Alta Definição: Márcia Breia: “Quando se é velho está-se mais inutilizado mas não se pode mandar gente para o lixo”

Joana Beleza Joana Beleza 7/29/23 - Episode Page - 40m - PDF Transcript

Nós ainda estamos aqui

Bem-vinda, Marcia

Obrigada, podes deixar-nos uns minutinhos a sós, Marcia Breia

Tanto é buscar uma periga nova no Carmel

Estou como sou, no alta definição

A porta deste Carmel está sempre aberta, para quem vier provém

A felicidade de uma escolhidade

Não, não deve, as pessoas nos sítios dependentes da sua idade

É que é mais complicado, não é?

São estas cartas que me fazem conhecer um mundo lá fora

Que me dão vida

E que dão força à minha missão

E há sempre razões para ser feliz, se as quiseram nos encontrar

Sim, há sempre, mas às vezes é complicado, mas há

Primeiras, dizem os otimistas

A Marcia inser-se sem qual? Nos pacimistas ou nos otimistas?

Ah, nos otimistas, eu às vezes até penso que são um bocadinho tontinha

Acorde-se sempre que o dia seguinte é sempre melhor que o anterior

Apesar de todas as contas e vicissitudes e coisas assim

Eu tenho muito sentido humor sobre a vida

E sobre si mesma também?

Muito, então

Material é vasto

Está lindo, olha e gosto muito do urso, minha filha

Qual urso?

Esta está aqui

Este não é um urso

Pareceria com o Rui de Carvalho na Zareia, incrível

Sim, me dê-me com ele, desde o palavrão, a tudo o mais perfeito a dizer

E ele já dizia imenso também, a palavra de mim como se isso fosse normal

Fico muito contente, porque eu acho que se não se parte para as coisas

Com uma certa alegria e uma certa vontade, ou há vontade de estar

É tudo uma amassadoria

Nós somos o casal mais animado daqui, lembra-te?

Minha melhor tinha sofrido muito

E eu ia ver, eu sentia que era absolutamente inútil

E eu ia ver, mas tinha medo de não ir ver

E no único dia que não fui ver, morreu

Sei que há palavras que não estou autorizada a partilhar

Crees que as partilha agora?

Ainda há muito a fazer na forma como a sociedade

Olha para aqueles que são mais velhos

Claro que há, também Deus do céu

Não ligam, fazem presão

A certa altura é como se os velhos fossem um fardo

Mesmo as pessoas que têm uma família, que têm os filhos e tudo

Que se a ti, se temos que tratar dele

E quando é que se apanhe isto?

As reformas das pessoas de idade são miseráveis

Quando mais precisavam, menos tenham

Eles precisam de um comprimento distido àquilo

E às vezes é tão complicado

E deixam os mais isolados, mais só esperam-te a abundância dos outros

E isso faz muito confusão

Pois também há a parte humana

Porque tem que se tratar a pessoa de

Está bem, pronto, está mais inutilizado

Mas não se pode tirar para o lixo

Não se pode deixar estar

E ele diga, está assim

Não

Eu nunca mais me esqueço que me vejo pensei

Uma das coisas que gostaria mesmo

Quando há uma pessoa da minha família direto

Morrer-se foi eu não ter tido aquela coisa bonita

De passar para a cabeça dizer, olha que eu amo muito

Nunca dizemos

Vemos sobre ponto de vista de inutilidade

Claro que eu também sinto do meu lado

Que é muito complicado

E eu gostava de fazer determinados programas

Com as minhas filhas, com as minhas netes

Com o pequeno núcleo familiar

Mas eu próprio sinto que estou a limitar-me

Porque já não é a mesma coisa

Quase que não querem incomodar, é isso?

Não quero que eles alterem as coisas

Por minha causa, não quero que eles mentalmente digam

Se a gente não trouxesse o embrulho

E que era muito mais

Embora eu não seja das piores

Que ainda me aventuraram lá para aí

Mas mesmo assim, percebo que eles

Tenham um mundo, já é mentira

Já não pertenço àquele mundo

A única coisa onde eu pertenço àquele mundo

É no enorme amor que tenho por eles

Isso sim, isso

Se não fosse aquela grupeta de pessoas

Que me habitam, eu não tinha às vezes

Encarada a vida tão bem

Que eles sem querer ajudaram-me muito

Na caminhada, mesmo muito

Quando se vai perdendo amigos contemporâneos

Que fizeram vida connosco

Vai se chicando mais só

E vai se enchendo de medo

Eu encho-me de medo

Porque cada vez a idade dos que partem

É mais próxima da minha

E ultimamente isso dá-se muito

Eu começo a pensar

Que um dia destes

É a minha altura

Mas eu não me apetecia

Eu não me quero ir embora

É sério

Tenho uma

Tenho uma vontade de viver

Muito grande

Muito grande

Porque sinto sempre que vou perder coisas

Não tenho que perder

E que eu me direm embora, não?

