Alta Definição: Saúl: “Em criança, o brincar foi sempre numa lógica de trabalho”

Joana Beleza Joana Beleza 6/4/23 - Episode Page - 44m - PDF Transcript

Nós ainda estamos aqui

Bem-vindo.

Obrigado.

Aos 35 anos ainda há quem te chama Pequeno Saúl.

Sim, para casa é engraçado, mas é.

Lembra-se da autora da Bacalhau.

Olha o Pequeno Saúl do Bacalhau.

O Bacalhau que é herói.

É o melhor TV.

Saúl, 35 anos. Estou como sou no Alta de Fissão.

Gosto de futebol.

Gosto da minha profissão.

O que é que eu não gosto?

O Instagram.

Não gosto de Bacalhau, falta de Bacalhau.

Não gosto de pessoas xízudas, não gosto de pessoas respondonas.

É miúza, que rico o Bacalhau.

Tu fost o mais novo artista portuguesa a atingir a tripula platina.

Também, tem três meses.

Senta e vinte mil cópias.

É impressionante.

É mesmo na altura?

Nem eu sabia o que era isso.

Eu nem queria saber se vendia, se tinha trabalho,

ou que estava a ir para o palco.

A única coisa que me levava a ir para o palco na altura

era ver os sorris das pessoas.

E era mais isso, era levar aquilo na brincadeira como eu levava na altura.

O Bacalhau que é herói.

Quando é que percebes que a última ocasião não está bem?

Aos oito anos mesmo.

Fui óbano para levantar dinheiro e tinha 14 horas e cinquenta centímetros

em minha conta bancária.

Adoro viajar, adoro conhecer novos agentes, novos povos.

Não gosto de me repreender, não gosto de me digam que não.

Eu sei que em sede fizemos, eu não gosto.

Fala-me da tua vida antes de começar a cantar.

Eu nasci no meio do espetáculo, nasci no meio do circo, nas feiras.

Minha vida era itinerante, era andar de terra em terra.

Não tínhamos grandes possibilidades na altura.

E acho que o que me voou hoje em dia a ser o que sou foi ter passado por isso também.

Não ter tudo com facilidade, ter que ver que havia muito trabalho

para termos aquilo que tínhamos na altura.

E antes de ser cantor, antes de ser conhecido,

era isso mesmo, era uma luta diária, sem dúvida.

Brincavas aqui?

Não brincava, não posso dizer que brincava,

porque para mim a brincadeira era ajudar os meus pais na altura

a montar o nosso circozinho pequenino em cada terra,

tentar fazer o que o meu pai fazia como ilusionista

e ensinar os miúdos cá atrás.

Acho que as minhas brincadeiras eram essas, eram todas dentro

ou envolvidas no trabalho que nós tínhamos diariamente.

Não me lembro de ir para um parco brincar com alguma criança,

porque não tínhamos essa possibilidade na altura,

que era tudo muito rápido, em cada terra era tudo muito rápido.

E as primeiras grandes memórias que tenham,

o brincaram numa pista de circo.

O meu pai era um vinista,

a minha mãe fazia aqueles bonequinhos em papel,

que se cortava atrás das costas,

fazia também palhaço, o meu pai na altura,

que era um circo de família só.

O meu pai e a minha mãe que faziam,

faziam um vestiz meus, alguns familiares,

que também trabalhavam na área, e juntávamos tudo.

Não é aquele circo de estenda que o vejo,

era aquele circo de ar livre, fazíamos os cafés,

o antigo Leilão Americana, que se fazia lá também.

O Leilão Americana, imagina,

tês uma garrafa de mais barato que vias comprar

e tentávamos vender aqui uma pista,

não é? É quem desce mais e levava a garrafa.

E muitas vezes era com esse dinheiro que vias no dia a seguida,

que era uma luta diária para se conseguir comer no dia a seguida.

Imagina, tinhas o primeiro dia?

100 pessoas.

Tinhas 100 pessoas já,

já não íamos ir embora um terceiro e continuávamos,

até que ilumino ir, porque chegava um ponto,

que já não havia mais ninguém para ver o circo.

E o critério era ver a desão das pessoas

e quanto mais desão tivéssemos, mais tempo ficávamos na terra.

E quando não havia público, como é que era?

Não se fazia, estavam esperados.

É como o circo de hoje em dia.

Não há ninguém no espetáculo, temos que passar para o dia a seguir.

E quando não havia nessa terra,

tínhamos que passar para a próxima.

Era complicado na altura,

porque pedias não trazer nada da anterior

e ficava cada vez mais complicado.

Para que é que faltava o dinheiro?

Para tudo, para tudo.

Podemos dizer para tudo.

Nós não tínhamos escola,

na altura era impossível ir à escola.

Tínhamos de nos alcarre de sítio para sítio.

Era necessário para combustível e para tudo isso.

E às vezes não dava para tudo.

Ou seja, eu posso dizer que ainda tenho recordação

de que temos que dividir comida, não é?

Por isso é que eu digo que percebo muito bem

as dificuldades muita gente hoje em dia,

porque já passei por elas.

Ter três filhos,

ou seja, cinco bocas para alimentar,

era complicadíssimo, sem dúvida.

Alguma vez foste para a cama com fome?

Quando era pequeno sim, sem dúvida.

Não estou a dizer que isso era sempre, mano.

Não era regular.

Mas aconteceu algumas vezes,

temos que dividir comida.

Não era não comer,

mas não comias o que deverias comer naquela altura.

Nós já nem notávamos isso,

porque acho que naquela altura

já era tudo tão normal,

nem pensávamos nisso.

Dormiu onde?

Em caravanas.

Ainda sou de tempo das caravanas,

tomar banho numa baciazinha de água,

morna.

Às vezes tinhas luz,

outras vezes não tinhas,

era apanente também da disponibilidade das pessoas,

se cediam, se não cediam.

E com frio à noite?

Frio, sim, frio.

Aconteceu que viverem caravanas no inverno.

Às vezes imagina haver um furo,

uma coisa estragada na caravana,

entrava o vento.

E levávamos com aquele frio, era normal.

Nunca tiveste medo.

Tive, tive.

Cheguei a ter.

Não medo,

pensado como hoje em dia,

mas tinha medo,

ouvir alguns barulhos,

o que poderia vir de ali, não é?

Nessa altura sim, sentia-se medo.

Isso era porque uma aventura,

essa é a itinerância de andar pelo chito.

Sim, sim.

Nós, como crianças,

era uma descoberta todos os dias.

Nós íamos ver o que é sido,

que íamos descobrir tudo o que havia naquela zona.

Mas acho que era isso que fazia parte também da brincadeira, não é?

Não levava isso como uma coisa difícil,

levava isso numa brincadeira,

porque íamos descobrir situações novas,

íamos conhecer pessoas novas,

e era dentro disso.

Não havia nada de grandes dificuldades nessa altura.

E os teus amigos eram os teus irmãos?

Sim, exatamente.

Déramos dois na alta,

depois deixou o terceiro,

e era a brincadeira entre irmãos e primos.

Ou seja, como nós estávamos sempre juntos,

naquele meio do círculo,

os nossos amigos éramos nós mesmos.

E havia tempo nesse contexto para haver

afetos dos pais para com os filhos?

Não havia muitos afetos,

não havia aquela coisa do carnear,

porque a vida era muito difícil naquela altura.

Um ano de não?

Não.

Isso não, nunca teve.

