Alta Definição: Luana Piovani foi vítima de abusos sexuais em criança: “Aconteceu duas ou três vezes”
Joana Beleza 9/30/23 - Episode Page - 49m - PDF Transcript
Só descobriste agora que a Opto tem um plano gratuito, são milhares de horas que podes
assistir onde, como e quando quiseres.
Ve os primeiros episódios das séries Premium, as melhores novelas e o melhor da CIC na tua
plataforma de streaming.
Descarrega a aplicação ou veem opto.cico.pt.
Espero que não haja nenhum assassino no meu hospital, mas se eu ver, que ele seja pelo
quanto antes.
Luana Piovani, calma-te, temos imensa coisa para entreter-te aqui, ah?
Estou como sou, aqui, no Alta Definição.
Hoje não és a predadora, és a caça, eu quero que toda a gente saiba que eu volto em.
A quem acha que Luana é a rainha das polêmicas?
A palavra foi muito usada no Brasil, mas é porque eu acho que as pessoas utilizam
as palavras de uma maneira um pouco errônea.
Eu acho que não é polêmico você primeiro emitir a sua opinião, segundo emitir a opinião
sobre um assunto relevante.
O fato de eu emitir uma opinião sobre uma coisa corriqueira, um programa de televisão
ou qualquer coisa, eu acho que isso não pode ser polêmico, entendeu?
Ou as pessoas me consideram demais, ou as pessoas estão com conteúdo de menos.
Eu não sou um jornal nacional, eu sou apenas uma atriz mãe que tem uma opinião.
Não finge cerca não é?
Não, não finge, nunca fingi.
E olha, vou te dizer que isso, eu dou muito mérito à análise que eu fiz, eu sou uma
pessoa analisada e inacreditávelmente eu até tive alta, mas eu dou esse crédito.
Há muitas coisas da minha vida à análise, mas o fato de nunca ter tido medo de ser quem
eu sou, não vem da análise, porque antes de eu fazer análise eu já era assim.
E o preço é que se paga?
Paga-se um preço alto, como eu sou alguém que emita a opinião, muitas vezes essa opinião
não é exatamente o que as pessoas gostariam que fosse, eu causo dúvida, né?
E por exemplo, uma pessoa que quer fazer propagandas, vender produtos, ela tem que
ser alguém que não crie questões, ela tem que ser aquela pessoa que passa, que é
morna.
Consensual?
É, exatamente, consensual é uma boa palavra e acho que as empresas preferem as mocinhas
que são consensuais, aquele pessoal morrinho que tá sempre sorrindo, que é bom pro close.
Eu não nasci pra isso, eu não sou um vaso, não tô só aqui de enfeite, né?
Você já olhou em uma entrevista e dizia, quem não gosta come menos.
É, é, que é o meu jeito prático de dizer, gente, não gostou, come menos, troca o canal,
para de seguir, enfim.
Então todos a apontar meu dedo, muito ocupados comigo, mas isso é verdadeira, culpada a
forela.
Gosto de amêjuas, gosto de doce de leite mineiro, clarinho, não gosto de salgadinho
frio.
De faças de boba, porque se tem alguém aqui que é boa pra não sonhar.
Acha que o facto de assumir que é boa, que eu sento que é boa, causa algum tipo de
impacto?
Acho que causa, porque as pessoas são criadas.
Primeiro serem rebanhos, serem pares, e não ímpares.
E a outra coisa é porque acho que as pessoas também confundem muito humildade com modéstia.
Eu não sou modesta.
Eu acho que modéstia é uma qualidade de quem não tem muitas outras.
Eu sou humilde.
Eu reconheço o meu lugar de limitada, de humana, de quem precisa do outro também para
viver em sociedade.
Eu assumo o meu lugar de não saber, de ignorante, de quem quer aprender ainda muito.
Acho que é por aí, assim.
Eu sou humilde, mas eu não sou modesta.
No Instagram eu vi uma frase que diz, Amor próprio é quando a onda percebe que é
o oceano.
Perceber exatamente aquilo que se é bom e não se ter receio de assumir isso.
Exatamente.
Uma vez o Nizan guanais, mas isso tem muitos anos.
O Nizan disse, o Brasil devia aprender com a Luana Peovani a se assumir gostoso.
Que eu nunca tive problemas com isso, assim.
E as pessoas ficam meio chocadas.
E eu não fingi, eu não sei fingir, porque eu acho que eu não preciso fingir.
Algum fã foi escrever à sua rede social que a Luana era chata e a Luana escreveu
mas estou gostosa.
Deve compensar.
Isso foi uma história maravilhosa.
Eu respondi isso porque num programa ao vivo, chamava-se Saiajusta, eram quatro apresentadoras
mulheres.
