Pessoas ajudavam
Aí até se fosse um...
Pessoas ajudavam, mas eu não conhecia a língua
Porque falava curdo
Então não sabia nada, quer que diga
Então eu tentava...
Orobar de uma...
Árvore, de um campo, de qualquer...
Ou mesmo, tipo, matar um sapo
E sempre com medo de ser apanhado, não é?
Sim
E nunca pensaste assim, olha, chega, não quer saber
Prenda-me, vou desistir, não quero continuar a andar
E se eu fizem na Turquia
Quando cheguei na Turquia e...
Em Estambul
Nós fomos apanhados pela...
Polícia
Já tinha tentado...
Mas a tua viagem, desculpe-te romper-te
A tua viagem dura mesmo até Estambul
Sim
Para quem não está a imaginar isto no mapa
Significa atravessar...
Todo o Afganistão, porque você fez viagem do Norte
Atravessar uma parte do Paquistão
Porque fizeste essa fronteira no Paquistão
Atravessar todo o Irão e até Estambul
Significa atravessar toda a Turquia
E estamos a falar de países gigantes
Pois, agora quando eu pensei gigante
Porque, por exemplo, dois anos antes
Eu fiz uma viagem de Lisboa até Santiago de Compostela
Só para ver como funciona
A pé?
Sim, a pé
Dizeste, então, quando é que começa?
Quando é que isso começa?
Eu comecei mesmo de Alcântara, de Lisboa
Até Santiago de Compostela
Até lá mesmo andei 48 dias
Sem para pé
E depois pensei
Aquela viagem com o que eu consegui fazer
Está legal
Porque hoje em dia eu não tenho noção
Mas...
Eu não sei dizer em vez, mas será
100 ou 200 vezes maior o caminho
Não, mais...
São 4 mil quilômetros, mais ou menos
Aqui ele é...
É bom, não sei como dizer, mas
Eu já...
Não lembro o sofrimento tão bem
Porque, alguma vez, eu lembro, tipo
Por exemplo, quando eu vejo um pisadelo
Tipo, aquilo aparece, parece tão repetido
Muitas vezes estou no nestelo
Mas...
Na vida real, tipo, como não falo
Não pense, então fica fácil
De passar
Só que, agora quando ando
Tipo, um quilômetro ou dois
Corro a alguns tempos
E eu sinto, tipo, o peso
Aquela tempo, acho que o medo
Ou a motivação, tipo, ou ter fé
Entre estas três, eu não sei
Qual delas que posso decidir porque
É como é da criança
Vou continuar, não é?
E na minha cabeça já estava
Adaptei-me de continuar a andar
A continuar a andar à frente
Não sei onde é que chego, mas vou andar
Quando é que comeces a fazer, não sei se chama
Amigos, mas é só já quando chegas a estambulo
Fazes todo o caminho sozinho
Não, muitas vezes
Eu encontrei os grupos
Tu conhecias quando eram pessoas do Afganistão
Sim, porque eles falavam um língua afgão
Tipo, o Darid do Afganistão
Pérsida, ou o Pashtun
Então, a pessoa entendia
E as lá tem com eles, dizias?
Não falava, seguia atrás deles
E não dizia nada que eles entendesse
Porque eram os grupos grandes
Depois, quando eu ouvia que eles
Diziam, olha, vamos parar aí, eu não parava
Eu andava à frente, porque eu tentava
Ser muito inteligente para saber o que é que está a dizer
Então, quando eu ouvia cá
Aquele caminho me se deixa para aquilo
E depois lá encontrava alguém
Então, eu perguntava, ou alguma vez estivemos aí
Porque tu precisavas de perceber
Mais ou menos qual era o caminho que estava a seguido
Pois é isso
E depois há uma altura que percebes que
Se estás a aproximar de estambulo
Não, mas depois do tempo, também
Com o processo de andar e viajar
Aprendi que de um cidade para o outro
Tem que passar a esta cidade
Por exemplo, quando cheguei
Já pessoas me disseram que tenho que ir
No Ancara
Do Ancara, tenho que ir a estambulo
Então, imagina-se
As vezes que chegava
As vezes que chegavas a um sítio e achavas
Cheguei
Eu não sabia porque estou a andar
Eu não sabia mesmo, não tinha plano nenhum
Por que estou a andar? Onde é que estou a ir?
Mas só estava a ir, porque toda a gente está a ir
Então, tenho que ir
Porque não posso voltar
E perceber que voltar para trás não era uma opção
Não, isso não era uma opção
Nem que queria voltar
Já sabia que o caminho de trás era difícil
Então, tenho que andar a frente
E o atrás não dava, é tipo
Queimar os barcos
Antes de chegar a estambulo, qual foi a maior cidade onde tens passado?
