TSF - Minoria Absoluta - Podcast: Um cartoon na mira do "poder absoluto" e as rasteiras ao orgulho LGBT, com Francisca Figueiredo e Guadalupe Amaro
TSF Radio Notícias 7/15/23 - Episode Page - 37m - PDF Transcript
Foi menos de um minuto, de um desenho animado, mas tornou-se numa das polémicas da semana.
O cartoon chama-se Carreira de Tiro, foi transmitido na RTP e mostra uma polícia a disparar com
cada vez mais intensidade com sua antacor dual.
Depois disto houve telefonemas, pedidos de esclarecimento, requerimentos para ouvir governantes
na Assembleia da República, isto com a direita de um lado e a esquerda do outro.
Vamos milçar este tema no Minoria Absoluta com a humanista liberal Francesca Figueiredo
e com a comunista revolucionária Guadalupe Amar.
Francesca, comece-se por ti de acordo com os cartoonistas.
O cartoon era sobre os últimos acontecimentos em França, não sobre a polícia portuguesa.
Comece primeiro por te fazer uma pergunta mais abrangente.
O que é para ti a liberdade de expressão?
Eu acho que para mim o conceito de liberdade de expressão, se calhar, está um bocadinho
mais clarecido do que o próprio governo.
Mas a liberdade de expressão é que nós podemos exprimir, sem qualquer tipo de censura,
não só da parte do governo, como duas restantes pessoas.
Mas por que eu digo que esta confusão acho que não está tão bem clarecido para o
governo?
Porque vemos o ministro da Administração Interna, José Luiz Carnoiro, que se indignou
logo com o administrador da RTP, exigiu até, acho que foi um pedido de desculpa ou assim.
E parece um bocado que ele até lhe serveu a cara puça, quero se dizer, estávamos manifestações
violentíssimas em França e ele vai pedido desculpa.
Portanto, achas incompreensível toda esta polêmica?
Sim, ou seja, eu acho incompreensível, mas parece que houve uma reação tão espontânea
que uma pessoa começa a questionar, se calhar, alguma coisa lhes picou aqui, porque, por
exemplo, mesmo a PSP apresentou alguma queixa-crime ao Ministério Público, mas por outro, e depois
veio o Ministro da Cultura dizer, não, defender a liberdade expressão destes cartoonistas,
mas depois isto faz-me lembrar aqui um episódio, se por um lado este cartoon podia estar ao
abrigo da liberdade expressão, há um mês, quando os professores, numa manifestação
pelos seus direitos laborais, manifestavam uma caricatura de António Costa, este acusou-se
de racismo, e eu não percebo, até porque, para quem não sabe, era uma caricatura, caracterizava
António Costa de forma de um porco, que no meio político e na saída de tirar política
é muito usado para caracterizar políticos, por exemplo, em contamos Donald Trump, Boris
Johnson, caracterizados como porcos, homens brancos, ou seja, não percebo, até que ponto
é que isto era um sisto...
Então, na tua opinião, aquele cartoon sobre António Costa não era racista?
Eu não... é sim, eu obviamente sou uma mulher branca e, portanto, posso não estar
aqui a perceber, e algo que pode não ofender na minha visão, pode ofender-lo a ele, mas
que um porco é usado na saída da política várias vezes, e que o intuito daquilo era
criticar António Costa enquanto político e nunca aplanar sua raça, acho que isto
foi uma espécie de manobra de distração para quase como vamos passar estas notícias
para ser uma coisa de racismo e deixar que o foco seja nesta luta laboral para os professores.
Guadalupe Amaro, RTP devia ter pensado duas vezes antes de transmitir este cartoon.
Eu acho que devem passar sempre duas vezes antes de transmitir qual é este cartoon que
tem um consciência de que terão este impacto.
Não acho que... não me posicione do lado ofendido, sentido e atacado para este cartoon,
acho que têm bastante fundamento.
Bem, no seguimento dos acontecimentos em França, como bem sabemos e como se justificaram,
mas honestamente, tendo em conta os problemas estruturais de racismo que nós conhecemos,
não só em França, mas também em Portugal e outros países, seria adecuado, eu creio
que mesmo ao nosso contexto.
É assim, sempre que o liberdade de expressão é utilizada desta forma, há sempre pessoas
que são sentidas atacadas por ela.