Sim

O fim para nós é uma incógnita dolorosa

E podia não ser

Mas isso depende da cresta de cada um

Da fé de cada um

Eu pensei tanto no fim

Porque acho que nós não somos preparados

Para o fim

Com quem fala sobre a sua vida

Sobre a sua infância, sobre a sua adolescência

Tem referências, tem alguém

Com quem ainda fala sobre coisas que viveram juntos

Muito para trás já não tem

Um ao outro, a amiga minha

Passaram a adolescência comigo

Mas não tenho já ninguém

Porque meu pai morreu

A minha irmã morreu

Eu tenho realmente já um cuirador

Talvez simplesmente

E portanto eu converso as concretas

Às vezes com outra pessoa mais amiga

Mais intima

Mas não tenho muitas

E também não sei porque sinto que ao ter conversas

Sobre os meus medos

Tenho medo que sejam mal interpretados

Mal...

Não sinto uma certa incomodidade

Falar de tudo isso

E não há muita gente para que a gente possa falar

De tudo isso

Como é que foi lidando com o envelhecimento?

Desde que não me doa nada

Aí que não é aquela coisa

Aí que me vou levantar

Eu dou comigo a fazer coisa

Isso não é normal

Aliás, elas dizem

Também me irrita muito

Porque elas às vezes têm atendência

Já para me tratar

Não é assim, não, não

Já te dissemos isso

Quantas vezes é que eu já te falei misto

Já te falei isto muitas vezes

Então eu vou atravessar uma rua com elas

E há uma que me pega assim

No braço para eu chegar mais depressa

Ao lado do lado da pessoa

Eu estou a ver o carro

Isso também começa a ser motivo de chacotas

Às vezes mas outras vezes de irritamento

O salto foi tão grande

De modos de estar, de viver, de pensar

Que é muito natural

Que nós não sejamos compreendidos de mesma maneira

A malta nova

Também não sei se as mesmas são assim tão amparadas como isso

Eu acho que é o contrário

É assim, como que são muito mais independentes

Como tem uma família

De um modo geral ocupadíssima

Que pouco se ocupa de eles às vezes

E eu quando digo de eles não é quando são mim

Porque isso todos os ocupam durante

Mas é quando depois começam

A idade a prevaleira e a saída do armário

E mais não sei o que, é muito complicado

A gente tudo é premiada

Sobre certos aspectos

Mas sobre outros não acho que seja premiada

A coisa não

O que é que a idade traz de bom?

Ah, muita coisa

Que a idade também

Traz um olhar muito muito bom

Sobre tudo

Que eu consigo neste momento

Olhar por cima do que se passa

Ter uma visão crítica

Que não é ainda bom, ainda mal

Nem nisto, nem de que é

Isto é assim, porque isto vai ser assim

Porque já foi assim, porque a história repete

E outra coisa muito bonita

Que a idade me deu foi a compreensão

Eu tenho uma compreensão grande

Para tudo o que pode acontecer às outras pessoas

Para aquilo que as pessoas chamam

De feitos, abarrações e outras coisas

Tenho uma compreensão enorme sobre isso

Há uns 30 anos atrás que a idade não tinha dado

Morro de ser uma coisa vista com serenidade

Para toda a gente ir ao é

E trempar-me e compensar nisso

E se tu tiveses tanto talento

Para escrever como tens para cantar

Se calhar, podias me ajudar

O prazer que encontrar

Representar é o mesmo, desde sempre

Ou agora é um estágio diferente

Desse prazer

É um estágio diferente, eu comecei a fazer teatro

Para razões que não tinham muito nada a ver com talento

Era porque eu estava mais um período

Difícil de vida social portuguesa

E eu estava metido em movimentos associativos

E criou-se um grupo de teatros no sítio onde eu estudava

E portanto eu fui convidada

Para fazer a peça, portanto

Essa parte é quase que uma inconsciência

Sendo tão ciosa da sua liberdade

Deste sempre, a sua profissão tinha que ser uma

Em que pudesse ser aquilo que quisesse?

Sim, sim muito

Eu ia ser a gente técnica de engenharia

Não é tão estimulante, aparentemente como

Não é tão estimulante, aqui era o meu paisinho

Queria que eu tirasse qualquer coisa

Porque tinha desistido já das propostas anteriores

Recordo com mais saudade da sua infância

Recordo com saudade do Porto

Muito

Sempre que posso ir ao Porto

Vou lá lavar a alma

Onde é que termina a sua infância?

Termina...

Quando eu percebi que se não vivesse eu

Por mim própria, a minha vida

As coisas iam ser complicadas

E termina também com os conhecimentos

Sentimentais que se têm

Na altura, não é?

Foi viver como o pai

Da minha filha mais velha

Foi a primeira vez que saí de casa

Tinha que idade quando foi viver com o pai da sua filha?

26, 27

Naquela altura era tudo muito complicado

E sobretudo uma cidade como o Porto

Uma coisa era ter alguém

Outra coisa era viver com alguém

Porque implicava umas certas normas

Políticas da sociedade

Coisa que, felizmente, nunca atende muito

Não, nunca

Eu dizia sempre o que enforcia muita gente

Eu nunca perco uma boleia

E havia muitas boleias?