Eu primeiro passei no van
Mesmo entre a Turquia e Irão
E depois de van, fui a Ancara
Depois de Ancara, passei várias cidades
Que já não me lembro os nomes
Era mais fácil sobreviver sozinho no campo
Ou na cidade
Na cidade é mais fácil
Não, na cidade é mais difícil
No campo é mais fácil, porque há muitas agriculturas
E imagina, tipo, vais lá
Tipo, tira João Valencia
Ou rouba João Franca e mete um single fogo
Consegue fazer fogo com pedras
Por isso...
Antes de sair de casa
Era uma coisa que soubesse de fazer
Quando nós temos uma cultura
Que chama-se Mela
Mela é uma cultura que é tipo
O que nós temos, especialmente no nord-africanistão
As crianças
As famílias
Dá um tipo, por exemplo, arroz
E carne, ceda
E nós vamos no mundo, em cima
E tentamos fazer a nossa comida
Entre nós, tipo
Três ou quatro rapazes, juntamos todos os amigos
Fazemos isso
E desde aí já estava, parece, preparado
Na cultura tem certas coisas
Para conseguir fazer comida
Ou matar algum bicho
Acho que
Era uma coisa normal para mim
Por exemplo, hoje em dia
Dá um frango na mão de alguém
Tem medo de matar, olhar os olhos
E eu não quero saber
Dá uma briga e eu te corto tudo
Aquilo
Queria uma maneira
Não tinha essa dificuldade
De comer alguma coisa
Quando preciso
E depois chegas a Istanbul
Como é que foi essa chegada
Estava aí, mesmo não soubeso
Eu cheguei no Istanbul
E na conversa já sempre tinha ouvido
Que havia uma área de Istanbul
Como foi aqui em Lisboa, por exemplo
A Martimunis
Juntavam os afghans
Tipo, quase todos os afghans
Vais aí lá, tipo, só pessoas veem
Tipo, com roupa afghão, comida afghão
Restaurante afghão, é tipo, Martimunis já andas assim
Vejo todo o indiano
Então, eu já ouvia
Que no Istanbul tem que ir nessa área
Na Zeytumburna
Na Zeytumburna eu já tinha escondido
Um dinheiro aqui, tipo, embaixo
De fechos de cinturas
Queria que eu trazias desde casa
Sim, sim
Então, era dólar
Por isso, hoje, agentes traficantes
Só funcionam com dólar
Então, eu cheguei lá
Tipo, quando as pessoas, tipo
Aquelas agentes são, tipo, lobo
Vem, quem chegou
De maneira de andar, perceba
Que a pessoa quer passar
Então, eu falei como
Sim, eles conheçam muito bem
Não sabia como que eles conheçam
Mas conheçam bem
E eu cheguei lá e eles, tipo, afastaram
Tô lá, tipo, achar afghão
Assim, estás com família
Quantas pessoas querem ir para frente
Então, onde aqui é frente
Dizia, sabes
Há uma piada dentro
As afghãs dizem assim
Nós não vamos em Inglaterra, vamos a Londres
Porque a Londres era famosa naquele tempo
Toda gente ia a Londres
E ela dizia, você quer ir a Londres
E eu assim, ok, vou a Londres
Tipo, então a pessoa, tipo
Eu não sei onde que fica a Londres
O que é que é Londres, que tipo cidade, o que fala
Não tenho a mínima ideia
Eu disse, ah, temos que ir para uma regressa
Depois de regressa, temos que ir a Itália
Depois de Itália, temos que ir a França
França, temos que passar o canal, não sei o que
Eu disse, fogo, o viagem está logo
Ainda falta
A final ainda não era assim
O agente, tipo, explica
Ah, nós temos essa maneira de ir
Até eles explicam assim
Quando das três mulheres
Lávamos tudo do barco com motor
Garantida, tipo, tentas mentiras
Que fazem, né?
E depois, se vais dar esse dinheiro
600 dólares, tipo, vais do barco de
Ar e 50-50
Tens a segunda opção
Que eles explicavam essa maneira
E eu não sabia que é o trecho
Para atravessar o problema
Não, eles não falam do perigo
Parece que não existe perigo
Mas nós já sabemos que há perigo
Tipo, há pessoas que vêm a fundar-se
Qual é a tua opinião sobre essas pessoas
Que ajudam migrantes ou refugiados?
