Alta Definição: Melância Gomes: "Fui abusada por uma pessoa da minha família. Pedi ajuda e ninguém me deu"
Joana Beleza 3/19/23 - Episode Page - 50m - PDF Transcript
Mas ainda está-se aqui
Bem-vinda, Melânia
Obrigado
Soldado ao seu dispor
Melânia, vamos?
Trinta e oito anos estou como sou, no Alta de Cinsa
Eu voltei para terminar o comissário
Eu quero muito ver as cenas que não vão para o ar
Oh, e as cenas que não vão para o ar são tão boas
Giga!
Ai, cuida-me, eu não cheguei a isso da moda muito
A personagem foi evoluindo e, de repente, aparece ali uma militar muito rígida
E com muitas surpresas, até ao fim
Até para mim, que sou cinturão boneco
Em três artes marciais diferentes
Está dá-me muito gozo
Está, está-se muito bom
É uma novela muito boa
A Vogue Price!
Tanto gozo como no domingo à tarde?
Sim
Com energia positiva, à tarde
Com voltada, com alegria
Eu não tinha noção da companhia que este programa faz às pessoas
É uma festa de tão genuídas
São autênticas
Eu estou em festa, ou estou numa real, ou estou numa rumoria
É essa a sensação
E para poder comer aquelas comidinhas maravilhosas e deliciosas
Tu não faz a jogo nisso?
Foco
Até ia mais me deixar, sim
Mais?
Entre ti o João Paulo, quem é que vai mais?
O João ainda está à frente?
Não, está ali
Ah, Mademada
Não sai daqui sem dar uma detrás a mim
E fazes o programa muitas vezes com grande sacrifício
Continuas com o peça de teatro?
Sim
Qual foi a maior loucura que tu fizeste?
Ah, estar muito doente, quase sem voz
Ter feito um espetáculo em viseu
Ter vindo as madrugadas, cheguei às 5 da manhã
E acho que estava nascido para fazer o programa da manhã
Fiz-o da manhã, fiz-o da tarde e à noite fui para o Politiamo
Ter sentido, períodos, sem trabalho
E saberes o que é que te gostou até chegar até aqui
Das ainda mais importância às coisas que tens
Agarras com todas as forças
Agarro, sempre agarrei
Mas eu acho que quando não tive trabalho, serviu para perceber
Que são momentos
Há momentos que não temos nada
E também se não estamos a ter
É por alguma coisa
É para a gente pensar, para a gente se organizar
Se isso aconteceu, é importante
Que é para depois também ter esforço e agarrar
Se estás bem quando está tudo a acontecer
Ok, agora está tudo a acontecer
Então vamos lá, vamos com gratidão e com alegria
Fazer o que é suposto
Se isto está no teu caminho, se está a aparecer
É por algum motivo
Você pretende que a tua filha reconheça em ti
Essa capacidade de trabalho e essa capacidade de ir à luta
Eu quero que a minha filha seja feliz
E que tenha força
E que saiba falar
Ela não falava
E eu todos os dias relatava para ela
Como é que tinha sido o meu dia
Lá em casa nós conversamos
Sempre, ela quer saber
Qual foi o momento mais preso do meu dia
O que é que eu não gostei
O que é que me dedes de triste, de alzangada
Por isso é que ela vai fazer 4 anos e fala
E utiliza entretanto, sobretudo, acima de tudo, no entanto
E a comunicação é muito importante
E ouvir, ouvir as crianças
Todas as crianças têm coisas para dizer
Que estamos a criar uma alma do zero
Tudo é possível
Aquela pessoa pode fazer diferença no mundo
Nós não sabemos
Temos que lhe dar ferramentas para ela
Crescer com segurança
Com força, com vontade, com atitude
Eu estou aqui, não é?
Estou aqui para tudo o que for preciso
Mas vá lá, vá lá
Eu estou aqui para tudo o que for preciso
Mas vai, experimenta
Que deve ser das coisas que eu mais digo
Isso aí, filha, experimenta
Se não gostar, depois não copes
Ou se não quiser, depois não faz
Mas experimenta
Ou aquelas coisas que nós dizemos aos meus
Ai, cuidado, cara
Não é cuidado
Vai que eu estou aqui
Se estiver que cair, cai
E a informação do que é que está certo
O que é que está errado
O que é que é possível, o que é que não é possível
E acho que isto é importante para os pais, os educadores
As pessoas que estão à volta das crianças
Estamos talinhados caramba
Nós, numa era de conhecimento, de informação
Não vale a pena perguntar
Investir aí e evitar mais à frente
Todos os problemas
Sempre quisesse ser mãe, tu?
Eu não queria ser mãe
Eu queria ser uma boa profissional
Queria ter disponibilidade
Achava que ser mãe poderia me prender
E me pedir de voar
E eu sempre tive muito medo de falhar
E ser mãe é...
Por um momento que a gente com queira
Falhamos
E às vezes passamos uns da cabeça
E fazemos coisas que não queríamos
E nós choramos e pedimos desculpa
Olha, gritei contigo, não devia ter grito
Eu peço desculpa
E vamos para a próxima fazer melhor
Mas eu não queria ser mãe
E demorei muito tempo a encontrar a pessoa
E mesmo depois de ter encontrado a pessoa
Também demorei mais dez anos
Até sentir que sim
E que era uma possibilidade
Que eu estava a abrir também
Muitas feridas, minhas
E de criar uma pessoa especial
Não sei, forte, forte
Só quero que a minha filha seja forte
O parto foi como sonhaste?
O parto foi melhor do que eu sonhei
Aqui foi a coisa mais rápida da vida
A dilatação, não
Mas depois o nascer foi...