E o miúdo que cresce com isso?

É difícil, é difícil.

É difícil e eu conto-te uma coisa assim,

só para ter uma perceção.

Nunca tinha tido um carinho dos meus pais,

e a primeira vez que a minha mulher me passa a mão na cara,

eu chorei com 18 anos.

Descobri ali com 18 anos,

e havia amor, e que havia carinho,

e que havia alguém que te aconchegava.

Coisa que eu não senti antes.

Eu via muito naquela altura,

dizendo que foram homa aos pais,

ou bons pais,

isso eu não digo,

porque eles foram pais.

Criaram da forma que pensavam que era correta,

que para mim hoje em dia não é,

tendo uma filha,

veja completamente a diferença.

Não é ter tudo em casa,

é ter uma simples coisa,

é criar memórias com os filhos.

Eu acho que isso é o mais importante.

E o âmbito, o alho beijinho de noite,

o abraçar, aconchegar na cama,

isso vale muito mais de qualquer prenda.

E é isso que eu penso fazer todos os dias

com a minha esposa,

é criar memórias à minha filha.

Um dia mais tarde,

quando passeamos com os meus netos,

ela dizia assim aos filhos.

Veja?

Aqui eu ativo com o avô,

tive cá avô, passeamos aqui.

Este cheio faz-me lembrar dos pais,

os meus pais,

os vossos avós.

E acho que isso que eu quero promover para a minha filha,

é as memórias sem dúvida.

Gosto de pessoas sinceras, diretas,

noinas,

gosto de aviação,

estou a tirar o curso agora,

as semanas.

Eu sei pelo outro mesmo,

de aviões ligeiros,

mas o meu objetivo é chegar

pelo privado mesmo,

já dos privados.

Sempre foste um puto atrevido?

Sempre.

Ah, isso sempre.

Isto é pequeno.

Eu, com quatro lindos,

cheguei para as cadeiras dos cafés

e contava andotas e histórias,

e a malta não me sento bem,

às vezes o que eu dizia,

mas sempre fui assim,

fugir para os situas

e começar,

como pessoas novas,

sempre fui assim.

E levadas umas palmadras, não é?

Ah, sim, é tão.

As dias que eu...

Quer dizer,

fazia o que fazia

e também não levava umas palmadras

eram umas palmadras,

os raspanetes,

uns castigos, também.

Eu dito uma coisa,

era um puto muito amarado.

O que fazia assim de mais marado?

O que eu falava,

não me via falar,

naquelas alturas, sabe?

Às vezes,

devia de me dir mais as coisas

e os momentos.

E eu não era...

Isso eu disparava,

tinha para disparar,

ou picava os meus irmãos,

ou picava os meus primos na altura,

fazia sempre alguma coisa

que qualquer que não via fazer nada.

Quando é que meças a ter

atuações mesmo no círculo?

Tem noventa e três,

ou noventa e dois,

não sei, minha primeira K7,

na altura fui com a minha avó,

paterna,

em uma festa que ela vende

de farturas na altura

e foi a primeira vez

que eu tive contacto com o Quim Barretes.

Em imagem do senhor,

com o chapéu, com o bigode,

com o acordeão

e as piadas que ele dava

e o estilo dele em pau,

que foi isso que me fez levar

a querer imitar o Quim Barretes

na altura,

que eu tinha ganho uma K7

nesse dia.

E eu falei,

meta K7 com o canto por cima

do senhor

e os colegas de meu pai,

que foi vendo isso assim,

eu falei,

por que que um momento

eu pude fazer isso?

Se calhar até,

meta piada e chama lá gente.

E comecei a cantar também

no circo do meu pai

e começamos a ganhar

mais algum também

e lembro-me da primeira vez

que fui ao Big Show

em 1993.

Passado,

pois hoje estevemos uma terra

que eu cantei lá na pista,

né?

E eu fazia uma quesita

que era tirar o chapéu

e ver o que é que lava.

Lembro de na altura,

não acabamos de esquecer

de se atirar em uma nota 10

quando, na altura,

para a pista,

eu já não contei mais.

Eu já ganhei na nota e fui para trás.

Não sei se estás a ver.

E nessa altura,

sei que ganhámos muito dinheiro

nesse dia,

porque sei que a minha mãe

comia chocolate,

comia chupas,

tem essa recordação

que teremos banjar um pouco

de saber que isso era do trabalho,

não é?

Mas saber que tinhas mais possibilidade

de alguma coisa.

Acho que foi esse o ponto de viragem.

Os meus pais também veram na altura

que podíamos ter algum rendimento

ali.

No dia a seguir,

és ao Big Show Sique,

o que é que tu sentiste?

Naquela altura

não tinha muita noção das coisas.

Não tem que no circo

que toda a gente conhecia

aquele miúdo.

Olha, foi o rapaz,

eu comecei a ter mais precessão

disso.

Foi na altura mesmo que o CD

comecei a ir aos festos grandes.

Uma coisinha que era redonda.

Comecei a cantar em palcos altos,

a ver milhares de pessoas

à minha frente e assim.

Mas esta malta

que é assim de ontem,

para pensar lá sim para mim.

Procurir o que tu atuavas

numa...

Sim, uma pistazinha no chão,

uma coisinha redonda,

uma lãzinha.

E as pessoas iam-se juntando?

Em as cadeirinhas,

depois tinha as pessoas em pé,

na altura pagavam a cadeira,

elas ficavam em pé,

e começou a ver um agumorado

maior de pessoas,

na altura.

E que cantavas músicas do Quim?

Só do Quim Barreiro.

Eu nem tinha músicas minhas,

eram dia 7,

porque o Quim Barreiro estava cantado,

eu cantava por cima,

colava o bigode...

Com voz ou em playback?

Tava a voz dele por trás

e abriu a microfone

e cantava eu também.

E era o dois em um.

Eu sou o mestre de cúbio de Minas Águas,

e tenho feita na veta.

O Quim Barreiro

é alguma definição,

alguma coisa?

Sempre nos du,

foi um homem que,

desde o primeiro dia,

quando saiu o bacalhau,

quando tivemos aquela explosão,

foi o primeiro homem que chamou

os meus pais para ir na pré-anquore,

lá ter com ele,

chamou a empresário,

o bacano,

que ele é,

o bacano.

É marcado as espetálias peças

por lá no estrangeiro,

que até ele começaram a ir lá.

E foi o que em baixo

me deu os meus primeiros

espetálios no estrangeiro.

Ele não viu que aquilo

era prejurativo,

era mesmo assim

para fazer uma homenagem,

o horto e isto aí em cima.

E ainda percebemos uma pessoa

assim que selos,

sendo velho.

Ajudou em tudo o que podia

e comunicamos,

estamos em semanas académicas juntos,

faço as primeiras partas do Quim,

o que é ótimo,

é imenso.

E quando começas a ter

esse imenso sucesso,

quem é que te acompanhava?

Os meus pais sempre.

Deixaram o circo,

íamos a nossa primeira casa,

também naquela altura,

foi uma exorbitância de espetáculos.

Eu falava 280 dias de espetáculo.

Eu digo 280 dias,

chegávamos a ter 3 e 4 por dia.

Ou seja, batês uma noção,

naquela altura,

foram assim durante 3 anos.

É muito trabalho,

é muito trabalho.

Eu chegava a cantar em discotecas,

batês uma noção,

todas as discotecas,

possas imaginar no país,

eu achei todas as discotecas

que lhe ia pegar.