É, eles fazem um trabalho
Na profeta
Sabes, tipo, na história de
Islão, cristianismo, judaio
Todos, assim, os profetas eram agentes
Tipo, as menos, tipo, eles ensinavam
Lavavam pessoas de
Agora, Israel
De Israel, trazendo para o outro lado
Por exemplo, o meu amê, ele lavou de meca
Para uma dina
Parece, tipo, um trabalho
Há muita exploração
Sim, há muitos
Só que, usam em um
Área de mal também, tipo
Eles não fazem pesquisa sobre a pessoa
Quem é, como o que
E eles estão interessados na sua dinária que recebam
E o trabalho que eles dão
Em muitas vezes, tipo, não presta
Porque eles têm que roubar um barco
Tem que encontrar camiões
Tem que pagar pessoas, conditores
Polícias, nas fronteiras
Casas que vão render
Casas daqueles que não prestes
Nada, só tipo, tem teto
E eles têm que fazer muitas coisas
Eu...
Antigamente, quando pensava neles
Pensava que são pessoas muito demais
Sim, porque como a história
Foi difícil, a vida foi difícil
O viagem todo
Faz um trabalho de profetas
E até tenho
Não quer dizer que eu queria
Fazer isso, mas tenho respeito
Porque eles fazem um trabalho duro
Mas eu não sei porquê
Porque eu nunca vi um agente
Que seja rico
Todos estão a ver sempre na pobreza
Mas fazem na mesma
Não sei porquê há habito
Mesmo gosto de não fazer esta
E não deixam os próprios de arriscar
Eles arriscam sempre
Às vezes eles morram com pessoas juntos
E ficam... eles levam para a rada
E algum mês depois
Pessoas tipo, por exemplo
Em um lugar entre a Paquistão e Afganistão
O pessoal ficou chateado
Então o agente chegou assim
As pessoas revoltam
Sim, revoltou-se porque
Elas deram garantia acho que
Não era muito viagem a pé
Só era 45 minutos, mas só quando lavamos 45 dias
Para viajar em pé
Então quando chegamos lá no Peshawar
O agente disse
Vem cá tu
Pessoas bateram mesmo
Porque não viajam, não podes bater
Não é porque precisam de as pessoas
Mas quando chegam
As quando chegam já tratam-os dela
Temos que mais reclamar-se
Era assim que funcionava
Era boi esquisito do time
Mas, por exemplo
Quando eu vim primeiro a ver
Estantei de Turquia
Para, como se chama
Ilhas do Redoso
Essas ilhas
Queria tentar
Nós dirámos 23 ou 24 pessoas
Afundámos só sobrevivemos 5 pessoas
E o agente não era um destas
Que sobrevivemos
Por isso, muitas vezes
Elas morram conosco
Por isso eu tenho um respeito
E algumas vezes
Também odio
Estou confuso
A questão dos refugiados
E dos migrantes
Muitos milhares de pessoas
Que tentam fazer viagens parecidas
Com a tua
Conheceste por dentro
Muitas pessoas tentam fazer esta viagem
Que são essas pessoas
São todo tipo de pessoas
Homem, mulheres, crianças
As pessoas que
Já afartaram da agressividade
Claro, 40 milhões de pessoas
Fartaram
A agressão de
Afganistão que está a passar
Da guerra, da insegurança
De todos os racismos
Todo o que existe
Afganistão como se fosse um prisão
Em um país
E as pessoas que fogem
Tentam fugir
Ou dizem que vamos morrer
Ou vamos fugir
Ou vamos encontrar um pássio
Mas é difícil essa escolha
Para pessoas venderem sua casa
Sua terreno
E dando todo tipo
Sabe que esse caminho tem morto
Quase 70%
E na mesma vão
E é um caminho muito difícil
Havia muitas outras crianças como tudo
No meu grupo não havia nenhum criança
Nem mulher, todo era homem
Em 2006, naquele tempo
Só fugia os homens
Mas depois de quando a guerra ficou sujo
Eles ficaram mais relaxados
Por exemplo, hoje em dia ninguém anda
Dois anos, tipo MP
Hoje em dia há mais agências
Mais profissionais
Levem-o do autocarro
E terás dois barcos
Agora as coisas são muito mais completas
As agentes de viagem
A gente de viagem é legal
Agora eles fazem coisas muito
Profissional
Parece que há muitas empresas grandes
No meio disso
As coisas mais terríveis
É que isso traz um dinheiro
A profissionalização do horror
Por exemplo, um viagem
Naquele tempo
Na via viagem de Istanbul
A Itália, 5 mil