No dia dos pais, nós chamamos quatro homens para fazer o Saiajusta conosco e tinha um
cirurgião plástico, que ele é ótimo.
E aí eu estava falando, na época ainda era muito nova, ainda era mais quente na maneira
de me expor, né.
E eu lembro que eu estava lá falando sobre relação, eu falava, não é um absurdo.
O homem não traz os conflitos que sejam resolvidos, não tem nada pior do que deitar
um de costas para o outro, tem que falar, tem que resolver, não pode.
E daí ele olhou assim para mim e falou, nossa Luana, como você é chata, daí eu olhei
para a cara e falei assim, é, mas eu sou gostosa, tem lá seu equilíbrio, né, tem o bife
e tem o osso, mas tem o bife.
Como gostosa você sempre?
Ah, o quanto eu quiser, porque eu também me sinto não gostosa, mas eu me sinto gostosa
quanto eu quiser, assim, eu sei que o poder está na minha mão, é, eu querer, eu boto
fogo em Roma.
E sentiu sempre esse poder?
Claro que a experiência, ela te traz a autoconfiança, essa segurança para a gente, então hoje eu
sou mais segura do que eu era, mas eu sempre me senti segura.
E ele confortava ser uma mulher desijada?
Não é ruim, você é bonita, não, não dá para dizer que é ruim, eu acho ótimo olhar
para o espelho e me sentir bonita.
Sou muito grata a minha beleza, porque me abriam muitas portas, os caminhos foram muito longos
e muitos espinhos neles, mas as portas me foram abertas por essa cara aqui.
Os vlogos muito de fora?
Dois.
Dois em?
É, em toda essa vida.
Um em 17 e um com 27.
Eu confesso que quando cheguei nos 37 eu fiquei meio tensa, falei vai que é de 10 em 10 anos,
mas não foi.
Aceita bem os não?
Ah, sofri, sofri bastante nos dois foras que eu tomei, sofri, mas hoje não sofreria
um quinto daquilo.
O que os homens julgam que sabem sobre as mulheres?
Eu acho que eles acham que sabem muito, mas eles se boicotam, né, vocês se boicotam
quando acham que sabem muito e deixam de lado o que eu acho que é a característica mais
importante da mulher, que é a sensibilidade.
Se você se lembra o tempo todo, sensibilidade, ela é sensível e ela senti mais em todos
os sentidos.
Não é assim, ai eu vou ser grosso e ela vai ficar chateada, não é só nesse sentido,
ela sente mais em tudo, se ela tiver por acaso numa mesa de negócios com você escute
o que ela está te dizendo, o mesmo que ela não entende do seu negócio, porque a sensibilidade
da mulher, o que a gente também chama de intuição, tem gente que chama de voz de
Deus, ela existe e é muito importante quando a gente começa a escutá-la, porque a vida
se transforma.
Com o seu?
É, a nota hashtag fica dica, sensibilidade.
Em 97 foi leita a mulher mais sexy do mundo.
O que é que isso ressoa em si quando...
Nada.
Absolutamente nada, porque essas são as faixas que a mídia, que é um produto e que gosta
de vender produtos, dá para as bolas da vez.
Se você é bola da vez, você tem a certeza que você vai receber várias faixinhas, várias
medalhas, várias etiquetas, vários rótulos, então eu recebi, fiquei muito lisongiada,
mas não mudou nada na minha vida, eu não me acho a pessoa mais sexy do mundo, eu nunca
me achei a pessoa mais sexy do mundo.
Eu sou muito sexy quando eu quero.
É simples assim.
Teve propostas loucas?
Não.
Não?
Não.
Sabe o que acontece?
As pessoas têm medo de mim.
E como eu sou conhecida desde muito nova, fiz sexapil com 16 anos, então as pessoas
vieram me acompanhando, lendo as minhas entrevistas, vendo os meus trabalhos, então as pessoas
têm um pouco de receio, elas acham que eu mordo, eu só mordo quando precisa.
Pensa muito em sexo.
Não.
Eu moro sozinha com três crianças, é difícil.
Daí assim, quando eu deixo de ser mãe e vir uma namorada, que é quando os meus filhos
estão com o pai, aí até despertam um pouco mais a jovialidade, a libido acende, mas
cuidando de criança.
Nessa idade que eles estão morando sozinha, eu sou a rainha do pyjama, roupão e pampufa.
Gosto de bacalhau com natas.
Não gosto de comida vegetariana.
Não gosto de música muito alta.
Nós temos tempo suficiente para resolvermos essa questão a cálmate.
Nunca teve medo de perder um encanto?
Não.
Porque o encanto sou eu.
Não sou eu.
Sou eu.