Com 8, 9 anos,

dormia no sofá,

desde de cantar às 3 da manhã.

Dirava quanto tempo,

de espetáculo?

Era sempre de 1 hora,

45 minutos a 1 hora.

As discotecas eram sempre menos,

porque elas chamavam de show case,

que eram 35 minutos,

mas já tínhamos cansados do anterior,

não é?

E uma criança daquela idade,

depois de fazer tornejo

no estrangeiro,

que nós chegávamos a fazer

tornejo do mês,

nos Estados Unidos.

É sinal que foi um dia,

era cansativo,

mas, atenção,

nunca fui obrigada a fazê-lo.

Era uma coisa que eu gostava de fazer,

ainda hoje gosto,

eu não estava na precisão de gostar.

Mas era cansativo,

e sem dúvida.

E a escola ia ficando para trás?

A escola ia ficando para trás,

eu falhava muitas vezes,

mas naquela altura,

eu sempre tive facilidade

em procurar matéria,

e se sempre tivesse a facilidade,

até com uma altura,

tive mesmo que ter professores de acompanhamento,

não conseguia,

esse mês estive nos Estados Unidos,

teve mesmo que ser assim,

porque era impossível.

Já faz de pé na 3ª classe,

não...

Já faz de pé na 3ª classe?

Não.

Sim, 3ª, 4ª, 1 ano.

E era complicado manter as aulas,

e acompanhar a matéria toda,

mas consegui.

Nessa loucura,

como é que era um dia, vosso...

Olha, um dia era o Dantas de Manhã,

e as próprias primeiras espécies

que era hora da almoço,

normalmente.

Depois tínhamos mais um,

ao final da tarde,

quando eram os 4 mesmo dias.

À noite fazíamos as festas

das reais enormes,

porque essa tarde às vezes

era de jocotecas,

vares, na altura que se fazia,

e à noite eram as jocotecas grandes,

e chegassemos ao final da tarde,

quando eram os 4 mesmo dias.

À noite fazíamos as festas

das reais enormes,

porque essa tarde às vezes

era de jocotecas,

vares, na altura que se fazia,

e à noite eram as jocotecas grandes,

e chegassemos ao quarto espetáculo,

passados, só em espetáculos,

era mais complicado.

Continuávas a não brincar,

nessa altura?

Não havia tempo.

Fiquei realista,

sempre uns dias de espetáculo,

não há tempo para brincar.

E o único tempo que tínhamos

para brincar,

ou seja, o meu recreio,

buscar a bola,

era em casa.

A nossa família

eram os amigos.

É mesmo assim.

Era um grupo muito fechado,

porque,

também compreendo,

na altura,

o ganha-pão da família,

tudo isso,

era para guardar.

Tu eras o ganha-pão da família?

Sim.

Era o ganha-pão da família,

sem dúvidas.

Os pais trabalhavam comigo,

mas os irmãos não trabalhavam,

porque eram novos.

Ou seja, o único que tinha o nome,

na altura,

e que trabalhava,

que ia para cima do palco,

era o saúdo,

era o ganha-pão da família.

Se falhasse ali alguma coisa,

era complicado para todos.

Só sabe-lhe a porta,

e eu passo a vida a gritar,

não tenho um sorrado nenhum.

O que é que era mais difícil,

para ti,

nesse auge?

Olhando agora para trás,

era um tempo para mim.

Acho que era isso.

Eu nunca tinha brincadeira,

de poder brincar.

Sem birras?

Nunca fazíamos birras?

Fiz, fiz.

Uma vez fiz birras mesmo,

e não entrava para o palco.

Uma vez foi uma festa qualquer.

O pai tinha lá uma barraquita,

que tinha uns brinquedos,

e eu queria um caminhão grande,

com aquilo,

mandava a terra para fora,

e eu queria aquilo,

porque queria aquilo,

minha mãe,

não, no final de espetáculo.

Você vai lá buscar isso,

não,

não vai buscar,

eu não me vi isso,

pei para o palco,

e acho que foi essa grande birra,

acho que foi essa,

e faltava 15 minutos para entrar em bala.

E eu não pesquia,

foi 2 em 1,

ou seja,

ganhei o carro,

e fui fazer aquilo que eu queria.

E as pessoas que iam ter contigo,

pediam autógrafos,

e disseriam,

e tu o que dizias?

O que é que escrevias?

Eu escrevia só salvo,

cara, o que eu sabia escrever,

na altura,

não ia escrever um pai.

O meu nome,

é saúdo.

Dá uma saudade desse tempo,

ou não?

Dá.

Dá,

porque enginimidade na altura.

Era puro?

Era puro,

é o mais puro possível,

porque não era nada ensaiado,

não era nada pensado,

o poder brincar sem filtros,

naquela altura,

que era mesmo isso,

acho que isso me dá a maior saudade.

E a enginuidade vai-se perdendo?

Sim, sem dúvida.

Vai-se perdendo

não só a nível pessoal,

também a nível profissional,

porque a gente tem muito mais atenção

àquilo que diz,

e a gente tem muito cuidado.

Você hoje é um puto de 7 anos,

cantar sobre o Bacalhau,

o Caralho,

o Bacalhau.

Na altura foi,

imagina, hoje em dia...

Mas tinha uma landrissa,

muitozinho.

E foi mesmo feita para isso.

E daí uma criança cantar aqui,

ainda mais foi empingida para isso,

sem dúvida.

Mas temos o contato que foi

um dos maiores sucessos,

ou seja, toda a gente ouviu.

A gente liga,

que não conhecem toda a gente

cantar Bacalhau,

seja novos, seja velhos,

e acho que isso foi uma aposta

ganha sempre.

O Bacalhau Caralho

é o melhor tempê.

E hoje em dia ainda te falam

na rua disso.

Ah, sim, sim.

Ofreceram-te Bacalhau, não?

Na altura oficino.

Na altura oficino.

Eu sigo aí, imagina,

em 280 dias,

que temos 280 dias de Bacalhau.

Temos ali um Bacalhauzinho

para a siga, que é lá um espetáculo.

Na altura até brincava,

oh, vou fazer uma música

dela gosto,

talvez também como a gosto

de todos os dias.

O Bacalhau Caralho

é uma forma positiva, não é?

É sinal que é um sucesso,

que se identificam,

não posso deixar de cantar

o Bacalhau,

como deres de calcular-me.

O marcou as gerações,

isso é ótimo.

O Bacalhau Caralho

é o melhor tempê.

Do que ganhavas,

quanto é que ficava a partir?

Nada, zero.

Diretamente nada, não?

Quando era novo,

não ficava, era com os pais

que geriam todo o dinheiro

e todos os imóveis.

Imagina,

quando começou na altura

do Bacalhau,

roupas, alimentações,

algumas coisas que eram necessárias,

além disso, sim, tinha,

não, vou dizer que não tinha, não é?

Mas não tinha acesso

direto ao dinheiro, isso não.

A negociação era feita por eles?

Tudo, tudo.

Era feito para a minha mãe na altura,

que era empresário.

Meu pai era o que tratava

de todo o material dos sonhos,

com a inicera de todos nós,

também para podermos ser

um pouco mais profissionais,

tinha de haver investimento

e até aí, tudo ótimo.

O sol era agarrado,

saía de casa,

chegava o palco cantado.

Quanto é que achas que era

cada espetáculo?