Tavia canidades à boleia

Se me testava, me testava

E eu vivia o que tinha que viver

O meu pai nunca se importou muito

Em essas coisas e dizia que a vida era mesmo

Para se viver

No dia em que eu decidi viver com uma pessoa

E ele disse, a cama não descesse

A cama é que te detas

Tá tudo dito

Marcia chegou a estudar num colégio interno?

É de castigo

Por quê?

Porque não estudava nada

Queria namorar?

Era namorar, era meter-me nas coisas como o dia inteiro

Era tudo, andava ali assim um bocado

Para experimentar a vida, que era o que eu gostei sempre de fazer

Para tomar, na altura, chamava-se Coégio de Nova

Que era dinda da família do lado do meu pai

Que era uma coisa pior que na casa de reclusão

Era uma farda

Se tivéssemos um tipo de nota até o 12

O domingo saíamos um bocadinho

Para se passear ao mochão

Se tivéssemos de 12 a 14, íamos ao cinema

Tínhamos que entrar a primeiro

Para tocarmos com ninguém sexo ao oposto

E depois lá víamos o filme

Passávamos bilhetes das internas

Para as externas queitadinhas internas

Não podiam ver os namorados que tinham no colégio masculino

E até que um dia a diretora do colégio

Disse que não pode ser

Que tu não pode vir para aqui fazer comícios

Isto não é um sítio para fazer comícios

Sobre religião, sobre a repressão

A minha moda

Não tinha nenhum chavão

Mas sabia muito bem o que é que havia de dizer

E sobretudo coisas relacionadas

Com a vida sentimental das pessoas

Era tudo cheio de regras

Uma pessoa

Mesmo que namorasse com alguém já há uns tempos

Não andava na cor de braço, nem pensar

Não se podia falar com um rapaz

Se não fosse na frente de uma pessoa qualquer

E também sobre algumas coisas da religião

Que eu achava que eram muito graves

Estão da culpa, por exemplo

E se nem sei o que é, essa coisa de nascer

Com a culpa, quando digo isto

Há pessoas entendidíssimas que fazem pouco de mim

Acredito, mas eu não sinto o que é isso da culpa

A religião foi para mim

Inociva

Porque pôs as pessoas num obscurantismo muito grande

As pessoas acreditavam em coisas

Que hoje não era possível acreditar

A vinda para Lisboa foi difícil para si

Ou foi mais entendida como um salto para a liberdade

Era difícil só porque já tinha

A filha mais velha, não é?

Mas eu vim para Lisboa com uma proposta de trabalho

Do ano na altura Vasco Morgado

E achei que era a altura de sair daquilo

Ninguém onde estava

Porque também já não estava nada a ser bem

Nem para mim, nem para a pessoa que vivia comigo

E portanto aproveitei o facto

De ter se convido para me vir embora mesmo

Com a mala de cartão e a criancinha

Mais de braço

Como é que conciliava isso com uma filha pequena?

Mal

Houve um primeiro tempo que eu vim para

Para Lisboa que ficou uma minha

Minha cobela no porto

É difícil para você?

Claro, mas eu e eu achei isso, mas na verdade

Quando depois passei groteados mental

A mesma coisa

A gente tomava conta dela

Era o contra-regra, José Valente

Eu tinha comprado um cursãozinho

Daqueles de insuflável

E ela ficava detenida

Fizia-se uma caminha e ficava no camarim

Quando ela foi mais crescida

Trouxe para a corno de cópia

Onde ela efetivamente aí vivia

Depois, o problema era as noites

Mas arranjei uma pessoa

Onde ela ficava até a hora que eu saia

E ia buscar-la, quando ia para casa

E essa separação que fez também

Para Lisboa, a Márcia sempre teve

No som de que ninguém é de ninguém

Não, não é pra dizer a doutora não, ninguém é de ninguém

É isso, tenho certeza

As pessoas não são donas de ninguém

Para mim é mais isto

O que é que é preciso saber

Para sermos donos de nós próprios?

Conhecermos?

Conhecermos bem intimamente

E conhecermos no nosso relacionamento

Com os outros, se não há uma solidão estúpida

Nesse tempo

O papel das mulheres na sociedade

Era muito restringido

As mulheres empregavam-se no medido

Ou seja, a minha filha não trabalha mais

Porque vai casar

Não tinha a noção de que uma pessoa

Sem precisar de estar casada

Ou por casada, por casar

Isso não existia, nem pensar

E quando pessoas como eu

Tavam de saber levar para isso

As pessoas diziam um bocadinho mal

Nós, a certa altura, foi mal vista

Ele deu como libertina, talvez

Sim, como a pouca concelhável

A maioridade era os 21, não é?

A maioridade no cartão de identidade

Porque na cabeça delas

A maior parte era os 40 e mal

Isso, a maioridade foi com o que era

Os 21

Os 21

Eu tinha uma certa ligagem e já sabíamos

O que eram os caminhos da minha história

Se uma pessoa se andava

A rua de mão dada com a venda

Eu não ia querer saber

Por acaso eu tinha muitos amigos e amigas

Porque esta imagem parece que de repente eu era

Não, não era

Eu era, aventurava nas coisas

Eu nunca na vida ia submeter

A opinião alheia

A minha própria vida

É como ainda hoje faço

Não tenho que submeter

Amorou muito?

