TSF - Minoria Absoluta - Podcast: Os jovens e a habitação: as preocupações e as medidas "ilusórias" de Costa
TSF Radio Notícias 3/4/23 - Episode Page - 38m - PDF Transcript
Está a leito um novo executivo na TSF, em minoria absoluta, um programa com a geração
mais qualificada de sempre, fui roubar estas palavras ao Primeiro Ministro, ou seja, por
outras palavras, é a geração que influencia o poder político, mas ainda não tem poder
para decidir.
Quer isto dizer que são oito jovens que se juntam a partir de hoje para debater aqui
na TSF a política e as causas que defendem, João Maria Joané, André Braão, Francisco
Figueiredo, Maria Miguel Simões, Maria Escaja, Daniel Ferreira, Bianca Castro e Guadalupe
Amaro são a minoria absoluta que começa hoje, hoje com um programa especial, a estreia,
muito com todos, aqui à mesa na TSF são oito nomes, mas daqui para a frente todas as semanas
o debate é feito a dois, antes de mais, sejam bem-vindas e bem-vindos para o primeiro
programa, o tema só podia ser um, a crise na habitação e depois também do governo
ter apresentado o programa mais habitação e por isso começamos com o nosso socialista
de serviço, André Braão é líder da juventude socialista de Vila Real e, como ele gosta
de dizer, é funcionário público e tirou também direito na Universidade de Coimbra.
André, começamos a porti, neste pacote mais habitação faltam medidas que sejam direcionadas
para os jovens, porque há várias medidas neste pacote, mas nenhuma delas está definida
exclusivamente para os jovens.
Olá a todos e a todas, gostava de cumprimentar os meus colegas de debate e o Francisco também
que nos vai mudar.
A crise da habitação é uma crise noé propriamente nova, desde os 2015 que vemos um aumento
dos preços, o aumento das rendas e as causas acabam por ser variadas, não há propriamente
uma causa que nós consigamos definir como a central para este aumento dos preços, é
verdade com a inflação e com a guerra na Ucrânia, com a estabilização das cadeias de
fornecimento, vimos que a construção civil sofreu grandes entrares e, portanto, podemos
destacar essa causa, mas há muitas outras, eu diria, por exemplo, a proliferação eucalíptica
diria dos oligamentos locais, os próprios vistos gold, as centenas de milhares de casas
de volutas.
Mas eu te pergunto, é-se falta alguma medida direcionada exatamente para os jovens?
Sobre...
Porque são medidas gerais, aquelas que foram apresentadas por António Costa, e não há
nenhuma que seja exclusiva, por exemplo, ao longo da legislatura, António Costa,
por exemplo, apresentou o IRS jovem, desta vez neste pacote, não há nada que seja
exclusivo.
É um problema?
Não é um problema a meu ver, porque a Porto da Centicim, com o programa que ajuda...
Mas tanto a Porto da Centicim, como o programa Primeiro Direito, já lavão, não fazem parte
deste...
Já lavão, mas viram no orçamento de Estado alterações substanciais, portanto, ao nível
dos coeficientes utilizados, também dos limites de rendas, portanto, já em 2023,
no início, houve um esforço do governo nessa matéria.
Mas eu diria que a crise habitacional é de tal forma estenalizada, especialmente dos
grandes centros urbanos, que qualquer política de habitação que nós pensamos para o nosso
país, nós não podemos segmentar propriamente, se é verdade que os jovens precisam de habitação,
nós temos que há uma solução que é clara e que acho que todos nós aqui conseguimos
reconhecer qual é, que é a expansão do parque habitacional público, ou seja, o Estado
comprando e rehabilitando novos imóveis ou construindo de raiz, essa aí é a solução
central e portanto, mas nós sabemos que essa é uma solução custosa e morosa também,
portanto, temos que nos focar em medidas que, a curte e a médio prazo, consigam conter
esta crise habitacional. E uma dessas medidas é o arrendamento compulsivo
de casas de volutas. Faz sentido, por exemplo, que o Estado tenha tantos prédios vazios,
que são prédios do Estado e, por outro lado, agora com este pacote, que era, de alguma
forma, utilizar as casas vazias dos proprietários privados.
Sobre as medidas, em concreto, só uma nota importante dizer que isto é uma discussão
ainda abstrato, só acontecer um diploma legal e que podemos ver quais é que são os requisitos.