Para além de também achar perceção, eu creio que não seja só uma perceção pessoal,
é uma verdade.
Acho que liberdade de expressão, como todas as nossas liberdades, não é absoluta.
E, entendo, é um tópico que leva a muito debate e que não existe uma linha concreta,
mesmo as linhas que estão, de alguma forma, estabelecidas tipuladas em um código penal
ou qualquer coisa do género, até essas são difíceis de definir.
Mas, creio que existem, sempre.
Mas, como estava a dizer, o cartoon é sobre a polícia francesa e sobre os acontecimentos
em França, não sobre a polícia portuguesa, toda esta polémica, deixe-me perguntar-te,
é caso para dizer que serviu a Carapuça, a PSP?
Sim, claramente.
Eu concordo com o...
Parecis que...
Não estou a dizer que serviu.
A forma como foram tão reactivos instantaneamente, claramente sentiram-se de alguma forma sentidos.
Deixem-me também dizer que acho muito cómico que alguns movimentos, algumas pessoas, nomeadamente
de aventura extrema-direita no geral, se tenham preferido, com tanta viamência neste combate
ao discurso do ódio, quando propagam frequentemente e direcionado contra minorias, contra pessoas
que, por norma, não têm qualquer tipo de poder, pelo contrário, já estão socialmente
e economicamente fragilizadas.
E, já agora, no 10 de junho, como a Francisca lembrou, houve um cartoon sobre António Costa,
na altura o chega da direita de aventura e colocou-se ao lado do cartoonista.
Não, claro, lá está.
É como de convém.
Essa hipocrisia, essa hipocrisia é óbvia, mas nisso eu também, apesar de discordar
na percecção e na interpretecção do cartoon com Francisca, porque acho que, de facto,
via ali um carinho xenófobo, além de ser só o porco, características que se asseminar
sem a...
Não sei.
E quem é melhor do que António Costa para dizer senti-o ou não atingir-se.
É isso, ou seja, a minha percecção não tem que significar a percecção da pessoa
que senta ofendida, porque tenha-se direita a atenção.
Claro.
Mas, por acaso, eu ia dizer exatamente isso, que é o de facto, acho que, acho que é
querias racista, ou esse cartoon, mas com o que a Francisca disse a seguir sobre ter-se
de feita algum aproveitamento por parte de António Costa, eu concordo.
Não vou dizer que não estou na cabeça de António Costa, não posso sentir por ele,
não tenho, de facto, sentidos inuinamente atacado, acho que há por uma manifestação
de racismo completamente direcionada para si, mas a verdade é que António Costa é
completamente silencioso sobre quaisquer outros ataques e manifestações racistas,
não...
Com casos muito mais graves de racismo que temos visto nos últimos tempos e alguns
deles direcionados contra figuras políticas e algumas dessas manifestações sendo explícitas
e na Assembleia da República, nunca houve grande preocupação de António Costa e,
neste caso, como o atacava e como servia, sim, para distrair todas as outras reivindicações
do movimento dos professores, acredito que tenha havido esse aproveitamento.
Em relação a esta polémica da semana, como a Guadalupe referiu, o Chega reagiu logo
de seguida, mas o PSD também foi um dos primeiros a colocar-se ao lado da PSP, pediu até
esclarecimentos à RTP, é caso para dizer que tentou roubar um pouco o espaço ao Chega,
ou seja, temos o PSD de alguma forma a chegar-se à extrema direita.
Eu espero, bem que não, porque eu espero que ainda possamos ter alguma esperança
no PSD, pelo menos em termos de perfil democrático e de, enfim, mas, e preocupa-me, pelo menos
neste sentido, e enquanto liberal, eu acho que isto foi uma espécie de tentativas de
censura pela influência, ou seja, eles não podiam buscar a RTP e proibir aquilo, mas
tentaram quase tornar aquilo como se fosse um ataque, censurar, porque isto está mal,
ou seja, é uma censura por influência, isto preocupa-me, e já que nós estamos aqui
um pouco a falar da liberdade de expressão, e pegando aqui no Cagudalupe disse, eu acho
mesmo que a liberdade de expressão não tem limites, e para explicar isso, acho que
vou recorrer um bocadinho a João de Stuart Mill, que não é sobre a liberdade, refere
que as pessoas não são infalíveis, ou seja, há certas alturas em que, ou seja, as instituições,
as pessoas não são perfeitas, portanto, há certas alturas que a censura, por mais
bem que seja bem intencionada, não vai ter um bom efeito, ou será injusta, ou será
com algum mal, e por quê?