Vamos falar em 95, 96,

mais ou menos 600 anos,

600 anos de contos,

por espetáculo.

No mínimo, no mínimo.

Fora, ser com bandeira,

com bandeira muito mais.

Às vezes, 4 vezes por dia.

4 vezes por dia.

De anos e 80 dias por ano,

3 anos assim.

É imprescindente.

Fora, vendas CDs e tudo isso,

não contabilizamos,

só estamos a contabilizar os espetáculos.

Com mercenais,

em garotas do nosso tamanho,

já estás a ver,

todo o que vinha aqui envolvido.

CDs, cidades de tichetes

para vender, naquela altura,

tu não vendias menos 600 CDs

por festa.

Cá 700 era às 1.000, 1.500.

Tudo isso se contabilizava

para o final, não é?

Um jovem de hoje,

e não tem noção do que foi essa loucura?

Não, não tem, não tem.

Havia artistas que na altura,

isto é engraçado falar,

até os postais da malta pagavam,

porque triam aquilo,

porque não havia as fotografias,

não havia os telemóveis,

triam uma fotografia do artista

e pagavam.

E as vossas condições de vida

melhoraram?

Sim, sim.

Boa vida.

Tivemos uma casa,

uma quinta enorme,

nunca mais faltou a comida na mesa,

graças a Deus.

Ou seja, a nossa tingueira vida

ficou ótima.

Quando é que percebes

que a última ocasião não está bem?

Aos 8 anos mesmo.

Para ter esmenção,

cheguei ao banco,

para levantar a dinheira na altura,

e sei que tinha qualquer coisa

para pagar na escola,

já me recordo que aqui era,

nessa altura a minha mãe já não estava no país.

Por que que não estava?

Na altura,

depois que se passou,

e, dizer, foi embora,

fui ao banco para levantar a dinheira

e tinha 14 euros e 50 centímetros

em minha conta bancária.

Eu não fui ao balcão,

eu fui a atualizar a caderneta simplesmente.

E quando atualizei a caderneta,

fiquei com tanta vergonha,

saí do banco.

Saii, literalmente saí do banco.

Disso não pode ser,

mas dá a guerra.

Mais que não seja,

eu sei que em outra conta,

qual que é que podia ter alguma coisa?

Nenhuma delas tinha.

Podia ter um património enorme.

Quando falo disso,

não falo só por causa do valor que foi,

ou do património que perdi.

Não.

Há uma coisa,

e que muita gente fala,

e que muita gente escreve,

que era a obrigação do filho,

não foi tanto de dinheir,

não foi tanta coisa.

A minha não me interessa

a dinheira que foi gasto,

não me interessa

se os imóveis foram perdidos,

não me interessa a vida

que foi perdida.

Eu não estava com os filhos.

E é isso que me dói.

Não é o que eles fizeram.

Foi o abandono em si,

não abandonaram só o meu,

abandonaram cinco filhos.

E acho que o abandono me dói mais

do que qualquer valor que o possa ter.

Acho que me doam mais,

que não haver uma explicação.

Pois eu lembro,

me dá nome a viver para Portugal.

E eu cheguei uma pé dos dois,

na tive essa descensia,

porque tinha no meu coração,

tinha que ser assim,

porque me poderia dizer o que quiser,

eu tinha no meu coração,

tinha que ter com eles.

Consequentemente ou não,

Eu queria uma explicação do que se tinha passado.

Queria uma explicação? O porquê?

O porquê de terem feito aquilo?

Porque quando falo, não falo só em mim, falo nos meus irmãos.

Poderíamos estar todos bem, hoje em dia.

Tanto trabalho, tanto suor, teríamos estar todos bem.

Não precisávamos passar por isto.

E foi isso que eu lhes perguntei. O porquê?

E até hoje só as peras da resposta.

O que mudou mais não é o que aconteceu antes.

Foi o posto.

Deu ter contado o que se passou.

Foi muito grave.

O que fizeram não se faz um filme.

E não vale a pena entrarmos por aí.

Só te posso dizer que é muito louro.

E por isso mal ter que pensar lá em casa

que não custa falar disto.

Engane-se.

Porque só quem passa por elas é que sabe o que passa.

Sentes-se um desamor?

Sentes-se um vazio, completo.

Ficas vazio.

Porque é assim, tens ali as duas pessoas

que tu amas desde a nascença, não é?

A tua rede de segurança, que foram os primeiros de falhar.

E depois é uma bola de neve.

Depois de eles vêm outros.

Depois que deixas de ajudar diretamente

eles é que passam a ser os bons e tu passas a ser o mau.

É aí que me dói mais.

Não é o que se passou mesmo.

É o posto.

O que se passou após isso.

Aí é que me doi.

Fica vazio sendo a vida nenhuma.

Quando falei disso da primeira vez

é bom que isto fique felizado.

Não fui eu que quis falar do que se passou

ou expor a minha vida pessoal.

Não.

Isto foi numa entrevista para um jornal

não vale a pena dizer o nome.

Que vão para me entrevistar por causa da carreira.

Porque tens uma missão.

E a primeira pergunta que eles me fazem

já há 18 anos.

É, por que é que tu vêm desta tua casa?

Eu fiquei...

Fato olhar para ele.

Como é que você sabe disso?

E ele começou a falar

ah, mas queremos saber isto.

E disse, não.

Demos aqui para falar da minha carreira.

Foi isso que você falou.

Tentando defender sempre o outro lado

que também é os meus pais

e toda a família que estava envolvida

porque não queria mandar isso cá para fora.

Além do que me fizeram

ainda que isto defender alguém, não é?

Nesse instante entre um familiar

na zona dos ámbitos da entrevista e...

aos gritos mesmo.

Diz, não.

Contas a verdade foram os que fizeram isto

e aquilo...

E eu já não pude dizer que não.

E é bom que isto se frise

porque eu nunca tinha dito isto

e é a primeira vez que vou dizer.

Não fui eu que quis mandar isto cá para fora.

Atenção.

Quando saias do banque

e prestes o que aconteceu,

o que é que fazes a seguir?

O primeiro pensamento foi que era um buraco.

Sem dúvida.

Pensei...

Pensei em fazer uma coisa

que é impensável.

Pensei em ser suicídio na altura.

Por isso, mal da que passo por mesmo,

peço a ajuda.

Eu tive a ajuda da minha esposa

que era uma rapariga de 16 anos.

Atenção.

Era uma criança

e já era muito mulher

para a idade que tinha.

Era muito madura.

Ainda hoje joé.

Tivesse a ajuda.

Se não, se calhar hoje

poderia não estar aqui.

Porque não via solução à vida.

Não.

Eu não via.

Não via uma luz ao fundo do túnel.

Não via.

Eu pensei para mim

que quando há 18 anos

o que é que vou fazer da minha vida?

A única coisa que sei fazer é cantar.

Fiquei sem rede de soberança.

Não tenho ninguém que me ajuda

a andar para a frente.

O que é que vai ser agora de mim?

Sem dinheiro, sem nada.

Porque nós pensamos na altura

o dinheiro precisamos para ter a nossa vida.

Acho que aí foi a maior queda

que eu tive até hoje.

Os teus pais não estavam cá em Portugal?

Só o meu pai na altura.

Mas o meu pai rejava lá as desculpas dele

e depois também se foi embora na altura

e fiquei sozinho mesmo.

O único que não era o culpado era eu

e depois no final fui ao culpado-me.