No final do março. E portanto, só aí que podemos ter um análise
mais cuidado e mais fina daquilo que são as medidas apresentadas. Mas essa medida acho
que me diga interessante. Eu acho que o argumento de dizer que há muito património de voluto
é um argumento que cola. E aliás, o Estado, através do Iru, criou uma equipa especializada
para fazer as levantamentos do património de voluto do próprio Estado, mas também
temos que perceber que muito desse património é um património que não tem propriamente
aptitude a um habitacional, dado às funções características do Estado, ou seja, o livro,
por exemplo, ainda ontem apresentou uma medida sobre a rolificação de quartais para ser
utilizado como habitação. E portanto, o Estado, o panorama, o tipo loger, o edifício
do Estado não é propriamente nessa ótica de aptitude a um habitacional.
Passamos para Francisco Figueiredo, é médica, um manista liberal, mas trabalha no Serviço
Nacional de Saúde, embora seja por obrigação, tendo em conta que ainda está no ano comum.
Exatamente. És de Vila do Conde, vieste para Lisboa. Quando
tiveste a procura de casa, percebeste que de facto o mercado não resolve o problema
na habitação. Olha, Francisco, muito obrigada pelo convite,
é um gosto de estar aqui, é desafiante, mas estou muito feliz por aqui estar. Em relação
com o jovem, é desafiante ver que o mercado não responde, mas também o governo não
responde, porque nós vamos ver aqui o plano da habitação. E eu, enquanto jovem, procura
a casa, não podia estar mais angustiada. E eu pego neste programa, não no Power Point,
mas sigo nas 27 páginas que estão para a consulta pública e vejo 5 medidas gerais,
depois mais medidas ali explicadinhas e que diz ao objetivo e como funciona. E eu não
vejo ali naquele programa nenhum, por exemplo, problema identificado, com dados e estatísticas.
O que é que nós pretendemos aqui resolver? Depois não percebo porque são aquelas as
melhores alternativas, também não está lá explicado. E depois fico angustiada porque
não percebo o que é que, que impacto é que vão ter aquelas medidas, ou seja, porque
o próprio programa que apresenta soluções não diz que impacto é que estas soluções
vão ter, quando vão ter e como é que o app vai ser aplicado, faltam dados que justifiquem
estas medidas. Portanto, tal como o fundo, como o André estava a referir, António Costa
sempre foi uma preocupação, António Costa, em 2016 até teve o fundo de reabilitação
que era para reabilitar casas e pôr no mercado, só que há os dados de 2020, zero casas,
zero arrendamentos, e portanto acho que sim a solução estará no mercado. Estará no
mercado várias coisas. Por quê? Porque essencialmente faltam casas. Faltam casas, a Portugal tem
uma das densidades habitacionais mais baixas da Europa, e nós temos que criar incentivos
públicos para investimentos privados para aumentar esta, esta, esta falha no mercado.
E o que, e como é que nós vamos fazer isto? Ou seja, primeiro temos que desbrocaratizar,
primeiro que se consiga um licenciamento, estamos aqui anos e anos e anos, e uma coisa
que eu até te avalei num artigo do Guimarães Pinto e do Gonçalo Vicordeiro, foi aqui uma
análise um pouco proverta do que acontece. As pessoas têm um lugar, não é? E primeiro
que aguardem enquanto estão a aguardar licenciamento e já estão a pagar impostos sobre aquela
propriedade, não vão conduzir, ou seja, parece que às vezes eu não vou dizer isto,
não acho que seja de propósito, é sim pela esta enorme brocratização que há do processo.
E depois temos aqui que pensar em outra coisa, o que também o governo pode fazer? Nós temos
um país altamente centralizado em Lisboa, e obviamente as pessoas vão querer procurar
emprego onde existem mais oportunidades para elas, e por isso aqui nós temos que resolver
o problema da habitação e as suas causas que são várias, e uma delas é também as
pessoas quererem se concentrar nestes meios para avançar com a sua vida, portanto vamos
ter que descentralizar, em Farmed já vai estar de paral-ports. E outra das questões
que eu não posso deixar de falar é o salário, nós neste momento não conseguimos comprar
a casa nem este mercado está desfavorável para nós, porque nós portugueses não temos
um bom salário, e enquanto não haver crescimento económico para tal, não vamos conseguir também
concorrer neste mercado, portanto e também outra coisa que eu vejo no mercado, efetivamente
constroem-se casas, mas pelo menos o que eu vejo aqui em Lisboa parece que estamos a
beneficiar apenas um mercado luxo, e que só, por que? Porque parece que os constatores
só lhes dão lucros, e por que? Porque temos tantos licenciamentos, tantos brocracias,
tantos impostos, que parece que só compensa ter estas casas, esses valores extraordinários
que não nos permite a nós, jovens, participar e entrar neste mercado.