Eu não sei se isto está a passar
Se vais cortar, mas eu entrei na sala de partos
E a enfermeira diz-me assim
Estou cabluda
E eu pensei, olha
Desiligência
Dizem às mulheres que hoje em dia já não é preciso
E não sei o que
A outra enfermeira percebeu na minha cara
Que aquilo foi péssimo
E de repente diz-me
A bebe tem, de facto, muito cabelo
E eu, ai Lito
Mas já está aí
Já está aqui, mãe
Vai sair
Entrou a médica, faz força
Respira, saiu
Nunca me pôs esquecer a cara da minha filha
Não sei como são os outros bebés
Mas a minha filha nasceu com os olhos abertos
Assim como a expressão é que foi
A enfermeira
E eu, eu sei que lhe respondi
Não sei, mas vai correr bem
E o que é que ela é melhor do que imaginaste?
Eu não imaginei
Eu só queria que ela fizesse saúde
Se bem que eu sonhei como ela ia ser
E não foge muito
Eu sonhei, não cortei ninguém
E ficou para mim
E depois realmente nasceu
Que o cabelo colorinho
De olhinhos azuis
De franquinha
E eu não tenho
Nem hoje
Às vezes, aquelas coisas
Ai, ela dança tão bem
Vai ser barlarina
Ou ela faz desenho tão bem
Vai ser pintora
Vai ser arquiteta
Vai ser o que ela quiser
Tá tudo bem
Não criei, nem criei
Qualquer expectativa
Só que é mesmo que ela continue a conversar comigo
A dizer-me que gosta
Ou que não gosta
Ou que viu
Ou que não está mal
Verbalize sempre
Verbalize sempre
Tenha a noção de que é que está certo
Que é que está errado
Ser mãe dá forças para enfrentar o mundo
Ser mãe dá, dá muita força
Porque podemos estar cansados
Mas assim que alhamos para a cara deles
Aquele sorriso
Aquele abraço
Aqueles beijos
Aquela...
Antes muito
Aquela...
Não há nada
Não há nada que...
Não há nada
E as agruias do mundo também preocupam mais
Depois de ser mãe?
Claro
A preocupação é maior
E as coisas que não se passam sequer contigo
Como na guerra da Ucrânia
E outras guerras
E outras coisas cabrosas
Que acontecem com crianças por todo o mundo
Vibram de uma maneira muito mais forte
São coisas que se calhar
Que quando eu era mãe
Claro, porque ficava perturbada
Ficava chocada
Ficava horrorizada
Mas...
Mas agora muito mais
Como é que se protege um filho do mundo?
Proteger, proteger
A 100% nunca vais conseguir proteger
Mas mantendo esse diálogo
E essa comunicação
Tu tens a certeza
Ou pelo menos
Estás a trabalhar nesse sentido
Se há alguma coisa
Acontecer, ele vai te contar
Qualquer coisa que seja
Ele vai te contar
Tu tens que ensinar
Os teus filhos
Tudo não é só
Como é que eles lavam os dentes
Ou como é que eles se vestem
Ou que comem
Como é que eles se defendem
Como é que eles sabem
O que é que está certo
Ou está errado
Os perigos estão em todo lado
Muitas vezes dentro da família
E esse bem e mal
Fazem parte do que nós somos
E do nosso mundo
Não há como sonhar
Que não vai ser assim
Vai ser sempre assim
Mas se souberem
Que alguma coisa
Que eles estão a fazer
Que não é certa
Não é correta
Eles vão falar
Vão dizer
E nós temos que ouvir
E temos que acreditar
E temos que vos defender
O que é que tens mais receios?
A internet assusta muito
As vezes a sociedade assusta muito
Eu sei que estou a fazer
Tudo o que posso
Para educar a minha filha
A ter essa força
E a comunicar
Mas eu acho que
O meu único receio
É que algo lhe acontece
E ela não fala
Eu acho que é a única coisa
Que eu tenho
Se ela falar
Eu resolvo
E eu acredito que as coisas
Se resolvam
Que fos tão protegida
Quanto precisaste
Eu vou
Eu vou
Não
Na verdade
Não
Agora, depois de adulta
E de ver as coisas
Por outro prisma
Eu acho que
Há muitaquela ideia
Que as coisas que acontecem
De mal
Às crianças
Elas vão esquecer
E mesmo que a criança fal
Às vezes não é não acreditar
É
Ter a esperança
Que ela vai esquecer
E não vai
E são coisas
Que não se esquecem
A mente até pode reprimir
Mas depois
Eu acho que a vida
Vai te pôr de coisas
Pelo caminho
Te levam a ter que enfrentar
E a teres que resolver
E fazer as pazes com isso
E só nesse sentido
É que
Acho que podia ter sido
Mais defendida
Mas também isso aconteceu
Se calhar para eu agora ser
Uma mãe diferente
Uma pessoa diferente
O que é que aconteceu?