Mas há coisas que não se compreendem

e por isso é que eu digo

dói muito o que se passou

após de descobrir tudo.

Quando é que foi a última conversa que tiveram?

A última conversa que eu tive

com a minha mãe

foi quando ela regressou

que eu lhe fui fazer a pergunta

e perguntei-lhe três oportunidades.

Eu fui três vezes com ela

para lhe perguntar

e dar uma explicação do porquê.

E enrolava tudo bem, enrolava

nunca me disseram até o ponto de eu desistir.

Não vale a pena mais.

Há quantos anos não falas com eles?

Há mais 15 anos.

Há mais 15 anos.

Sensivelmente.

É de fácil perdoar?

Perdoar, perdoas.

Mas não esqueces.

Perdoar o que se passou.

Posso perdoar.

Não quero dizer que

com isso me sinta bem com isso.

Porque não é.

Porque tens sempre aquela coisa dentro de ti

o que se passou, o que fizeram.

É o que eu digo.

O que dói mais foi o abandono.

Não foi mais nada.

Não haver uma explicação para.

E tu encontraste a explicação

sem ser por eles?

Tens ideia do que pode ter acontecido?

Uma coisa é certa.

Para quem nunca teve dinheiro

do momento para o outro,

no ano,

ganhar uma exorbitância de dinheiro

é tranquilo, no ano,

gastarem, tudo muito bem.

Mas os dois anos finos

ganharam o mesmo a mais.

E não pensaram que tinham três filhos,

tinham que ter um futuro para os filhos

e não foi isso que eles pensaram.

Ou seja,

eu acho que foi desleis.

Acho que foi desleis.

Total.

Sem dúvida.

De gastarem coisas...

Superfluas.

As coisas superfluas.

Se compraram hoje em dia um carro,

ficas com um carro de 10 anos, um exemplo.

Ali não.

Ali pedíamos trocar de carro

quase todos os meses um exemplo.

Podíamos fazer isso porque havia dinheiro para.

E até para muito mais.

Agora se me perguntaras,

saíam com os filhos?

Veram o Jardim Zoológico?

Não.

Saímos peito-férias?

Não.

Acho que aí sim,

medíamos ter gasto dinheiro.

Por quê?

Iamos criar memórias

como eu estou a dizer da minha filha.

A primeira vez para ter uma noção

isto das memórias,

engraçado.

E eu falo do Jardim Zoológico porque,

a primeira vez que eu fui um Jardim Zoológico,

foi com 35 anos com a minha filha.

Engraçado.

Foi uma descoberta após dois.

Eu nunca lá tinha ido,

para mim foi uma descoberta.

Ou seja, já fiz uma coisa

única com a minha filha.

Que nunca tive até então.

Isto é um exemplo de uma coisa simples,

que não custa muito dinheiro,

e que podíamos ter feito.

Sentiste-te o usado?

Sim.

Eu senti-me o usado,

até ao ponto de,

de ter peixe-o não dá mais uva,

um exemplo, naquela altura.

Foi espremer até a última gota,

não havia mais gota para espremer,

agora mais poucando.

Eu sinto-me assim.

Mas como é que o amor

não é melhor do que isso?

Boa pergunta.

Eu era incapaz de o fazer.

Eu era incapaz.

Porque eu acho que o amor

vence tudo.

E daí eu estar cá hoje.

Acho que não há compreensão para isso.

Por mais que tendes a arranjar

adjetivos para isso, não existe.

E é o que tu dizes,

o amor devia vencer isso tudo.

O dinheiro não é o mais importante.

O dinheiro traz-se sem felicidade,

ou compra felicidade,

mas não traz-o mais importante.

E a mágoa que tu sentes,

supera o amor que tinhas

pelos teus pais?

Ou ainda é amor,

aquilo que tu sentes?

Não.

Não posso dizer que é amor.

Eu sei que é muito duro,

mas não consigo sentir nada.

É um vazio mesmo.

Não sinto nada mesmo.

Há uns tempos atrás,

assim, doia.

Duia muito.

Falar da minha mãe,

não poder estar.

E o porquê que ela fez isso?

Ou quando fala da minha mãe,

fala dos pais, desculpa,

dos dois pais.

Porquê que fizeram isso?

O porquê?

O porquê que eu fiz de mal?

Eu pensava muitas vezes,

o porquê que eu fiz de mal?

Eu ainda metia,

que eu era o culpado,

que tinha feito alguma coisa

que não tinha gostado.

Mas hoje em dia já não penso assim.

Eu penso,

eu não podia dar mais.

Eu não podia fazer mais.

Eu fiz o máximo que eu podia fazer

de uma criança daquela altura.

E a mágoa,

hoje em dia não tenho mágoa.

É mesmo,

é um vazio,

sinceramente.

Nem procuras saber de coisas sobre elas?

Não.

Desde que estou com a minha esposa,

encontrei a minha família.

E acho que a família

também a podemos escolher,

né?

E eu escolhi a minha família

e estou tão feliz com isso.

Daquilo que tens no som que perdeste,

como é que seria hoje a tua vida?

Ah, seria ótima,

sem dúvida nenhuma.

Sem dúvida nenhuma.

O que ganhaste nesse tempo,

daria para viveres?

Ui, sem dúvida.

Sem dúvida.

Eu não vou falar de valores

que não valem a pena.

Eu já disse um valor,

muitas vezes.

Meio milhão de euros?

Mas sem risório.

Eu falo nesse meio milhão de euros

e fiquei risório.

E para quem não acredita,

eu tenho tudo em casa

que comprova os valores que eu falo.

Dava para viver,

não sou eu, todos.

Todos.

A vida toda?

Sim.

Se fosse bem gerido, sim.

Se fosse investido

em imóveis,

que nos fossem rentabilizando.

Sim, sem dúvida.

Vamos dar para trabalhar mais.

Vamos trabalhar.

Fazer o que eu gosto,

mas fazer só o que eu gosto.

E quando quero,

dizem-me,

podia fazer isso.

E quando confrontas com isso aos 18 anos,

recomeçar do zero

parece um trabalho

demasiado...

Impossível, quase.

Impossível,

não.

Na cabeça de um jovem,

um menos para mim,

que tinha sempre

salvaguarda dos meus pais,

era impossível.

Ele ia conviver-te a comigo e disse assim,

não, tu vais,

mais voltar a cabecinha,

olhar em frente,

por tudo.

Sabes cantar,

sabes produzir,

sabes ir com um palgo

e tu vais continuar

e vais vencer.

Aí sim,

aí eu abri os olhos

e foi ela que me deu

essa força para continuar.

Se não,

teria acabado,

por ali a música,

sem dúvida.

Quando as pessoas

de quem mais gostamos nos falham,

como é que fica a nossa confiança?

Ficava lava,

sem dúvida.

Porque nunca mais confiassem

ninguém,

é muito difícil confiassem

mais alguém.

E confiei na minha esposa

por ser ela.

A idade que ela tinha era

muito madura,

ela parecia uma pessoa

que foi um choque de realidade.

Diz-se,

ou seja,

este porar quando estais,

ou não penses fazer nada.

Tens que levantar,

tens que ir em frente,

eu acredito no teu trabalho.

E quando ela diz que

acredita no meu trabalho

e que me acompanha

e que é uma mulher

que está comegada há sete anos,

que eu tinha zero,

nenhuma mulher aguentava aquilo

que a minha mulher aguentou.

Ninguém.