Posso engordar, não ter esse cabelo, envelhecer, mas o encanto é a minha alma, é como eu
trato as pessoas, o meu humor, as histórias que eu conto.
O facto de ter sido muito conhecido, muito cedo na vida, mudou alguma coisa?
Olha, para minha sorte, as redes sociais demoraram um pouco a chegar.
Então eu vou te dizer que eu curti bem a minha vida.
Passei sete anos no Carnaval, no Salvador, brincando no chão, que eu nunca fui dessas
de querer ficar em camarote.
Eu sempre gostei da pista, do bolo doido.
Então acho que as pessoas me levavam como um igual.
Não endeusavam muito, porque eu nunca me distanciei muito das pessoas.
Claro que eu já tive aí ao longo dessa vida toda uns três ou quatro amigos que hoje eu
sei que não eram meus amigos pelo que eu falei que é o encanto.
E sim pelo frisson todo da Luana Piovani.
Mas tudo bem também.
A vida vai filtrando e eu dou graças a Deus.
Cada vez que um vai embora, eu falo, ó, livramento.
A vida tirou uma que eu achei que era para ser família, mas que não era.
E uma relação sempre tensa com a imprensa?
Lá no Brasil, né?
Que a imprensa do Brasil é muito desrespeitosa, infelizmente.
E eu exijo respeito, que eu pago todos os meus impostos, eu respeito, então o meu respeito
eu quero.
Se você me falta com respeito, aí o bicho vai pegar.
E é por isso que eu nunca fiz social.
Você enfrentou uma história a minha respeito a semana passada, daí hoje eu tô indo numa
estreia de teatro.
Ai, Luana, posso fazer seu look da alma declarar claro?
Qual é o teu veículo?
Não.
Não falo com você.
Como?
Não fala?
Não falando.
Você não me respeita, eu não te respeito, você vai para lá, eu vou para cá.
E as pessoas não estão acostumadas com isso, porque todo mundo faz social.
E eu não faço.
Luana, desculpa, mas se você tá começando pedindo desculpa, nem continua.
Nem me faz a pergunta.
Eu nem sei o que é, mas você começou pedindo desculpa, talvez se não seja melhor a gente
não continuar.
E as pessoas perdem um jogo de cintura quando isso acontece, porque elas não estão acostumadas
com a sinceridade, elas estão acostumadas com os bonecos, que falam, claro, faz a foto.
Ai, a roupa dá um ande, dá um ande, dá um ande, não se passa.
Você não vai ver a sua vida escrutinada nas revistas, fila, tomar mais cuidados na vida?
Um pouco mais, sim.
Mas passei por momentos muito difíceis, passei por um aborto espontâneo, por exemplo,
que foi divulgado na capa da caras.
E aí as pessoas andavam e me davam pésames.
E é tudo que você não quer ficar voltando aquele lugar.
Muito difícil.
E depois que eu vivi isso, eu conheci muitas pessoas que viveram.
E todas as vezes que eu escuto essa história, eu paro a minha vida para ir dar um abraço
da atenção e falar, eu já passei por isso, a gente acha que não vai passar, mas vai.
Dá um abraço e só.
Porque a gente resolve isso, é só com a gente.
Porque a mulher vem com uma carga quando ela nasce, que é a de gerar e parer.
E eu sempre tive vocação para a mãe.
Eu gosto de criança, então quando eu sofri um aborto espontâneo, eu me senti incapaz.
E eu me sinto muito capaz.
E eu sei que eu sou muito capaz.
E é um incapaz que você não tem domínio, então é uma dor dilacerante.
Mas ela passa.
Quanto tempo depois?
Ah, eu acho que eu levei uns quatro anos.
Eu sofri esse aborto com 27.
Não que eu vivesse triste, mas era um assunto que me doia ainda quando tocava, você sabe?
Acho que foi lá com 31 que eu conseguia.
Isso foi para ter gravidezes mais riciosas?
Não, de jeito nenhum, porque são coisas que a gente não conta, mas 10% quase das mulheres
que ficam grávidas pela primeira vez sofrem aborto espontâneo.
Só que isso não é divulgado, e aí você descobre que não foi você, é um processo
normal, exatamente, e Deus sabe o que faz.
A natureza, algum movimento não deu certo e a natureza observou e falou, vamos estacionar
o processo.
Faz sentido, mas não se fala muito dessas coisas, a maternidade, na verdade, ainda é
um produto.
É um produto muito rentável.
Eu vi uma foto de uma menina lenda que acabou de parir com uma barriga seca, toda gatinha
já, dando mamá para o filho assim, vou olhar até para a câmera, arrumada, cabelo
bonito assim.