Maria Miguel Simões, é a nossa conservadora moderna de serviço, ou como ela prefere uma
conservadora desconcertante, vamos perceber ao longo dos próximos episódios o que é
que isto quer dizer, mas concordas com esta ideia da Francisca, que o verdadeiro problema
está nos salários? Então, antes de mais, obrigada pelo convite,
é sempre bom ter um programa com jovens a falar sobre os temas que são importantes.
Em relação aos salários, eu acho que sem dúvida os salários são um problema, não
é? Se nós não temos poder de compra, se nós não temos salários que nos permitem
dar uma entrada para uma casa, dar um andientamento para rendas, como é óbvio, não vamos conseguir
encontrar casas, seja através de rendas, seja através da compra, portanto eu acho
que é concordante que os salários, de facto sim, são um problema e são na entrada dos
jovens e acho que dos jovens e, não só dos jovens infelizmente, para conseguir de facto
alcançar uma habitação digna. Tu és militante da Juventude Popular,
ou já não és, mas já foste no passado. Deixem-me perguntar-te se concordas com a ideia de que
o direito dos cidadãos têm sido de alguma forma atingido com este pacote da mais habitação,
desde logo por causa da proposta para o arrendimento compulsivo de casas de volúteis.
Então, eu acho que a habitação é um direito e gostava de ver a direita mais a defender
o direito à habitação que o direito à propriedade. Contudo, eu entendo que o direito à propriedade,
no caso do setor imbiliário e no mercado de habitação, seja um tema importante, porque
eu acho que se fala pouco nisto, o setor da habitação, em dez poucos setores onde
o português comum consegue investir. Quase todos nós conhecemos alguém que tem uma casa
a render ou porque arredou ou porque mudou de casa, portanto, é um dos poucos setores
onde o português consegue buscar de facto mais algum tipo de rendimento. E aí eu acho
que é importante a direita de facto proteger os proprietários. Mas também quero ressalvar
que habitação digna e de qualidade indispensável, não só para o ambiente familiar, mas também
para uma sociedade que seja ordeira e coisa. Portanto, tem que haver um equilíbrio e acho
que a direita tem falhado muito nesse equilíbrio entre a noção de propriedade e a noção
de direito à habitação.
De alguma forma, como o PS acabou por dizer nos últimos dias, o direito à propriedade
não é absoluto quando existe uma crise como a da habitação. Concordas com esta ideia?
Sim, concordo. Eu não tenho problemas em acordar à esquerda ou à direita quando de
facto os tempos são de exceção e os tempos são de exceção. Eu concordo que estas medidas
musculadas sejam precisas. Acho que foi um pouco infantil da parte da direita ter logo
começado a puxar o discurso para o PREC, como se de repente o Estado fosse entrar para
dentro das casas das pessoas. Acho que seria útil para a direita começar a ter um discurso
mais menos infantil e mais concreto de medidas que fossem de facto mais produtivas. E também
não estar tão refém da questão do Tribunal Constitucional. Eu acho que a direita neste
caso tem estado muito refém do Tribunal Constitucional e faltam ideias à direita para além dos impostos
e dos imis que venham resolver este problema desta crise que está a ver no setor imobiliário
e da habitação.
Passamos para Guadalupe Amar, o ativista LGBT, definindo-se ideologicamente extremista,
mas socialmente mudurada. Pergunto-te, tendo em conta que a Ministra da Habitação, Marina
Gonçalves, é a Ministra mais jovem de sempre da história de um governo, este fator deixa
-te mais descansado, tendo em conta se ela pode ou não atender às reivindicações dos
jovens ou o que interessa, como diz muitas vezes o PCP, são as políticas.
Sim, é completamente indiferente. Em idade, como qualquer outra característica identitária,
é meio diferente para a forma como falem política, como interessa só as ações que
tomam e talvez sim também a sua própria ideologia. Sobre o trabalho que fez até agora, que na
verdade foi consistiu principalmente no Pacto da Habitação, eu acho que ninguém recebeu
com surpresa o anúncio de um Pacto da Habitação, ou um pacote medido sobre a habitação, porque
claramente, como já foi dito, tem sido dito e deve-se continuar a ser dito até que assim
o deste ser, a crise na habitação, é a maior crise que nós vivemos atualmente. E lá está
o governo, teria que fazer alguma coisa, sentiria que teria que fazer alguma coisa.
E o que fez, é o que tem parecido ser o melhor que nós podemos pedir desta maioria
absoluta do PS, que é a ilusão de que se está a tentar fazer alguma coisa.
O António Costa é tipo como se fosse o nosso próprio...
Mas não passa de uma ilusão, o pacote, é isso que estás a querer dizer?