A vez que eras o ganho a ponte da família

toda e de repente

não o poderes fazer,

o peso dessa responsabilidade

para os tuos irmãos,

foi difícil.

Foi difícil,

pelo menos para o outro,

não teres aquele rendimento

que tinhas anteriormente.

Não teres

o fundo maneiro

para poderes fazer alguma coisa,

porque só tenhas 14 anos,

não poderes fazer nada.

E saber que só tenhas espetáculo

daqui a um mês,

ou seja,

só daqui a um mês

é que entra dinheiro.

Era complicado,

porque todos os dias pensava-se,

será que vai haver dinheiro?

Vamos voltar ao mesmo tanto

antigamente?

Eles não tinham

outra fonte de rendimento.

Eu comprei anos meus pais

que estavam comigo

quando eu era pequeno,

não podiam trabalhar no outro sítio.

Compreendo, tudo ótimo.

Eles tiravam 50% para eles,

50% para mim,

mas bem na mesma.

E não fez o que aconteceu,

fica sem chão.

Fica sem chão.

O que é que sentias

no olhar dos teus mais próximos

e nas pessoas que te conheciam

e que sabiam a história?

Eu sempre senti vergonha disso,

porque nunca pensei

chegar a esse ponto,

ainda mais porque foi.

E depois todos a dizerem,

tens razão,

não deviam ter feito isto,

não deviam ter feito isto.

E hoje são os mesmos que dizem

que eles é que têm razão.

É muito, muito complicado ouvir isso.

O que tipo de argumentação

é que pode haver

para a outra parte de razão?

Simples,

porque o dinheiro era o que eu gastava,

que a culpa foi minha,

que eu tinha muitos luxos,

coisa que eu nunca tive.

O que eu sou hoje era antigamente.

Eu até sou muito ponderado

que eu nem gosto de gastar dinheiro.

E tu consegues ver,

hoje, ao meu maduro e pai,

sinais que podiam indiciar isso?

Olhando para trás, sim.

O não poder sair

com os teus colegas.

Cada vez que me dizem,

não,

pode estomaguar.

Tens trabalho a seguir.

O fazerem a vida que faziam

sem os filhos,

comprar isto,

comprar aquilo que não era necessário.

Hoje em dia olhando para trás,

e eu não.

Era mesmo para isso.

Não dá a ver que fosse outra coisa.

Meu pai sempre foi bom

a trabalhar com o som,

graças a Deus.

E a meia era uma grande empresária,

e fazíamos uma empresa,

e dávamos todos juntos

a trabalhar,

e é uma empresa familiar.

Não fez isso que aconteceu.

Quando tu diz que o que dói mais

é o pós,

é por não ter-te uma sinceridade?

Foi mesmo das actitudes,

tem sim.

A sinceridade não vale a pena,

porque aquilo desapareceu.

Não tem interesse a saber o que é que houve?

Não.

Não se também interessa,

porque desapareceu.

Não vale a pena estarmos

a massacrar mais nesse assunto.

Foi mesmo o que foi dito,

o que foi feito,

da forma como foi feito.

O que foi dito a ti direta mesmo?

Direta mesmo.

Tiro só,

e revistas,

e muita coisa, muita coisa.

Mas foi mesmo a ti tudo direta

que iam ver para mim.

E se para mim não...

aí acabou.

Tanto que no dia que isso aconteceu

disse mesmo,

para ti dois,

não tenho mais.

Meti na minha cabeça mesmo,

não tinha.

E deixei-te se ferir.

Acredito.

Nunca te procuraram para

dizer qualquer coisa,

mas eu não tenho mais tempo,

nestes 16 anos.

Não.

Não.

Qual foi o momento mais duro

depois desse processo,

nesta reconstrução?

Foi o início.

Ah, isso foi o início,

sem dúvida nenhuma.

Não chegámos a passar a fome,

mas quase.

Amorava um ano com a minha esposa,

e depois começámos logo

a amorar juntos.

Para tudo isso,

é uma responsabilidade enorme.

Para dois minutos,

naquela altura,

é muito complicado.

Passámos algumas dificuldades,

não estou a dizer que foi fome,

nada disso,

mas vamos limiar.

Nós tínhamos as nossas responsabilidades

mensais,

e tínhamos que a espargar.

Eu decidi deixar os estudos,

porque não tinha tempo,

não tinha mesmo tempo.

Desse ano eu tive de deixar,

ou era uma coisa,

ou era outra,

porque se tivesse na escola,

não tendesse telefones

para poder trabalhar,

tanto que agora até estou a estudar novamente.

Que sacrifícios,

é que te recordas

no dia a dia de fazer...

Um deles era,

imagina-se,

para um espetáculo,

e saber que chegar a casa

quase sem nada,

mas tínhamos que ir trabalhar,

porque tínhamos que nos mostrar.

E ir às vezes,

sem condições para trabalhar.

Porque se visam um palco,

para cantar,

não tens luz,

não tens isto,

a impensava-lo hoje em dia,

imagina-se,

estar-se um patamar,

cá em cima,

de repente,

manda-se um tambolhão enorme,

não tens possibilidades

de subir o mais rápido possível,

para subir-os na música.

Tens que ter dinheiro,

um cenário novo,

que custa dinheiro.

E naquela outra nova dia,

nós tínhamos que trabalhar

com o que tínhamos.

Ou seja,

trabalhar com o que tínhamos,

é a mesma coisa

que começares do início.

Imagina-se,

estás no Alteis Arena,

e de um momento para o outro,

as pessoas começaram a se recordar

outra vez em mais.

O que é ótimo,

deu-me um gozo enorme,

tanto também como a minha esposa,

por quê?

Vou dizer por quê?

Ninguém pode dizer que nos deu a mão.

Fizemos dois sozinhos.

E isso, acho que,

é a nossa maior vitória.

Todos criticavam,

que nunca mais lá ia chegar acima,

não sou, já não é a mesma coisa,

já não tens a mesma piada.

E hoje em dia,

passado 14 anos,

o ano passado, ter pisado

do Palfor Rocking Rio,

foi a minha maior vitória.

E eu disse,

um dia vou lá estar,

e um dia disse,

vim a falar contigo isto aqui.

Vejo.

E acho que essas pequenas vitórias,

e é sinal de conquistas,

estão aqui.

Sempre tu e a Marisa?

Sempre eu e a esposa,

sempre eu e a Marisa.

Ela é compreensiva com a tua vida?

Por acaso,

é muito tranquilo lá,

está aí mesmo com fãs,

e tudo é muito compreensiva.

Pega nos telemóveis,

tira fotos,

elas até estão às vezes com medo,

ai está ali a sua esposa,

não há problema,

ela tira a foto,

não há problema nenhum,

e ela adora o espetáculo.

Tanto que ela tira um curso

smart em publicidade,

mesmo propósito,

ela trabalha para mim mesmo,

e é o ótimo.

Há quem diz que estamos 24 horas,

24 horas já não nos portamos.

Não é bem assim,

tem dias que sim, mas

não é bem assim.

Era a minha pessoa que eu tinha encontrado,

acredito.

Ensino o teu amor,

segui sendo a vida nenhuma.

Ensino o meu amor,

a responsabilidade,

também, porque no amor

também há responsabilidade.

A seriedade das coisas,

a minha mente é uma coisa

que é ótima,

que eu não tenho.

Eu sou muito...

Deixar nada,

e a minha mente me pesa

sempre na terra.