O que aconteceu foi
Que eu fui abusada
Por uma pessoa da minha família
Em umas férias
Nesquira
Seis, cinco, seis
Refete, talvez
Eu reprimi
E voltei e meia
Tinha flashes, tipo imagens
Que me apareciam concretas
Siptações cheires
Tudo, tudo, tudo
Muito sensorial
Tudo muito forte, muito forte
E de repente da mesma forma
Que vinha
E depois tinha
As mais variadas reações
Ou batia na pessoa
Com quem estava
Ou esforava
Ou ficava
Sem reação
Nenhuma
E foi preciso bastante tempo
Para eu ir
Começando a trabalhar
Isto, fazer psicoterapia
Fiz tudo
Fiz muita coisa
Para poder enfrentar
De facto, o que aconteceu
Normalmente, estas coisas
Quando acontecem
São sempre muito próximas
São sempre bem familiar
Num grupo muito fechado
São sempre pessoas intocáveis
São sempre pessoas muito credíveis
Por isso é que eu acho que é muito importante
Explicar à criança
Que o ser crescido
Não é o importante
Há muita aquela coisa de pôr os miúdos
Gente, estas tão crescidas
Que a minha filha não tem isso
A minha filha diz
Eu tenho juízo
E uso o meu juízo todo
Porque isso é importante
Que há muita gente crescida
Sem juízo nenhum
Ia fazer muito mal em crianças
E portanto
Quando estas coisas acontecem
Que são normalmente
No seu de família
Ao próximo
Ou não se acredita na criança
Se ela tiver a capacidade de falar
Porque às vezes, Daniel
Estes crimes
Que eu estou a falar
Que são crimes sexuais
Acontecem
Desde sempre
E a criança nem sabe
Que aquilo não está certo
Isto é uma coisa
Que obviamente
Més comigo
E que ninguém fala
Porque é muito difícil de falar
Os estudos estão aí
E sabe-se
Que a maior parte destas coisas
Acontecem em casa
E quando acontecem
Desde sempre
Que não é o meu caso
É o caso muita gente
A criança não sabe
Que eu não te está certo
Portanto, nesse guerre
Tem como se defender
Se não for na escola, por exemplo
Se não forem as educadoras
As pessoas que estão
No dia a dia
Com estas crianças
E que têm que ter formação
Porque são coisas muito subtis
Às vezes uma simples dor de barriga
E que a pessoa não está nem aí
Dando barriga
Comeu qualquer coisa
Não há como socorrer esta criança
Que ela nem sabe
Que precisa de ajuda
Nem a intuição lá no fundo sabe
E eu acredito
Todas as crianças querem ser salvas
Mas por isso é importante
Conhecimento, formação
Alerta
Isto não acontece
Só em cenários de guerra
Nem no vizinho do lado
Nem no outro mundo
Isto acontece em todo o lado
Eu tenho que cruzar
Com tantas mulheres
E empoderadas
Mulheres de sucesso
Que sofreram isto na infância
E que lidaram com isto de alguma forma
Nem que seja de uma forma subtil
Mas lidaram
Claro que há muitos graus
Mas a comunicação
Para a criança falar
E depois da criança falar
A acreditar
E defender
Porque é assustador
Estos movimentos
Que existem agora em todo o mundo
Ai, coitadinhos dos pedófilos
Não vamos chamar pedófilo
Que é um termo muito agressivo
Vamos chamar pessoas atraídas por mim nós
Não
Não
Desculpem lá, mas não
Quem precisa de voz
Quem precisa de certeza
São as crianças
São inocentes
E que merecem respeito
E este lado da internet
Ainda abre um outro nível
Um outro patamar
Porque o agressor
A pessoa que abusa
Abusa de uma inocência
Abusa de uma confiança
E é intimidante
E estamos a falar de crianças
Ou de minhas matédias adolescentes
Que acreditam que aquela pessoa
Pode matar os pais
Pode fazer isto
Pode fazer aquelas ameaças
A inocência leva
Aquestas crianças acreditam
Que aquilo pode acontecer
Então eu tenho que defender
As minhas pais
Estão a ser vítimas
Estão a ser abusadas
E ainda são elas
Que protegem os pais
Quando os pais não são os agressores
Entendas
É um mundo tão doentio
E tão mais profundo
E com tantas mais encamadas
Que as pessoas não imaginam
Eu acho que é por acharem
Que com elas nada acontece
Que estas coisas só acontecem
Aos outros
Mas não
Isto acontece em todo lado
Em ti ninguém acreditou
Eu acho que acreditaram
Mas
Havia uma esperança muito grande
Como eu era pequena
Que fosse esquecer
E a verdade é que eu
Não esqueci mas reprimi
Claro que nunca gostei dessa pessoa
Já morreu
E evitava
Ao máximo
E o contei
Ninguém sabia lidar
Com aquilo que eu contei
Estava sozinho com essa pessoa
Nesses feitos
Não, estava mais gente
E essas aproximações
Eram perto das outras pessoas?
Não
Eram feitas com o que pretexto
Quando essa pessoa chegava ao pé de ti
Quando eu estava sozinha
Na casa de banho
Porque ia me dar banho
Percebemos que estava a lavar bem
Ou quando eu
Estava a dormir
Ou quando estava a brincar
Sempre sozinha
E aquilo foi estranho
Aquilo foi gradual
Em que as coisas foram escalando
E que embora não tivesse tido
Conhecimento sexual
De quais são as tuas partes íntimas
Quem é que pode tocar
Não é só tu que tocas
E tu não tocas nas ninguém
Embora eu não tivesse
Diz-se na minha altura
Infelizmente
Há uma intuição
Que te diz que aquilo não é normal
E que aquilo não devia estar a acontecer
E que tu não queres que aquilo aconteça
E que não está certo
E...
E fiz um telefonema
E disse que queria ir embora
E fui embora
O pedófilo
Normalmente é manipulador
E é carinhoso
Sabe abordar a criança de forma lúdica
Para brincar
Acaba por levá-las para
Vamos fingir seu médico
Ou que isto é um tratamento
Ou que é um exame
Na cabeça de uma criança
Se ela não souber que aquilo é errado
Até se sentir mal
Porque nós sentimos mal
É uma brincadeira
É inocente
Por isso é que eu digo que é roubar
A inocência das crianças
Porque a criança não tem maldade
Quando essa pessoa foi ter contigo ao banho
Ao receio de repelir essa pessoa
Não ter forças para isso
É uma coisa estranha
Porque eu não estava na minha casa
Percebes?
É uma coisa de...
Isto é o meu banho
É a minha intimidade
Não era suposto estar-se aqui
Mas na verdade isto é a casa dele
E eu só estou aqui a ocupar a banheira
A sanita está livre
É estranho
A criança não tem esses mecanismos
De defesa tão acionados
Eu não tinha mas quero que estas tenham
Quando ligaste essas férias
Para a tua mãe e eventualmente para dizer
Como é que disseste?
