Alta Definição: Marco Horácio: "Ninguém imagina aquilo por que passei. Chegar a casa e não ter luz, passar a noite às escuras"
Joana Beleza 7/1/23 - Episode Page - 39m - PDF Transcript
Os preços faz 50 anos.
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Bem-vindo, Marco.
Ó, estamos aqui no mesmo sítio.
Cada vez mais novos, os dois.
Cada vez mais novos, sim.
É o mesmo?
Não, é impossível.
Acho que estes dois nunca somos iguais.
Aliás, somos pessoas coerentes connosco.
Acho que estamos sempre a evoluir, sobretudo emocionalmente.
Há 14 anos a esperar disto.
É agora?
Quanto quiseres?
Tive uma branca.
Já me esqueci.
O que é que eu dizia?
Marco.
Horácio.
Já sei.
Capricórnio.
Deslarguei a pareda.
Estou como estou.
Estou como estou.
Estou como estou.
Estou como estou.
Não é isso.
Para.
Para isto que eu dizia.
Outra vez.
Amandem-me a pareda.
Amandem-me a pareda.
Amandem-me a pareda.
1,74m.
Soltei a pareda.
A pareda.
Estou como sou.
No alta definição.
Como acabeça-va do meu filho no olho.
Quem é que era?
A minha essência acho que é igual.
Acho que é maduroselha.
Continua a ser o mesmo homem ambicioso a querer sempre mais a testar-me.
Mas a minha ambição hoje em dia é diferente.
Passa muito por coisas simples.
A felicidade, a momentar, a felicidade do dia a dia.
É quase um caminho mais espiritual que estamos envolvidos há longas vezes.
E depois que a paternidade também está.
essa maturidade, essa visão diferente da vida e de tudo o que te rodeia.
Eu acho que eu tenho uma grande capacidade de não me considerar artista.
É aquilo que eu faço, não é aquilo que eu sou.
E portanto, eu consigo muito bem diferenciar isso.
Quando estou a trabalhar, isto é em cima de um palco,
eu estou a fazer televisão.
É o espaço onde mais livre me sinto e mais bem me sinto.
Mas, apretamente, aqui se acaba, eu não trago o peso de ser uma figura pública,
ou das pessoas me conhecerem para casa, nem para a minha vida cotidiana.
E isso, para mim, é a minha maior vitória.
Eu vivo a minha vida como um português perfeitamente normal.
E só me lembra às vezes que sou conhecido nas pessoas.
Ou uma borda na rua, ou falam comigo, ou quando alguém me lembra isso.
Minha mãe, ela morreu um bocado como viveu sempre para os outros.
E ela decidiu ir embora para não dar trabalho para ninguém.
Gosto silêncio, gosto de ver um bom filme.
Queira o cinema sozinho, gosto de passar o tempo com o meu filho.
Quando falávamos, tu falávais também do dilema que tinhas entre as tuas fraquezas,
no influenciarem as forças que tu tinha.
Hoje em dia não há espaço para pessoas fracas ou que desistam.
Eu acho que fraquezas, para mim, é uma coisa que, se na altura, as tinhas.
A vida fez questão de Deus perder.
E hoje em dia, quando olho para mim, para a minha vida, onde cheguei,
e as coisas que tenho, e o que tive que fazer, e o que tive que alterar na minha vida,
eu penso assim, eu te faço muito forte.
Aos 40 anos, eu risquei, por exemplo, quando fiz o filme Malmaria e eu risquei.
E posso dizer isto perfeitamente, como é óbvio.
Eu não recuprei a minha casa, eu protequei a minha casa, eu não recuprei a minha casa.
Não só não recuprei a minha casa, como vim de duas casas, as casas que tinha,
para poder pagar a equipa toda e para pagar as dívidas que tinha.
Pouca gente sabe isto, e falo disto agora, porque tive períodos muito complicados na minha vida,
e que hoje em dia estão completamente resolvidos e ultrapassadas,
mas a minha vida não foi nada fácil.
E também nunca fiz questão em que as pessoas à minha volta percebessem isso,
porque não tenho que perceber isso, foi uma opção minha.
Eu decidi fazer o filme, mesmo que o patrocinador, que se cortou duas semanas antes,
resolvi ter uma equipa de 40 pessoas e não desiludi-las,
porque eram pessoas que já estavam a trabalhar há três meses,
e decidi, em vez de prejudicar a vida a 40 pessoas, vou-se só prejudicar a mim.
E hoje em dia, não me arrependo de nada,
se eu pudesse fazer as coisas diferentes, claro que fazia.
Tanto que o Rocha, ele também, está em calha de fazer um filme,
e ele ligou-me aí, e a primeira coisa que eu disse foi, meu amigo,
não hipoteques nada teu, nem a tua sogra.
Faz o filme, quando tiver os patrocinadores e unir a mão.
Não ponhas nada que tu levaste a tua vida inteira para construir,
porque não sabes o retorno, porque depois é muito difícil,
porque basicamente, tive começado o zero na minha vida,
e é bom quando tu começas do zero e tu começas a perceber,
que de facto, tu tenhas-te em muito pouca conta,
que tu tens mais capacidade de sofrimento e de ultrapassar do que pensavas.
E para mim, foi um percurso, não foi nada fácil, ele culminou,
o forcimento da minha mãe, portanto, não foi fácil.
Hoje em dia, se sei perfeitamente, estou mais forte,
qualquer coisa, mesmo quando estou a trabalhar,
a importância que eu dou às coisas, a importância que as coisas têm que ter,
e para alguma maneira, estou grato por ter passado por este período na minha vida,
porque se não me olhar para mim e perceber que,
se tu sobreviveste a isto e conseguiste estar a voltar à tua vida,
tu consegue fazer qualquer coisa, e é verdade.
E eu honrado porque pagaste de toda a gente?
Sim, sim, nem dormia eu, nem dormia.