Porque não são infalíveis, e neste contexto é por isso que nunca podemos aplicar a censura,
por causa...
Então, deixe-me só perguntar, porque eu entendo o que estás a querer dizer, mas, e eu não
sei dizer o artigo do Código Penal, mas consideras que o artigo do Código Penal, que designa
discurso de ódio...
Ah, calma, são coisas completamente diferentes, em relação, ou seja, não há, pronto, mas
e o próprio autor de Stuart Mill, refere exatamente isto, existe uma única restrição
à liberdade de pressão, que é quando prejudica a terceiros, e é por isso que a xenofobia,
o racismo, não é opinião, é crime, e porque a difamação, isso prejudica a terceiros,
agora tudo o resto, nós não podemos andar a censurar por prisão, imagina que amanhã
o governo aplicava uma lei em que podia andar a rastrear fake news no Twitter, e era o
governo socialista e até dizia, olha, nós para proteger os cidadãos, nós para proteger
os cidadãos, nós para proteger os cidadãos, vamos andar a rastrear as fake news, e as
pessoas, principalmente os cidadãos, díem muito bem proteção, nós queremos não ter
fake news de extrema direita, e pronto, isto era sobre este pretexto, amanhã, isto num
cenário hipotético, chegava o chego ao governo, e com mesmo um pretexto de proteicionista
de nós não queremos que os nossos valores sejam difamados por notícias falsas, vamos
aqui rastrear, ou seja, este dar, este poder, esta abertura para a censura, tanto pode funcionar
para um lado como para o outro, e é por isso que eu fico muito preocupada sempre que alguém
diz usar o termo da censura de liberdade de pressão, como com o argumento de proteger,
que também acredito muito na inteligência das pessoas, na capacidade das pessoas, cognitivamente
fazendo a sua própria filtração de conteúdo, e também acredito na capacidade das pessoas
saber o que é melhor para si, e neste sentido, percebes, e neste sentido eu acredito que
a censura só pode ter um bom pretexto, mas muitas vezes as consequências estão de
facetas, mas não existe, não existe, mesmo neste caso ainda não sabemos se algum tipo
de, houve uma tentativa de passar uma lei, sim, sim, sim, mas deixamos-me só dizer que
primeiro, estamos a falar muito sobre a censura, eu acho que não acontece, sim, que a única
forma que pode acontecer seria, por exemplo neste caso, pode haver uma tentativa, isto
é, por exemplo, neste caso, que estamos a viver agora e a falar agora, eu até acho
que talvez indo para frente e de facto conseguindo impor esse tipo de poder, autoridades e entidades
como a PSP e como o próprio Estado, provavelmente seria o que mais se aproximaria, tanto se
fala de censura nos últimos tempos, liberdade de pressão e censura nos últimos tempos
e tanto se chora por censura em muitos casos que, para a censura e a cultura de cancelamento,
etc., em que eu acho que, na maioria das vezes, é uma estupidez, na maioria das vezes
estamos só a assistir a liberdade de pressão a ser utilizada pelos duas partes certas.
Sim, ou seja, eu digo e tu tens a liberdade para expressar a tua crítica.
Exato, sim, é a liberdade de expressamento, nós podemos falar de termos o que isermos
e termos que ouvir qualquer tipo de resposta, o que agora acontece muito mais e eu acho que
é por isso que há muito mais desta noção de que as pessoas estão a ser atacadas ou
a tentar-se silenciar, porque na verdade o que acontece aqui é que existe uma exposição
muito maior a opiniões contrárias e a respostas, não é que antes não existia?
Ainda assim a chamada do ministro José Luiz Carneiro para a administração da RTP mostra
aqui um certo desconhecimento pela separação de poder?
Sim, sim, sim, em possibilidade e falta, não sei...
E acho que é um obusos poderoso, porque não agradou e é o que eu estava a fazer uma tentativa...
Não se vê manifestar de todo, acho que...
É como se tivesse a censurar, não sei se...
E eu acho que às vezes as ideias têm muito poder, eu acredito muito no poder das ideias
e eu abri os presidentes a abrir o precedente para isto ser prática comum, abrir o precedente
para... a pensar esta lei que parece inocente...