Vem buscar
Que eu não quero mais estar aqui
E não adiantei mais nada
Porque eu também não sabia o que é que vinha dali
E porque há esse instinto sobrevivência
Também podia ligar e questionar
E depois disser
Se estivesse lá sim
Eu não estava lá
Claro que contei tudo
Olha
Eu quis me vir embora
Porque aconteceu isto isto isto isto
E estava à espera de uma reação
Que a minha mãe sempre
Saltou a onça
E rodou a baiana
Na escola
Para qualquer coisa que fosse
Mais depois disto porque depois na altura
A pessoa nunca foi confrontada
E a coisa morreu para ali
Nunca foi confrontada?
Não
Não
Nunca nem a fez nada
Com a esperança de que eu era muito pequena
E eu ia esquecer
Eu vi desenhos meus
Quando era pequena
Eu procurei
Andei a puxar o fio
E eu, naquela idade
Olhando para aquele desenho
Eu percebi que aquele desenho estava bem
O que é que tinha o desenho?
Que o desenho tinha um órgão sexual masculino
No meio da minha saia
Era o meu desenho
Era eu
E eu não tenho pilinha
É que eu percebia-se o que é que era
Ninguém viu esses desenhos
Na altura
Provavelmente até as pessoas da escola
Precisa que eu te estou a dizer Daniel
A criança tenta pedir ajuda
De das formas até mais justiça
Imagina que é o problema em casa
E ela não pode contar em casa
Ou que ela não sabe
Naquele caso
Porque sempre aconteceu e é norma
Ela vai dar sinais
Às vezes não é desenhos
Às vezes é o confutamento
Às vezes é só uma dor de barriga
Constante e permanente
Pode ter a ver com ansiedade
E pode ter mesmo a ver com o próprio
Bullsexual
E ninguém está para ir virado
Ou às vezes estão
Às vezes há profissionais que veem
E que denunciam
Também há boas almas neste mundo
Por mais que queres esquecer
Ou que o teu corpo queres esquecer para estar são
Depois acontecem as outras coisas
Que te vão cutucando
Até a tuz puxando o fio
E queres saber de facto
O que é que aconteceu
O que é que não aconteceu
Porque tudo o que é que eu fiz
A que é que eu pedi
Com quem é que eu falei
O que é que eu disse
E é um processo
O cálculo muito doloroso
Ramexerem tudo isso
É muito doloroso
Parece que foi preciso
A pessoa também morrer
Para ter força
De falar
Porque eles ficam sempre
Num sítio tão negro
E tão assustador
Que tu muitas vezes ignoras
E tentas seguir a tua vida
Nem falas
Porque eu percebo perfeitamente
Por isso é que os prazos
Para fazer as queixas
Me deixam revirar a Deus
Que as pessoas querem seguir em frente
Não querem viver a tua vida
Exato
E nesses casos graves
Nesses casos de violações
Ou de abusos
Ter que existir um tempo
Ter que a pessoa ser sujeita
Aqueles interrogatórios todos
Aquelas...
Cada pessoa tem o seu tempo
E não é fácil
Cada casa é um caso
E da forma como foi
E na época que foi
Eu acho que vê mais empatia
Tu não voltaste a ver essa pessoa?
Voltei
E fugia dela
E nunca mais difusãozinha com ela
Mas nunca confrontaste?
Não
E a atitude dessa pessoa
Para contiga era como de uma normalidade
Ela também nunca mais mandou nos olhos
Não tentava falar
Porque estava fora do ambiente
Percebes? Aquelas férias
Nunca mais voltei àquele sítio
E portanto sempre que a gente se encontrava
Era situações sociais
Com muita gente pelo meio
Não havia hipótese
Fica-se com raiva naturalmente
Daquela situação
Fica-se com raiva de não termos conseguido evitar isso
Termos sido manipulados
O que é que acontece?
Fica a raiva de que aquela pessoa
Não ia acontecer nada
Eu sofri tudo sozinha
Eu podia ajudar e ninguém me deu
Eu resolvi
Mas aquela pessoa não ia acontecer nada
E não sei
A quantas mais pessoas
Não podem ter feito mesmo
Porque aqui é que bate o ponto
É importante falar
É importante anunciar
E as coisas vão ser mais facilitadas
Porque é preciso muita coragem
Para falar sobre isto
Muita coragem
E as pessoas são expostas de uma maneira
Sejam mulheres adultas
A violação, por exemplo
Tem um tempo para dizer
Se não estivesse bem e preparada
Para contar naquele tempo
Já foi
Devia ser mais facilitado
E devia ser mais apoiado
Encorajado à denúncia
E depois infectivado com qualquer coisa
E depois começas a conversar sobre isto
E a pesquisar mais
E sim, há muitos crimes sexuais
Que se cometem à noite, na madrugada
Porque a criança está a dormir
E porque há uma esperança de que
Não corte
Ou fique no sonho
A minha filha nunca vai dormir fora de casa
Nunca
A minha filha não fica na casa de ninguém
Só de meus avós
E na minha avó
E tenho isto
Tenho isto com ela
Tenho esta formação
Uma coisa a contar
A minha filha conta-me tudo
Ela acorda à meio da noite
Imagina que eu chegue à casa
Em domingo, por exemplo
Que ela vai passar os domingos
Sempre com a minha avó
E se ela acorda dos domingos para a segunda
E eu contei, ó, alguma coisa
O que for?
Ela conta-me
Olha, fiz um doidão no dedo
Comi um gelado
Mas mesmo assim não fica
Não dou boleias no carro
Ninguém anda nem o banco de trás
Do meu carro com a minha filha
Nunca na filha
Por que também acontecem?
Há toques
Há coisas
Que às vezes pessoas fazem
E que tu não tens noção
São sempre pessoas
Que tu confias
São sempre pessoas que tu confias
São sempre pessoas que tu gostas
São pessoas que tu olidas
Não é só família
Também há amigos
Tu tens que proteger os teus filhos
Não quero que isto seja anóico
E olha para a filha 24 horas por dia
Não
Ela é do mundo
E vai estar à resposta à muita coisa
Mas se eu puder preservá-la
Da algumas coisas
Coisas até tipo isto
Vou dar um exemplo
Que é muito, muito, muito impeligeiro
E já deu polêmica e já não segui
Mas a criança será obrigada a beijar
Alguém que não quer
Há dá um beijinho à ovo
Há dá um beijinho à avoa
Porque não
São simples
Olha, posso dar um beijinho?