Eu não me importo de estar, quando empreste é vavo,
mas eu sentir, que estou indivíduo, financeiramente,
para alguém, é muito complicado para mim.
Tanto que quando consegui pagar de volta a toda a gente,
é incrível, eu peço de site de cima e alovesa como tu ficas,
e nenhuma das pessoas a atenção me pediu o dinheiro de volta,
se eu não tivesse pago, não vinham atrás minhas,
são pessoas de confiança que gostam de mim,
que sabem que eu sou, mas eu não consegui,
porque na minha cabeça eu penso sempre.
O dinheiro que me foi emprestado,
foi ganho para aquela pessoa, como trabalho, com suor,
confiou em mim, no sonho que eu tinha,
ajudou-me a alimentar esse sonho.
As coisas não correram como eu estava a espera,
a pessoa não tem culpa, e eu não posso,
porém causa, o sonho da vida da outra pessoa,
por causa do mal.
O valor dos encargos em dívida era enorme?
Era, era, era, era, era, era muito grande.
De centenas de milhão?
Perte, e depois descebeves, a dívida vai aumentando.
Quando percebeste que o patrocinador tinha caído,
o que é que pensaste?
A primeira coisa que eu pensava foi nas pessoas
que estavam a trabalhar para mim.
Como é que vou fazer isto?
São 40 pessoas, atores já conversados,
já contratos fechados, equipas já,
há três meses a fazer para a produção.
Pessoas que se dedicaram a isto,
e depois demorei 20 minutos a decidir,
vou ir para tocar a minha casa.
Foi fácil, mas pronto, é uma casa.
A casa serve para te dar a segurança,
um lar para tu estar, mas não passa disso,
e tanto que eu, depois de vender essa minha casa,
vendia a minha casa que tinha a minha vivenda na Moréria,
também. Temos dois gatos pingados, eu e meu filho,
e aluguei a casa, e estou numa casa mais pequena e ótima,
me sinto bem, sinto feliz, estou tranquilíssimo,
e tenho uma vida porra.
Na minha vida mudei tanta vez de casa,
que eu não estava a estudar casas maiores,
piores, mais pequenas, maiores.
A primeira casa é como o carro,
é algo que é útil e que serve
para ter algum conforto e estabilidade
e para ter vado o ponto A ou o ponto B.
E destes sintas bem lá dentro,
e que tenhas uma encarangrante
para ver televisões e jogos de futebol,
e de ver o que é o que está acontecendo.
E que momento foram só teus nesses períodos?
Foram muitos, até por uma festa aí de toda a gente.
Quando se passa esse tipo de momento,
por mais que as pessoas que eram estar contigo e querem,
e te virem, andam até connosco, andam embora,
não sei o que, a tua energia e a tua autóstima
está tão em baixo, que estás tão cinzento,
que tudo não consegue, e portanto,
isolas-te e escondes-te,
porque eu acho que tu precisa de um período de reflexão,
e tens que mesmo passar por um momento estar sozinho,
e de perceber que é o que é que vou fazer à minha vida,
não fazia sentido para mim estar
Estar um momento em que estava e sair, e jantar, e ir dançar,
porque não era isso que o meu espírito me pedia.
Meu espírito pedia-me era sossego, silêncio, pensar
daqui o que é que eu vou fazer, objetivos, organizar a minha vida,
daqui vou para onde, faço isto, faço isto,
e daqui a três, quatro anos estou equilibrado.
Para que é que faltou o dinheiro?
Faltou para tudo, mas que fala que tinha 100 pessoas à minha volta
e nunca faltou para o meu filho.
Zero, né, Pia?
Nunca.
E nunca vai faltar.
E quando eu tive abraços para trabalhar,
agora tive que aplicar-te de algumas coisas.
Refessoas?
Também.
Sim, sim.
Protegias os teus dessas circunstâncias?
Sim.
Aliás, o meu filho, se calhar, vai ter noção disso agora.
Ele não tinha noção disso.
Deixe-os proteger de alguma maneira.
Há certas coisas que na tua vida mudam,
mas o amor de as ato-filhas, a relação de todas as ato-filhas,
é maior do que comprar mais um jogo ou mais uma bola.
Ele já não dá importância a isso.
E isso também é uma vitória que eu consegui.
Ou seja, a forma como o meu filho foi criado,
foi acima de tudo perceber que a maior aprenda que ele pode ter,
todos os dias, é os pais que têm.
Ele dá um tudo em relação a amor, de compreensão, de amizade,
portanto, ele nunca sentiu nada.
Num miúdo que sai de uma vivenda de três andares
com um T2 apartamento, podia estranhar,
olha, mas porque é que olha, não gosto isto,
não gosto aquilo, não gosto assim.
É aquela lógica.
Desde que eu esteja contigo, está tudo bem.
Sentiste necessidade de desesplicar alguma coisa?
Sim, para ele perceber e até para ele dar importância
e dar valor à vida que tem e aos pais que têm.
E depois dar valor às pessoas ao volta dele
que têm menos ainda e que passam muitas dificuldades
e que sofrem.
E ele tem esse lado social muito presente e muito ativo.
A história de tua fase é também coincidente
com a fase com o menor trabalho?
Eu tive algum trabalho.
Houve muito trabalho que eu rejeitei
por emocionalmente não me senti capaz de fazer.
As pessoas têm que perceber que nós atores,
acima de tudo, somos seres humanos.
E aquilo que eu faço é mais do que divertir as outras pessoas.
Quando estás num pro difícil da tua vida
e saísse de casa e sobesa um pau
e durante memória me tens que divertir os outros
quando tu por dentro estás a chorar
e por dentro a tua cabeça está
como é que amanhã vou viver,
como é que eu vou pagar aquilo, como é que eu não sei quê.
É um conflito de tu vives muito grande.