Sim

Era muito calanteada?

Como era feita a corte?

Direta, direta nunca era

Havia bitinhos, desde marcação de encontros

Já reparaste, eu gosto muito de ti

Porque é que tu não cede na comigo

Eram coisas assim, muito ingenuais

E depois havia equívocos

Ajeitei um passaporte

A agência de viagens

E eu era realmente interessante

Eu não tenho coopera bonita

E estava já acabado de preencher tudo

E veio um rapaz da agência e disse

Olha, o senhor comendador quer vê-la

Mas há algum problema com o passaporte

Não, não, ele quer falar consigo só

Foi eu que falava com o senhor comendador

Uma conversa de chá, chá, chá

E tu o que faz?

Ataca no porto, liquidito

E eu achei que era um bocadinho tonto

Bairra-me de flores

Caixas de chocolate

Positais de todo mundo

Lopes com amofadinhas

E o meu pai apanhou-me dessas prendas

E deu uma corrida ao desgraçado

Esta feita que não tinha culpa nenhuma

E eu nunca mais na vida

Podia receber nenhum presente

Porque para o meu pai isso era ofensivo

E era, bem, efetivamente é

Como é que se namorava a Soscondidas?

Ou se passeava em sítios menos concorridos

Ou dizíamos que irmos estudar

E irmos para a casa de alguma amiga

Que não se importasse que a gente tivesse

Ou mesmo até à noite

Para nos despedirmos que podia ser atrás da porta mesmo

Portanto, faziam-se as mesmas coisas

Mas de forma mais discreta

Tinha que ser, estava no sangue, não é?

E a Marcia também já disse que se fazia

Muitas vezes ao piso

Se achasse alguém que estava cá calhando no boto

É isso, fazia todos os possíveis para uma abordagem

Você tinha sucesso? Alguma vez voo negas ou não?

Sim, uma ou outra, mas que pagou caro por acaso

Então?

Porque mais tarde queria que eu voe

E o mais tarde disse que nas eras mortas

O que é que a Insia rebatava aos homens?

Acho que havia vários fatores

O fato de ser uma mulher bonita

Ter conversa, o facto de

Andar a anar muito bem, já tinha

Porque o meu pai tinha um orgulho

Normalmente trazia bem lá já

E sobretudo, porque o meu sentido de amor

E eu tive desde sempre

Só falarei lá, de cada momento

Ainda galanteia

Ainda hoje

Ah, imensa

A mesma, as mais novas aqui

Há uns metagírus

E eu dizia, olha lá, se não ficas bem

Ficas bem assim

E eles riam, as imensas adoravam

Ai, a gente é um velho, mas não sou cega

Alguma vez traiu?

Sim

Em grande

Em grande?

Porque que é isso, em grande?

É sério

E a outra pessoa soube?

A outra pessoa era pior que eu, mas sou

Ajudou-lhe por respeito ou por desejo?

Eu adorava aquele tipo

Sempre adorei ele, as

O que os homens julgam que sabem sobre as mulheres?

Julgar, eles julgam uma coisa

Agora sabem, não sabem nada

Não sabem nada?

Sob os homens atentos sabem muito bem

E sobretudo sabem que respeitar

Que é uma coisa que o nosso país, às vezes

Ainda hoje, infelizmente, todos os dias

Temos notícias disso

Mas também, ele encontra no vosso sexo

Uma coisa interessante

Não se preocupa um pouco

Então só quando é que se temar

Estou ira na boca

E que fazia assim

Foi assim

Foi bom ontem a noite, não foi?

Pelo amor de Deus, calma

Fala baixo

Vai que vergonha

O sexo não tem idade

Não devia ter

Quer dizer, eu não tenho ninguém

Há muito tempo, não tenho ninguém

Tô um bocadinho a falar

Por aquilo que me parece

Mas uma das coisas interessantes

Que não é novela na Zareca

É ver um casal na nossa idade

Que tinha amor um por outro

E que o efetivava

Isso é muito bonito

E é muito útil, penso eu

Para as pessoas que acham

Que a partir de certa altura

Não têm já nada a ver com isso

E é mentira, o prazer ele existe

Temos a ir procurar

Este bolo, desculpa

Dá uma delícia mesmo

É como tu, meu amor

Tu andas muito ervitado

Faz muita impressão

Que a velhice já é sempre

Primeira a cabeça

Precisamente não teria

Passei a se apaturar mais ninguém

Mas concordo

Que as pessoas têm direito

Uma vida de amor, bolas

Que não é só apaciar

Na rua, de graça da área

Podem comprar o jornal e o jornal

E olha, pós-as hoje não pode ser

Tem que ver participação dos dois

E um tem que puxar o outro

Pular como vão dizer

Ah, mas eles me disseram

Felizes, pronto?