Queres um beijinho?
Se quiseres eu dou-te um beijinho
Se não quiseres eu não dou
E aonde é que está os beijinhos?
Há as partes íntimas que ninguém toca
As partes íntimas não é só o pipi
Ou a pilinha e o rabinho
Não
Desmiminhas
A boca
É a tua parte íntima
Uma coisa é lavar os dentes
Lavar os dentes é lavar os dentes
É como as covias com uma pasta
Não há que enganar
Irodentista é irodentista
Estamos temos pessoas
Iromédica é preciso fazer um exame
É jovo que até seja evidentemente vaginal
Estão lá médicos
Está lá a mãe
Ou o pai
Está lá alguém
Percebes?
E a criança ter liberdade
É um corpo da criança
Ela beija quem quiser
E quem quiser ser beijado
Ela dá abraços
A quem quiser e quem não quer
Não há isso
De sentar aqui no colinho
Porque o avô
Tem que sentar
Ou porque a tia
Tem que sentar
Não tem nada
A criança não tem nada
A criança tem que que ela quiser
Quer dar abraços?
Não quer nada
Nós não mandamos no corpo das crianças
É o corpo delas
Isso tem que ser valorizado
Tem que estar ensinado
Tem que ser regra
Na cabeça de toda a gente
Se for regra
Na cabeça de toda a gente
E se ensinarem todo lado
Se há alguma coisa a fugir
Não bate certo
Claramente uma criança sabe o que é mudar
Uma fralda, o que é mexer
Sabe o que é lavar
O que é mexer
Mexer só eles é que mexem
São as partes síntimas deles
E eles também não mexem nas ninguém
Isso é uma mensagem tão simples
Devia ser tão universal
Que põe as coisas logo ali
Num catamar de clareza
De tudo que te fugir daquilo
Não está certo
Há um sentimento de culpa
Que a criança tem porque o que...
Pode ser dependendo
De quem é que foi
De como é que foi
Da maneira que foi
Porque elas utilizam tudo
No meu caso eu não me senti culpada
Eu sabia que não tinha culpa nenhuma
Eu não pedi para aquilo acontecer
Eu não quis que aquilo acontecesse
Eu sabia que não tinha culpa
Mas há muitas crianças que não sabem
Há muitas crianças que não sabem
Porque estamos a falar do corpo
Porque há reações
Que são superiores da nós
E que eles podem eventualmente
Utilizar isso contra ti próprio
Descentos de culpado
Percebes?
Eu não estou a falar no meu caso
Mas eu sei que é esta realidade
Eu já ouvi muitas entrevistas
Já ouvi muita coisa
Já me demorcei muito sobre o tema
E eu sei que é isso que eles fazem
Não está certo
Não é suposto
Me quero imaginar
Nem consigo conceber
Quando isto é de uma forma regular
Quando isto acontece anos e anos
E anos e anos e anos
E quando são os pais
Mesmo que não sejam os dois
A mãe sabe e não faz nada
E aquilo acontece
Que te petua
Se eu não concebo
Eu não consigo
Eu vou dizer com uma raiva
Com uma revolta tão grande
Mas tão grande
Eu não percebo como é que em Portugal
Isto acontece
A pessoa tem coragem
De enfrentar todo um sistema judicial
E a criança
É obrigada
A continuar a ver o agressor
Porque eu não chamo pai
Isto não são pais nem são prosnetores
São agressores
Porque o tribunal obriga Daniel
Isto acontece
Eu conheço muitas mães
Que estão a viver um drama
Porque as filhas foram abusadas
E o tribunal continua a obrigar
As crianças a verem
Essa gente em visitas e as técnicas
Que deveriam ser obrigadas
A reportar tudo o que se passa
Não escrevem
As crianças fazem xixi
Tem ataques de pânico
Vão ao hospital na noite anterior
Porque não querem aquela visita
E aquela visita continua
Daniel, meses e meses e meses
Isto é o lugar da cabeça de ninguém
A criança fala
Chora, grita
Faz xixi pelas pernas abaixo
Não quer
E ninguém escreve nos relatórios
A criança não é ouvida
E mesmo que as coisas vão para a frente
Em Portugal, quase todos os casos
Saem em pena de despesa, Daniel
Sai tudo impune
Toda essa gente que comete esses discrimos
Com os filhos deles, com os outros filhos
Com todas essas crianças
Os traumas estão lá
Robaram a infância aquelas pessoas
E nada nos acontece
Não
Essa criança cresce
Tu não sabes como é que ela cresce
Não sabes o que tudo vai ser
Pode parecer que está tudo bem
Depois também não há acompanhamento
Não há a cura
Para aquela criança
Para aquela família
Eu não imagino que é uma mãe sofrer isto
E as pessoas têm por si próprias
Será
Renascer, recuperar
E continuar a viver
Tu que não, ninguém olha para elas
As vítimas de violência é doméstica também
São as vítimas que têm que sair de casa
O agressão continua lá, impecada
Está tudo errado
Esses episódios foram de
São pessoas próximas de mim
E eu estou a tentar ajudar
Mas que é muito difícil
Porque os juízes jovem os relatórios das técnicas
E esse teu cosadelo
Foi te acompanhando ao longo da vida
Revisitando sempre
Eu fui sempre a virando as costas
E as coisas fui-a-me sempre aparecendo
Sempre, sempre, sempre
Cada vez que fala disto nos monólogos da vagina
Eu estou lá
Eu estou outra vez lá
Reprisei que muitas vezes
Isso é para ouvir dizer isto
Não temos as personagens que queremos
Temos as personagens que precisamos
E os monólogos da vagina
Uma das minhas personagens foi abusada na infância
E para mim, cada vez que eu estou em cena
E falo e relato-la
E naquele caso
Foi uma violação
Eu de certa forma também estou lá
E tem sido uma forma de cura também
Eu achava que estava mais resolvido
E depois
Com estas notícias e com estas coisas
E com este espetáculo
Parece que acordou e disputou qualquer coisa
E eu acho que despertou essa vontade
De chamar as pessoas à atenção
Que acontece só aos outros
Pode acontecer a qualquer um
E a tua vida sexual e amorosa
Foi também marcada por este episódio
De forma como te entregas de uma relação
A uma outra pessoa
Enquanto não tinha intimidade
E se não estava verdadeiramente conectada
Com a pessoa
Aquilo acontecer
Os flashes, as imagens
Tudo podia acontecer
E quando eu estava com os dedos
Começar a chorar
No momento
Não fazer nada
Ficar parada
E depois eu tinha que explicar a pessoa
O que tinha acontecido
Que volta em meio enquanto não tinha
Intimidade suficiente
Para estar com a pessoa
Ao que se acionava em ti
Eu não controlava
Aquilo acontecia
E eu acredito que acontecia porque
Eu já sabia que podia eventualmente
Ter algum ataque destes
Enquanto a coisa
Não fosse mais solidificada
E tu acabas por explicar
Olha
Pelo menos não é contigo, está tudo bem
Mas eu às vezes tenho isto
E não consigo controlar
Enquanto não estou tranquila
Quando não estou à vontade
O que é que ele disse?