Ou 7 mil
De Istanbul, sim
Dólares
Mais ou menos a mesma coisa
Mas para um refugiado
Isso é uma fortuna gigante
Isso é um dinheiro grande
No Afganistão
É muito dinheiro para o europeu
Não, mas isso é mesmo todo
Investimento de pessoa para a tua vida
É uma vida interna
Para ser uma família
No Afganistão trabalhos mesmos
E ganhas por volta de 200 euros
Isso é um bom trabalho todo mundo
Agora com a economia e com a coisa de talibão
Se calhar nem ganhas de 10 euros
Mas é aquilo que juntou
Vendo de casa
Vendo de carro, vendo de terreno
Vendo de todas as coisas de família
Até já vi pessoas que venderam
Mesmo
Figa
E tentou fazer isso
Para encontrar um pais
É uma decisão muito difícil de fazer
E quem faz
Quem chega
Já sofre muitos anos
Da trauma
Desta viagem
Quando chega
Depois sofre com a vida para tentar fazer
E quase 90% ficar atrasado da vida
Sim, eu queria
Ou seja, estou aqui um bocadinho
Indecisindo para onde é que iria seguir
Tenho muita curiosidade ainda sobre a tua viagem
Mas
Como estamos a falar dessa
Passagem para a Europa
Tenho uma outra curiosidade
Quer saber quando se chega aqui
O que achas que faz falta aos europeus?
Conhecer um bocadinho
Do que passaram as pessoas que chegam cá
Para ter um bocadinho mais empatia
Sabemos que a questão dos refugiados
É muito usada, por exemplo,
A extrema direita como arma política
Acho que faz falta
Partilhar mais
A experiência dessas viagens
Para haver um bocadinho mais de compaixão
Por quem tenta chegar a Europa
Eu não sei, mas
Para ver a história de refugiados
Há imensos
Há desde a Segunda Guerra Mundial
Porque já eram tempos que os europeus
Tornaram-se refugiados
Ser refugiado não é uma
Escolha e uma obrigação da vida
Que uma pessoa tenta lutar para
Viver em paz
É isso tipo
Ser refugiado não é vergonha
Não é crime, na minha opinião
Porque se tu tiveses
Na toda terra guerra
Ficavas lá ou fugias
Se tens criança, tens queres estar em paz
Numa guerra que ninguém ganha
Só está a perder a vida, a liberdade
A felicidade
Então para que é que ficas numa guerra destas
É uma pessoa foge
E pessoas que têm noção
E cabeça, acho que têm
Tendo a entender disso
Porque isso hoje pode acontecer a mim
Hoje é acontecer a mim
Por exemplo, na Afganistã, na última 40 anos
Que estamos em guerra, mas antes disso
Havia paz
E na Segunda Guerra Mundial
Por exemplo, nós não tivemos problema
É um país de paz que até
Do Dagestan e de vários países diferentes
Que conheço que foram refugiados
Nos antigamente na Afganistã
E irão
E tipo, eram Europeias
Eram tipo do área de Rússia
Tipo, mas só que
Isso pode calhar em qualquer lado
E se pessoas
Tenham mais tolerância e entendimento
E empatia fica bem
Não é por causa de um dia acontecer para eles
É porque ser humano
Eu não venho aqui para
No lugar de alguém, só tento sobreviver
E viver em paz
Mas se
Pessoas ficam contra isso, não consigo dizer nada
Ótima reflexão
Então vamos voltar a estambul
Chegas a estambul e vais fazer o que
Antes de procurar esse
Eu não procurei, quando andei naquela área
Essa pessoa já
Imagina, tipo, eu acho uma menina jeitosa
E de nada da rua ando
E tipo, vários lugares
É isso a atitude
Falam, tentam, dizem
Olha, onde é que vais?
Nessa maneira
Mesmo como fosse uma menina
Sabem que tal de uma pessoa
Em que impotência podem vir a ganhar os teus 9 mil dólares
E depois já tem
Pagam um jantar
Uma comida, um chá
Uma pessoa com fome, nossa balinga, nossa cultura
E como um kebab
E senta-se bem
E foi a primeira vez que voltaste a dormir numa cama
Foi isso, quando chegaram?
Eu estava a dormir numa rua
Só que
Afeitaram-se e falaram
Eu dei todo o dinheiro que eu tinha
Para dois tentativos
Não é do caíque do motor
Era daquelas
O suflável
Aquela escaleira, na vida normal
Cinco pessoas que andam naquilo
Quantas pessoas iam?
Nós estamos vindo de dois pessoas
E um deles virou-se?
