Tabu com Bruno Nogueira: "Vivi 10 anos com uma amiga. Um dia fomos a um festival LGBT e ao sair a polícia matou-a e disse-me que eu ia desaparecer. Por isso, fugi da Rússia"

Joana Beleza Joana Beleza 4/18/23 - Episode Page - 1h 12m - PDF Transcript

Bem-vindos ao Tabu, um programa onde nos rimos sobre assuntos que vocês provavelmente

acham que não são para rir.

Vou passar esta semana com quatro exilados e refugiados e juntos vamos tentar perceber

se é ou não possível encontrar humor em quem deixa o seu país para procurar uma vida

melhor.

Eu tenho aqui para dentro, tenho uma cama melhor por causa das costas, mas precisarem de

mim chamando, estou no quarto, tá?

Fizerem comida ou qualquer coisa?

Só estou com a na forta.

Sim, isso não abrirá primeiro as peras, tá bem?

Olá, eu sou o Bruno.

A minha voz soa diferente.

É natural, eu não sou o Bruno Nogueira, sou o Bruno Ferreira.

É partido, rima e tudo, mas ele é mais alto e eu sou mais bonito.

Além dessas existe também outra diferença fundamental entre nós, o Bruno Nogueira está

neste podcast para falar de assuntos sensíveis e eu estou nos intervalos deste podcast para

falar de assentos sensíveis, assentos sensíveis às necessidades e ao conforto de condutores

e passageiros, como os do novo Peugeot 408.

Entre as opções disponíveis estão a ergonomia certificada, a função de aquecimento, a regulação

elétrica com memória e até um sistema de massagens.

Assentos portanto do mais sensível que existe e vai sentar a diferença.

E senti-la também.

Basta marcar um test drive num concessionário Peugeot.

Estavas a perguntar quem é que sonhou, eu não me lembro o que é que sonhei, mas sonhei.

Sinto que a minha noite aconteceu muita coisa, não me lembro o que é que sonhei.

Não se lembro se era positivo ou negativo.

Acho que ainda dava um bocado de nervos.

Neve?

Neve.

Neve.

Eu também me lembro de nervos, quem que sonhou mais?

Eu não.

Sonhou?

Sim.

Foi bom?

Estava a chegar à Venezuela com minha mulher e estamos recuperando a casa de que nós

estemos em Venezuela, que foi invadida por outra gente e sacamos a gente que estava

nessa casa.

O problema é que um deles sacou uma faca e começou a perseguir-me e foi aí que eu acordei

essa.

Pensei que era bom o sonho agora, até a mãe parecia que era bom.

Pensei que a minha lembrança era bom.

Você é uma grita, sonhaste?

Eu sim, mas eu não me lembro que eu sonhei, mas acho que porque eu demandei eu acordei.

Mas pensei, boa, boa, não, boa na grita.

Saúde.

Saúde.

O que é o ramadão?

O ramadão é o mês que não varem de comer durante o dia, ou o peper, ou fazer coisas

malas.

Claro que sempre, mas durante esse mês, é mais.

Podem comer só a noite, podemos às 8 ou quase.

E depois depor de sol.

Exato.

Mas depois de sol, podes comer tudo.

Sim.

E muito.

O ramadão é muito bom.

Por isso, olha.

Claro.

Primeiro, como é que eu pronuncio bem o teu nome?

Ah, Mato.

Ah, Mato.

Ah.

Não tenho...

Não.

Normalmente tenho tendência para o...

Ah, Mato.

Tiro-re.

Emborguês é difícil.

É.

Ah, Mato.

Como é que toda a gente trata cá em Portugal?

Fazem assim, não estou a ver o português a dizer...

Às vezes, eu tento dizer Omar, o meu segundo nome, nome da família.

Então Omar é mais fácil.

Por que que tu decidiste sair da Síria?

A primeira, a possibilidade para continuar a minha vida, para estudar, para viver.

Porque quando eu saí, eu já tinha 18 anos, tinha que fazer o serviço militar.

O serviço militar tem que matar os seus irmãos.

Eu não quero fazer isso.

Eu escolhi fugir.

Como é que era para ti crescer nesse ambiente de guerra?

A guerra começou no março de 2011.

Quando era no High School...

No secundário.

Sim, no secundário.

É, começou.

Todo dia foi uma coisa nova, por exemplo.

O primeiro foi as pessoas morrem na rua.

Depois começou a cair a bombas, assim.

Por isso, claro, que foi muito difícil.

Falei para a minha família, que eu escolhi sair de beijos.

Que eu vou estudar para continuar a minha vida.

No outro país, quero segurança.

Perguntei se elas vão sair comigo ou não.

Meu pai e minha mãe dizam que é.

Se vamos morrer, queremos morrer no nosso caso.

Não queremos sair.

Como é que elas reagiram quando tu disseste

que querias sair do país?

Meu pai não aceitou.

Fica aqui, estuda, continua a sua vida, o meu irmão.

Eu diz que o futuro não é aqui.

Eu não sei se é boa a escola.

Se é volta, não sei.

Se vai cair bombas em cima de mim ou não.

Uma vez, quando estou a voltar de escola para casa,

cair uma bomba no trecho de mim,

eu joguei, eu, meus amigos, joguei assim no chão.

Quando a minha família vejam isso, aceitaram mais.

Primeiro país onde tu foste foi para a Turquia?

Como é que foi?

Procurei o estudo.

Eu ouvi que, às universitadas,

os cursos são gratos para os sirios.

Quando cheguei lá, não foi.

Eu tinha a opção para ficar na Turquia.

Ou voltar para Síria.

Fiquei.

Eu procurei trabalho.

Achei, no final, depois de três meses,

achei no supermercado perto de minha casa.

Minha mãe, meu amor, estou com muito saudade.

Ainda estou eu, arrumado, estou o filho.

Quem sempre lembra-te nas momentas felizes,

nas momentas stressos também.

Depois quando saias da Turquia, vais para onde?

Foi para Grécia.

Como é que chegaste à Grécia?

Eu passei ao mar, eu beguei para o homem,

600 e tal, e foi num barco plástico, não sei.