Pensa muito bem nas coisas,

ela pensa três ou quatro vezes

nas coisas,

antes de as fazer,

eu já não,

não é de cabeça,

não é,

eu tenho de cabeça.

Esta história é engraçada,

damos um ano inteiro

à procura de uma casa,

dávamos a batalhar naquela casa,

queríamos aquela casa,

e passávamos sempre na casa

onde estamos hoje.

O meu objetivo principal

era ter um espaço meu,

para ter a minha filha,

e para ali dizer assim,

isto é, nós podemos construir

aqui a nossa família,

que este é o nosso espaço.

E é engraçado

passar na minha primeira ingravida.

E quando a Letícia nasceu,

como é que foi?

Quando eu ouvi pela primeira vez,

foi...

Eu fiquei sem chão, acreditas.

Era isto que eu sempre sonhava,

e estava aqui nos meus braços,

e é a melhor coisa do mundo.

E a luz dos teus olhos?

Sem da vida nenhuma.

Foi a melhor coisa que podia ter acontecido.

Já era uma coisa que eu idealizava há

muitos anos,

era ser pai,

e ele tinha se trouxido tudo o que era bom.

E o que é que era melhor do que imaginaste?

Em tudo,

eu acho que não há explicação

a meus adivetivos.

Imagina, ela pode fazer alguma birrazita,

qualquer,

basta aquele suízo,

não esquecemos tudo o que já passou.

Os chegados à casa,

depois no espetáculo,

imagina ver

aquele brusinho nos olhos,

o sorriso lá para a pás,

já voltaste um beijinho,

o carinho que ela nos dá à noite,

quando estávamos aquela conchego,

e com completamente tudo.

Completamente tudo.

É a criança que eu nunca fui.

É engraçado.

E tu és o pai que nunca tiveste?

Sem dúvida, sem dúvida,

sem dúvida nenhuma.

O que acaba já te disse

de mais marcante?

Pai é muito muito.

Uma coisa que eu nunca ouvi como filho,

e com o pai é...

é o realizado no sonho.

Quando um filho,

ainda com esta idade,

que é tão ingênuo,

dizia-se é porque o sente,

e chegar ao pé te e o pai

ame-te muito dar-te um beijinho,

é ganhar-se tudo o que apaga.

O que é que tu lhe quer dar?

O que é que lhe quer mostrar?

Primeiro tem que ser preservante,

tem que ser batalhadora,

e que tem que ser muito responsável

as coisas dela,

e aproveitar.

O importante da vida

é saber aproveitar também,

porque

só o trabalho não conta,

temos que saber aproveitar,

para poder trabalhar cada vez melhor.

Eu quero dar a ela

aquilo que eu nunca tive,

que é viajar,

e conhecer outros povos.

Eu tenho muito isso na minha cabeça,

que é viajar para o mundo,

que é conhecer o mundo,

e que é conhecer com ela,

e com a minha esposa.

Para ela ver que há vários estilos de vida,

uma coisa que é a partilha,

que isso é muito importante,

e começar logo a ensinar as crianças,

desde novas,

porque graças a Deus tem uma facilidade

de ter tudo,

que o mundo lhe pode reservar,

mas que

há outras crianças ao lado

que podem não ter essa mesma facilidade,

e ela tem que partilhar.

Partilhar, entre ajuda,

o carinho,

o verdadeiro amor,

dar um amor ao próximo,

também é ótimo,

porque falamos de uma pessoas

maiores, mais liberta,

e é isso que eu quero transmitir,

que a vida é amor.

O que é que o Saúl Filho

tem como herança?

Uma vida dura,

uma vida dura,

uma vida de trabalho,

para checar,

e atingir as pessoas ao vento.

Tudo o que tu faz

é pensar nela,

e para o bem dela.

Hoje em dia, sim, sem dúvida.

Sem dúvida.

A dela e da minha esposa,

sem dúvida.

São as duas pessoas

que há mais ângios, não.

Como é que tu faz para ela

não perceber as músicas

ou os trucadillos?

Eu acho que é melhor

dizer muita coisa.

Se cantar, cantar,

porque ela ainda não percebe muito.

Se ela ver com isso,

oh pai, e por que isso?

Aí é que isso é mais complicado.

Ela vai muito por som da música,

a batida,

porque ela já bate a mãozinha,

já bate o pé,

ela adora a bateria.

Nem a insia música,

que ela nem canta letra.

Ela diz uaiaiai,

diz uiuiui, um exemplo,

e é muito não entrar por aí,

porque a gente está andando por aí,

vamos para o campo binado,

e aí, e é que vai ser mais complicado.

Tanto molão e tanto molacido,

não é endigeste?

Não, isso é interessante.

Como é que é muito?

Uma vez por dia,

só cada vez por dia.

Não, isso foi um grande sucesso,

um grande sucesso.

Tenho vergonha de alguma das

tuas músicas?

Não.

Quando escreves,

já escreves com o sentido

de saber o que toca o público.

Algo mais coisa, isto.

É algo que eu costumo dizer,

se eu soubesse me deixar do sucesso,

tudo era sucesso, não é?

Eu tenho um ídolo

com soante,

aquilo que vejo nos espetáculos.

Este é o time CD,

que eu lancei há pouco tempo,

que é o tromómetro.

Foi o CD que eu sempre quis fazer.

Qualquer uma das músicas

foi feita para ser primeira.

Foi o tromómetro,

na altura,

dámos na pandemia,

mas qualquer uma delas

pode ser a primeira,

e foi o CD que mais rosa

me deu fazer.

Eu tive envolvido o início

até o fim,

e fez-me sair,

também,

colado ao pescuro,

de me dizer,

muita temperatura.

Muito, muito.

Aquele meu tromão me está enterlado.

É mesmo assim.

Adoro brincar com a minha filha.

É luz dos meus olhos.

Adoro a minha esposa.

Isto tinha que ser.

Eu gosto de entrevistas.

É verdade,

não gosto,

nem fico muito nervoso.

Veio que aprendeste

com a avó Beatriz.

Aprendi que temos que ser

o mais sincero possível

com o público,

porque a minha avó

sempre foi artista,

ela faleceu há dois anos,

sempre foi artista de pista,

e foi ela que me assinou

a cantar,

me assinou a dançar na brincadeira,

e disse-me sempre,

respeita sempre o teu público.

O teu público é o principal,

meio de tu ter um sucesso

um dia mais tarde,

e eu leve isso até hoje.

Na altura,

que os meus pais continuaram o circo

quando eu tive na escola,

deixaram lá,

eu tive,

essencialmente,

dois anos com ela,

e ensinam muito a ter responsabilidade.

Uma coisa que eu leve até hoje.

Leve meu trabalho muito a sério.

Mesmo que às vezes

as pessoas pensam que é uma brincadeira

para fazer que não,

é tudo muito a sério,

é tudo muito pensado ao promenor,

mesmo que seja na brincadeira.

O que é que cantavas

e dançavas com ela?

Olha, o Manuel Seguinho,

na altura,

que é uma música muito antiga,

que é uma música já com 50 anos.

Quero o Manuel Seguinho,

é o as do pedal,

escreveu-se para dar,

bom da Portugal.

Quero uma coisinha

que ela cantava

quando era mais nova,

ensinou-me essas cantorias,

as cantorias mais tradicionais,

ensinou-me também

a brincar muito com os trocadinhos,

e ensinou-me a ser

uma parte do que sou hoje.