Ele disse que estava lá
Para mim tudo aquilo que eu precisasse
E que eu tinha todo o tempo do mundo
Quando estivesse preparada
Estaria
E que estava tudo bem
Quando falamos aqui há cinco anos
Dizes que nós não somos os nossos problemas
Somos a forma como
Lidamos com eles e como
Os enfrentamos
Como é que esse problema, essa
Queza traumática que tiveste
A menina, adolescente, jovem, mulher
Afectou, afectou
Mais do que eu imaginava na altura
Por exemplo, não foi só isso
O facto da minha mãe ter sofrido violência doméstica
E de eu ter não tido
Uma referência masculina na minha vida
Não ser o meu avô, levou-me
Que eu tivesse tido relacionamentos tóxicos
Não saudáveis
Esses relacionamentos aconteceram
Porque eu tinha que lidar com isto que estava aqui
Por exemplo, eu tive um namoro
Que foi abusivo, violento
E havia violência
E eu na altura não estava tão ligada
E permiti que muita coisa acontecesse
Mais tarde, voltei a ter uma relação assim
Ao primeiro empurrão contra a parede
Saii porta fora e nunca mais
Olhei para a cara daquela pessoa
Por mais que pedisse para voltar
E que ia mudar e que ainda não muda
Aconteceu uma vez
Nunca mais vai voltar a acontecer
Eu defendo-me
E portanto inconscientemente deu-me isso
E deu-me esta
Aconteceu o que acontecer
Eu defendo-me
Nem que seja porque saio da situação
E porque procuro ficar bem
A psicoterapia e a dictação
Ajudaram-me a esse teu processo de
Resolver
Ajudaram-me muito
E falar com outras pessoas também
Que passaram pelo mesmo
Ou coisas piores
Date-me uma perspectiva e um ponto de vista
Que de facto isto aconteça
A gente
E que não está certo
E que não é normal e que não é correto
E também te dá mecanismos lá estar
Vou tentar-te salvar
E de certa forma salvaste-te
Ao sair da situação
Tu fizeste o que estava ao teu alcance
E hoje em dia ainda tens possibilidade
De desregigatar aquela criança
Porque eu sou muito menina
Eu sou muito criança
Eu sou muito ingênua
Ainda hoje
É uma coisa minha
Eu acredito
Na boa vontade das pessoas
Acredito que há muita gente boa
Com vontade de ajudar os outros
E eu sempre me agarrei a isso
Eu salvei-me
Com o que podia, com o que conseguia
Eu salvei-me
A coisa podia ter sido pior
Pergunte-me se essa pessoa não terá feito pior
Até as pessoas na minha família
Não sei
Mas eu salvei-me
Eu sou que salva muito mais pessoas
Muito mais crianças
As coisas têm que ser denunciadas
E as coisas também têm que ser julgadas e condenadas
Certamente com esta tua partilha
Está a ajudar muita gente
Eu acho que é para isso que nós andamos aqui neste mundo
É para ajudar os outros
Quando a tua mãe
Recebeu
Que isso de facto tinha acontecido
E as pessoas da tua família perceberam isso
Qual foi a reação
De não ter acreditado na menina
Eu sei que as minhas dias
Aquilo magou muito
A minha tirana antes de morrer
Em vez das pazes comigo em relação a isso
Perdiu-me desculpa
Por não ter feito nada e explicou
Que tinha esperanças que eu fosse esquecer
E acreditava que eu ia esquecer
Nunca me explicou porque
Talvez lhe também tivesse acontecido a ela
Não negar o que aconteceu, mas esperar que tu esquecesse
Sim, sim, sim
Elas perderam desculpa
E eu também não contei a tola da gente
As minhas dias e contei a minha mãe
Não contei as minhas avóis
Não os queria-me agora
Se eu tinha contado as minhas dias
E a minha mãe não tinha feito nada
Eu não quis correr
O resto de contato a mais alguém
E recontecer-se mesmo
Porque a desilusão ia ser muito grande
Eu queria-me sentir mesmo
Muito sozinha
E qual era a tua reação quando
Elas não acreditavam em ti?