Que a pessoa tem muita dificuldade em usar o termo censura.
Sim, eu percebo, não, sim, completamente o nosso passado...
Exatamente, exatamente, por isso...
Temos um passado lá piso azul.
Exatamente, sabemos o que é censura...
Sim, sim, Guadalupe, sem dúvida, mas também esta censura que havia nos estado novo também
era de proteger os atentados ao poder, os atentados à ordem pública, também era o sentido de proteger.
O que eu quero alertar é que nós não deixemos de respeitar a nossa liberdade e que a liberdade
nunca seja algo tomado como garantido, nós todos os dias lutamos pela nossa liberdade
e que há coisas que parece que entram de forma inocente e ideias que entram de forma inocente
e podem dar... abrir caminho para algo muito mais grave.
E esta alerta que eu gostava de deixar essencialmente...
Concorro, concordo perfeitamente, mas também muitas vezes a liberdade de expressão é
utilizada para... para tentar ameaçar outras liberdades que têm sido aí, eu creio que
essa é a restrição que nós devemos colocar que eu acho ter uma direita e eu acho que
e precisamente, ou seja, tudo que implica restrição ou dano a terceiros, nós devemos evitar
agora a liberdade de expressão em si, eu acho que nós não podemos ter medo de questionar
as coisas, mesmo por exemplo, enquanto uma médica, eu não posso ter medo que ela em questiona
porque se eu estou tão... se eu acredito naquilo que estou a dizer, se eu tenho provas
daquilo que estou a dizer, eu vou responder. E há aqui uma questão que é, em vez de
responder com censura nós devemos responder com informação, devemos responder com dados.
Por exemplo, é-me perfeitamente uma campanha, acho que foi o Bloco de Esquerda que lançou
a propósito de ERC e esclarecer os mitos. E eu acho que é assim que se combate. Estou
a elogiar porque eu acho que é assim que se combate efetivamente a má informação,
a má informação que quer causar dano, mas não causa diretamente, como todas as
outras, é crime. Mas estas também que causam moça não é com censura, é com mais informação.
Então, se pudesses deixar um conselho ao ministro José Luiz Carneiro que aconselha que lhe
davas para ter-lhe uma formalidade com esta situação?
Eu acho que primeiro, eu acho que ele devia primeiro informar sobre o que era o cartoon
e depois a seguida tomava alguma decisão. Portanto, achas que José Luiz Carneiro teve
um comportamento antidemocrático? É certo que a RTP é uma empresa pública, mas não
é agora uma comunicação social do poder. Sim, e eu acho que até respondeu bastante
bem a RTP, dizer que os cartoonistas vivem numa democracia e sobre a alçada da liberdade
da expressão. Portanto, acho que não foi bonito. E pronto, e primeiro que se informe
de o que é que se está a falar antes, para ti, para uma testa destas.
E eu acho que há mais uma vez, em conta que liberdade da expressão, de tantas vezes
é utilizada para preferir discurso de ódio contra minorias, e isso, tanto tem acontecido
e cada vez ganha de mais espaço na nossa democracia. Algo que sim, e que pessoas com poder político
e com responsabilidade se deveriam manifestar contra e que não o fazem, só torna de tudo
isto muito mais ridículo. Todas as reações são mais ridículas, mais inusitadas.
Eu tenho que me faz lembrar esta situação que se está a ver agora em relação aos novos
imigrantes, que é em Portugal, que estão a espalhar um clima de medo em relação aos
dos imigrantes, precisamente para incitar o ódio. Portanto, nós temos que estar atendo
a isso, mas lá está. É dar mais informação, é desmentir, é desclarecer. Eu acho que
assim, a desinformação combate-se com a informação.