Isso explodiu no meio da água
Eu fiz a fonda doce
E tentei a segunda vez
É a mesma coisa
É cinco vezes tentei
O seste montava uns bêbados
Fizemos tipo um grupo de seis pessoas
Já aprendemos a cultura
Cultura técnica
Compram-se barco
A iniciativa privada
Foram comprar um barco?
Compramos um barco naquele tempo
Eu tinha 12 ou 13 anos
Provavelmente isso
Eu tinha menos do que isso
E aí já tenhas amigos lá?
Já naquela grupo que conheci pessoal
Que olhamos tentar
E trabalhamos nos restaurantes
Aqueles ilegais
Que normalmente é proibido trabalhar
Com as menos da idade
Mas eu trabalhava no ilegais
Na área de testes
Muitos imigrantes ilegais
Na turquia
Muitos refugiados
E aqueles que nem têm reconhecimento
Não sabem, mas existem lá muita gente
Não sabe se quedaria entrando
Não sabe
Porque é muito
E hoje o povo turco é muito
Tolerante
Respeitoso
É um povo que tem muita empatia
Para pessoas que não têm dificuldade
Eu já vi várias países
Mas acho que o povo turco é mesmo
Recebe bem as pessoas
Por exemplo na turquia
Não passa as fome
É de uma mulher, é de uma criança
Alguém não pode desatear
Especialmente neste âmbulo
É um povo muito relaxado nisso
E tenho hábito de aceitar as pessoas
E depois foste bebido com os amigos
Nós tivemos seis pessoas
Na última tentativa
As pessoas estavam de Catalan
Não eram de Catalan, eram de um lugar
E eu não sei de onde era
Mas juntamos dinheiro
Quando compras por ti
Acho que era por volta de 400
Dólares naquele tempo
E nós juntamos dinheiro
Porque trabalhamos nos cafés, restaurantes
O que é que for
E eu também trabalhei no Testes
Porque lá na turquia tem muitas empresas
Fábricas Testes
Ninguém sabe, só pagas
E ficas numa máquina e trabalhei
Então juntamos dinheiro
E compramos uma bebida
E chamamos a Raki
Para ganhar coragem no fundo
Não é coragem porque já fartamos
Não são suicidas
Nem comparamos os clientes
Não queríamos saber nada
Por exemplo, eu tentei cinco vezes
Sempre afundamos e as pessoas morreram
Ok, essa vez eu vou morrer
Qual a diferença?
Como é que salvavas? Por que vinhas a nadar?
Por acaso? Por sorte?
Por sorte? Eu, na Afganistão
Como eu disse que na minha cidade tivemos um rio
Nós nadávamos
Da escola até casa, me tinha dentro da água
Me tinha catarneto
Na escola de algum lado escondia
Mandava dentro da água e vinha até baixo
Por isso eu já sabia nadar
Por exemplo, aquele rio
É um rio bem forte
Não é fácil de nadar
E se não dei lá, o mar é muito relaxado
Só que é um bocado
O mar é tenso
Porque a água não é doce
Então não vais logo baixo
Então
Nós metemos no barco
Vivemos bem, dissemos
Ou essa ou morremos de qualquer maneira
Mas olha esta vez que nós chegamos
Na ilha de Rodas
Só que o polícia apanhou e mandou-nos para trás
O último tentativo
Nós tentamos
Porque cinco vezes eu tentei
Não cheguei
Ou fomos apanhados
Ou barco é fundoso
E não dá a vontade de dizer ao polícia
Você não faz ideia do que eu já passei
Para chegar aqui a esta ilha
Chegas num ponto assim, não queres dar explicação
Olha
Explicar a tua 4 anos
E por cima nós
Os áfagões nós temos uma cultura
Muito orgulhosa
Não sei se é ego
Não sei, tipo nós dizemos orgulho
Mas
Depende de agora
Os indianos consideram isso como
Jogistas etc, como ego
Cada um considera isso de uma maneira diferente
Mas nós não pedimos muito
Por favor, ajuda
Cuidado de mim
Ok, tentei, não consegui
Tá bem, eu aceito a consequência
Vais me ter no prisão
Tá bem, vamos
Se queres bater, bata, olha
Eu fiz, eu tentei
Porque nós temos essa cultura de aceitar o facto
Tentamos, não deu
E tentamos
E como é que é a pancaderia
Nesta história toda?