Havia alturas em que eu dizia não dá,
mas isso foi mais o primeiro ano.
Depois também precisava trabalhar
e portanto o que é que eu fiz?
Depois também comecei a treinar mais,
comecei mais para os genais
e comecei a ter outra atitude para mim,
para a vida.
Isso deu-me outra forma de estar,
outra energia, outra vontade.
Como é óbvio, a coisa que eu mais gosto
é ser o Paulo que fazer,
reir as pessoas e divertir as pessoas.
E depois comecei a encontrar nisso o meu bálsamo
e a forma de eu ultrapassar a má fase
que estava a passar.
As pessoas não têm noção de como me ajudaram
quando em hospedades encheram a sala
e divertiam-se em rio e batiam um pau
para mim até comigo.
E diziam, olha, eu gosto muito do seu trabalho.
As pessoas não sabem a energia que me foram dando
e que me foi alimentando
e que me foi mantendo também sempre
com vontade de ultrapassar
e de vencer um período menos bom da minha vida.
Recuamos em 2009,
estás no auge do Salves Campo Dera,
programa Sensação desse ano.
Sim.
A vida tem essa dictomia entre uma coisa
que estás em horário nobre
e, passado um tempo,
não estás e é outra coisa.
Eu quando fiz o Salves Campo Dera,
se não tivesse sido um êxito de audiência
e de popularidade,
eu tinha feito a mesma maneira.
Eu já aprendi que eu, emocionalmente,
não posso depender do sucesso
ou do não sucesso daquilo que faço.
É muito bom tu sentir
que as pessoas te reconhecem mais
e que o teu trabalho é mais reconhecido,
mas também é muito bom
que tu pagás uma dívida enorme
com muito esforço
e nunca tens perdido a teu equilíbrio
e o teu norte.
E tu conseguires cumprir
a tua palavra, aos teus princípios,
mesmo quando, nestas alturas,
a tentação é maior ainda.
Porque tu precisas e tu queres
e tu tens hipótese de
e tu mataste fiel
e pensas, pá, não,
vou abdicar disto, disto, disto,
mas não vou fazer isto.
E ainda é maior.
Pá, chama-me louco, chama-me quiserem, mas
é muito bom.
Eu gosto muito daquilo que faço.
Aquilo que faço
não é para mim e para os outros.
E eu faço a 100%
e com consciência tranquila
que quando chega ao outro lado
eu estou a dar tudo
e as pessoas estão a receber o melhor de mim
ou então eu não faço por dinheiro.
Não consigo, parece que sim
também a enganar as pessoas.
E nessa travesia do deserto
tu via solução,
sabias que és conseguido ultrapassar?
Há um momento em que
tu consegue uma pequena vitória
e passar de uma semana
me dá os dois passos atrás
e depois consegue avançar mais três...
É complicado.
As pessoas desengarem
e se acham que é OK,
vamos resolver isto
e há uma coisa que vai por cadência
e vai subindo e tu chega a um ponto
e já está resolvido, não.
Tens 15c, tens muita força,
muita capacidade, OK.
De não entrar em desespero
acima de tudo e pensares, não.
Vamos embora, vamos resolver isto.
Positivo, positivo, positivo.
Vou dar a volta a isto,
vou dar a volta a isto.
E conseguias ter momentos felizes
nesse período?
Claro, tenho que ter.
Nos meus momentos felizes
são sempre com o meu filho
porque quando estás
com o teu filho
e tu percebes que para ele
o importante é estar-se com ele.
Que só isso faz feliz.
Tudo o resto, por mais negativo
e sombrio que seja,
torna-se inexistente.
E portanto,
consegue-se ter os teus períodos
bons e tranquilos.
Quando ele ia para a mãe,
era a semana da mês,
quando eram mais complicadas
e tens mais tempo para pensar,
tens mais tempo para agir,
são altos e baixos.
Muitas noites em dormir?
Acho que, ainda hoje,
durmo mal por causa disso.
O que é que ninguém imagina
que tenhas vivido?
Olha,
chegar à casa e não ter luz
na casa,
ter a casa às escuras
e ter que passar uma noite
para outra,
completamente às escuras,
porque cortaram a luz, por exemplo.
E no outro dia,
ter pedido dinheiro em estado
para me voltarem a ligar à luz.
Não.
Se partimos do princípio,
que eu,
nem ao banco,
gosto de dinheiro em estado
para um pré-estimo bancário,
não gosto de dinheiro em estado
a ninguém.
Foi das coisas que mais
me gostou de fazer
porque eu pedi dinheiro em estado.
Por mais que seja de dinheiro,
parece que estou a mexer
no trabalho
e na vida das pessoas.
Se as pessoas têm dinheiro,
foi porque pouparam para a terra.
E tu pedias,
por mais que as pessoas não te digam isso,
e nem pensem isso,
nem sequer passa
pela cabeça das pessoas,
mas passa pela minha.
E por isso é que eu não descansei,
que eu não peguei de volta.
Mas tive que
engolir o meu orgulho
e tive que dinheiro em estado,
como eu ouvi.
Tirando,
se calhar duas
ou três pessoas,
e se calhar depois destas três,
te vão ser muito mais.
Ninguém tem noção
daquilo que eu passei
os últimos anos.
Ninguém tem essa noção.
E só falo disso agora
porque está ultrapassada.
Se não tivesse ultrapassado,
não falava dela.
Aquilo que eu estou a dizer
é para as pessoas em casa,
perceberem,
que é possível
quando as pessoas acham
que chegaram ao fundo
e que não há resolução,
há sempre a possibilidade
de voltar a cima
e dar a volta à coisa.
A pessoa tem que insistir,
acreditar,
rodear-se de boas pessoas
e não testir.
Por mais voltas que a vida
me dê a mim,
eu sou muito forte.
Já nada me derruba,
já nada é impossível.