Meus parabéns

Não são tão felizes como isso

Porque muitas minhas no meu tempo

Não se separavam

Porque eram uma chaga social fazer isso

Não eram assim tão felizes

Então não temos nada

Ainda nos temos um ou outro

E isso é o mais importante

Márcia por sempre ter dito aquilo que pensava

Foi muitas vezes inconveniente

Com que preço?

Olha, na alguns aspectos

Por exemplo, não ser convidada

Percebe das quantas

Porque era inconveniente

Foi uma das coisas que me mangou, meu amor

Não foram muitas vezes

E mesmo profissionalmente, eu penso

E quem me conhece

Sá perfeitamente que eu não me calo

Me calo, eu não quero ofender ninguém

Só que, para mim às vezes

É tão claro que as coisas não são assim

E é tão claro que não estão a ocorrer bem

Eu tenho que dizer

Não quer dizer que isto abra uma guerra

A todos os deuses do meu, que horror

Está-me na natureza, está-me nos cronossomos

O cara usaria este tempo

É muito graça o que é assim

É que é feitio, é um feitio

É até o feitio de todos dizer a verdade

Prórdio, ele começava a selar da riba

Quem não se importa o mundo

Não ganha por tudo

Não é como diz o outro

Acho que a verdade é bonita

E às vezes é útil

Temos é que saber gerir-la

E aí é que às vezes corre

Agora já estou mais calma

Porque às vezes deixei de trabalhar

Porque as pessoas achavam

Que eu ia dar trabalho nestas pé

Nunca dei, comprei sempre tudo como pedir

Agora não me pesa

Para passar por as coisas

E fazer de conta que elas não existem

Porque não é verdade

Mas se é verdade

Porque é que não sabia de recordes

Era difícil viver consigo

Conviver ou não

Mas viver-se

É que ainda hoje tenho um bocadinho de mau-gênio

São às vezes muito imperativo

E custou-me imenso

Por exemplo, a minha filha mais nova

Viva comigo mais um filho

Eu sei que é uma situação muito má para ela

Era ter de viver com a mãe

Já com o filho e tudo

Porque devia ter era uma casinha para ela

Como todas as pessoas sabem

Desculpa-se todo

Só que não pode

Porque o ordenado não permite

Portanto, está com a mãe

Que a mente é uma casa grande

E não precisa

Pode passar dois dias lá em casa

Aqui sem o haver

E eu se forcei-me sempre

Apesar de nem sempre conseguir

É não me meter demasiado

Na vida dela

Na vida sentimental

Eu não meto

Não posso conversar com ela sobre o assunto

Mas eu não meto

Mas nas regras dentro de casa

É complicado

Como ela era mais nova

E como ela ainda

Tem um ar ainda mais novo

Tenho aquela tentação

De agir como ainda a mãe

O nascimento das suas filhas

Trouxe-lhe uma nova forma de amar

É um amor diferente

É muito diferente

É uma espécie de sonho, de idade

E de coisa bonita que a gente tem ali

Como é que recorda os dias

Em que elas nasceram?

Recorda

A noite em que me deu a primeira dor

Da primeira filha

Foram coisas diferentes

Uma e outra

Eu fui ter a criança

A borda do Carmo

Amei-me a ir para casa de uma amigeminha

Esperar por o pai dela

Para ir para casa

E comecei a ter umas duas estranhíssimas

E andar para o caminho da casa

Não é normal

E então

Telefonei à médica

A médica disse-me

Se a perpaça

Na madrugada

Vai ter que entrar na maternidade

E assim foi

Foi fantástico

Só me gostou de subir a escada

E aquilo foi meia hora

Tava pronto

A segunda costumava um bocadinho mais

Tive muitas horas

Com dores

E a palacenta não descolou

E teve que fazer uma transversão

Porque perdia muito sangue nessa altura

E a filha mais nova quando nasceu

Era deslumbrante da bonita

Era muito branquinha

Nos olhos claros

E chorava, e chorava

E depois começou a parar de chorar

Quando lhe costava as costas

Isto na primeira noite

Que ela ficou a pé de mim

Ainda hoje

Ela tem quase 40 anos

Eu tenho que estar as costas à noite

Porque estamos a ver a televisão

Portanto isto é um pro...

Qualquer

E da mais velha

Às vezes quando pense no que foi a expulsão

Do bebê

É como se ainda tivesse a memória disso

O que é mais difícil em ser mãe?

Acertar com a educação

Os filhos são todos diferentes

E acertar com a maneira como se lida com ele

Quando eles começam na adolescência

A pobreza já é complicada

E por aí fora acho que isto é mais difícil

E eu não tive razão de queixa

Nem de uma nem de outra

Que momentos felizes te recorda de viver em juntas?

Todos

Nós de vez em quando

Lá fazemos a viagem familiar profilática

E para as raízes não se perderam

E é sempre muito engraçado

É sempre muito agradável

É muito cansativo

Mas é muito interessante

E fazemos uns jantais familiares

Parece uma família italiana

E continua a ter sobre elas

A visão de que são meninas

A mais nova às vezes não passa isso para a cabeça

E é por isso que friccionamos tanto

Mas...