Sim, sim. O António Costa para mim é o nosso próprio
adeninho, mete o povo português numa caixa, tipo aquelas senhoras assistentes dos mágicos,
e corta-nos o poder de comprar o meio. Mas sim, claro que o governo teria que sentir
que teria que fazer alguma coisa, exatamente porque é insatisfação e desespero das pessoas,
cada vez é mais, e lá está, sentiu essa motivação para tentar apazigual-o, cada
vez mais as pessoas se fazem ouvir, as pessoas claramente estão fartas.
Habemos de mostrar em força o dia 1 de abril nas ruas, convido toda a gente que seja ouvir
que se junta a nós, mas na verdade a única coisa que o governo conseguiu para mim é
meu ver, que é o seu talento mais admirable, é criar pontos de concordância entre todos
nós, criar um consenso de desagrado, de desagrada à direita, de desagrada à esquerda,
de desagrada em Quilines, de desagrada a senhorios.
Mas o que é que falta a este pacote? Falta um medidas direcionadas para os jovens?
Primeiro, acho que quero reforçar que é claro que é necessário uma intervenção
direta e imediata por parte dos estados no mercado imobiliário, de forma que haja de
facto uma resposta também imediata às necessidades da população que são absolutamente
urgentes no que toca a habitação, e esta é a única via possível exatamente pela
negligencia com que todos os governos até agora têm tratado o direito à habitação
que têm falado redondamente em algo crucial que é a oferta pública, e nisso têm falado
todos, PS é quem tem estado no poder há mais tempo, mas também PSD e CDS, o nosso
parque público habitacional corresponde a 2%, é dos mais baixos na Europa, sendo a
média europeia 12%.
Mas para isso contribui a tal proposta do governo para o arrendamento compulsivo
de casas-de-volutas?
Não, imagina, lá está a medida que tem criado mais polêmica deste pago.
Sim, mas o meu maior problema era aí que eu ia chegar até sobre essa promessa, porque
agora Antonio Costa e o governo prometem aumentar mais uma vez o parque público 2% para 5%,
enquanto em Viena, por exemplo, 60% da população que reside em Viena vive em habitação pública,
de que o parque público na Austria corresponde a 24%, em Paris, a Alemã da Saumentar, a
oferta pública de 25%, eu creio cerca para 40%, e aqui o governo quer amansar o povo
com uma promessa de aumentar 2% para 5%, que honestamente ninguém fora da máquina
de propaganda do PS quer acreditar que será possível, tal como será concretizada, tal
como as 7.500 casas que Antonio Costa prometeu em 2015, nenhuma delas foi construída, tal
como prometeu também em 2018 acabar com as carencias habitacionais até 2024, porque
é daqui a sete meses e mais uma vez comprova-se que não foi cumprido dos sobredimóveis
de volutos, também dos 4.000 imóveis de volutos que agora sabe que o Estado detém
há cerca de 4 anos, também prometeu ainda mais uma vez reabilitar-se, eu creio que 29
destes passados 4 anos foi aberto concurso público para apenas um deles, portanto, honestamente
o meu maior problema com este pacote medidas e que eu creio que seja, além de acreditar
que algumas são insuficientes, outras são dificilmente executíveis, outras são injustas
inclusive para alguns senhorios, sim, mas o meu maior problema com este pacote medidas
e que eu creio que seja o maior problema que as pessoas sentem sobre este governo e sobre
o PS no geral atualmente é já nem sequer-me ser possível acreditar nestas promessas sucessivas
do que algo que será feito, de que serão bem executadas ou executadas de todo.
E há pouco estávamos a falar sobre fórmios de luta, no grande propósito passamos para
Bianca Castro, é ativista pela justiça climática e esteve no fim de semana passado na manifestação
pela vida justa, numa altura em que há várias formas de protesto na rua, às greves também
de alguma forma têm parado o país, essa maneira de que os jovens têm para chegar
ao governo desde logo nesta crise habitacional?
Acho que é um pouco uma coisa transversal às crises que estamos a enfrentar, que lá
estão todas ligadas, portanto, tanto com a crise climática como esta crise habitacional,
a crise económica no geral, é já um facto comum de que realmente o sistema em que vivemos
não está a saber responder e aliás construiu estas crises, portanto, também em costume
dizer este sistema não está a falhar, foi construído desta forma, foi construído para
falhar às pessoas que acabam por ser as mesmas que pagam por estas crises.