Hoje em dia,
sinto mais novo,
sinto-me, em melhor forma física,
sinto-me espiritualmente mais forte
do que sentia.
E hoje em dia,
quando eu olho para a vida,
um simples vintinho de bebês
do que começa a dar importância
a tudo,
porque já de fato
eu tenho que parar às vezes
na tua vida
e olhar à tua volta
e ser grato
aquilo que tu tens,
é suficiente para ser feliz,
não precisa de mais.
Tens é que valorizar
e viver isso
de uma forma
equilibrada e consciente.
E nunca fazias na tua cabeça
essa comparação
entre aquilo que eu já tive?
Não posso fazer.
Se não andava malamentado
todos os dias,
a única comparação que eu fazia
é já estive pior
ontem do que estou hoje.
Tanta coisa está a
evoluir para o positivo.
Por tudo o resto,
é material.
É uma casa,
é um carro,
é isto aí.
Agora, o teu bem-estar
emocional
e espiritual
vai mais para além disso.
E se tu conseguis estar
bem contigo
e bem
emocionalmente
e dentro do possível
equilibrado,
tudo se faz
e tudo se consegue.
Em que o que as pessoas acham
para mim que pode ser um
retrocesso,
eu não consigo avaliar isso
assim.
Para mim,
faz parte da vida.
E se a vida me pôs
este desafio pela frente,
alguma razão tem que ser.
Portanto,
eu tenho que resolver.
Como já resolvi
tantos,
tantos na minha vida.
Quando fiz a Peção Estrelatinha
há 19 anos,
eu estive quase um ano
sem trabalhar
e achava já que
como artista,
não valia nada,
nunca mais vou ter trabalho.
Eu para chegar aonde
cheguei hoje em dia e ser a
pessoa que sou,
é por tudo o que eu passei
de bom e de mau,
me transformar nesta pessoa.
Até podia estar
financeiramente
espetacular.
Mas se eu não tivesse arriscado
aos 40 a fazer o filme,
se calhar,
hoje estava aqui
a dizer que ficou aquilo
para fazer,
já não ficou o que para fazer
estar feito.
Siga.
Agora,
estou a dar abraços
como esperar,
para aquilo que formeu,
para aquilo que estiver
designado a ser.
Estou aqui
como aço.
Estou a dar uma abra para mim.
Nesta altura,
ela despediu-se.
Gosto de sushi,
de futebol.
Gosto de gelado
de caramelo com sal.
Gosto de cozinhar.
Gosto de uma boa sarnhada
em casa da Graciosa
com o Gonzaga.
Gosto de molho de fisco.
Dia 19 de julho de 2006,
continua a ser
o expoente máximo
dessa vida?
Continua.
Os filhos têm
este dono também
de dar muita força,
sem se aperceberem,
e ele nem é incrível.
E é engraçado
quando me perguntar,
mas o que é que ele vai ser,
o que é que ele quer que ele seja?
Aquilo que responde é
o mundo já está cheio
de médicos,
de autores e advogados.
Quero que o filho
seja uma boa pessoa.
O mundo precisa de
boas pessoas.
Deixe que ele seja
boa pessoa.
E que a volta dele
trata bem as pessoas
e que se preocupe
e que seja feliz,
para mim é mais importante.
Pode ser o que quiser.
Tenho os nossos momentos
de muita macacada.
E ele pode tratar
naquela fase de YouTube
e ver vídeos
e mostrar vídeos
e de mostrar coisas divertidas,
mas ainda temos
os nossos momentos
de clássicas e de luta
e das nossas brincadeiras
e ele tem um sentido
muito apurado,
tem imensa piada.
Temos uma complicidade
muito grande,
muito grande às 10.
Mesmo.
O que é ser pai?
Ser pai é ser tudo.
Eu acho que quando
tu és pai
e quando sabes
e quer ser pai,
tens ali tudo
que tu precisas,
para te blindar
no mundo externo
do teu trabalho,
dos problemas,
das satícias,
das pessoas menos agradáveis
na tua vida.
Mas acima tu,
também ser pai,
é um lavar de alma
e é o meu projeto
mais importante de vida.
Eu ve-lo crescer,
poder acompanhá-lo,
para mim é ser pai
e isso é incrível.
Digo, olha,
eu já sei
não quer saber
do teu pai,
faz sempre
com os teus amigos,
com a tua namorada,
eu percebo isso,
eu estou preparado para ele
e ele diz,
não digas isso,
fica chateado comigo,
isso não vai acontecer
e vou estar sempre contigo
com os teus amigos.
Não vai.
O teu pai vai ser o cota
e contou do orgulho
e agora prepara-te
porque depois vou te envergonhar
a frente dos teus amigos,
estás na testeca,
vou lá dançar à frente
e vou te envergonhar
da melhor maneira
para estar me preparado.
Eu já tive atividade,
eu sei perfeitamente
como é que é o processo.
Agora, a única coisa que
quer que tu saibas
é que comigo
podes contar sempre,
para tudo.
Eu nunca te vou
nem mentir,
nem nunca te vou
fazer com que te falta
alguma coisa
e vai estar sempre aqui
alguém
para te apoiarem tudo
e para te ajudar
com as orelhas fotocísimas.
É impossível todo zilodismo.
Portanto,
aconteça-te a acontecer
na vida,
fala comigo
esta complicidade
que eu tenho com ela agora,
hoje em dia,
que nós falamos de tudo,
que tenha sempre a vida toda
e que ela veja em mim
um pai,
um confidante
e um amigo.
Os momentos em conjunto
são sempre aqueles
que mais alegria
te dão,
são um motor
da tua vida?
Sim,
porque são sempre diferentes.
Nunca tens momentos iguais
e a medida que eles vão crescendo
e tu vais acompanhando
esse crescimento,
vão-te sempre surpreendendo
o amor de um pai
que não pode ser.