A fricciona muito

Ui, que ela é muito proprietória

E eu também sou

Então é, temos e é um jogo que temos as mesmas

O amor de avó

É muito diferente do amor de mãe

O amor de avó não existe assim

O amor de avó é escangalhar tudo o que os pais fazem

O que é que é escangalhar?

Por exemplo

Elas não podem comer isto ou aquilo

E às vezes lá está na mesa uma coisinha

Antigamente ia lá fora

Era comprar uma coisinha para a filha

Uma coisinha para a outra filha

Coisinha para mim

Agora não chega um sítio qualquer e é

O que é que eu posso levar para a Carolina

O que é que eu posso levar para a Linoara

O que é que eu posso levar para a Daniel

Fazer refeições especiais

Que eles gostam mais

Posso sentar-te se quiseres

Imagino que não estejas a cumprir

Nenhama bonitas

E eles gostam de ver a avó

Adoro o caso raro

E nunca visto

Porque normalmente não dizem nada

Essa é a caça, tudo seca

Há uma altura em que é tudo seca

Mas não

Gosto imenso

Ai, não me acredito

Isso não é verdade

Quando a sua neta mais nova entrou

Em palco foi muito especial

Foi

Elas entraram às duas

Mas a primeira

Foi a primeira cena

Comigo e com ela

E então

Atravamos, atravassávamos

Em descrito e ela

Ela verava

Se tinha que dizer uma frase dela

Que era

Minha avó avó

Ai, meu Deus

Quando ela disse isto

Pai, eu

Despanjei-me

Porque era

Uma voz

Daquele ser

Que eu amo imenso

A dizer uma coisa

Apulsando a homem mesmo

Minha avó avó

Porque chora de uma sequeda

Ai

Nenhum é mentir esse bocadinho

E ver a outra

Que nunca tinha feito teatro

A fazer de príncipe

Ias grimir

Ia fazer umas coisas que não era suposto

Porque elas estavam no meu terreno

A fazer uma coisa que eu gosto muito

Isso foi muito bonito

A chegada dos mais novos

Atenua a perda dos mais velhos

Tenua, claro

Não, tenua

A minha mãe foi a primeira a forcer

Morreu em 71

O meu pai morreu em 88

E a minha irmã

Que eu não estava esperando

Morreu em 90

E em 24.000

E 16

Foi o rival

Meu deserto

Porque eu tenho sempre muita força

Eu vou buscar forças nem a sei onde

Mas não estava assim à espera

E o sofrimento fez mal

E a minha mãe já tinha sofrido muito

E eu tinha sofrido muito

Por vê-la sofrer

E elas já não estavam a dar a cor de si

E eu ia ver

E sentia que era absolutamente inútil ir ver-lhe

Mas tinha medo de não ir ver-lhe

E no único dia que não fui ver

Ela morreu

O meu pai

Teve um

Um final, um bocadinhos

Tempestuoso

O meu pai tentou cometer a suicídio

Porque foi acusado de uma coisa

Que efetivamente que o Itado

Não tinha nada a ver

Não era nada a ver

Mas ele tinha uma posição

Dentro do organismo a que pertencia

E aí foi um bocadinho mal tratado

É

Também é uma coisa que não...

Andará à procura do pai

Que não era um cês de tarde

Onde é que estava o voo?

O saro?

Onde é que estava o voo?

Visto?

O voo subiu, não subiu

Subiu, subiu, subiu

O pai o voo subir

E chega ao quarto e ele instala uma carta

Escrita para mim

De despedir

Foi...

Já nem quis ver a manada

Fiquei a pensar na carta

Fiquei a pensar que tinha que encontrar

Porque ele tinha sido uns momentos antes

Chamaria os zombeiros

Mas para acaso ele deve saber que...

Não...

Não foi...

Ele morreu mesmo doente

Com um problema grave

De próstata

O meu pai

Até o último inúteo

Não pensou que ia morrer

E nós já todos sabíamos que ele ia morrer

A minha mãe tomou muito menos

Porque a minha mãe perdeu a noção de tudo

Umas dias antes

Só gritava a minha filha

Da que está a minha filha

E eu às vezes estava a pé dela

A minha irmã

Pense que seria a única

Que a certa altura se apercebeu

Que ia ser o fim

Fui avisada que ela estava muito mal

Que tinha sido internada de urgência

E então lá fui eu acorrer

Para para ir jeter com ela e...

E ela estava realmente muito mal

Depois tive uma conversa

A parte com o médico

Do hospital

E ele disse que não havia

Nada a fazer

Era uma coisa

Já tão disseminada por o corpo todo

Que não...

Não podia fazer nada

Mas é ela a conversar

Passava a vida a dizer que...

Ai, mas que já olha o que havia de acontecer

E agora quando estiver melhor

Quero me ir embora para a montanha

Pode ser que tu possa ir, Marcia

Se eu acabar o filme a tempo sim

Posso ir...

Se sabia que nada daquilo ia ser verdade

E estrutura...