E portanto chegamos a um ponto em que realmente o governo, os partidos políticos, o sistema
em si não sabe responder a isto, não é do seu interesse responder a estas crises e
por isso realmente vemos aqui esta abertura de ir para as ruas fazer a luta e realmente
eu pessoalmente pelo menos acredito na luta e na força do poder coletivo das pessoas
que realmente vai ser o que vai mudar o que estamos a enfrentar.
E acho que tendo em conta também as manifestações que estão agora a ser convocadas, nomeadamente
em relação à crise habitacional que é das mais urgentes, como já foi mencionado, é
já óbvio que o governo vai se apressar para apresentar assim um pacote de medidas que
no fundo fingem resolver esta crise, não é?
E queria também focar-me aqui um bocadinho em comentários sobre duas em concreto, em
que a primeira seria do controle do aumento das rendas, que é aplicado aos novos contratos
e abranjas casas que já estão no mercado nos últimos 5 anos, portanto é assim contratos
que são feitos agora, não têm este limite, mas acima de tudo sendo visto sobre o controle
do aumento e significa que as rendas podem se manter aos níveis que estão agora, que
já estão altíssimas e impossíveis de pagar.
Nós sabemos que de 2021 para 2022 a renda média em Lisboa aumentou cerca de 500€,
está neste momento em cerca de 2.000€ e quando vemos isto comparativamente ao salário
mínimo, isto é impensável, não é?
E depois também fico com esta dúvida, e eu neste momento estou a procurar de casa
também, felizmente e portanto diariamente há anúncias de quartos superbanais a 700€,
não há T0s a menos de 700€, 800€, há quartos de armários sem janela a mais de
4% e portanto o que é caso sequer aqui que margem aqui e sequer para aumentar, o que
é que nós estamos a limitar?
Não é?
Quando na verdade o que precisamos é de regularizar e baixar estas rendas, e se calhar se me
permites só para fazer mais um comentário relacionado com isto, mas em relação ao
debate e à proposta de mais construção, e só deixar também claro que nós não precisamos
de mais construção, e aliás segundo o Espresso em 2020 Portugal era o país da OCDE com mais
casas por habitante, ao mesmo tempo que 12,5% destas estavam vazias, portanto quando nós
falamos da falta de casas no mercado, na verdade estamos a falar da falta de casas
que as pessoas possam pagar.
Aproveitando até o teu exemplo, tendo em conta que estás à procura de casa em Lisboa,
vives em Lisboa, como é que um jovem consegue viver na capital, pagar um quarto na capital?
Neste momento a maior parte não consegue, e eu já...
Com a ajuda dos pais, por exemplo?
Também, mas nem toda a gente tem o privilégio de poder ter essa ajuda, não é?
E quantas pessoas, acho que todos nós conhecemos também, que não poderam vir estudar para
a capital, e acho que também, provavelmente há aqui pessoas que possam dar exemplos de
outras cidades, nomeadamente o Porto, em que também o problema está cada vez mais grave,
mas quantos não são os jovens que realmente não conseguem estudar por não terem acesso
à habitação nessas cidades, e até porque as residências universitárias apenas têm
espaço para uma percentagem muito pequena dos estudantes universitários que chegam em
cada ano.
E eu, pessoalmente também, desde que vim para Lisboa há cerca de cinco anos, tive
um ano em cada sítio, portanto também não tive lá muita sorte com a minha situação.
E realmente, muitas vezes, temos de recorrer à questão de ter, sim, não ter contrato,
ter situações mais complicadas, e depois também não temos segurança nenhuma, mas
depois também temos aqui a questão dos despesos, dos estudantes que são despejados, famílias,
são crianças que estão a ser despejadas, e pessoas que têm de fazer as escolhas horríveis
entre pagar a renda ou pagar a sua alimentação e os seus medicamentos, por exemplo.
Daniel Ferreira é, de fim de se, como marxista, leilinista, sportinguista, e diz que defende
o movimento real que supera o atual estado das coisas.
Como é que o movimento real vai conseguir resolver este problema da habitação?
Ora, o movimento real que supera o atual estado de coisas é algo que Karl Marx definiu da
época.
Agora, é uma situação da ideologia alemã, como o sinónimo de uma palavra, essa palavra
que coloca tanta esperança no item de medo de outros, mas sobre mim acho que não tem
grande coisa a dizer.
Acho que este início, esta apresentação ficou muito bem.
Bom, em relação ao problema da habitação, em primeiro lugar, acho que é preciso alguma
desmistificação acerca de como é que chegamos até aqui.