Não há nada que se possa
comparar
esse tipo de amor
e quanto tu alimentas
e nutres esse amor,
quanto te dedicas
esse amor
e o conservas,
é muito difícil
alguém atingir-te.
Ele dá te conselhos?
Ele dá uma opinião sobre
coisas do humor
às vezes que eu faço
e que eles não tem piada.
Tipo,
pai,
isso não tem piada nenhuma.
Os conselhos que eu me dá
às vezes é...
tenho calma,
tenho meu feitio às vezes mais.
O que é que ele disse
que não esquece?
Ele disse,
acho que todos os filhos
quase dizem todos os pais,
mas acho que
se calhar a coisa
do que ele disse
que mais me tocou,
vai querer estar comigo
para sempre
e vai ser meu amigo para sempre
e vai estar sempre lá.
É uma sensação que te dá
de descanso,
estás a ser um bom pai,
estás a transmitir
bons princípios
e bons valores.
A forma como eu fui
educado como filho,
é muito diferente
da forma como
e do que o meu filho como pai.
Quando ele diz estas coisas,
eu sei que é de coração,
é de verdade,
não é para poder jogar
mais uma hora
mas estás a criar
uma relação duradoura
e sincera com o teu filho
e acho que é o fundamental
porque teu filho será
teu filho sempre,
nada altera isso
por mais de separas
e isto é aquilo.
Teu filho é teu filho.
Com a ligação que sempre
tivesse para com ele,
o facto de seu pai separado
gerou um dilema em ti.
A principal preocupação
era se criar-se dilema para ele
e como não criou,
como ele hoje em dia é para ele
uma situação perfeitamente normal,
não estou preocupado.
Eu acho que as pessoas
devem permanecer juntas
enquanto são felizes
e estão bem.
Acho que os filhos
são para as pessoas
estarem juntas
porque estarem juntas
e infelizes
afeta tanta criança
como estarem separados
e às vezes,
factor em separados,
a criança consegue ter o equilíbrio
e consegue ter o verdadeiro amor
do pai
e o verdadeiro amor da mãe
porque essa energia
pois se sente e os mil se sentem isso.
Se as pessoas não estão
bem uma com a outra,
tem que ter a maturidade
de chegar a bom porte
e de cada um seguir o seu caminho
e acima tudo,
sem sacanices,
senão não estamos felizes
com uma pessoa,
outra pessoa não deve ficar
chateada com isso,
nem vingativa em relação a isso.
E o que eu digo sempre
quando há pessoas que falam comigo
e que se vão separar,
há uma pessoa que engole mais sapos
que a outra sempre.
Mas não te importe
se estives tu,
engole os sapos todos
porque é para a felicidade
de teu filho.
Se chega a uma certa altura
é que o sapo até
começa a saber bem.
Até já alimento,
é um bocado.
Quando tu vies uma relação,
tens de viver lá em pleno.
E tu tens problemas para resolver
e se estás depressivo
e se estás não sei o que,
não consegue estar
plenamente numa relação.
Quando me dou outra pessoa,
dou tudo,
e sou um cuidador.
Gosto cuidar,
gosto de mimar outra pessoa.
A certeza de ser minha mulher
é sempre mais um dia.
O mais preciso de mulher
é a mão, o olhar e a rao.
Mudou.
Quer dizer, não mudou.
Gosto a mesma,
mas gosto de uma mulher
equilibrada.
Isso é que é.
E calibro hoje em dia
a palavra chave.
Pode ser equilibrada
no rabo também, é isso.
Bem-vindos ao Bota de Rento,
bem-vindos ao Bota de Rento.
O Vantatiri.
Se eu tivesse pescoço,
chegava lá.
Foi uma aposta importante assim
e quando eu olho para trás
e penso nas salas que enchiam,
o horário que era,
que era muito tarde,
sempre cheios,
as multidades que nós mexíamos
foi uma loucura.
Foram bons anos de televisão
e bons anos pessoais.
Eu cresci muito também
como ator e como souber.
Estão preparados para se divertir,
aí?
Querem muita ganho-ofa?
Isso já passa,
já passa.
Foi um programa que,
na altura, foi muito irreverente
e abanou um bocadinho a sociedade.
E hoje em dia,
o stand-up é uma coisa
perfeitamente enraizada,
já é uma coisa muito usual
de ver-se em Lisboa,
no Porto, no Bar,
em um sítio qualquer.
Eu adoro fazer nudismo,
mas sou sempre expulsos ao tocar.
Ainda te falam do Agente Simões
e do Rocinó.
Fala do Agente Simões,
do Paulo Sensações,
do Boris o Mágico,
mas o Agente Simões
era sempre outra personagem
e é a personagem
que as pessoas mais gostam
e que sempre que faço, às vezes,
quando tenho a oportunidade de fazer,
as pessoas, de facto,
derriram
como personagem
que é extremamente parvo.
Eu sou bonita, Agente Simões.
Agora estou aqui à paisana.
Nunca mais vi o Rocinó de Fadunjo,
que me vez fiz de uma entrevista
muito bonita.
Foi?
Foi muito bonita.
Posso ter este entrevistado?
É muito difícil de entrevistar.
Boa tarde, Rocinó.
Boa tarde, Sr.
E sobrevivei-lo de Oliveira.
Para dizer que está aqui consigo.
Sabe-se se eu mantenho
aquele hábito que eu sou na entrevista
de acordar de manhã,
tomar a sua banhinho?
Pumbacama.
Pumbacama.
Gosto de acordar de manhã
e voltar-me a deitarem,
que é o mesmo que é uma pessoa
que se levanta cedo
e tipo às seis da manhã acorda
e tal, lá para os dentes.
Pumbacama.
Já sonhaste enquanto o Rocinó?
Acho que não.
Caso é engraçado esse.
Qualquer dia vou vestir-me,
a Rocinó eu vou me deitar.
Pode ser que a coisa...
pode ser interessante.