Sim, claro, mas também não acho que, lá está, eu não acho que ninguém esteja a tentar
censurar esse tipo de discurso. Pelo contrário, acho que nem os desmontam, nem se manifestam
contra eles, muitas das pessoas que podiam fazer. Passivo, não é? Sim. Mas deixa-me
dizer que, sim, relativamente a imigrantes, nofbia, racismo concordo que estáis ainda
muito, ainda e eu espero que assim se mantenha concentrado na extrema direita, mas eu devo
dizer que discursos LGBTQFóbicos estão a disseminar-se por outras direitas e pela
esquerda. Sim, sim. Temos uma esquerda também mais conservadora. Portanto, eu tenho críticas
a fazer não só a óbvia, a extrema direita. Mas esse combate de que a Francisca falava,
ou seja, responder com informação, há desinformação, não tem de ser, nesta altura, também um
combate dos partidos políticos. Sim, claro. Responder ao Chega, por exemplo, as propostas
do Chega, como falava a Pouca Francisca. Ou seja, há uma falha por parte dos partidos
políticos também, nessa zona cinzenta. Sim, creio que sim. Eu antes percebia, antes
percebia melhor a postura de não vamos alimentar esse tipo de discurso e tudo mais. Durante
muito tempo percebi e concordei e adotei, de alguma forma, também essa postura. Mas
quer dizer, o Chega é agora a terceira força política do país, não? Já está de barriga
cheia. Faltei esse trabalho a priori. Sim, na verdade, sim. Na verdade, acho que durante
muito tempo se tentou só ignorar, porque achava-se que se ignorássemos, que não daríamos força,
quando na verdade foi crescendo o silêncio. E eu acho que o que nós ignoremos verdadeiramente
foi o descontentamento da população. Claro. Isso é o grande fator. Isso eu sempre tenho
dito, não ignoro o facto de termos de facto uma população, uma cultura estruturalmente
racista, estruturalmente conservadora, tipo estar na nossa história, ver se no dia a
dia, ver se no sistema do país. Isso existe. E pronto, é normal que muitas pessoas tenham
esse tipo de ideias, tenham esse tipo de noções e se aproximem por isso também à extrema
direita. Agora, eu sempre disse e sempre concordei com isso, que o maior fator para
a grande extensão da extrema direita é a insatisfação do povo. E a insatisfação
do povo também deve dizer que desinformação, na alguns casos. Olha que há muitas pessoas
com cursos superiores e afins. Sim, mas eu acho que é mais... Não tem que ser curso...
Estouz em nível de atrocia, não mais nada. Sim, não acho que seja por ser curso superior,
entende? Eu acho que, por exemplo, tipo, os meus avós têm um quarto ano e acho que se
tentam agora, também por influência minha, me deixe à parte, informar-se sobre a política
nacional. Portanto, não acho que seja por isso, mas acho que há desinformação, acho
que há um povo desinformado, insatisfeito e alienado da política por responsabilidade
direta dos partidos do poder que têm monopolizado os governos até agora.
Isso era um centro-feio, não é? Ou seja, a política era algo... Uma discussão de
ali, uma discussão. E eu também sinto que nem toda a gente que, se calhar, vai votar
no chega há de ser racista ou homofóbico. É um voto protesto.
É mais um voto protesto. Deixemos só acabar isso, porque eu acho mesmo que é o facto
desse PSD, governos décadas sucessivas de sem dar resposta às nacionalidades das pessoas
que levaram isso. E esse afastamento da política, essa alienação, na verdade, que
eu acho que é uma coisa que às vezes não é desconsiderada nesse tipo de debate, beneficia
bastante o PSD e o PSD. Claro que quando é a altura de dizer eleições toda a gente
se queixa da abstenção, da taxa da abstenção e tudo mais, mas eu acho que PSD e PSD, os
partidos que nos têm governado desde sempre, estão super, super beneficiados e privilegiados
por um povo que cada vez mais não quer saber de política e não acredita na classe política.
Porque achas que aqueles que vão votar votam mais nos partidos de poder?
Não, porque acho que se as pessoas se interessassem mais por política e se se informassem e se
fossem votar, acho que não ganhariam sempre os mesmos. Porque as pessoas estão fortes
de que ganhem sempre os mesmos, tipo, nós temos essa alienação.
Já não acreditam, ou seja, já não acreditam na ambulância, portanto, as pessoas que
votam sempre e as pessoas que já não votam que não acreditam.
Isso é outro fator que influenciou bastante a abstenção da extrema-direita que foi.