Sim, no borracha?

Sim, 9 metros, mas dentro deste barco

foi 40 ou 50 pessoas.

Eu entrei legal, legalmente, para a Turquia,

mas é impossível de sair também,

é igual para Grécia.

Tem que me ter visto, ninguém vai dar.

Travessaste a tomar a região?

Em 2016, 4.700 refugiados morreram no Mediterrâneo.

É o outro mar, mas apesar de tudo,

era uma coisa que te assustava certamente,

porque de repente...

Eu sabia que já há muitos pessoas estão a morrer.

Eu sabia.

Foi o único opção.

Para voltar para Síria, não tem outro lugar para ir.

É a vida na Turquia, está muito ruim.

Quando tu vais nesse barco,

avisaste a tua família ou amigos,

alguém sabia que tu ias fazer essa viagem?

Não, mas tinha um amigo lá na Turquia,

eu disse para ele, ok, eu vou,

eu vou agora, mas quando eu vou chegar,

eu vou te mandar mensagem, eu vou ligar,

se eu não mandei nada, ele já tem o número de minha mãe

para informar eles.

Eu, eu sei que eu estou ao lado, confia em mim.

Como é que foi essa viagem?

Muito bom.

Fomos a meia-noite,

a chegarmos lá na ilha da Gressila às 5 da manhã,

chover em cima de nós,

meio de barco água já.

Eu imagino que se tenha muito medo

durante essa viagem toda, dessas 5 horas,

algum momento pensaste que se não iais chegar lá,

ou que ia voltar para trás,

ou que ia correr mal e ia só ficar no mar.

Eu não pensei de voltar, eu pensei...

Querias morrer do que ter de voltar?

Claro.

Eu olhei no céu,

eu disse,

Deus, então, eu sou uma pessoa,

não sou um bom,

mas olhem nas crianças, nas papéis,

elas não têm nada de fazer.

Ficaram todos em segurança.

Graças a Deus.

Juntar mais bravo que você.

Gravo, gravo, gravo.

É isso.

Muito bem.

Mais um?

Uma coisa que o Português faz muito bem

é ensinar palavrões

quando chegar alguém de outro país.

Ensinaram-vos?

Sim, mas aqui não posso dizer.

Pode, pode, pode.

Aqui é que pode dizer.

Eu...

A professora escreveu que era um lápis cardíaco, mas...

Sinai, saem vontades.

Porque uma vez no...

Eu digo, por favor, caracas cinco.

Ah, isso não é caracas.

Ela começa, ah, ah, ah.

Porque cinco caracas,

ela diz, não, é caracas.

Não, isso ainda se pode dizer, caracas.

Nem é bem um palavrão.

Nem é bem, não está bem na categoria.

Ainda, palavrão.

O...

O nome...

Rui.

Rui, na língua russa é muito...

Ah, isso é bom, ensinar.

Estás a ensinar, Rui é o que?

É que...

Probaixo homem, tá indo.

Ah...

Caraca!

Caraca!

Rui.

E agora, e tu? Também deve saber.

Bom, o que eu aprendi foi na Venezuela.

A minha mãe, quando ficava chateada comigo,

o único que ela falava na Venezuela português

eram os prabros, as grosserias.

O filho era...

Caraca de merda!

Caraca de merda!

E para ali em cima.

E para ali em cima.

E isso é o que eu aprendi,

mas já fui na Venezuela com a minha mãe,

quando ela ficava chateada.

É tudo marido e infância, isso é isso,

eu também sou artista.

É, Alder, tu, és o museu ano,

viás para Portugal há cinco anos?

Faço cinco anos aqui em Portugal.

Por que é que se isto era o museu para Portugal?

O que é que levou a si?

Porque já havia uma situação, já um ponto,

que já não tinha dinheiro

para comprar comida.

Eu vendia uma moto

para poder comprar comida,

vendia um carro para comprar comida.

E então,

havia gente já praticamente

a matar os animais da rua,

por exemplo, caes, gatos,

para poder comer,

porque havia uma escasez de comida.

E então,

eu cheguei a um ponto determinado

que falei com minha mulher

e meus filhos e minha mãe,

e disse,

eu sou que é meu filho, fiquem mais aqui.

Eu vou para Portugal

e depois

procuro uma solução

para que venham comigo para Portugal também,

comprei um passagem de soda e ida,

porque já tinha praticamente

a nacionalidade, a dupla nacionalidade

venezolana e português por meus pais.

E vi para Portugal, que cheguei a cá,

Portugal, foi um bocado difícil.

Primeiro, polidioma.

O que é que trouxe isto

quando vieste da Venezuela sozinha?

Uma mal à frente e uma mal à trás.

Cheguei

com muita fé,

muita esperança.

Tinha escala alguém, não tinha escala

ninguém quanto que acho que é.

Ninguém.

Sabe o que eu pensava? Fico

a morar abaixo de um ponte,

até procurar um emprego

e assim poder alugar um quarto

e depois pôr para trás

para ter vindo à família.

Como é que esse momento tem que chegar

a um país estrangeiro e de repente

não se tem ninguém?

Tristeza, porque deixaste

a tua família na Venezuela.

Te és medo porque não sabes

que irá acontecer

aqui contigo a Portugal.

O primeiro momento que cheguei

que sebrou nesta porta do aeroporto,

não sabia para onde ir.

Vive uns policiais que estavam ali,

falei com um deles,

para buscar por um par de noites

até que eu arranjei trabalho

e fui muito mais recebido

pelos policiais, porque eles me

disseram que eles não eram agentes

de viagem e eles não tinham nada

que ver com minha situação

e foram muito grosseiros comigo.

E agora, o que faz?

Aí falei com um taxista,

ele me aconselhou

a comprar um chip, um cartão

de telemóvel e ligado

para uma linha de pessoas

sem abrigo.

Liguei para essa linha de apoios sem abrigo.

Eles me encaminharam

para a Santa Casa

e aí na Santa Casa

fiquei durante três meses.

O que é que tu conhecias de Portugal

ou o que é que tinham contado

quando te acachaste?