Gosto de me vestir bem.
Gosto de também indumentar-me.
Gosto de cantar sempre sem cuecas,
porque acho que é assim
que o fadista deve cantar-me.
Porque assim,
liberta-me o fadista,
o animal que há dentro de mim.
Fica mais solto,
fica uma coisa mais...
Qual as atras de que é?
Hoje em dia?
Eu acho que é mais tranquilidade.
É mais paz comigo que o próprio.
Porque eu sou uma pessoa
que sou muito crítico comigo que o próprio.
Que defeitos é que os outros te apontam?
Tem muita ver com esta parte
que eu me isolo muito.
Uma parte dos meus amigos
que aproveito agora
para saudá-los a todos.
E pedi a desculpa
que durante muitos anos
há amigos meus que se calharam,
nem sequer sabem como
que eu estou fisicamente,
nem sabem que eu tenho uma tatuagem,
não sabem nada.
Ou seja, há muita coisa que não era minha vida
e que não me venha muito ainda.
Fizeste uma tatuagem?
Sim, fiz.
Aliás, são duas.
Isto é o nome da minha mãe em japonês,
que eu fiz com minha irmã
um mês depois da minha mãe falecer.
E esta é o Don Quixote.
É uma imagem que eu tenho
15 quadros do Don Quixote em casa
que fui juntando ao longo da minha vida.
De facto, é uma história
uma personagem que tem muito a ver comigo.
Porque eu também acho que às vezes
sonho e luto contra coisas impossíveis
de alcançar.
E tenho sempre aquelas pensanões
real, isto vai acontecer.
Isto existe.
Eu consigo chegar lá.
Eu acho que o impossível
é aquilo que tu querias naturalmente.
E há pessoas que queriam impossível
para ir atrás dele
e para conseguir alcançar.
E eu às vezes tenho essa tendência.
Se não alcançar,
pelo menos vou conseguir vê-lo.
É o meu lado muito onírico
e Don Quixote.
O que é que devias ter feito
e não fizeste?
Eu acho que nunca deixei nada
por fazer aliás,
o saldo dos António Feio.
Dizia isso.
Nunca deixei nada por dizer
nem nada por fazer.
Tudo o que eu tenho para dizer
as pessoas digo na altura, certo?
Atualmente se as de tudo.
A minha mãe...
Sim.
Foram...
Mesmo muito complicados.
Apesar da minha mãe
não conseguia falar
porque ela depois teve
quando sofreu a vê-la
e ela ficou sem falar
e depois entretanto
e eles nos esticaram
um cancro no intestino.
A minha mãe era incrível
sempre que ela ia visita-la
à batalha.
Ela estava sempre disposta
com um sorriso
incrível
e ela...
o tempo que teve entre nós
foi muito mimada,
o tempo todo.
E depois de uma pessoa
que não goste de ir com aquele peso
e falar que as pessoas
as pessoas têm que entrar
de uma forma positiva
e eu não sei se é por nervos,
se é por uma questão emocional,
eu não consigo ver uma pessoa
que tu amas,
ou que tu gostas doente
e portanto dá-me sempre
para pervoir-se e dizer piadas
e então estava sempre a fazer
rir a minha mãe
e dizer coisas divertidas.
E na última vez que eu tive com ela
em que eu tive que explicar
que ela tinha que ser operada
porque ela tinha...
Estava com cancro
e apesar de já estar acamada
e não se conseguia mexer
e estar muito mal,
eu disse-lhe
que é pronto a explicar
que pronto era uma intervenção
simples e que ia correr bem
e depois ela ia recuperar
e a forma como ela olhou para mim
nessa altura ela despediu-se
de mim.
Os olhos ela estavam
como quer dizer filho,
não te preocupes com isso,
não penso nisso.
Minha mãe
ela morreu um bocado como viveu
sempre para os outros,
ela fez sempre tudo para os outros,
ajudou sempre os outros
e ela decidiu ir embora
para não dar trabalho a mãe ninguém.
E nesse dia ela
expliquei-la,
depois estava a fazer futebolas
e ela adorou-me seu
e depois foi-me embora
e ela passava 3, 4 dias depois.
É uma parte do coração que se apaga
para sempre,
a mãe pode ser.
Há uma luz que se apaga,
teu coração nunca mais fica igual,
teu coração já não faz isto,
já tem a forma já é outra.
Por mais racional tu sejas
e tu percebas que, de facto,
é o ciclo da vida,
é uma parte que se vai embora
e que faz falta
e que não vais ver mais,
nem ouvir mais.
Eu adoro.
Tu percebeste no olhar dela
que ela sabia em que a situação estava?
Sim, e que ela tinha decidido
largar e entregar-se.
Foi uma decisão dela,
tanto que ela nunca achou ser operada
e ela decidiu
que não queria passar
por mais sofrimento
ou por o possível sofrimento
futuro,
nem ver uns a sofrer mais.
E ela viveu a vida dela
sempre para os filhos
e para o marido
e para os outros
e...
Como tu?
Pois...
Sim.
Eu acho que tenho isso dela.
Eu acho que é maravilhoso.
Traz muitos momentos de angústia
mas eu acho que não faz sentido.
Tu estás a viver e a teres a tua vida
e não te preocupares
com as pessoas à tua volta
em não ajudar-as
e não tentares fazer os outros felizes
e ser despistável.
Se essa parte da humana desaparece,
ficamos com o que?
Ficamos com...
se sentais muito bem
e tens muito dinheiro
e tens isto e tens aquilo
mas por dentro ficas vazio
mas é uma opção de vida
e a minha mãe sempre teve
essa opção de vida
que viver para os outros
e viver para a felicidade aos outros
mesmo que isso ponho em causa
a teu próprio.
Como é que era a notícia?
Foi um domingo de manhã
eu estava a estacionar a pé de casa
e foi minha irmã que ligou.