Ou seja, criaram-se dois tipos de narrativas, para o bem e para o mal, uma parte na parte
mais da direita liberal, outra mais da parte da esquerda, sendo que, supostamente, e isto
mais vindo da parte liberal, falavam de Lisboa até por causa do exo que houve durante algumas
décadas no final do século XX e mesmo no início do século XXI, e que suposamente
foi o aleijamento local que veio reabilitar Lisboa, foi o aleijamento local que fez Lisboa
uma cidade bonita, e acho que é preciso primeiro desmistificar esta ideia, porque nós se
pensarmos, é verdade que até a certa altura, aquilo que nós hoje conhecemos como a Lisboa
bonita, não existia e começa em grande parte com a Expo 98, começa também com outros
projetos habitacionais no início do século XXI, começa com a melhoria dos transportes
públicos, começa também com a erradicação das barracas, e isso em grande parte por responsabilidade
da Câmara Municipal de Lisboa, já agora. Agora, isto tudo enquadrou-se num projeto
que obviamente não trouxe só com as boas, também trouxe algumas externalidades negativas
e entre as externalidades negativas estava estevo ao aumento das rendas, que começou
não apenas com o embolesamento da cidade, mas também com a liberalização das rendas,
por exemplo, com a Leicristas, que nunca achou a ser revertida, e começou também com digamos
na continuidade deste projeto, que acaba por deixar Lisboa como uma cidade mais reservada,
e aqui isto não é apenas culpa do aleijamento local, não é apenas culpa do boom do turismo,
aqui enquadra-se também o papel do Estado, porque o Estado também tem, até porque
é da parte do Estado, tem a vinda de liberalizações e a não-reversão das mesmas liberalizações,
e até, por exemplo, eu até alergaria aqui a discussão, por exemplo, para os transportes
públicos no projeto da linha circular do metro, que acaba por segregar, digamos assim,
os conselhos de limítrofes e outros conselhos da área metropolitana de Lisboa, quase que
deixando, digamos assim, transportes de segunda e outra forma de viver Lisboa para quem trabalha,
para quem vende de fora, diferente daquela de quem, de facto, pode residir em Lisboa.
Mas deixem-me perguntar-te-se, ao contrário da Bianca e da Guadalupe, vejo pontos positivos
no pacote-mais-habitação.
Bom, o pacote-mais-habitação...
Ou seja, se pode ou não resolver problemas dos jovens para o futuro?
É sim, nós sobre esse pacote ainda não temos muitas informações concretas sobre políticas,
isto parece mais que foi, enquadrando-se também naquilo que tem sido a ação do Partido
Socialista nos últimos anos, a localização de um problema, a localização de um debate,
e o, ok, há aqui uma emergência e nós temos que atuar imediatamente, então o governo resolveu
anunciar um pacote de várias políticas, que iam virar isto do ao contrário, que iam
destes coisas onde toda a gente concorda com a desburocratização e tudo mais, e a facilidade
dos licenciamentos, até, por exemplo, isto, pronto, uma parte mais para agradar à direita
e outra parte mais para agradar à esquerda, da questão das casas devolutas e do arrendamento
compulsivo.
Agora, lá está, isto foi anunciado numa altura de emergência para o governo dizer, ok, nós
vamos fazer alguma coisa, isto são as nossas prioridades, políticas concretas, nós ainda
não sabemos, e provavelmente, eu digo isto, não sei, se calhar já tem políticas em
mente, apenas ainda não as anunciaram, pronto, no fundo é esta ideia, a ideia do nós temos
aqui um problema, nós vamos combater este problema e, pronto, as políticas depois,
logo que se vai vendo.
Deixem-me perguntar-te, um comentário, queria um comentário que esteu muito rápido, Lisbonto
Negro, há uns dias, em comentário a este pacote, disse que António Costa tinha uma
faceta de comunista, concordas com esta ideia?
Bom, há uma coisa muito engraçada, na direita portuguesa, especialmente nos últimos anos,
que é a tendência a comparar situações que existem em Portugal com situações de
países socialistas ou de países de esquerda, é muito comum, a começar por esta situação
de Lisboa antes do algeamento local, que às vezes só falta pôr em aquelas fotografias
que às vezes vêm da vana depois de um furacão com tudo destruído e a dizerem que é isto
o comunismo, depois é o orrendimento, dizem que parece RDA, a visualização, pronto, a
gosta-se muito de atirar, digamos, este rótulo, talvez porque Portugal, como nunca teve assim,
provavelmente o regime autoritário de esquerda convém ir buscar exemplos de fora, no entanto
obviamente isto sendo uma medida que em alguns pontos exige a intervenção do Estado, ou
mesmo em quase todos, porque é um pacote medidas do governo, tem efetivamente uma, digamos,
uma veia de certa forma estatista, agora, obviamente isso não tem nada que ver com qualquer política
socialista ou qualquer política comunista mesmo, e portanto eu, agora, ia dizer...