Havia muita gente no Facebook, grupos

de menesolanos que já estavam

aqui em Portugal e eu falava com eles.

Me disseram que sim que

havia emprego, mas os alugueles

são muito costosos.

Lutei, lutei, procurei

e consegui as suicidões de Jota Rieses

que me ajudaram

e me deram um abrigo temporário também.

E fiquei ali com eles um ano.

Obrigado.

Um refugiado

a dar-me um microfone.

Está-se tozando muito lá fora

esse tipo de dentro.

Porra.

Bem-vindos, muito obrigado por terem vindo.

Também dispostas, tudo bem?

Essas coisas.

A curtinha te reparar, porque...

Enfim, vamos seguir em frente.

Seja um grande abraço.

Obrigado.

Sejam bem-vindos a um programa sobre refugiados e exilados.

Não sei se notam, mas meus convidados

estão particularmente felizes,

porque é a primeira vez

na vida deles que eu vou estar

tanto tempo parados no mesmo sítio

sem terem de fugir para lá de nenhum.

Tentam mais calmes.

Há pessoas que ainda têm dúvidas

em perceber a diferença entre um exilado,

um imigrante e um refugiado.

É muito simples para vocês saberem

que a diferença é a velocidade

com o que fazem a mala.

No caso dos refugiados,

se tiverem uma mala,

já é um refugiado premium.

Deve ser chato, não é?

Se nos do nosso país há espera de melhor

e de repente também parar a Portugal, coitados.

Parece que é Deus agujar, não é?

Entre ficar na guerra e vir para um centro de refugiados

na boba dela...

Tentas mais alfacar no bunker, não é?

Tá mais quentinho.

No fundo, nós tratamos os refugiados

como tratamos as nossas torradas.

Que é, se está muito escura, mandamos para trás.

Infelizmente, para muitos portugueses

não dá é para fazer o que se faz com as torradas,

que é raspar com a faquinha até ficar mais claro.

Será que eles queriam?

Quando os refugiados têm um ton de pele mais escuro

nós não queremos, mas um dia...

Tenção, escrevam isto.

Um dia que há uma guerra na Suécia...

Vão ver se não saberem logo as portas das casas todas.

Ô amor, olha peste das gêmeas.

Coitadas.

Vinte e cinco anos.

Instrutoras de yoga, ficaram sem nada.

Portas de para casa da tua mãe.

Coitadas, são lejadinhas.

São lejadinhas de boas.

É?

O que? Boas?

Tu ouvi isto de boas? Não, disse das pernas.

Parece boas, não é?

Do cu também.

O que? Do cu? Quem falou?

O que?

Isso.

Pronto.

Uau, olha.

Olha para si.

Está aqui mais plaça.

Mais plaça, gente.

Vamos lá.

Ela!

Uau!

O Hercules está com nervos, não está?

Pronto, está tudo bem.

A mesma festinha eu sinto que ele...

Ele gosta, mas ao mesmo tempo...

Sem papichina, não?

Agora já quer.

Ele não sabe o que é que quer também, é isso, não é?

Hercules, estamos bem?

Margarita, tu és artista e escritora.

Em 2004 lançaste o primeiro livro LGBT na Rússia.

Sim.

Mas passa quase 10 anos.

Na 2013.

Sim.

Foi feito lei gay propaganda.

Em 2013 todos os dois livros foram proibidos?

Sim, primeiro foi proibido a isto.

Esta livro.

Sim.

Sobre pessoas LGBT.

Mas depois todos.

Mas ele diz que...

Vai escolher sobre LGBT.

Uau! Que bom, vamos ser gays, todos.

Também tinha livros infantis.

Também tinha o medo de que se lesse um livro.

Sim, sempre pai de uma criança me diz que te vou matar.

Se o meu filho vai...

Crescer e vai ser gay.

Uau, é a minha culpa.

Mas estúpida.

Como é que tu ultrapassaste essa fase?

Eu tenho muito problema.

Por que?

Começa totalmente...

Discriminação, minha.

Vai fazer fogo na minha vida.

Vai fazer fogo na minha porta.

De meus apartamentos.

Mas a protesta é contra ti?

Sim.

Escreve na paredas e na porta.

Dos meus apartamentos.

Aqui mora...

Inimigo.

Inimigo?

Sim.

Só porque eu escrevi isto.

Que?

Foi a propaganda.

Foi a propaganda.

Você sempre escreveu o livro.

Você sempre escreveu o livro.

E foi a edita da editação.

Eu estava com polícia na minha casa.

Eu estava com a polícia.

Eu estava com a polícia.

Eu estava com a polícia.

Eu estava com a polícia.

Eu fui a editação da Polícia.

Eh ai...

Tive a espécie de ser feliz?

Quando eu trato,

eu encanto no lixo ou...

fazer incêndios pelas suas Principais.

Game da Fila.

E tiveste medo pela tua vida?

Tive medo.

É 140 anos que Ministro Carlo

escreve muito o que vamos matar de ti.

eu moro. E quer matar-me, a polícia diz, sim, aqueles como tu é necessário eu matar,

porque o ruso não pode ser lhesbico, gays, tu vais no prisão. Quando eu digo, ok, vou

no prisão, vou ser heroína, porque Destaevski fica no prisão, outros escritores, conhecidos

ficam no prisão, eu também, vou, ok, a polícia diz, não, não, nós vamos colocar droga

na sua bolsa, ou vamos dizer que tu, pedófila, tu não vais como escritora, porque na Rússia

nenhuma pessoa não fica no prisão por este gay propaganda, nenhuma pessoa. Arrejam outros

crimes para... Sim, é muito, é muito medo, porque se vais no prisão, como pedófila,

lá vai matar.

Chegaste a ter medo pelas pessoas que amavas, tianam próximas?

Eu vivi junto com minha amiga, durante, deixamos, nós fomos no festival da cinema El Jabaté,

quando nós saímos da cinema, já lá espera a polícia, a pânia, ela, e ela morreu.

Tinha aqui... Anzões no cérebro... Sim, e ela morreu, mas eles dizem que eu não

é nossa culpa, quando eu digo, você se mata, eles dizem não, eu não é nossa culpa.

