Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer: Os livros da semana: Lobo Antunes, Gramsci, guerra fria e algoritmos

Joana Beleza Joana Beleza 10/28/23 - Episode Page - 8m - PDF Transcript

Os livros da semana têm o patrocínio Renault-Etec.

Está na altura dos livros, e eu trago esta semana um calhamaço que se lê ávidamente.

É mais uma reunião de crónicas de António Lobantunos.

Creio que já é o sétimo volume de crónicas do escritor e é conhecido o quase desprezo

com o que Lobantunos sempre se referiu a este género que considera menor na sua produção

literária.

Ele tem que chamar-lhe à sua piscina para crianças, por contraponto, imagina-se, à

piscina dos grandes, que são os romances que publicou desde a estreia em 1979 com a

memória de elefante.

Evidentemente, estes textos são de outra natureza, textos que escreveu para a imprensa,

mas encontramos neles o tom, a cadência e as obsessões que identificam de imediato

a escrita de Lobantunos.

Esta reunião de crónicas é seguramente a última, recolhe textos de 2013 a 2019, Lobantunos

depois de 2019 deixou de escrever o texto semanal que saía na revista Visão.

E o que se sente aqui é uma intensidade emocional que podemos entender como uma espécie de

despedida.

Há muitas crónicas de despedida neste volume, despedida de amigos, despedida de familiares,

uma das mais tocantes, despedida do irmão João Lobantunos, despedida de lugares, despedida

de memórias de infância, são textos de um equilíbrio muito delicado entre um tom

declaradamente confesional e os pregos do sentimentalismo, pregos evitados por Lobantunos

com uma boa dose de ironia e uma notável capacidade de fintar o lugar comum.

As outras crónicas de António Lobantunos, prefácio de Daniel Sampaio e edição de

Don Quichote.

O João Miguel Tavares traz também um calhamaço com uma evocação do período da Guerra

Faria.

Exatamente.

E quer começar por declarar que o meu calhamaço é maior do que o do Carlos Vaz Marcos.

Este calhamaço tem 1.100 páginas, notas incluídas é da autoria de Luis Menet, ele é um acadêmico

americano mas é daqueles acadêmicos que também escreve Pânio Yorker, portanto, que sabe bem

domina as técnicas de jornalismo e do histórico e tal, e o que faz deste livro particularmente

interessante.

Ele já tinha ensaiado num livro anterior chamado da Metaphysical Club uma história intelectual

e cultural da América entre o final da Guerra Civil americana e o início da Primeira Guerra

Mundial e esta é uma história cultural intelectual entre o final da Segunda Guerra Mundial e a

Guerra do Vietnam.

E ele mistura tudo, portanto, embora o calhamaço seja bastante impressionante destas suas 1.100

páginas, ele na verdade é feito de pequenas histórias, de pequenas biografias e portanto

há aqui um pouco tudo a George Worrell e a Elvis Presley e ao Bonnie and Clyde e portanto

o filme e portanto tudo se cruza à economia, com a política, com a filosofia, com o cinema,

com a música e é realmente uma obra fascinante e bastante imponente e nunca aborrecida apesar

das suas 1.100 páginas e é uma edição de El Sinor.

O Pedro Mexia sugeram umas memórias do cárcer mas não hoje de Camilo.

Não, não são os cadernos do cárcer do Gramsci, um jornalista, filósofo, teórico,

deputado, ativista, marxista, fundador do Partido Comista Italiano e que passou os últimos

10 anos da sua vida, um bocado jovem, porque eu passou os últimos anos da sua vida preso

durante o fascismo e escreveu 3.000 páginas de testes e de fragmentos sobre a que a condição

operária, as classes subalternas, como ele dizia, que são as jornalistas em Itália,

a eleição carégia católica e a filosofia da história e este é o primeiro, é o primeiro

volume dessa, de uma, penso que será uma atologia, dessas 3.000 páginas que acabou

de sair e é um autor que tem dois caracteristicas muito interessantes, que é, sendo um marxista

absolutamente fundador, é também de certa forma um marxista crítico, que estava, passou

muito tempo, já sem responsabilidades políticas diretas e portanto tinha uma espécie de latitude

que o fazia fugir à linha justa e em segundo lugar é um dos autores de esquerda mais erlidos

à direita, porque causa do seu conceito de hegemonia cultural e da maneira como se

vencem as batalhas políticas através da batalha cultural, às vezes lido por pessoas

que não haviam ler livros, mas isso é outra coisa.

O Ricardo Raul Espreira recomenda um livro sobre o elemento mais discreto mas decisivo

da tecnologia que estamos a viver.

Exatamente, são as duas, as duas coisas importantes, discreto e decisivo, é um daqueles livrinhos

da Fundação Francisco Esmerales de Santos, chama-se Algoritmos, do Diogo Carose de Andrade

e é sobre isso, sobre esse bicho, esse bicho invisível, homen e presente, que está em

muito mais cítios do que a gente imagina, que se chama Algoritmos, sabe muito, sabe

muito de nós, a questão é como é que, é o que o livro fala disso, como é que ele

funciona, como é que condiciona, é mais uma manifestação de que a ficção científica

deixou a desejar, porque tal como o laser, os filmes de ficção científica do século

XX propunham que no século XXI nós iríamos disparar o laser contra seres extraterrestres

que nos queriam capturar e a gente chega ao século XX e verifica que o laser é disparado

pós pelos das virilhas, é a laser, de facto, mas o nosso inimigo e o inimigo é irritante,

é irritante e é um inimigo persistente.

Neste caso, a também se comprova que no exterminador implacável aquela ideia de que as máquinas

vêm, as máquinas no futuro vão dominar, dominar a nossa espécie violentamente, desmentem-se,

é uma coisa, é um domínio muito discreto, não é das máquinas, pelo menos até agora

não é das máquinas, é de meia dúzia de pessoas, há serviço das quais as máquinas

estão, mas é muito insidioso.

Ficam os algoritmos de Diogo Queiroz de Andrade e é um livro da Fundação Francisco

Manel Dostantes e assim se conclui mais uma reunião semanal, dois ou oito dias à mesma

hora, os mesmos de sempre, também em podcast, a qualquer hora e a qualquer dia da semana,

Pedro Mexias, João Miguel Tavares e Ricardo Braus Pereira.

Os livros da semana

tenham patrocínio no Etec.

Machine-generated transcript that may contain inaccuracies.

Na estante desta semana, a ficção foi posta de lado. As “Outras Crónicas”, de António Lobo Antunes, surgem como uma espécie de despedida do autor à “piscina para crianças” onde exercitava a mão para a arte (para ele) maior do romance. Um ensaio de grande fôlego contribui para se entender melhor como os Estados Unidos se tornaram a potência cultural dominante no período da Guerra Fria: chama-se “O Mundo Livre” e é da autoria de Louis Menand. Um outro ensaio monumental tem agora um primeiro volume em português; trata-se do clássico “Cadernos do Cárcere”, do marxista italiano Antonio Gramsci. Por fim, uma síntese breve sobre o elemento mais discreto (mas decisivo) da tecnologia que usamos diariamente: “Algoritmo”, aquela coisa (palavra que dá para tudo) que sabe mais sobre nós do que nós próprios.

See omnystudio.com/listener for privacy information.