Havia
Havia muita luta
Entrar caminho
Durante o caminho, tipo
Eu já havia muitas lutas
Por causa da água, esfaqueado
Um do outro
E empurrar de um monte, alguém
Isso só acontecia muitas vezes
E ninguém reparava
Ninguém ouvia porque era noite
Alguém caia do montanha, morreu amanhã
Olha, alguém ficou onde
Não sei
Isso passava assim, era uma coisa muito
E depois de tu lá em Istanbul
Vais começar a fazer artes marciais
Não, em Istanbul fui preso
Depois da tentativa
Foi preso também
Porque, ultima vez
Queria tentar outra vez, depois do preso
Foi apanhado, me meteram no campo
Refugiado
E depois eu saí
Como são esses campos de refugiado, é terrível
Campos de refugiado é terrível
Mas eu não fiquei muito lá
É dois dias, eu basei
Como era pequena, tipo embaixo das coisas
E sempre tive uma coragem
É difícil aprender uma criança
Eu não consegui empreender
Eu fugia mesmo, é certo
De cada campo, refugiado é que eu fugi
Dois ou três vezes, que foi apanhado
Eu não ficava lá, só no prisão
Eu consegui fugir mesmo
Porque eu cheguei outra vez para aquela área
Onde é que acontecia, acontecia
Quando eu voltava, sempre voltava
O Zaitumbur, não era o centro
Então, voltar é aí e conheci
Uma gente que disse assim, olha
Levo-te do aeroporto
Veste do avião
E até recebemos dinheiro quando chegares lá
Mas na tua mosquilla
Metas uma coisa
E chamas essas três ou quatro pessoas
São da tua família
Tá bem
Na mosquilla era dois quilos do coqueino
Naquele tempo que eu não sabia o que era o coqueino
Eles disseram que era super branco
Eu estava bem fechado com fita-colas e tudo
Que era donde para onde, do Zaitumbur?
Do Zaitumbur, da Ataturka
A Ataturka Airport
Para, acho que era Milano
Não sei
Não aconteceu essa viagem?
Não aconteceu, porque eu quando fui
Na porta, logo...
Cheiraste tudo sobre a casa?
Não, logo fizeram barulho
À máquinas, então
Chegou o cão e não sei o que
E apanhou, então...
Mas quer dizer, são redes que usam crianças
Para fazer isso?
Sim, essas redes usam em várias maneiras
E tu pensaste, é assim que eu vou conseguir chegar a Europa?
Essa é a última tentativa do avião
Por isso, quando apanhou
A polícia da fronteira
Do SEV, tipo assim
Lavei primeiro um chapada
E segundo, quando lavei chapada
Teve o logo do orgulho
Quem é o resto de pessoas
Os outros que passarem, eu nem disse
Não batei isto, eu não vou dizer nada
Ela me deu um chapada logo no início
A polícia, sem dizer nada
E então...
Até um ano de prisão
Até o UNCR, tipo o Cruz Vermelho
Tipo gravar
No grupo de refugiados
Que já tem um documento
Para ser refugiado
Até aquele tempo eu não falei nada
Só por um chapada
E ela diz-me, olha, diz quem era
Não vou dizer
Batei isto de um chapada e não vou dizer nada
No primeiro, eu entrei naquilo...
Se eu não tivesse batido, eu ia se coletar
Uma rede internacional de tráfico
Mas como batei isto?
É, mas acho que aquele family
Também era refugiado
Eles também, coitados, sofravam
Era dois senhores e um homem
Mas passarem...
Foi tudo preso?
Não, eles não foram presos
Porque eu fui sozinho preso
Eles não tinham com eles
Na minha mala de criança que havia coisas
Não era na mala deles
E depois era na prisão
Que vais
Que vais conhecer o apoio
Aos refugiados, uma e outra vez
Sim, eu...
Na prisão chegou umas pessoas
Tipo, depois é refugiado
Primeiro eu sou menor da idade
Então, levaram-me para a centra educativa
A minha nível de dedicadação
Estava tudo bem, mas na mesma vez me lavaram lá
Porque era como se fosse o segundo prisão para as crianças
E tu sabias isso?
Ou seja, as pessoas quando estão
Quando estão refugiados
Tem noção que existem apoios
Estatais, não?