E para mim, eles dizem que tu, vais ficar cá, vais desaparecer-se, e ninguém vai

saber onde tu, onde tu estás. E eu fugi.

É, ele está nervoso, está tenso, eles irritam-se muito, não irritam, com coisas que eles lá

vêm, neve.

Eu ouvi uma vez, não ser de estrela, quando tenho saudade de Rússia, vou na ser de estrela

e posso ver neve. Uma vez, na jardina de Gulbenkian, encontrei Betula, Arvore, e a Arvore

de símbolo de Rússia. E eu cheguei lá, e eu abroço esta arvorinha.

Você já está me ensinando de Rússia?

Estanho muito, mas não de Putin, não de Guerno, a Rússia, a Rússia de natureza, a Rússia

de...

Como é que era a vida, ou como é que foi, enquanto lá viviste, a vida inteira?

Infância é a adolescência muito feliz. Paz muito harmonioso, pai militar, mãe, professora,

diretora da escola, muito disciplina, então dava-nos mais gosto de qualquer brincadeira

que fazíamos em casa. Já há 13 anos, na altura da revolução iraniana, não é,

a revolução mudou radicalmente, seja a minha vida, seja a vida dos meus pais, nossa família.

Depois, pronto, nove anos da guerra, oito anos e meio de guerra, a vida continua, a nossa

vida continuou, há até um certo tempo, depois dos estudos superiores, fiquei assistente

universitária, não necessariamente teram, mas já não dava. Já não dava ficar lá,

porque já não dava. Tinha boca de uma asia de grana. Eu senti, minha família também

sentiu isto, que já era uma altura muito sensível, já era de uma asia de uma menina

muito emancipada, muito independente. O que dizias, o que dizias, poder te pôr em

risco a ti e à tua família? Sim, exatamente. Eu queria a mudança, eu queria continuar

para a minha vida, outro ponto do mundo. E é aí que decido ir para Paris?

Recebi uma bolsa, uma bolsa excelente, do Ministério do Negócio Estrangeiro francês,

então fui para Paris, a aventura mudou, a vida mudou. Com que idade é que foste?

Na idade de 24 e meio. Eu sabia que quando eu estava a sair do país, que não iria voltar

mais para viver, não dava mais para eu ficar. E como é que surge um português na tua vida,

em Paris? Ele também estava a fazer? É preciso erasar, é preciso erasar. Destino,

talvez o nosso, o nosso. Eram os vizinhos na mesma residência universitária, então

assim logo começou com ramos de rosas. Era amor, uma paixão. Mas ele é que se chegou

à frente primeiro, não foi? Claro. Tinha que ser, né? Por que a gente não está

cá e casaste com o que idade? Casei com 28. 4 anos depois. 27, 28. Ok. Como é que depois

vês parar a Portugal? Era um mole entendido, de facto, depois de casamento, porque para

mim éramos o que casamos, eu fico em Paris, ele vai fazer a vida dele em Portugal, porque

era assistente universitário, também estava a fazer até. Vamos juntos, eu disse, o que?

Não, vamos juntos, o que? Eu tenho minha vida aqui, tudo aqui. Depois de tudo isso, ele

convenceu-me, vim para Portugal. Foi mal ter-se conhecido Portugal pelos olhos do

teu ex-marido? Sim. Por que que diz isso? Eu antes de conhecer o meu ex-marido, não

conhecia Portugal. Não tinha nenhuma ideia, nem positiva, nem negativa, claro. O que

que ele apresentava do país e o acreditava? Também, sem conhecer a língua, sem conhecer

a cultura, sem ter ideias. O retrato que eu te fazia de Portugal não era muito positivo?

Não. Toda a abordagem foi muito negativa, muito. Até a altura que separei. O nosso

casamento não deu certo, é decidir de me separar, então é diferente. Lá eu próprio

comecei a conhecer a sociedade, a cultura, o povo. Eu queria a tua memória efetiva

com Portugal. Sem intermedio dele, intervenção dele. Mas ainda voltando até, os centros

que viram para Portugal, casada com o português, ajudou na integração ou não? Apenas acadêmica.

Outras integrações, não. Porque por onde que a gente iria, ele punha-se à frente

de mim. E eu que era uma mulher, uma menina extremamente independente, logo fiquei presa

numa armadilha da dependência do outro. E este outro condicionava-me tudo, tudo. Eu

chorava quando cheguei a Portugal. Porque o contexto onde ele me levou também era

o fim do mundo quase. Era a Pombolê, depois Coimbra. Porque se eu chegar a Portugal,

bem vinda a Portugal, vem para o Pombolê. Não, mas Pombolê, ao redor do Pombolê.

Pois, pois tu entraste logo, entraste logo para os armazém. É mesmo, era armazém.

Pois, pois essa nem ensinava o Pombolê. Exatamente. Então tu cheguei de uma Portugal. Quinta

de formiga, alguma coisa desta. Nem sei. Eu chorava. Não, percebe por que é Paris.

Ah, e depois primeiro lugar. Primeiro lugar. Nós chegamos a Pombolê. Ele levou-me mostrar

cemitéria do Pombolê. Mas, rapaz. Eu chorava. Mas é assim, tu foste.

Mas onde que vais me levar? Pois, pois. Ah, e depois em Paris, espera.

Mas é que o problema diz, diz, diz isso. Em Paris ele dizia que ele era responsável

cultural de Câmara Municipal da Cidade dele e que tinha chave de castelo na mão. Então

ele dizia para mim, uau, descer chave de castelo na mão. Eu dizia, por favor, primeira noite

leva-me a dormir no castelo. Não, não, que ali há ali um... Há ali uns caixões

que eu queria que tu viseses. Mas castelo do Pombolê, quando chegamos,

tinha uma porta, mas não tinha muros a volta. Era ruína. E depois eu diz, mas tu tens

chave disso. Por que isso? Fui. Era a pior abordagem que podia existir.