No último dia que ele tinha que me ver embora

Porque já filmava no dia seguinte

Foi um horror para mim

Porque eu sabia que não ia voltar a ver

Ela teve muita influência na minha educação

Também

Foi uma pessoa que tinha uma dose de rebelde

E acreditava muito

E que me ajudou a viver muito

Me ensinou muita coisa

O facto de não querer em Deus

Torna às perdas mais definitivas

O facto de não acreditar que haja alguma coisa para lá

Claro

Se calhar se uma pessoa tiver uma coisa muito forte

E muito para além de tudo

Para acreditar

Refugia-se nisso e aprenda a saber o que é a morte

Mas nós não fomos preparados

Na nossa religião por menos

Nunca preparou ninguém para a morte

A morte para um crente absoluto

É sempre o ponto final

É o castigo

É isto

É...

Nada disso

A morte ia ser uma coisa vista com serenidade

Para toda a gente

E não é

É trempado nem que pensar nisso

E pensa muito

Ultimamente sim

Mesmo estando bem de saúde e feliz

É uma ideia que atormenta

Atormenta-me porque sei que pode vir a qualquer momento

Eu não tenho nenhuma doença

Que pronuncia e tal

Mas sabemos que é sim

Há um dia que já o médico disse

Olha isto, não deu nada bom resultado

E a partir daí começa...

A gente se prepara mesmo e vive até o último minuto

Ou então o sofrimento

Quando olha para o futuro o que é que vê?

Se eu trabalhar é bom

Se eu não trabalhar é mais difícil

E espero não ter nenhuma maleta que me obriga a andar

Moleta, andarilo

E fazer uma peça de andarilo

Qualquer coisa assim

Tem cuidados com a saúde?

É

Eu tive um problema grave de saúde

É miuda

Que foi tratado como naquele tempo

Se tratava

E deixou-me mais sequelas a nível de sistema nervoso

Uma das que me deixou foi o pavor de estar só

Se fosse para o ano não podia ir sozinha

Porque parava a enchêana de pânico

E voltava para trás para casa

Mais tarde isso também se refletiu

Numa coisa me prejudicou bastante

Ter medo de ficar em casa sozinha

À noite, não fico

É uma coisa legal

Porque eu entrei em pânico mesmo

Não é das casas que eu tenho medo

Nem do ladrões, nem nada disso

Mas parecei sentinha

Mas não é isso

Eu começo a partir de certa hora de noite a ficar

Não tem ninguém, não ouço ninguém

Onde é que eu posso ver se me der isto outra vez

Porque uma vez tive mesmo um ataque de pânico

E sei, e fui dar-me uma volta de táxi

Para ver se chegava a casa a hora

Que a primeira pessoa de minha casa chegasse

Isto diminui muito

Eu vivei de muita coisa interessante

Podia ter feito e não fazia

É talvez o meu medo que me vai me acompanhar

Possivelmente até o fim

Mas que agora estou melhor

Mas mesmo assim, quando sei que vou ficar sozinha em casa

Até à meia-noite a coisa ainda se dá

Depois dessa bruxa de branca de té

A partir da meia-noite

Começo a por tudo em causa e mim própria

Começo a angustiar, angustiaria

Deixar de pensar como deve pensar

Mas estou melhor

Tenho defeitos como toda a gente

Beco como toda a gente

Gostou de se ver em cima?

Não

E que estou a rever fotos dos seus tempos

De início de carreira?

Sim, que remédio tenhas lá todas juntas

Que vai pegar também

Já não passo horas

Olha que lá e aqui que vem

Isto foi... não

Mas tenho lá muita coisa destas

E tem saudades das personagens que foi fazendo?

Não se pode ter saudades de uma coisa

Que já passou assim há tanto tempo

Por que?

Não se repete

Porque começa a sair da lógica da verdade

Para uma espécie de utopia

De se calhar aquilo já nem era aquilo

Aquela personagem que eu fiz

Se calhar as pessoas não era assim

Não consigo encontrar na palavra saudade aí

Eu posso é ter saudades

E tenho muitas de tempos em que isso passou

E das pessoas que me rodeavam

Eu tenho que dizer uma coisa

Eu amo as pessoas

Eu amo pessoas

Com todos os defeitos que às vezes

A gente reconhece o que eu também tenho

Mas eu agora estou falando

E antes não sou ele

E quanto mais generosas são

E quanto mais verdadeiras são

Para mais eu amo

Seja de classe fora

Façam elas o que fizerem

Se a Marcia conhecesse a Marcia

Dar-se um bem?

Ui, acho que não

Porque eu tenho algum sentido crítico

Sobre os disparatos todos que faço e digo

É uma imagem engraçada

É que vem de uma espécie também não dá

Sonhos têm por cumprir

Além de exato

Quer ir a onde?

Qual é o seu sonho de viagem?

Esta mais próxima hora era a Sicília

Em tempos tive o sonho de ir à Petra

Porque há cites que têm uma coisa

Qualquer a ver comigo

Mas gente tanto que os malvados

Deram cá por Petra, não é?

E gostava de ir além da Sicília

Uma região de Itália

Que é muito bonita

Que eu acho que se chama

Solento

E que eu estive a ver num programa

De televisão e via-se aquilo de cima

Era uma coisa de sonho

Você mira ainda sobre o ponto de vista

Espiritual

Amiga

Não, é espiritual

Não dá pra quem?