Tudo isso a uma estética, ser anti-sistema, toda essa estética do chega não passa disso,
não passa de uma imagem, de um discurso, na verdade, quando vamos ver os factos, são
financiados pelos mesmos, são promovidos pelos mesmos, vem históricamente desses mesmos
partidos, alguns deles. Portanto, não passa disso, mas há aqui algo que acho que é
bastante importante para compreendermos este fenômeno, que é muitas pessoas há muito
tempo que não acreditavam em ninguém, na política, em qualquer figura política, e
pela primeira vez acreditam. Isso é muito difícil, isso é que é muito difícil de
combater. Essa crença vem pela primeira vez, talvez em toda a sua vida, em décadas,
alguém que é uma esperança falsa. Sim, é uma esperança falsa, mas é uma esperança
muito forte, muito convicta. Há um encontro deste tema que estamos aqui
a debater. Há um outro assunto, que levamos a falar também hoje, isto porque no fim
de semana passado no Porto centenas de manifestantes juntaram-se para a marcha do orgulho ao
LGBT, mas nem por isso deixou de haver polêmica, porque houve várias acusações ao presidente
da Câmara do Porto acusações de discriminação. Acusaram-no, por exemplo, Guadalupe, de ter
boicotado ou de querer boicotar a marcha, alegadamente porque não queria as celebrações no centro
da cidade, o que levou, desde logo, a críticas por parte da Mariana Mortágua, que o acusou
de tentar esconder a marcha com o comportamento do século XIX.
Sim, eu concordo, honestamente concordo com as acusações tentativas de boicote, não
só pelo local, não é? Primeiro foi negado o largo do amor de perdição, que tu és
do Porto, não é?
Não sou do Porto.
Ok.
Tá mais perto do que nós.
Sou do distrito do Porto.
Sou muito ignorante, tive que apontar o largo amor de perdição. Depois, através de negociações
entre a organização da marcha e o executivo, a Alameda das Fontainhas, essa negociada
por anos, embora não seja que tenha sido pedida pela organização, até porque a marcha
dar-se aí deus no centro, e quase 15 dias antes do evento, apenas 15 dias antes do
evento, a organização foi informada, teria que ser numa terceira alternativa, a 3 quilómetros
de onde seria realizada a marcha.
Além disso, também foram negados todos os pedidos de apoio de financeiramento, financiamento.
O primeiro pedido foi negado, passado 3 meses sem qualquer tipo de resposta, obtiveram
uma resposta negativa, e houve um segundo pedido com o reajuste feito pela organização
de 8.900€, que também foi negado na mesma reunião do executivo, em que aprovaram
um apoio financeiro de 300.000€ para Comic Con e 600.000€ para a primaveração.
Para mim, eu creio que é óbvio que é um boicote à marcha.
Curiosamente, Rui Moreira é um autarque apoiado pela iniciativa liberal, mostrou com esta
atitude de ser pouco liberal, francísca, ou de alguma forma aceita-se.
A iniciativa liberal também, por arrasto.
Ou aceitas a justificação.
Eu não falo por nenhum dos dois, a partir da área completamente, mas fica uma mensagem
que eu sentir daqui é triste ver uma marcha que até foi das maiores de sempre no porto,
muito no pessoas, manchada por este tipo de conflitos políticos, ou seja, Marina
Mortaga acusar de boicote, Rui Moreira é o pessoal de mentira.
Não foi só, imagina, Mortaga depois foi dar voz a os manifestantes.
Sim, não vou pronunciar-se se é aproveitamente político, se não é, se é genuína.
Eu pessoalmente acredito que seja uma preocupação genuína.
Sim, mas...
O que eu estou a dizer é que ela deu voz a os vozes de todas as pessoas de organização.
Sim, mas é triste, porque nós estamos escalando hoje a comentar esta polêmica, a polêmica
em si, e não os 20 mil pessoas que participaram.
Mas sim, o que eu percebi da polêmica que lá está a São Dila do Cano, não volta no
Porto Sequeiro, foi que havia o recurso...
Bota-se pelo Círculo Eleitoral do Porto, pelo menos, nas legislativas.
Nas legislativas, e voltando a Carlos Guimarães Finto, que está assento.
Foi eu eleito.
Foi eu eleito.
E eu fico muito feliz por isso.
Mas, pelo que eu percebi, foi que existia a marcha, e a marcha em si podia ser onde
os manifestantes quisessem, só tinham que informar a polícia.
Depois, isto era a segunda parte, o arreial, que aí é que houve conflito na colisação.
Ou seja, segundo o Rui Moreira, aquilo era centro do Porto, na mesma, agora, uma coisa
que eu percebo.