Mas já fiz estas pazes com isso. Sim, sim, sim. Perfeito. Com Portugal, com Portugal,

não é? Ah, sim, sim. Estou aqui. Claro. É incrível a velocidade com que vocês

aprenderam português. Isso, há que louvar. Quando a gente vive cá há décadas e ainda

diz há-des. Vocês já têm que conhecer-se ali depois, mais tarde. E nem quer imaginar

como é que os portugueses seriam como refugiados. Para já eles chegavam atrasados ao barco.

Esse é logo a primeira. De quebrão do português? Porra, estamos aqui já. Depois

regateavam o preço da viagem. Mil euros? Jupa, sem mala de purão. Não, não. Trinta

e dois, meu amigo. Dô-lhe trinta e dois. E é sequer. E depois íamos ser muito chatos

para quem nos acolhece. Muito, muito. Ah, arrumado. É pá. Tira lá isso do canal

Rale Maraíba. Tu lá na SportTV, pá. Tá a dar o maritim-tondela. Não sabíamos. Não

sabíamos ir para país nenhum. Até porque normalmente um refugiado tem de se adaptar

à cultura do país que o recebe. E os portugueses não iam conseguir fazer isso. Os portugueses

iam tentar era mudar eles à cultura dos sítios. Chegavam lá para... Oh, arrumado. Diz-lá

uma coisa. Então a tua mulher tem um napro na cabeça e a televisão não tem. Se passa

aqui, pá. É maluco, ok? Mas se você é criado por animais, não recebes visitas. Olha outra.

Ai, na minha religião não se bebe vinho. Eu quero é menos pé-o-pé-o-péu e é insubido

bem na alta e baixo. Alô. E há sempre aquela preocupação do refugiado em trazer a família.

Mais uma questão em que o refugiado português, que ela iria ser um bocado diferente. E eu

lhe perguntar, então vamos começar a tratar das coisas para trazer a sua mulher e ele...

É pá. Está. Vamos com calma. Vamos com calma. Uma coisa de que... Então, mas o senhor já

já está há dez anos. Sim, eu sei. Mas ela tem as amigas todas e... Deixe-te estar. Olha,

um dia de cada vez. Deixe-te lá ver. Quando tu vieses deixar esta tua mulher e os teus

filhos na... Na musuela. Nessa altura temias pela vida deles. Sei. Assim como o meu pai

perdeu a vida na Venezuela por defender aquilo que de pertenece a ele. Você não assalte?

Sim, fumo assalto. Então, eu tinha esse medo com os meus filhos, que fossem sequestrados.

Aquele tempo havia muita gente violando a crianças. E por isso que eu estava ansioso

por sacá-los da Venezuela. Não conseguia dormir de noite. Foi uma situação muito

complicada. Estava desesperada. Estava tão deprimido que eu até intentei suicidar-me.

Para ver se com minha morte eu conseguia por esse pro-governo trazer a minha família.

Imaginem o que eu estava a pensar. É um momento que estava muito, muito deprimido.

É uma situação que foi muito complicada para mim. Porque não tinha dinheiro para trazer

a minha família. Não tinha trabalho ainda aqui em Portugal. Não tinha onde ficar em Portugal.

E um gajo sempre fica mal porque pensa o pior que está a acontecer a eles.

É um momento muito difícil.

Graças a Deus consegui para que eles virem esse para cá Portugal. Lutei.

Passado quanto tempo é que conseguísse trazê-los?

Dois anos e três meses.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Eu não consegui.

Quando é que foi, quando viste?

Foi uma experiência única.

Foi algo maravilhoso.

Não soube nada deles.

Eu toda noite não consegui dormir.

Eu toda noite não consegui dormir.

No dia que eles embarcaram, eu fui ao aeroporto.

Fiquei...

Não vi horas no aeroporto.

Não sabia de que horas eles chegavam.

Davam nervoso. Entravam, saíam, entravam, saíam.

Não comia nada, não podia comer.

No momento que eles disseram que chegou um avião de Caracas,

de Venezuela.

E começaram a sair de gente.

Já havia saído praticamente tudo.

E eu disse, ai será que...

de TV a eles, de dentro.

E depois no momento saí...

a minha mulher e saíam meus dois filhos.

Foi um...

Foi bastante...

Foi bastante...

emocionante.

A poder abraçar...

a meus filhos.

Foi muito emocionante.

A poder abraçar...

a meus filhos.

E eu me ensinaria.

Eu me ensinaria.

Eu me ensinaria.

Eu me ensinaria.

a meus filhos e poder abraçar minha mulher novamente.

Minha vida mudou.

Eu sei que aqui em Portugal todos os melhores sonhos que você quer lograr, todos os melhores sonhos,

aqui em Portugal você logra.

E graças a Deus, graças a Deus, consegui.

Bem-vindos a esta almoço.

Murou muito a preparar, foi feito com muito amor e muito carinho.

É um petisco que tememos muito em Portugal, que é pipis.

Pipins? Pipis? Pipis.

Não. Gostam de pipis? Não.

Não sei. Ok. Eu gosto muito de pipis.

E disso também. Posso?

Que um bom pipizão. Pipizão. Pipizinho também.

Pipizinho. Pipizito. Pipizito.

Tá bom, mãe? Tá bom.

Batata? Batatinha. Boa batatinha.

Batatinha.

Tá aqui batatinha. Tá? Mais?

Mais?

Já tá cá.

Quais são para ti as coisas mais esquisitas que os portugueses fazem?

Eu sempre vejo no janela alguma pessoa ou faço acima algum têcido.

Ah, você quadra em coisas à janela?

Na Rússia, nunca é fascista, não.

Portugueses gostam de dizer bom dia até maia dia.

E depois já boa tarde. E uma vez digo para alguém bom dia.

E ele olha 12 e 5. Já é 5 minutos boa. Já boa tarde.

É o que chamamos de cara de uma idiota, que é aquela pessoa que uma pessoa chega e diz

bom dia a ela, boa tarde. Já, já, já, dois minutos.

Em português chama-se idiota.

Como é que se diz pipi no vosso país?

Não, isso não é vagina, filho.

E tá aqui uma grande confusão.

Isso não é vagina.

Eu sei que é que não é uma vagina.