Estava a chorar e eu percebi logo
e pronto depois fiquei no carro
e...
eu sou uma pessoa muito difícil
de chorar
é muito complicado para mim
e absorver a notícia toda
e entretanto
depois tinha que contar ao Guilherme
e...
veria a pele e disse
olha, Guilherme,
a tua avó
e ele veio logo para a minha cara e disse
não
e depois pronto,
já estávamos a liberdade
num pranto e...
e pronto é...
é o ciclo da vida.
Quando eu devia morar
e estudar para cá
e trabalhar
eu não tive tantas vezes com ela como eu gostaria
a minha mãe presente esteve sempre
comigo
e falávamos quase todos os dias ao telefone
e pronto, isso é uma coisa que mudou
por mais que eu sinta que ela
fisicamente não está
ela continua presente na minha vida
eu olho para o Guilherme e vejo muita coisa da minha mãe
no meu filho
o amor dela está cá?
está cá, sim
e é a Gíria porque ela era uma pessoa muito credula
e tinha os sentinhos dela e as velas dela
e ascendia
e tirava uma olhada
e hoje em dia
em minha casa tenho um cantinho para ela
e há quarta-feira ascendo a vela branca
a fotografia dela, falo com ela
portanto eu não consigo sentir
que a minha mãe nos apareceu completamente
a coisa mais me impressionou na altura do funeral dela
e no velório
é que toda a gente vinha falar comigo sobre a minha mãe
tinha uma história bonita sobre ela
e como ela ajudou essa pessoa
e como ela às vezes mesmo não podendo ajudar
para mim não era surpresa, eu sabia
mãe que tinha
este legado humano que é importante eu deixar
para mim não é
daqui a 20 anos
olha que fiz isto e fiz estaquela série
não sei o que
é saber como é que eu cheguei às pessoas
como é que eu mudei de alguma forma
emocionalmente a vida das pessoas
e isso tu podes fazer
sem estar na televisão
podes fazer todos os dias
ficavas mais constrangido
quando trabalhavas e sabias que ela estava a ver
quando estava a fazer piadas ou não
minha mãe é a típica mãe
que era tudo espetacular
tudo o que eu fazia era ser muito bom
é a Gíria que ela nos últimos anos
começou a pintar e começou a ir à piscina
e começou a usar computador
e já tinha facebook e já tinha as amigas
no facebook e pintava quadros
ela pintou já quando estava hospitalizada
estava com o lado esquerdo
que não conseguia mexer e ela pintava
com os dedos e com as mãos
e tenho dois quadros dela que são fantásticas
são as que eu mais gosto e acho que disse-lhe tudo
o que tinha a dizer e que eu também tenho sempre aquela
necessidade de dizer a meu filho todos os dias que o amo
e tivesse a necessidade também de dizer a minha mãe
que amava muito e ia correr tudo bem
e que estava cá e que acho que é importante
chegar ao pé deles e dizer olhe ame-te
obrigado
é importante ressentir isso e ouvir isso
e eu compai-se isso
é uma simples palavra mas que muda o teu universo
completamente
não sabíamos o dia da manhã
portanto cada vez que ela ia
claro com esperança as coisas iam melhorar
mas eu tinha que ser lá e ela tinha que estar
de coração cheio
como eu também tinha que estar de coração cheio
gosto de banhos de imersão
gosto de banhos de imersão
não gosto de acordar tarde
gosto de ir vincer
ir ao ginásio
gosto de ser no ginásio completamente
com os bofos de fora e a fala mal da vida
mas satisfeito com o meu esforço
qual foi o último bom conselho que te deram?
foi mais uma coisa que eu li e por acaso
tu quer essa frase há uma semana na cabeça
que é integridade
é aquilo que tu fazes para os outros
quando ninguém está a ver
esta frase tem muito a ver comigo
porque eu nem consegui ajudar muita gente
é intrimento de mim às vezes
e o pior conselho que te deram?
quando a mãe do Guilherme dizia
ah eu não quero ter filhos, eu não quero ter filhos
e eu oferecei a coisa e valeu a pena
valeu a pena
gosto de caminhadas
gosto de risos sinceros
sinceridade
gosto de quando me pedem para soltar a parede
a roxa pedem para soltar a franga a mim
pedem para soltar a parede
gosto de roxa
aliás, adoro roxa, adoro roxa
tu dizias que não acreditavas em Deus
e se mudou?
acho que mais estou a mudar nossa volta
eu acho que Deus é um senhor ausente
eu acho que ele desistiu um bocadinho da humanidade
acho que as pessoas estão cada vez mais egoístas
cada vez mais voltadas para si
quando há algum acontecimento trágico
fala-se disso
as pessoas lamentam-se disso
mas quando as coisas param ou acabam
as pessoas não continuam com essa vontade de mudar
de ajudar
se olhamos a nossa volta
há muita gente precisa de ajuda
há muita gente que passa mal
há muita gente que sofre
as pessoas deixam-se levar porque é mediático
hoje em dia até pelas desgraças que há
um lado, entristece-me
o outro lado, acho que as ambas grátis sociais
já não trazeram uma ferramenta importante para nós
artistas e para as pessoas normais
que é que nós podemos divulgar
as nossas opiniões
podemos ajudar outras através de nossas opiniões
e acho que hoje em dia
a opina-se de mais
sobretudo
é muito fácil dizer
aquilo que se quer
sem pensar se está a samaguar outra pessoa
sem ouvir outra pessoa
já foi vítima disso?