Isso é só fazer um vídeo

Se pudesse parar o tempo

Numa altura da sua vida

Onde é que pararia?

Onde é que foi mais feliz?

Estão as coisas mexer, mexer

Isso foi um dos momentos

E outro foi

Quando comecei a perceber

E eu isto vou dizer

Como comecei a perceber

Que tinha valor nesta precisão

Aí sim

E já não era muito nova

E a que dá?

Vai a partido dos 50

Comecei a perceber

Afinal, eu tenho

Qualquer coisa cá dentro

Que é reconhecível, é reconhecida

Porque eu nunca acreditei em mim

Neste aspecto

Porque as coisas premissem-me naturalmente

Era natural

Que era aquele comportamento

Tanto artístico como intelectual

E etc

Mas quando comecei a perceber

Que muitas vezes o que ele dizia

Influenciava

E era bom pra mim também

Porque me dá

Enchei a moego

Aí comecei a ser muito mais feliz

O que é que aprendo com os mais novos?

Oh, está viva

E eles podem ser chatos às vezes

Mas sinceramente

É uma alegria

E depois há uma desplicência neles

Que às vezes me choca

Mas depois eu digo

Caramba, é isto mesmo

Que é o percurso de eles

Gosto muito

Claro que alguns aprendem-se mais

Com outros

Seleção fácil

Me deixei estar aqui

A ter uma conversinha

Com a Nossa Senhora

Está zangada com alguém?

Não

Zangada

Não

Posso estar a gostar

De algumas pessoas

É isto

Pessoas que me mentiram do sério

Mas não, zangada

Acho que não vale a pena

Alguém lhe deve um pedido de desculpas

Ah, sim

O que é que é fazer-lhe mal?

É injustiçar-me

É...

Não ser justo com o que eu sou

Com o que eu digo

Porque às vezes eu faço coisas

Que são completamente verdades

Pessoas que não lhe voltam

E eu disse

Matam

Espero que peçam

Te quiserem

Também não vou atrás delas

Eu não guardo rancores

Nunca aguardei

São pessoas que costam menos

Outras que costam mais

Há umas que me dão vontade de dar um burro na cabeça

Ou de achatá-las a teus peixes

E largaria brilhantina

Mas...

Já lhe apeseu de dar um estal

Que não fosse técnico?

Ah, já, credo

E já deu ou não?

E a outra pessoa não se queixou

Com a força?

A outra pessoa ficou odiar-me

E não me atirou com mais nada

Porque não caiu

Sobre-lhe bem

Oi

E beijos sem ser técnicos, deu?

Não

É muito complicado

E agora vejo coisas fantásticas

Mas eu fico tão tonto

Não soube nada a aproveitar

Agora...

Como dizem os brasileiros

Tiram uma casquinha

Agora é que era interessante

Mas não é o que é

Agora...

Fala coisas tristes

Tenho mais sorte agora

No meu tempo só se podia tocar assim

Não se podia ver que era um beijo na boca

Ok

Poder sem televisão

Em que tempo deu as primórdias

Quem gostava que as suas netas

Um dia dissessem que foi a avó?

Que era uma pessoa íntegra

E que nunca desmentiu

Sobre tudo

E é muito mais importante

Que as amava muito

É elas e é o meu neto

Que é que as suas filhas

Ou as suas netas e neto

Já lhe disseram que não esquece

Que manifestações de amor

Tiveram para consigo

Coisas que me escrevem

Tenho muitas coisas que me escrevem

Tanto no dia de avós

Como no Natal

E uma certa preocupação

Que eu noto quando

Alguma coisa que não podem fazer

E que eu peço para fazer

Sacrificam-se

E vão tentar fazer isso

É muito bom

Elas, no Natal

Fazem sempre coisas muito engraçadas

E eu tenho a sensação

Que é um bocadinho por minha influência

Também representam

Fazem umas coisas

E escrevem coisas muito amorosas

Eu acho que elas vão ter

Uma agenda avó simpática assim

E agradável

O que é que dizem as suas ordens?

Quero viver

E quero viver

E quero ter vida

Mas vida

Com ver grande

Quero olhar para as coisas

Tanto com a pureza que devia olhar

Como que eu a sabia a sequerdade de meu

Muito obrigado

Finalmente custo tanto

Mas e timidas um bocadinho

Muito obrigado

Nada de que

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Numa autêntica viagem ao seu percurso pessoal e profissional, Márcia Breia refere que “a felicidade não deve escolher idade” e que talvez seja o seu otimismo incontornável a nortear as decisões que foi tomando na vida. Ensinou umas asneiras a Ruy de Carvalho na novela Nazaré, momentos que lhe rasgam um sorriso ao recordar. Mas hoje vive “cheia de medo”. De todos os amigos que fez, começam a partir aqueles mais  próximos da sua idade: “Começo a pensar que um dia destes chega a minha altura, mas não me apetecia”. Fala sobre a velhice e o peso que isso acarreta nos próprios e nos outros. “O fim é uma incógnita dolorosa, mas podia bem não o ser”.

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