Não é uma vagina. Mesmo lá para casa, para quem nunca viu, não é uma vagina.

Pizda.

Pizda.

Pizda.

Pizda.

Tinha muitas palavras.

Queremos assim aquele que é o mais forte.

Huevo.

Huevo?

Fico mais apontado.

Bem bem inglês.

Consuante é que?

Depois vogar o?

E depois consuante-se?

Cosse.

Cosse.

Cosse.

Cosse.

Cosse, não.

Como é que foi de chegares à Grécia, a vir dar para ti daí?

A gente quer sair.

Ah, ok. É temporário.

É só para passar o beijo.

Como é que entretanto surgiu Portugal como hipótese?

É o físico bidito de recolocação.

Recolocação?

Neste programa tem que escolher seis beisos para viajar.

E tem que escolher seis?

É, Portugal não foi uma. Desculpe.

Não foi?

Não foi.

Então corta.

Tá feito. Vamos embora.

Vá. Um abraço.

Veja o que estava em primeiro.

Foi no noruego.

No noruego, ok. Percebo.

Também pretendo noruegosas e noruegosas, não é?

Sim.

O que foi o segundo?

Eu não lembro.

Nem se lembra.

E o terceiro?

Eu acho que ali é Holanda.

Quarto.

Foi Bélgica.

Bélgica. Bélgica ficou à frente de Portugal.

O que queres fazer para a Bélgica?

E em sexto?

Foi na lei.

Quando se conhece?

O último. Acho que foi o sábio.

Pronto. Tá bem.

Então, depois quando...

Sério, não temos isso, mas temos aqui em Portugal.

E tu?

Se gravou para o barco outra vez?

Elas não daram resposta.

Não fui...

E Portugal o que fez? O que fez Portugal?

O Portugal ligou.

Exato.

E tu?

É...

Portugal, o que é que tem aqui?

O que é que tem para mudar?

Claro, agora já estás tudo decidido.

Calma, agora o que é que vocês têm para mudar Portugal?

É.

Para se te alternar, tá?

Sama, te vamos para o Armado?

Vamos para o Armado.

O Armado, depois de tudo isso, tem Portugal.

Estudou turismo.

Imagino que tenha acabado o curso e tenha pensado.

Ah, então é assim que se viaja.

Sem ter água pelos tornozeles.

Olha que giro, como elas fazem.

Quando chegou a Portugal, esteve num centro de acolhimento temporário.

E só depois é que foi para um apartamento em Santa Apelônia, com vista rio.

Fica à dica, para quem tiverá para a cura de casa.

Vão daqui até à Síria.

E depois fazem o trajeto todo que o Armado fez.

Chave na mão.

De nada.

O Armado fugiu porque fez 18 anos e é idade com que teria de ir para a guerra.

E ele disse, não queria matar irmãos.

Ela estava a ver ele despingar de camuflar de alguém a dizer.

Pronto, Armado?

Amanhã de noite já sabes.

Tenho 18 anos, vejo que vou bater.

E o Armado, tá bem, tá bem.

Só olhei deitar um lixo.

À Turquia.

Já vem.

Tá bem.

Agora que este episódio de tabu vai a meio, proponho uma reflexão.

A final, quem somos?

Para onde vamos?

Porque estamos aqui.

Há falta de tempo para refletir sobre todas estas questões,

foquemos-nos na última.

De todos os podcastes nacionais,

não escolhemos tabu por acaso.

Escolhêmo-lo porque é um formato criativo,

pioneiro na forma comum,

descontração e desconstrução.

Descontraidamente, tabu desconstrói temas sérios

e contribui para um mundo melhor,

através de uma experiência de prazer,

tal como o novo Pajô 408.

Sim, estamos parando de um automóvel pioneiro,

que nasce da criatividade das equipas Pajô,

para graças aos motores híbridos plug-in,

encarar com seriedade a transição energética,

sem pôr em causa uma experiência prazerosa

e descontraída de condução.

Ou, em linguagem corrente,

um automóvel que juntou o útil ao agradável.

Não acredita?

Marca um teste Drive em tempo útil

e vai ver como é agradável.

O percurso armado ainda foi longo,

foi saiu da Síria e foi para a Turquia.

Da Turquia sai para a Grécia

e é então da Grécia que vem para Portugal.

Atenção, isto não é um refugiado.

Isto é um inter-rail organizado por um bêbado.

O armado contou que na Síria,

enquanto estudava as bombas que iam

mesmo junto da sua casa,

e nós aqui aqui achávamos das infiltrações.

Ah, esta escola não tem condições,

a sala tem humidade, pois tem, pois tem.

Sabem por que a escola do armado

não tinha humidade?

Porque não tinha paredes para a humidade agarrar.

Humidade bem cria, mas e às gravatar

com os cornos no chão.

Foi na Grécia que escolheu

os seis países para onde já vai ir,

mas como esses países não responderam?

Portugal chegou a estar à frente,

acabou por vir para cá, não é?

Parece aqueles minutos que fazem uma lista de prendas de natal.

Enorme!

Eu queria uma Playstation,

ir a Euro-Disney,

um cão e um cavalo.

Pois no dia de natal,

tem uma caixinha com seis lápis de cera.

Isso foi que o armado sentiu.

Nós somos a caixinha com lápis de cera.

O armado disse-me o seguinte,

na Grécia,

perguntei a um homem o que achava de Portugal.

Respondeu que os portugueses comem muito peixe.

Ora, eu gosto de peixe,

então vim.

Não é simples.

O armado escolheu um país

para se refugiar por a mesma razão

que nós escolhemos ir ao Moçair a Setúbal.

Tem peixe!

Siga!

É um marcador da lente-chama.

Leva o ovo,

leva pão, leva alho, leva azeite.

Quem vai querer?

Com um ovo?

Sim.

Com ovo e pão.

E líquido.

Não estás muito confiante com isso.

Pois.

Já comeu?

A mãe nunca fez?

Não.

É porque um prato é típico a lente-chama.

A mãe do Norte não...

É bom.

Então,

estás a chorar? Não te passa mais.

É só uma assorda.

É só uma assorda.

O que?

Não gosto.