já fui vítima disso
de repente, tu começas a ser ofendido
as pessoas começam a chamar nomes
começam a prejudicar outras pessoas
e te começas a pensar
não é isto que eu quero para a minha vida
cada vez mais o mundo é virtual
hoje conheço uma pessoa
quando vais falar com ela a primeira vez
já tiveste acesso a toda a informação dela
vais ter no Facebook
os amigos que ela tem
o sim que ela é
o que é que ela gosta
o que é que ela não gosta de fazer
certo essa magia toda
não há magia do que queres conhecer
de perceber
tu já vais ter com a pessoa
com uma ideia pré-definida
daquilo que a pessoa é
e as pessoas são sempre mais do que
o que aparentam ser
isso é que eu acho que às vezes
mais do que as pessoas perderem tempo
em opinar de um prédio tempo
ser de casa
às vezes está um dia tão lindo
e falar com a pessoa
cara a cara
conhecer a pessoa
e aí depois sentir as suas conclusões
as pessoas acham que nos conhecem
e não sabem do nosso passado
não sabem o que é que nós passamos
não sabem o que nós sofremos
para chegar onde estamos
e acima de tudo
não nos conhecem
não sabem a nossa essência
não gosto de me sentir triste
não gosto de algumas notas
que o meu filho traz para casa às vezes
se pudesses voltar a um dia da tua vida
a que dia voltarias?
talvez o dia do nascimento do meu filho
que foi para mim um dia incrível
é milagre mesmo
eu acho que é nesse momento
que tu percebes de tão pequeno que tu és
e do tamanho do mundo
de todas as suas mãos
é um momento marcante
para qualquer pessoa
para qualquer pai
qualquer mãe
acho que quando ves o teu filho
e teses o teu filho nos braços
acho que muda-te completamente
a esses segundos
qual foi a melhor coisa que disse
você?
não sei se foi a melhor
mas foi a mais sincera e genuíne
e mais engraçada
foi um espetáculo da Roche Inol
e houve uma senhora que chegou a pedir
e me disse
olha
vou dizer uma coisa
não, você é um marco racionário
eu sou
não gosto de nada de si
não gosto
daquilo que você faz
não gosto de nada
agora
Roche Inol adoro
farto de rico Roche Inol
adoro Roche Inol
e assim olha
muito obrigado
por a sinceridade
e achei muita piada
esta dualidade
não gostava de mim
que é normal
nem toda a gente pode gostar
depois de Roche Inol
de facto
é uma alteria que eu tenho
ela adorar
e dizer-me
que para ela
é o melhor humorista
e a coisa mais divertida
que ela já viu
e depois tenho
pessoas que me dizem
coisas muito carinhosas
e tenho muita sorte
sou muito gratil
o público que tenho
as pessoas que tenho
sempre tenho uma palavra
de carinho para me dizer
e falo-me do salve-se
quem puder
e falo-me do novanta-terri
e sempre com carinho
alguém deve um pedido de desculpas
sabe que as desculpas não se pedem
evitam
se é que eu digo a meu filho
portanto acho que um pedido de desculpas
a esta altura
não faz sentido
mais do que desculpas
algumas pessoas devem-me atitudes
e ainda não pedi a esperança
no futuro que as pessoas estejam
porque as pessoas julgaram-me
sem me conhecer
e não têm esse direito
depois de tudo que eu fiz
porque as desculpas é uma coisa que
as pessoas erram
é humano
e gostamos de passar por cima
pedi desculpar todas as pessoas
a quem querias pedir
sim, pedi
se calhar
também devo uma atitude a outra
algumas pessoas
por exemplo, mesmo em relação aos meus amigos
que eu tive aos entes muito tempo
eu acho que não tenho que pedir desculpas
os meus amigos
sabem o período que eu estava a passar
e portanto só tenho que aceitar
e compreender que eu sou assim
e aceitar-me como eu sou
uma coisa boa dos amigos
é que nos aceitem como nós somos
de facto sou muito introvertido
e gosto muito de sofrer sozinho
custa-me partilhar o meu sofrimento
com outras pessoas
como é que achas que estará à vida
na saldura?
se eu tiver com esta lucidez que estou hoje
ótimo
só peço estar espiritualmente
emocionalmente equilibrado
como estou hoje em dia
e ver a vida e o mundo
como consigo ver hoje em dia
sempre deslumbrar
sempre autocriticar
e sempre com a noção
que de facto sou uma pessoa muito forte
O Guilherme, como é que
que achas que seja a vossa relação
na saldura?
eu espero que ele esteja na faculdade
nessa saldura
ou atirar um curso qualquer
e que me liga a dizer
pai, vou este fim de semana
e quero que me faças
o esparguete da bolunheza
que eu adoro cozinhar
e ele adora os meus cunhados
espero que ele tenha
os meus soldados disso
e é pá
e quero estar contigo
e vamos ver um copo
olha, vou aí
e quero ver
e tenho soldados tuas
esteve a me disser isto
eu já ganhei ouro minhões
é o teu melhor amigo
é e que eu sejo a ele também
eu nunca se esqueça disso
o que é que dizem
estes olhos
dizem que se tivesse que fazer tudo
outra vez
faria de novo
porque
não há
mais opções
na nossa vida
apenas opções menos
corretas e menos certas
tudo tem uma aprendizagem
eu aprendi muito com isto
obrigado
às uma vez
obrigado
efeito
efeito
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Marco Horácio veio ao Alta Definição para contar a Daniel Oliveira a sua história de perda e resiliência. Num exclusivo, revela os últimos duros anos pelos quais passou, onde o dinheiro faltou para tudo. “Tive de abdicar de refeições, (...) chegar a casa e não ter luz”, desabafa. Depois de escrever, atuar e produzir o filme 'Mau Mau Maria', o humorista hipotecou as suas duas casas para garantir que não ficava com dívidas. Apesar dos problemas financeiros que enfrentou, quando, ao mesmo tempo, teve de superar a morte da mãe, volta ao programa com uma mensagem de esperança: “Só conto isto porque o ultrapassei. (...) É possível, quando as pessoas acham que chegam ao fundo, é possível dar a volta”. Ouça em podcast o Alta Definição emitido na SIC a 1 de julho.
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