Ela conseguia dar-te o amor

que era preciso.

Sim, sem dúvida.

Ela e a minha tia Marlene da Altura,

que estava também presente,

deram-me um amor que citava assim.

E quando comeces a ter sucesso,

como é que foi a reação dela?

Muito orgulho.

É orgulho,

eu gostei de dizer que ela teve orgulho

do Saúl até falecer,

sempre que eu comprei assim na televisão,

ai, o orgulho do meu net,

e o mesmo para o meu net,

e tudo isso.

E um momento feliz que tenhas vivido

com a tua avó,

que te vem mais vezes à memória?

Olha, um momento feliz

foi o último que tivemos

muito pouco antes de ela falecer.

Foi o Valar da Televisão,

era lá,

não tricou com ela,

como ela fazia a malha dela,

estarmos a cantar,

levantar-lhe outra vez,

e me pelar a cantar novamente,

acho que isso foi um momento mais feliz.

O que é que esperas do futuro?

A nível profissional

eu espero subir cada vez mais.

Tem uma música minha

que é o Liberty,

que eu escrevi na pandemia,

que diz,

o céu é o começo.

A mim não é o limite,

é o começo.

Há muito mais para além do céu.

O quanto ao ver,

é andar.

Qual foi a decisão mais importante

da tua vida?

Foi meter na minha cabeça

o dia que seguiria em frente.

Cortares um laço com o passado?

Sim.

A dizer não.

Para,

já não dói,

vamos em frente.

Mas é uma decisão tua

decidir que já não dói?

Sim,

foi uma decisão minha mesmo.

Pensar mesmo,

para,

estou a aprender a coisas

que já passaram,

que já não vão voltar.

Eu disse,

mesmo,

deixe crescer um bocado,

corta esses laços

e segue em frente.

Porque senão estamos presos a isso,

uma vida inteira.

Estavas presos por amor?

Sim, sim, sim.

Estavas presos por amor e não só.

A minha principal preocupação

foi o porquê.

Foi eu,

foi alguém,

o que é que se passou?

Não era só o amor em si,

era mesmo o porquê.

E acho que é isso,

que me estava a dar a volta

à cabeça da auto.

Alguém te deve um pedido de desculpas

ainda assim hoje em dia?

Muita gente.

Muita gente.

Muita gente.

Muita gente.

Porquê?

As outras pessoas?

Porque sabem da realidade,

do que se passou

e decidiram voltar para o outro lado.

E eu acho que isso

é o mais difícil de absorver.

Tinha uma família enorme,

todos nos dávamos bem

e de um momento para o outro

ficasse sem ninguém.

Sem ninguém,

planta aquele lado

e sentes sozinho.

Não tens com quem desabafar,

não tens ligações,

quase nenhuma,

torna-se difícil,

mas vais aprendendo

e vais reconstruindo a tua família.

Isso é o mais importante.

Como é que é a relação

que estes irmãos hoje em dia?

Não temos muita relação.

Não temos.

Eu sei que é difícil

compreender,

mas é a realidade.

Dói um bocado.

Dói um bocado.

Dói um bocado,

tens uma filha, né?

E todos eles têm filhos,

pequeninos.

Todos podiam estar juntos,

a brincar,

a fazer aquilo que nós fazíamos

quando éramos novos.

E não tens nada disso,

custou um bocado,

mas são escolhas.

Há coisas que tu não perdoas?

Sim.

O que é que é fazer-te mal?

É o que me fizerem diretamente,

eu já nem digo tanto para mim,

mas diretamente aos que eu amo.

Isso aí

é cortar na hora,

da hipótese.

Tu pediste desculpas

a todas as pessoas

a quem queres pedir?

Pedir

e continuar a pedir.

A quem merece.

Não.

O que é que tens medo?

Do futuro.

Engraçado, tenho medo.

Não sei o que é que virá daí.

Tenho medo,

mas ao mesmo tempo

o esperançoso que ele chega,

para ver o que é que vem

e para ver se estou à altura

dos desafios.

Se fosse garantido

uma resposta

a uma qualquer pergunta tua,

o que é que tu querias mesmo saber?

A realidade.

Do que se passou.

Neste momento.

E se podia ajudar

a ter uma vida mais tranquila

para o futuro?

Ou para se igualar,

fechar-se esse capítulo?

Era fechar de vez, sim.

Tanto para mim,

hoje estar aqui contigo

é fechar este capítulo

de uma vez por todas.

Não vale a pena estar

a falar mais disto.

Ainda sonhas um dia

ver a família reunida

ou achas que isso já não é possível?

Poderá ser

através da minha filha.

Por enquanto não,

que enquanto ela não tiver

estrutura psicológica para isso

e para compreender

o que se passou

e perceber o que se passou,

não acho que haja essa reunião.

Um dia mais tarde,

quando ela tiver

a percepção das coisas

e perceber,

se me disser assim, pai,

eu quero ir com esses meus avós.

Eu sou o primeiro a pegar nele

e leves lá.

E é isso, cara,

aí essa reunião,

mesmo que seja simbólica para ela,

pode haver,

mas do meu lado, não.

Do lado contrário,

nunca acusaram

conhecer a letícia?

Não sei.

Sou de sincero.

Não sei porque,

como deves calcular,

não tenho contacto nenhum.

Sei de algo que as pessoas falam

e eu vou ouvindo.

Tenho esse respeito

e agradeço-te esse respeito

ou é mesmo falta de interesse.

Vocês estão em Portugal?

Sim, estão em Portugal.

Isto sim.

Isso dá mais valor à família

que tu,

próprio construíste,

com marines e com a letícia?

Sim, sem dúvida.

É o vosso núcleo?

É o nosso núcleo.

Ali,

só entra quem nós queremos,

nós fazemos as nossas coelhas,

certas ou erradas,

isso aí,

é defender o que é nosso.

E melhor que nós,

para defender o que é nosso,

acho que nós.

Se tivesse que dizer

alguma coisa ao miúdo Saúl?

Sim.

O que dirias?

Continuar a fazer o que tens feito,

porque não me arrepende nada do que fiz.

E se tivesse que dizer alguma coisa

ao jovem Saúlo de 18 anos,

o que acabou de descobrir o que descobriu,

o que lhe dirias?

A luta.

Porque a luta traz felicidade,

traz aquilo que tu sempre sonhas.

O que é que tu precisas na vida ainda,

para ser mais feliz?

Viver muitos anos para viver

com a Lá da minha filha

e vê-la crescer.

Acho que é isso que eu preciso.

Não preciso mais nada.

O resto vem pela igreja.

O que é que lhes é?

Estas olhos?

Para lutar,

porque as adversidades da vida são muitas.

E com força de vontade,

chegas onde tu quisers.

E ninguém te consegue derrubar.

Obrigado.

Feito.

Libertei-me, caralho.

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Foi o primeiro artista jovem português a atingir a tripla platina com 120 mil cópias vendidas em três meses. Diz-se “saudosista dos sorrisos das pessoas”, numa altura em que subia aos palcos apenas para se divertir e extender a sua alegria e juventude a quem o apludia. Confessa que nos dias que correm já não come bacalhau, ou não tivesse sido o seu maior hit de sempre o conhecido 'O bacalhau quer alho'. Filho de família circense, recorda os dias em que “os leilões de garrafas, nas terras por onde passavam, eram a garantia de comida na mesa no dia a seguir”.

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