Eu não me lembro
Depois de agora, em adulta, falei com elas
E elas é que me disseram que eu tinha contado
Porque eu achava que nunca tinha contado ninguém
Eu achava que nunca tinha falado com ninguém
Por isso é que nunca tinha acontecido nada
Nenhuma consequência
Por isso é que eu continuava de voltar e me haver aquela pessoa
E quando eu ganhaste a consciência
De que aqueles episódios que te assaltavam ao longo dos anos
Tinha o mesmo acontecido
Depois dessa relação abusiva que eu tive
Desse namorado
Em que, a dado altura, as relações sexuais
Eram praticamente forçadas
E é como se o teu corpo
Tivesse a viver
Uma situação semelhante
E há uma memória
Tô te a fazer coisas que tu não queres
É forçado, é obrigado
E isto desperta uma memória
E eu percebi que
Estava entre a espada e a parede
Eu tinha que resolver isto
Nunca te arrependiaste de não ter confrontado a pessoa
Não
Não ia resolver nada
Nem falar
Não
Não
Acho que quem faz isto nem sequer é a pessoa
Portanto, não
O que é que te diz
Contar isto agora?
Olha, Daniel
Porque eu estou de facto muito preocupada
Com este mundo que se vive
Com as atrocidades que se fazem
Com o facto das crianças não estarem a ser
Protegidas
Estes recentes casos que souberam dos abusos na igreja
Se a tua vontade de gritar para a sociedade
Sim, e agora que falas nisso
Foi com o escândalo da casa Pia
Foi isso também que me empurrou contra a parede
E foi isso que me fez e pegar o fio
Do novelo
Porque tu comeces a ser bombardeado
E é vida a chamar e é vida a dizer
E agora resolve isto
E eu sinto que hoje em dia
Embora já esteja bem com isto
Sei que há muita gente que não está
E falar sobre isto
Chamar atenção às pessoas que isto acontece
No lado, nas melhores famílias
Com o vizinho do lado, dentro de casa
Na escola, eu tenho que fazer o que eu posso
Eu assino petições, eu ajudo ativistas
Tentas ajudar as pessoas à tua volta
Mas quando é possível
Escalar isto para um ponto
Maior
E chamar mesmo a atenção
Que toda a gente pode sofrer isto
E vamos a tempo
Salvar a criança dos adultos de Deus
Como eu salvei a minha
E salvar as próximas crianças
Que neste momento são a sofrer estes horros
E que querem ser salvas
E que dizem e que tentam
Pela forma que conseguem
Ou falando ou desenhando
Ou tantos sintomas
As pessoas têm que estar atentas
É doentio
Por isso é que as pessoas à volta
Quem está na escola, os profissionais
Tenham sensibilidade
Vivemos no mundo em que
Estamos a dar o foco
Estamos a iluminar os problemas
E a evoluir
Porque a mudança custa
Eu sinto que é uma vontade mundial
E quer acreditar nessa luz
Nessa vontade boa
Nessa consciência, nesse bom seço
Que não pode permitir
A sexualização das crianças
A erotização das crianças
Todos esses movimentos
Trigosos que acontecem
O outro lado tem que parar
Não é possível isto acontecer
Baste os nossos olhos
Não é possível
E mesmo a pessoa que tenha sofrido isso
Ainda pode ser salva
Claro que sim
Claro que sim
A esperança
O facto de teres a coragem de hoje
Teres esta partilha
Também podem incentivar outras pessoas
A procurar ajuda
Claro, e a maior ajuda
Que essas pessoas podem ter
É salvando crianças do futuro
Há muitas profissionais
Que provavelmente sofreram
E hoje em dia ajudam
Criasas a que não nos aconteça isso
Ou que consigam também superar esse trauma
Porque a vida é isto
E esses comedores de almas
Porque eles
Tiram a alma
O brilho dos olhos daquela criança
Desaparece
É isso, é um
Tirar de alma
E às vezes nós ficamos a pensar
Que é para sempre
Que não podemos lhes dar esse poder
Entendemos também ele
Não podemos dar
Essa força eles não tiraram
Não, é meu
E há de ser sempre meu
Nós temos essa força
Não podemos deixar que essa força saia de nós
Porque é isso que nos leva um caminho
Que já não há volta a dar
Nós somos de nós, entendemos
E ok, aquilo aconteceu
Mas eu continuei
Eu salvei-me
Agora posso salvar outras pessoas
É só isso que eu quero
Te ensinas um dia contra a tua filha
Claro
Eu falo tudo
Eu com ela falo tudo
Quando eu sentir que ela tem capacidade
Para aguentar isto
E encaixar isto
Não quero que ela tenha medo do mundo
Eu não quero que ela tenha medo das pessoas
Ela mete-se com toda a gente
E eu deixo isso
Eu deixo porque eu estou lá
Veijinhos de pessoas estranhas
Olha filha, estás a mandar veijinhos
Estás a cumprimentar as pessoas
Porque eu estou aqui contigo
Estamos juntas, estamos a cumprimentar
E está tudo bem
Já sabes que veijinhos é
Só quem eu quero
É uma data de coisas constantemente
Ela está a ver qualquer coisa
E eu estou a legendar o filme
Estou a legendar o desenho animado
Estou a legendar o que está a acontecer
Porque as pessoas querem ter fotografias com a mãe
Na casa de banho não há fotografias
Não há vídeos, não há nada
É um momento íntimo
Você está a legendar as coisas, portanto sim
Quando ela tiver discernimento
Para encaixar, perceber e...
Sim
Com a infância tão dura que tivesse
Em início de vida, tão duro
Viste sempre uma luz, alguns
Sim, está cá dentro
Nem é ver, é sentir
E a gente tem isso
Até essas almas atormentadas devem ter tido algo
E nós vamos ficando
Às vezes um bocado negros
Com coisas que nos acontecem
Mas temos que limpar
Mas que manter o foco na saúde
No bem-estar, na alegria, na luz, na esperança
Eu sempre tive isso
Não desespero de onde é que vem
Mas também sempre tive mulheres
A minha volta positivas, percebes?