Agora tudo comidinho.

Vamos ver a televisão?

Vamos com o ovo cozido.

Estranham para mim.

Mas o sabor é muito bom.

Mas o caldo é ótimo, não é?

Estás a comer limão.

Pelo amor de Deus.

Eu não consigo comer isso.

Vamos fazer umas corridas.

Vamos ver quem chega mais rápido.

Vamos ver quem chega mais rápido.

O que é que você viu sobre o Portugal?

Da literatura,

da universidade,

eu sabia

camões

e adorai Fernando Pessoa.

Mas eu sabia nada.

Na aeroporto, foi comigo uma amiga

e eu perguntei

o que é o Portugal?

Qual é este país?

Ele disse,

este país dos piratos.

Lá piratos moram.

Eles curtam...

Os quem? Os piratas?

Piratas. Eles cortam cabelos

e

penduraram no mural

estas cabeças

das pessoas.

E me diz

uma viagem.

Eu fico na viagem.

Foi o que você disse sobre o Portugal?

Cortavam cabeças?

Sim, mas eu não via

aqui nenhuma pirata ainda.

Não vi.

Se querias, já foi há mais tempo, não é?

Se querias, é mais lá para trás.

Margarita, que país é que você estava a visitar?

Gosto de visitar

Austrália.

Austrália?

Quero ver kangaroo

e papagaios.

Bandas

enormes equipas

e quero ver milhões de papagaios.

Você pediu

que o país é que você estava a visitar?

Eu gostaria muito

ir ao Japão.

Adoro Japão.

Estou fascinada

pelo Japão

e ainda infelizmente

não tive oportunidade.

Na altura, sentiste racismo

ao xenofobia quando chegaste cá?

Sentiste xenofobia racismo

extremamente

incoimbra na altura do divorcio.

Por quê?

Tribunais.

O professor catedrático

do Unissai do Coimbra

era mulher iraniana

que estava a pedir divorcio

e queria guarda da filha.

Lá senti racismo.

Houve uma altura

que ameacei

o procurador.

Eu disse, estou a ir

apresentar uma queixa contra o vôso tribunal

do Coimbra,

o Tribunal Europeu.

Ele apresentava-me

as instâncias jurídicas

como

uma vagabunda iraniana.

Então,

nesta altura senti

profundamente o racismo.

Houve uma altura, um juiz

eu nunca esqueço isto,

num tribunal, olhou para mim

do que é que está a falar?

Nós estamos no Irão.

Ele disse, desculpa.

Eu não falei em persa.

Não estou a falar do Irão, estou a falar

com a minha mãe e com a sua criança.

Lá era profundo racismo.

Tu fazes muitas coisas.

É professora,

tens um restaurante iraniano,

tens uma empresa de tradução,

tens uma agência de viagens

que dá a conhecer a antiga pérsia.

A minha pergunta é, faz isso

para partilhar a história do Irão?

Faço tudo isto,

tenho duas missões.

Por um lado, eu sou uma das herdeiras

de civilização e cultura

persa iraniana.

Sinto-me obrigada a apresentar

em Portugal, seja na

universidade,

na faculdade de letras,

seja na sociedade própria.

O restaurante, posso dizer

com muita coragem que o restaurante

caiu, aturnou-se

um pouco como centro cultural

do Irão e Lisboa.

Muita gente vai lá, não sou

para comer comida persa, mas também

falar sobre o Irão, cultura,

política. Esta é uma missão.

Mas, por outro lado, também tenho

outra missão, é levar

Portugal para Irão.

Porque aqui eu sou defensor

com bandeira iraniana.

Quando chego lá no Irão,

é lá eu com bandeira portuguesa.

É tal minha dupla faceta

que eu adoro, porque lá

a gente me considera uma portuguesa.

Talvez no Irão se sou considerada

muito mais portuguesa

que iraniana. E aqui

talvez o posto.

O que é que temos aqui?

Então temos

o arroz tatina

com frango,

com peito de frango assado no forno.

É salada

especial minha.

Tudo certo, esta beleza, cor,

luz, sabores.

Bom apetite, pessoal.

Bom apetite.

Vamos a isto.

Vamos ver como é que isto está.

Sim, é paraíso.

Uma sala de palmas para a Cepide.

A Cepide, além de ter

uma empresa de traduções,

é a dona de um restaurante e ainda é professora

da Cepide.

Atenção, está aqui a prova

que ela não veio roubar trabalho

em um português.

Ela veio roubar logo a 7 ou 8.

Atenção, ela já vem de um país

que tem o nome que já está mesmo

a mandar as pessoas embora.

Então o que é que vai acontecer

a estes jovens? Irão.

Irão.

É um humor que também faz falta

para a Cepide.

É a única dos meus convidados

que não é refugiada,

é exilada.

É como aquelas pessoas que não dizem

que estão desempregadas, dizem

que estão entre projetos.

Sou a melhor.

A Cepide diz que começou a ter

problemas entiarão e vou citá-la.

Vim embora por ter a boca

demasiado grande.

Pensar que era uma qualidade, afinal,

uma prima-minha, uma vez também teve

esse problema,

ter sido a aldeia de vipacidade pelo mesmo motivo

e olha, hoje em dia tem um Mercedes

em um apartamento.

Em Paris, a pai chenou-se por um português

e diz que num dia estava em Paris,

depois veio para Portugal

e no outro dia estava na zona industrial

do Pombal.

Ainda dizem

que não sabemos receber.

Imaginem o homem.

Morzão, escuta.

Eu sei que tu achas que estás bem

aqui em Paris, com a cultura, a gastronomia e tal.

Nós acho que temos que abrir

horizontes, amor.

Só te vou fazer uma pergunta aí.

Já ouvieste falar por acaso

da zona industrial

do Pombal.

Não? Olha, não é tarde nem a sede.

Compremos uma casinha

ali entre o armazém das chanálias

bilé

e os novas fanico.

E tu vais ver que, em dois meses,

nem te lembras de Paris.

Quem achas que Pombal não tem queis,

ah, ui, ui.

E aliado de labolo rujo

da Flamengo.