Eu não tinha
Em 2016, as coisas eram muito diferentes
As pessoas têm muito medo
Tudo que seja contacto com as autoridades
Sim, tudo que era como governo
Não queres fugir
Não queres meter com eles
É perigoso
A polícia vai te lavar, bater
E eu vou me mandar para trás
No avião, em dois minutos de leve
No aeroporto
É melhor fugir de autoridades
E se tu fizesse um viagem de dois anos
E já olhes em meia hora
Vai te mandar para trás
É muito difícil de aceitar
Muitas pessoas quando ficam assim
Na Afganistã, suicidam
Porque já eles lutaram toda a vida
Para ir à frente
Para tentar conseguir criar uma vida
Eu conheço próprio um amigo meu
Quando chegou na Afganistã, do Alemanha
Suicidiu-se
Na hora que me mandou-se
Da aeroporto para baixo
E disseram que ia ter que voltar
Quando chegou no aeroporto de Kabul
Acho que meia hora passou do checkout
E ela matou-se o próprio
Porque
Não aguentou que essa viagem
Foi fã e chegou cá e pediu as ilas
Depois de dois ou três anos
Olha, a Afganistã
Não foi aceito
Foi muito pesado
Isso é um processo pesado
Não é o nível de
O esforço que estás a dar
Durante aquela viagem
Todo para chegar com a explotiva
Não é só explotiva, mesmo o esforço
E tentaste tudo para fugir
E depois de nada, vamos andar para trás
É muito difícil, tipo
Aceitar-os
Não aceitas, primeiro quando vais
Imagina, eu vou hoje na Afganistã
O que é que eu vou fazer?
Eu não sei o que fazer
Na minha língua, eu não sei ler e escrever
Não sei bem a cultura porque já
Cresci no
Culturas internacionais, turco, iraniano
Português
Há dez anos que estou em Portugal
Por exemplo, se eles vão mandar para
Afganistã, eu não sei o que que faço
Eu não sei mesmo, tipo
Primeiro não sei usar a arma já
Que para ir a guerra
Segunda não tem terreno, não tem dinheiro
Não tem casa porque todo foi vendido
Tu conseguiste voltar a
Contactar a tua família?
Eu já trouxe a minha família para Portugal
Eles estão todo cá
A história depois cruza-se com Portugal
Temos que acelerar um bocadinho
Com, muito, com pena
Tu transformas
Essa alguma
Raiva que foste acumulando
Durante a tua viagem
Em pancadaria
Série, ou seja, em artes marciais
Tava aqui usar pancadaria a brincar
E
E depois, a coisa vai te ocorrer bem
Na Turquia
Na Turquia eu, quando
Eu fui fugido aí
Que é uma menina que apresentou-me
Até quando, e comecei a fazer até quando
E até quando
Era um desporto onde eu tirava raiva
Tirava ter energia
Tu mandava um ponto de peixe no saco
Tinhas muita raiva acumulada
É normal, depois disso tudo
Era raiva, eu não falava
Muitos tempos com pessoas, tipo
Eu não falava mesmo, tipo
Imagino se alguém mesmo obrigasse-me a falar
Eu não falava até lá, porque estávamos
Eu não queria, tipo, falar com ninguém
Eu não queria fazer nada
E uma senhora chegou para
Fazer, como se dizia
Um trabalho voluntário
No centro refugiado
E ela me levou até quando, escolhe
Para te ajudar isso
Então eu fui até quando
Daí, quando fui campeão nacional
E campeão de cidade, etc
O treinador investiu em mim
E por isso, depois cheguei para Portugal
No Box também a mesma coisa
Tivestei o hipótese de ir para os Estados Unidos
E para Portugal, e vi esta Portugal
Porque era o país do Cristiano Ronaldo
Sem fazer ideia de onde é que ficava
Eu nem via futebol
Acho que toda a minha vida
Vi só um jogo de futebol
Que fui ao jogo da Galata Saray
E fui na Arba-Chelana
Em Turquia, e no Estadio
E também aquela odia, porque não é para mim
Claro, mas quem está habituado a um jogo
Com um cavalo da Marta e um que verdade mora
É porque eles, tipo, vinte e quatro pessoas
E uma bola e tipo
É muito massadora o jogo
Para mim não dava aquela prazer
Muita gente gosta que é um futebol
Mas para mim não dava isso
Só que eu sempre
Ouvíamos o nome do Cristiano Ronaldo
De quem é, tipo, da cara vejo na televisão
Quem é, tipo, todas as notícias
No Cristiano Ronaldo, Cristiano Ronaldo
E a lei de Portugal
Eu não sabia nada onde é que fica Portugal
E quando o Acnur
Trouxe, tipo, um programa de reinstelação
Para levar as pessoas refugiadas
De centro-refugiadas para outros países
E chegou, tipo, num papel
Tava escrita do embeichado americano
Que era para ir a Estadio
E o outro era
Lisboa e Portugal
Assim, tipo, já lembrava
O que é que é a América, tipo
Eu não sabia o que é que é a América, mas
Não era uma coisa, mas a memória é muito simples
Muito...