Por exemplo, a minha mãe
A minha mãe viveu a guerra, viveu tanta coisa
Também tão nova, mas é uma pessoa
Cheia de esperança
E eu me sinto
A minha mãe é superingéna
Muito mais que eu
E agora, sentes que chegaste a algo mais
Nesta fase madura da tua carreira
E da tua vida, quando olhas para trás
Quando olhas para toda essa infância
Em muitos momentos traumáticas
Já contaste que eu tivesse dormi-te na rua
Em um período que foste repetada
Enfim, no teu pai, etc
Onde estás hoje?
Com mulheres tuas
Eu acho que é uma mulher muito sensível
Muito atenta
As pessoas que estão à minha volta
E preocupo muito com muitas pessoas
E gosto de que as pessoas estejam bem
Que sejam felizes
E é uma coisa, a perspectiva
De tu olhar ao teu redor
E teres a vida abençoada que tu tens
Fazer o que tu gostas
Teres um trabalho, teres uma casa
Teres saúde, teres família
Não é uma benção tão grande
É uma previlégio
Qual foi a coisa mais bonita que já disseram sobre ti?
Eu acho que
O que mais me toca
É alguém de me dizer
Mais do que sou a atriz, ao que sou isto
Que eu ajudei
Vocês ajudam muito
Nem sabe quantos
Obrigada
A pessoa já não tem
Já ficou
Ou às vezes é só um abraço
Aquela pessoa que te agarra na rua
E diz tão obrigada
E dá-te um abraço e me explica
Outras vezes dizem
Fui ver os monólogos
Obrigada
Ou outras dizem
Veja de um negão, obrigada
Seja qual foi, de uma forma ou de outra
Seja pela alegria
Seja pela partilha
Saber que tu quei essas pessoas
E que os ajudei sem saber
Essa é a minha maior força
O que mais te orgulhas?
Da minha família, da minha filha
O que ela já te disse que toca mais fundo?
Uma coisa tão simples
Mas que te trabalha a secar o cabelo
Ai mamã, tu és tão carinhosa
És a mais carinhosa de todas
E és a minha mamã do mundo
E dá-me um abraço
Só que és com muito paris
E ficar ali agarrada
O que é que tens saudades?
Ai, tenho tantas saudades de Viana
Tenho mesmo saudades de Viana
Minha terra
Do mar
Da alegria das pessoas
Tenho muitas saudades de Viana
Tenho saudades da minha casa
Em Viana
Que está lá fechada
Porque era uma casa alugada
Eu vi a Viana e passe na avenida
E vejo a minha casa
Magoa
Porque é a minha casa?
E nasci ali e ver aquelas janelas fechadas sem luz
Olha, se calhar um sonho
Era ter aquela casa
A casa que tu cresceste
A casa que tu fues de feliz
Que tiveses boas memórias
Consegui preservá-la
É raro
Mas é tão bom
A criança ninguém mata
A minha velha, sabe?
Mas eu tenho que ter a criança
A criança é que te desafia
A criança é que te impulsione
É que te dá vontade de fazer melhor
E fazer mais
E experimentar e tentar
Demos que ser crianças
Bem, criança, mãe, sabe?
Se tu fosse garantido uma resposta
Uma qualquer pergunta tua
O que é que tu querias mesmo saber?
Sim, minha filha, essa fui sempre
Esse aqui não pode
Que nada é pra sempre
Mas que seja feliz
Só quero saber isso
É isso que nos agarra a vida
É querer nos ver os filhos
Bem, crescidos, felizes, confiantes
Trabalho feito
Ai, depois pra você descansar
Eu gostei de me perguntar
Aqui, na definição social, se alguém te deve um pedido de desculpas
Não vou perguntar isso
Vou perguntar se um pedido de desculpas teria
Atenuado alguma coisa
Não, fez melhor ter morrido
Se tivesse morrido mais cheio de se calhar
Outras crianças que possam ter acontecido
Por caminho ele não lhes tinha feito mal
Porque eu não sei se aconteceu
Mas acredito que isto seja um padrão
Porque isto
Não é só alguma pessoa que acontece
Uma vez na vida, né? Quem faz isto uma vez
Já fez mais, vai fazer mais
Sobretudo se não é punido, né?
Exatamente, outro atarde
Ternado, não sei
É difícil pra mim falar
Vou me resolver
Porque a força
E o foco não devia ser pensar nisso
A ser atratada às crianças
A ajudá-las e a defendê-las e a protege-las
E a prevenir o que aconteça mais
Se encontrasse aquela menina
De 5, 6, 7 anos
E ela te confessasse o que aconteceu
O que é que lhe dirias?
Eu tinha lhe dito que ela tinha feito muito bem
Ter pegado na telefone, ter pedido ajuda
Tinha-lhe pedido desculpa
Por ninguém a ter defendido
Tinha-lhe dito que ela não tinha dito culpa de nada
E que
Fez o que era suposto
Salva-se
O que é que lhes dizem?
O que é a esperança de Daniel?
É possível
Vamos a tempo
Vamos a tempo de resgatar na nossa criança
Vamos a tempo de salvar muitas crianças
Que é preciso conhecimento
É preciso formação
É preciso agir
Agora salvar estas crianças
E impedir que estas estruturas continuem
Que estas visitas forçadas
Continuem aos adversores
E que é a esperança, eu acredito
Obrigada
Obrigada a eu
Obrigada mesmo
Obrigada
Obrigada
Obrigada
Obrigado pelo coragem
Eu vou lhe depender
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Melânia Gomes foi sexualmente abusada por um familiar em criança. Quando aconteceu, ninguém foi capaz de a ajudar na esperança de que esquecesse. Não esqueceu. E hoje dá uma grande importância às recentes denúncias sobre abusos sexuais na Igreja. Nesta entrevista, conduzida por Daniel Oliveira, a atriz de 38 anos vem dar voz ao seu próprio silêncio. Recorda a experiência traumática e sublinha a importância de uma educação sexual para a prevenção destes casos. Todos os dias tenta ensiná-la junto da filha. Ouça a história no Alta Definição em podcast. Este programa foi emitido na SIC, a 18 de março.
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