E que nesta aspecto, estou completamente de acordo com a revolta, ou seja, alguém que
está a preparar esta marcha, que quer, efetivamente, mostrar o orgulho, que acho que é uma marcha
que tem benefícios para a sociedade, para libertar, para as igualdades que as pessoas LGBT
mais sofrem.
Ou seja, nós, enquanto sociedade, e apesar de eu ser mulher e também ter todos os dificulados
do machismo, do dificuldade da cessa ou o bordo, mas não sou uma mulher privilegiada,
e portanto, também ganho com este tipo de marchas, e as pessoas como eu ganho que estão
interessadas, e de valores, percebemos, ganhamos em ver estas marchas e perceber e alertar
para os problemas.
E em estas posturas, que percebemos de que, para que lado estamos, se apoiamos, ou não.
Exatamente, portanto, eu fico triste que, e percebo a revolta que vocês ou que a marcha
em si, não querendo ir devidualizar, obviamente, não têm atido a visibilidade, ou pelo menos
os planos para ter a visibilidade que devia ter, e portanto, eu percebo toda esta revolta
que não se tem.
Mas a marcha, como dizias, ficou manchada por estas questões políticas, e rumorar-a
mais tarde, vai até acusar a Marina Mortágua de mentir, chamando-a revolucionária até.
Eu não acho que tenha ficado propriamente manchada, e acho que o mais triste não é
a polémica.
É exatamente o que a causou, entende-me.
O que eu acho mesmo muito triste é tomar a decisão e a textura de Rui Moreira, claramente
colocou-se de um lado, o lado reacionário conservador.
Tudo o guadalupe costuma estar muito envolvido neste tipo de iniciativas.
Assim, por acaso, este ano não tive na organização da Marcha de Lisboa, tive o ano passado.
Em laxão, a real é sempre uma parte, é uma parte crucial de todo o evento da marcha,
existe a marcha.
Existe a marcha, sim, mas a real é a segunda parte, tem que haver essa continuidade, porque
é onde todos os coletivos e organizações, as associações, que, por exemplo, lutam
por direitos LGBT aqui, mais no dia a dia, e que organizam a marcha, é aí que se juntam,
que se concentram para partear os seus testemunhos e fazerem as suas reivindicações, entende-me.
Não é só, não é só, a real sempre foi indissociável para mim da Marcha.
Ok.
Mas o que eu queria perguntar é se vocês ainda sentem várias restrições quando estão
a organizar este tipo de iniciativas, desde logo de autóricas, como foi aqui o caso?
Sinto que há muito tempo que isto não acontecia.
E que, por exemplo, em Lisboa, nos últimos anos, que não têm havido este tipo de obstáculo.
Há outros, há outras críticas que podemos fazer, em outras situações e em outros pontos.
Talvez, é sem dúvida, na logística não há, no apoio financeiro?
Sim, porque lá está mais uma vez, continua a ser quase autossuficiente, não é?
Este tipo de eventos, mesmo quando não são colocados obstáculos, também nunca existe
um apoio explícito, não é?
E como Carlos Móedas, aqui em Lisboa, como é que costumam decorrer esse tipo de conversas
para essas iniciativas?
Do que eu posso dizer do ano passado, lá está eu, não me recordo de qualquer tipo
de levantamento de obstáculos este ano.
Há outras coisas que podemos apontar, outras críticas que podemos apontar na falta de apoio
à comunidade e pelos direitos LGBT que há mais, ao executivo de Lisboa.
Não creio que nessas pequenas coisinhas logísticas, onde lá está, podem só dar um avalo para
num dia se realizar este evento e não se causar todo este tumulto, acho que pelo menos nisto, não.
Francisco, achas que ainda há aqui muitas barreiras que são, que é necessário ultrapassar?
Completamente, e até eu posso dizer da parte da saúde, por exemplo, eu durante o curso,
a única formação que tive foi à minha curta, porque de uma iniciativa eu fui.
E ainda existe, e nós tratamos humanos, e nós temos de tratar todos humanos de igual
forma, aliás o Serviço Nacional de Sol pelo menos, é geral universal dentro dos seus
limites para estação, mas tem que ser de acessível a todos e quando eu leito estomunhos
de pessoas trans, que têm dificuldades ou não binárias, que vão ao Centro de Saúde
e sentem-se discriminadas, pessoas lésbicas que sentem discriminadas, para mim isto é
um entravo à saúde.