A sepídei que quando morava na zona industrial do Pombal

dizia que estava no fim do mundo,

de repente o Tierra era um aeromónico,

enfim, são pessoas sem gosto, não sabem apreciar

a zona industrial. Nunca decidíamos na casa

a sepídei que teve o tempo todo

a fumar cigarros eletrônicos.

Deve confessar-vos que eu tive a semana toda muito nervoso

quando vejo alguém

de um país muçulmano com coisas eletrônicas.

Mas logo ligar às minhas filhas

a despedir-me delas.

Quer dizer, o pai não volta, tá aqui uma senhora

com uma coisa pisca na mão.

Pense em farsi a língua persa

quando troca palavras de amor e de afeto,

mas quando se chateia no trânsito

é em português que lhe sai.

Claro, eu percebo, porque

as pressões como metabosina na peida

perdem um bocado o impacto em farsi, não é?

Sendo a Venezuela neste momento

um regime fechado de persecutório,

como é que tu

gostavas de ver a Venezuela

no futuro?

Gostaria

de ver

um país

Minha Terra

novamente como era antes

muito antes,

vou falar de mais de 20 anos atrás

a gente tinha

muitas oportunidades

Como é que era esse país?

Era um país

que encontrava de tudo

um supermercado

um bom ordenado

hospitais com medicina

hospitais com atendimento

médico gratuito

boa comida, boas pessoas

e não melhoro

não melhoro

Elder, tu trabalhas no CEF

tu usas a tua história

para dar

esperança a quem está do outro lado?

Sim, dou o melhor

de mim

para ajudar o atendimento

aquele imigrante

que se encontra

em uma situação como eu

também me encontrava aqui em Portugal

e eu sei o que

essa pessoa do outro lado

...

Conseguiu se desenvolver relações amorosas em Portugal?

Ainda não tinha namorado a portuguesa

ou namorado

ainda

vamos ver

vamos ver no futuro

mas ainda não

E o que é que achaste dos homens

e das mulheres portuguesas?

São boas pessoas

mas eu tenho uma ideia

sobre as meninas portuguesas

que gostam

de controle

não quero ficar

não quero ficar

já apresente nisso

e que hábitos portuguesas

é que já adquiriste?

o berbinho

fazemos isso muito bem

mesmo aqui na equipe

e o que é que sentem

mais falta

nos vossos países?

de lá praia

sem vento não é?

sim, sem vento

a água não está desilada

aromas

perfumas

pessoas

o perfume a cada cidade a cada rua

tem um perfume especial

é isso que me falta

um povo muito especial

muito carinhoso

muito afetuoso

generoso

a coisa mais importante

é quando saia

até hoje não vi ela

então já não vi já 6 anos

quase 9 anos

9 anos

a segunda coisa o cheiro

de jazimide

em damasco

porque é o damasco cidade de jazimide

quando anda na rua

tem sempre ar fresco de jazimide

eu sinto-me falta

o primeiro é

de neve

eu nunca pensava

antes que eu adoro neve

porque na minha escola

durante 6 meses

eu sempre pensava

ai meu rapido acabou

muito obrigado

É, Calinka, Calinka, Calinka!

Sai, Rui, que é a Calinka!

Calinka!

Vai, ia!

Jooo!

Jooo!

Jooo!

Uuu!

Via!

Uuu!

E, bem, digamos o primeiro tema dessa noite, chamado Calinka.

Calinka!

Calinka!

Margarita, uma salva para a Margarita.

Margarita!

Hey!

Rock on!

Margarita!

Margarita!

Margarita!

Margarita!

Margarita!

A Margarita já não bastava a sua história trágica, ainda tem nome de Pisa, ter sido

por isso que fugiu da Rússia, antes que tivesse de dar para oito pessoas, fugiu e desficaça

as postas.

Em 2004, a Margarita foi a primeira escritor a lançar um romance LGBT na Rússia e é engraçado

que em nenhuma altura pensou, porque que não há mais nenhum livro sobre este tema?

Porra, só é que me lembrei, estou muito a ferir.

Não, não.

Não.

A Rússia parece-me mesmo um sitio ideal para lançar um romance gay LGBT, é como lançar

uma marca das sandalhas em pedrógão, uma pessoa sabe que é um negócio que só nove

anos depois é que os seus livros foram proibidos, porque o governo russo achava que se as pessoas

os lesem podiam ficar gays, eu já li e filhas.

Houve um pai que lhe disse que se o filho lê-se o livro dela e se ficasse gay que a matava,

ainda acrescentou, mate e fico com esses brinques, sou a porca, e depois deslizar.

A Margarita considera os portugueses muito simpáticos e nunca se sentiu discriminada

pela sua orientação sexual nem por ser russa ou refugiada, atenção, eu não faço ideia

de português é que ela está a falar, eu não sei se não é dos vestarem o vácuo

e guardar no congelador que ela apanhou os últimos três que estavam bons.

Diz que chegou a Portugal num sábado e que o sefe estava fechado, mas que receberam

com alegria e até lhe ofereceram um cafezinho, ter sorte, porque normalmente o comitê de

boas-vindas do sefe oferece um café, de facto, mas com o cheirinho que é assim, o cheirinho

madeira no meio dos cornes. Diz que quando tem soldados da Rússia, vai à Serra da Estrela

por causa da neve ou então abraça a Bétula, a árvore do jardim da Golbenkern, é bonito.

Por outro lado, ainda bem que ela não tem soldados da Calda das Arrinhas.

Por outro lado, ela tem soldados da Calda das Arrinhas.

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Margarita Sharapova tem 60 anos e é uma artista e escritora russa. Foi obrigada a fugir do seu país por causa dos livros que escreveu, que foram todos proibidos em território russo. Fugiu, com medo, depois de várias ameaças à sua integridade física. Da boca da polícia russa ouviu: “Russos não podem ser lésbicas nem gays”. Este é apenas um dos quatro casos de refugiados que vivem hoje em Portugal. Neste episódio Bruno Nogueira traz à televisão portuguesa grandes histórias de vida de pessoas que tiveram de abandonar os seus países e respetivas famílias. 

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