Eu não sei como ficava, onde é que fica
Mas...
Já sabia por causa dos tancos
Dos armas todo americano-africano-estadio
Eu disse, porra, num país onde é que eu já vi
Tantas guerras delas na Miniterra
Portugal nunca ouvi ninguém dizer mal
Sim, para que é que vou lá
É o mesmo, tipo, sem segunda opção
Ou pensar nada, tipo, é mesmo
Assinei para Portugal, lembro, não conheço Portugal
Não sei onde é que fica, como fica
Eu vou lá, ao menos não tenho conhecimento
Não tenho mal memórias
E vi cá para Portugal
E hoje, por caso, tu está que andou
Pelo box e fazes parte
Por causa do saúde, não consegui
Fazer mais tempo, quando eu
Comecei a fazer box para tirar raio
Para conseguir ficar cansada e dormir
Nunca foi uma...
Mas hoje é a tua vida, ou seja, não é só a tua vida
Hoje é a minha vida, hoje é o meu sonho, mas
Aquela, eu comecei...
Tu fazes parte da equipa de refugiados
Do Conte Olímpico Internacional
Hoje, tipo, a vida
Queria um...
Esse trabalho, esse tempo
Perdiu um sonho para ir aos Jogos Olímpicos
Mas...
Em geral, eu comecei isso com
Uma terapia
Porque eu não falava português para ir
Falar com terapiotas
Para relaxar, quando batia o saco
Cansavam, depois o box é um desporto muito
De fora parece muito
Salvagem, mas
Por dentro do box tem um ambiente muito bonito
Porque os...
Vais combater com a pessoa dentro do ring
Que estás a bater, partes na risa
Mas consegues abraçar, e consegues tomar um café
Sem pensar o que é que aconteceu
Por isso que eu gostei do box
Parece um bocado daquele jogo do afghan
Tipo, as pessoas morram, caem
Não acontecem, e depois já abraçam
Não tem nada por dentro, o ódio, o raio
E por isso é...
E não é só pancadaria, também
Estás a cumprir do outro sonho, entraste no curso
Da arquitetura, porque depois de ver muita destruição
Apetece-te fazer qualquer coisa para destruir
Sim, a arquitetura, eu já vi
Destruição é muito fácil
Tipo, um bom beijo para o dia
Toda uma casa ia para a chama
Mas a construir sempre foi
O meu...
Curiosidade
Isso não quer dizer que um dia
Quero ser um grande arquiteto, alguma coisa
Eu não tenho muito jeito
Eu vou explicar os professores da arquitetura
Porque eles são muito...
A poética, dramática, etc
Mas eu gosto de aprender
Eu não ligo as notas, etc
Mas eu gosto de aprender, cada dia
Eu não ligo as notas da minha maneira
Mas essa é a minha curiosidade para criar
Só que...
Está a ser cada vez mais difícil
E sabe bem nesse caminho
Docentes que Portugal foi o fim
Pelo menos por agora, dessa viagem
Que começou quantas minhas oito anos?
Eu já estou instalado
Eu não vou sair de Portugal
Eu estou cá e...
E...
Eu já tenho a minha família
Que é uma família que eu nunca conhecia
Durante esses 20 anos
23 anos
Conseguiu estrazer, eles têm paz
E eu cada vez tipo...
Cada sexta-feira eu vou passar um fim de semana
Com a minha mãe e com meus irmãos
Eu acho que...
Este é espetacular
E o parque é que vou tentar me dar trabalho
Para ir ver no outro país
Ou tentar outra vez
Eu quero criar a minha vida, em paz
Ou se for arquiteto ou arquitetura
Se for um treinador de boxe
Mas estou cá
Foi incrível, obrigado por partilhar-nos
A tua viagem
Para essas denoridades nos contar-nos a tua história
Nós vamos...
Voltar para a semana
Não sem antes lembrar
Que as músicas
Que temos estado ouvindo
Estão disponíveis na playlist do Spotify
Que se chama
Vamos para a tua terra
Exatamente
Até para a semana
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Vamos
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Pra tua terra
Vamos
Vamos para a tua terra
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A viagem de Farid Walizadeh é a Odisseia do século XXI.
O Afeganistão num prato: Kabuli
* Num livro: O menino de Cabul, de Khaled Hosseini
* Num filme: Osama, de Siddiq Barmak
* Num lugar: os lagos de Bandi Amir e cidade de Bamyan
* Na música de Ahmad Zahir, de Dawood Sarkhosh e de Valy.