Não concordas, portanto, com o Lisboa Antonego.
Não concordo.
Vamos passar para João Maria Jorné, é consultor político, foi considerado pelo
expresso um dos, uma das 50 pessoas que pode definir o futuro, considera-se um centrista
inveterado, mas não invertebrado.
João Maria Jorné, para reduzir a pressão habitacional nas grandes cidades, como é
o caso, por exemplo, de Lisboa, o teletrabalho pode ser uma solução.
Obrigado, Francisco, por ler os meus tweets, acho importante.
Alguém que os leia, não é?
Para mim é uma solução importante que já está a ser pensada com pés e cabeça no
plenimento urbano-americano, por exemplo, para garantir que se consegue requalificar
o centro das cidades para a habitação e se reduz o número de escritórios e, pronto,
locais físicos de trabalho que acabam por empatar muito património imobiliário nas
grandes cidades particularmente, as capitais ainda têm mais este problema pela centralização
de serviços governamentais, portanto, sim, acho que era uma aposta interessante, acho
que Portugal ainda tem um caminho muito grande a fazer para apanhar a cultura de trabalho
remoto que há no resto da Europa.
Mas a pandemia foi pelo menos uma porta de entrada?
Sim, não, porque se não me parece que o nosso cidadio empresarial tenha, como em tudo o
que é inovação, tenha aceitado, minimamente, alterar comportamentos, fez ali uma pausazinha
e voltou aos comportamentos anteriores, porque o cidadio empresarial português tenta ter
os mesmos comportamentos desde o século XIX, sem grandes alterações.
Luiz Montenegro foi muito crítico deste programa do governo, mais habitação, já falámos
aqui disto, por exemplo, Luiz Montenegro acabou por dizer que António Costa tinha uma faceta
de comunista, que virtudes é que vejo neste programa, ou se vejo alguma?
Bem, eu para já não vejo virtudes na rotulagem de comunista, de um senhor que faz flat taxes
para uma das digitais, parece-me uma coisa algo abstrusa, mas nada que surpreenda da
parte do líder do PSD.
Quanto ao programa em si, acho que é importante o governo demonstrar a ambição de fazer
alguma coisa quanto ao problema da habitação.
Acho muito monotomático no tema da habitação, acho que o tema dos transportes públicos,
que o Daniel já tocou um bocadinho a bocado a falar do metro, os transportes públicos
seriam uma aposta essencial para reduzir a pressão habitacional no centro das cidades
e para garantir que as pessoas podiam viver a 50 minutos das cidades com boa qualidade
de vida.
Infelizmente não temos essa aposta da parte do governo, temos uma, como também foi referido,
uma aposta em tornar cada vez mais rápido os percursos dentro das grandes cidades e
nunca para as periferias que estão completamente abandonadas.
Temos um plano de ferro ao via, que também não há um plano de ligar as cidades umas
às outras para trabalhar, é um plano só de conseguir ligar minimamente Portugal,
porque nem isso está feito.
Portanto, acho que aí o governo falha por não conseguir ligar duas políticas, como
é muitas vezes o caso nas políticas públicas em Portugal, são algo desgarradas umas das
outras e depois acho que avaliando política à política há coisas que não me fazem
sentido nenhum e que não conseguem tirar nada apesar de poderem ser boas ideias, a
ideia de tentar reduzir os incentivos ao alojamento local seria interessante se não se acabasse
também com as novas licenças do alojamento local que aumentam, aumentam brutalmente
o valor de ter uma licença do alojamento local.
Quem é que vai querer perder uma coisa que nunca mais pode fazer?
E quem é que vai querer por um misero incentivo fiscal de transformação habitacional querer
fazer isso?
Acho que as políticas parecem nem sequer, não estão pensadas para lá setorialmente
e nem sequer setorialmente estão pensadas umas com as outras e isso preocupa-me bastante.
Há propostas que eu acho que têm uma intenção boa, o querer acabar com o problema dos
devolutos, acho muito importante em Portugal, Portugal é dos países de Europa que têm
mais problemas com isto e isto tem a ver com a lentidão da justiça na resolução
de partilhas, tem a ver com...
Não ves que a inconstitucionalidade nessa medida é sido a grande...
Eu não sou constitucionalista, podemos me trazar aqui para o resto do programa, há
coisa de que se me perguntar se eu vejo inconstitucionalidade ou não, não vou saber dizer.
Há certos problemas que há uma boa medida, uma medida importante.