Por exemplo, eu li que mais de 50% desta comunidade sentia uma atitude discriminatória
dos profissionais de saúde, principalmente nas urgências.
Desculpem.
Desculpem.
Nesse sentido, especialmente na saúde, na verdade, é parte do meu trabalho associativista
da Anemona, que aproveito para nos dar alguma visibilidade e que nos focamos especificamente
nisso, em tentar superar e ultrapassar os obstáculos no acesso à saúde.
Não existem muitos, ou quase nenhum, eu creio, estudos feitos em Portugal, mas estudos
nos outros países, sim, mostram...
Por acaso, uma coisa interessante que li foi nos rastraios ao Cancro.
Exato.
Por exemplo, o Cancro do Cal do Outro.
Sim, exato.
Foi uma das nossas lutas nos últimos anos e que finalmente eu creio que o ano passado
ou no início deste ano foi levada uma medida ao Parlamento nesse sentido, para que achar
que era mais uma forma, mais uma manifestação clara de como a transbiésistêmica e como
quaisquer outros sistemas operativos são, em que o próprio sistema, bem, acaba por ser
além de transfóbico estúpido, sabe?
Pois.
Pois.
Porque aconteceu o facto de que quando alguém trans alterava o conhecimento legal do seu
género no cartão de cidadão, automaticamente, claro, já seria, por exemplo, um homem trans
com esse reconhecimento legal, seria automaticamente excluído dos rastraios ao Cancro do Cal do
Outro.
Da mama.
Da mama, etc., tendo em conta que nós, se estivermos a fazer hormonal à terapia, apretencemos
até grupos de risco para essa hipotologia.
Nós falamos muito também nesta comunidade, desculpa-te muito, romper da saúde mental,
porque são comunidades que, devido a esta toda hostilidade, a discriminação, estão
com risco aumentado, depressão, ansiedade, mas esquecemos todas as outras patologias
que por causa destas barreiras do sistema.
E, por exemplo, alguém que se não se sinta à vontade de ir ao seu médico de família
falar sobre sua sexual reprodutiva, qualquer pessoa, se está em risco e, portanto, acho
que estas barreiras têm que começar a ser quebradas, eu só posso deixar que, enquanto
estou em sinal de saúde, vou tentar investir na minha informação e aprender todos os
dias e...
Tens o meu convite para...
Obrigada.
...to associar-as à anémena, é composta, majoritariamente, por profissionais de saúde,
pessoas médicas.
E, ou pelo menos, fazer as formações, esteja-nos com níveis...
Sim, já fizemos, já fizemos nos últimos anos...
E promover, porque... desculpe-te, é revoltante, é estúpido, alguém não poder ir ao médico
porque achar que este médico vai ser transfóbico ou homofóbico, é uma pessoa.
Existe esse tipo de estudo em Portugal, mas em muitos outros países existe, que o
Estado que... pessoas estranhas, negligenciam a sua própria saúde, por medo da violência
que vão encontrar quando recorreram a cuidados de saúde...
Isto é muito triste, porque a medicina tratam menos e têm que vos tratar de todos de igual
forma e todos têm que ter as mesmas oportunidades, portanto, olha, é por isso que estas marchas
têm que existir, é por isso que este tipo de ativismo tem que existir, é por isso que
nós temos de falar aqui e é transversal a todos os partidos.
Às vezes há muito aquilo de... a direita não pode falar... não, a direita também
tem que falar, tem que se envolver, não é?
Sim, até para depois não acharem, não terem essa ideia e usarem-no quase como uma crítica
de que a esquerda sequestra esse tipo de...
Exato, tem que se envolver, direitos humanos é de todos.
E eu discordo totalmente que a esquerda sequestra esse tipo de debates e tópicos e lutas.
Eu acho que se estão preocupados que isto aconteça e se acham que acontecem, então
falem mais, desomem uma posição mais vocal e contra... honestamente, contra o meu próprio
partido de falco, que acredito que devesse ser mais vocal neste sentido.
E é assim que terminamos mais um episódio da Minúria Absoluta, Francisca e a Guadalupe
Vonteférias, pelo menos do programa, e voltam seguramente lá para setembro.
O Cuidado Técnico foi da Margarida Adão e o programa está disponível entre SF.pt e
nas plataformas habituais de podcast.
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Edição de 15 de julho 2023