Acho que a intenção é boa, identifica um problema importante em Portugal que é o
parco urbano devoluto que podia ser reaproveitado, o governo por exemplo esteve vários anos
a adiar uma medida que passou durante o governo para a escolha do ordenamento do território
que acabava com o espaço urbanizável e essa medida ia incentivar a que se especulasse
menos no espaço urbanizável e se reconstruísse mais e se requalificasse mais no espaço urbano.
O governo andou seis ou sete anos a empurrar essa medida com a barriga e a deixar que a
especulação acontecesse porque dava jeito para o equilíbrio das contas públicas
que parece ser a única política pública que interessa e pronto e tenho pena que isso
aconteça, tenho pena que essas políticas sejam um bocadinho mais para a Inglês ver
do que pensadas com todos os setores e com todos os partidos até.
Maria Escaja é deputada municipal em Lisboa pelo Bloco de Esquerda e também apoiante
de Mariana Mortágua para a liderança do partido.
Sim.
Vamos começar pela...
E promotora cultural.
Vamos começar pela política local, no caso de Lisboa, Carlos Moedas, ao longo da campanha
para as eleições autárquicas que acabou por vencer, apresentou uma medida para a
isenção do EMT jovens até aos 35 anos para a compra de casa própria, até aos 250 mil
euros.
Não é uma boa medida?
Esta?
É uma medida, primeiro que tudo, é muito pouca eficaz e aliás uma das coisas que
e propusemos foi que a verba desse imposto, ou seja, do que fosse arrecadado pelo EMT,
que fosse aplicada em projetos de habitação e de facilitação dessa habitação, portanto
é uma medida, no fundo é uma medida que fica muito bonita no papel mas que depois
na prática, quantos é que são os jovens neste momento que vão comprar uma casa de
250 mil euros e quantas casas de 250 mil euros é que é em Lisboa e que podem ser compradas
por jovens?
É muito bonito, é muito fogo de vista mas na prática...
Portanto é uma medida fora da realidade, principalmente pelo Lisboa.
É, é.
Acho que nos últimas semanas ou nos últimos meses todos podemos acompanhar a explosão
de notícias sobre a crise da habitação e sobre o preço das casas, tanto para render
como para comprar e acho que todos sabemos que casas de 250 mil euros para jovens em
Lisboa são uma agulha num palheiro, é uma medida, é uma medida, não diria populista
mas é uma medida vazia.
Deixam-me perguntar-te, ao longo do teu percurso educacional estivesse em Nova Iorque, estivesse
a estudar quatro anos?
Sim, estive a estudar e depois estive a trabalhar em restaurantes como qualquer pessoa que sou
da representação nos Estados Unidos.
Estiveste a viver num T0 com uma amiga?
Estive.
Deixem-me perguntar-te, em relação a esses tempos de Nova Iorque e àquilo que se passa
hoje em Lisboa, qual é que é o teu termo de comparação?
É uma pergunta muito engraçada porque eu estava no outro dia a dizer a uma amiga minha
que também viveu lá que a sensação que eu tenho é com o mercado de imobiliário
de Lisboa, a sensação em relação ao mercado de imobiliário em Lisboa se estava a aproximar
muito com aquilo que nós sentíamos lá, que era contratos não renováveis, que quando
acabam os senhores que eram a aumentar muita renda e tínhamos que sair, ao mesmo tempo
encontrar uma casa era uma impossibilidade, as pessoas que viviam, ninguém conseguia
viver sozinho no fundo, aliás, uma das coisas muito curiosas era que pessoas começavam
a namorar e passado um mês ou dois já estavam a viver juntas porque não dá para fazer
de outra forma.
Era uma necessidade quase.
Sim, e ter colegas de casa era uma necessidade, eu vivi, acho que como assim, de colegas
de casa que tive foi de três, dois ou três e é muito estranho, ou seja, eu cá também
vivi de casa mas vivi com uma amiga, lá vivia com pessoas, cheguei a viver com pessoas que
eu não conhecia lá nenhum, inclusive a minha primeira casa, depois percebi que quem nos
olgava a casa era uma pessoa que fazia a coleção de olhos de vidro, ossos de tubarão e arame
farpado e ferramentas para molar arame farpado, portanto havia assim situações que podiam
ser até perigosas, mas o que eu tenho notado e o que eu tenho notado na forma como as pessoas
procuram casa e no desespero é muito parecido com o que passei lá, sendo que há muitas
diferenças entre as duas cidades e acho que Lisboa merece mais do que o paraíso neoliberal
dos Estados Unidos da América.
E é com esta ideia que terminamos o primeiro episódio da Minoria Absoluta que está disponível
em permanência no site da TSF em tsf.pt.
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Edição de 04 de março 2023