Quando eu olhei para aquilo, eu falei, meu Deus do céu, talvez ela não saiba nem o que
ela está fazendo, mas ela só está aumentando essa imagem que o mundo passa, que amamentar
é tomar o milkshake, e não é.
Quando ela posta uma foto dessa, ser me sorrindo, magra, linda, com um bebê mamando numa mão
só, ela ainda segurava o bebê numa mão só, foi magina, e a dor aqui, e a dor aqui
na lombar, e o bico que racha, e quando o bebê não pega direito, e quando você não
tem leite suficiente, e quando você está exausta, e tem que dar uma... entendeu?
É uma loucura, a maternidade é um produto muito, muito lucrativo, mas é a maior crueldade
que se faz com uma mulher.
E que mais uma vez é vivido, muito individualmente, com uma mulher.
Dá como que uma te personalização da mulher, a mulher serve aquele propósito.
Exatamente, principalmente se você tem vocação para ser mãe, você fica completamente voltada
e focada naquilo, é muito frágil, eu tenho uma teoria, porque eu adoro gestar, eu tenho
preguiça de parir, porque eu tive que fazer cesária, eu tive contração, então eu senti
a dor, mas não dilatei, então eu senti a dor, mas não consegui ter parto normal,
então tive que viver essas áreas, e o pós-operatório é terrível, e eu tenho uma teoria que eu
acho que é ótima, que é o seguinte, a gente devia ficar um ano grávida, e quando for
parir, já pariu nem de três meses, porque eles nascem muito molinhos, o pescoço é
muito molinho, você não sabe se está bom, se não está, se está frio, se está calor,
se está respirando, se não está, com três meses já deu uma enchidinha, já tem um pescocinho
mais duro, um olho que reconhece um pouco mais, porque é uma loucura, eu digo que acabou
de ter frio, quanto tempo, dois meses ainda, está no processo traumático, é traumatizante,
até porque a gente fala, ai o amor de mãe, ai esse amor, você não conhece esse amor
quando você tem o filho, é mentira, claro que você ama aquilo ali, que você pariu,
que você gestou, que você fez, mas esse amor que hoje eu sinto, não é o amor que a gente
sente quando a criança sai da gente, porque amor é convivência, ela não te olhou,
ela não te sorriu, ela não te reconheceu, você ainda não é a mãe dela, você ainda
não é a mãe dela, você é o oxigênio dela, ela precisa de você para viver, mas vocês
ainda não têm essa relação, então é muito louco, porque eu me lembro que eu olhava,
eu queria, meu Deus do céu, está tudo bem, será que está a temperatura, será que está
quente, será que, ura, ai o leite está quente, ai o leite está, tem Pedro, é uma loucura,
a gente não para de cansar, e eu me lembro, meu Deus, mas eu não amo aquilo que todo
mundo falou, será que eu estou normal, será que é assim, e ai eu fui dando tempo até
porque eu fui ter filho graças a Deus com 35 para 36 e não com 20 e poucos, então já
tinha mais maturidade, já tinha tido alta da análise, eu já sabia fazer análise comigo,
eu olhava calma Luana, respira, vamos um dia de cada vez, e assim foi indo, mas é
uma loucura o que não se fala sobre maternidade, o que se glamoriza a maternidade e o que isso
é cruel para uma mãe, e a sociedade ainda exige da mulher uma eficiência enquanto mãe
enquanto mulher, é, a sociedade exige da mulher, ponto, em todos os seguimentos, todos
como é que geriu a distância dos seus filhos quando não os teve com eles, fazendo muita
análise comigo, chorando horrores, o santo do meu namorado foi um santo que eu chorava,
meu ciclo era a cada quatro dias eu tinha uma crise de choro, às vezes seis, às vezes
dois, dependia, e eu tive crise de ansiedade, daí eu tive que tomar medicação, quando
o tempo tiveram, teve o primeiro lockdown, e daí teve o segundo, no segundo eles tinham
ido para o Brasil, e aí desses três meses eu fiquei medicada uns dois, uns três meses
de ausência, é, que se mitiga como essa distância, falando com eles todos os dias, mas dizia,
é, mas eu tenho dificuldade de falar com eles, porque eu sofro, eles não, eu sofro
muito, eu fico muito abalada, então eu, como eu pego, por exemplo, as crianças estão
com o Pedro, eu vejo os stories do Pedro, daí eu vi o que ele fez, e aí eu falo,
ou com o Pedro, ou com a pessoa que está com os filhos, então eu tenho notícias, eu
sei, me mando uma foto, me mando um vídeo, mas quando liga o vídeo, o FaceTime, eu me
acabo, então eu até evito um pouco.
Eles são melhores do que imaginou.
Eles são.
Em que?
Eles são muito humanos, eles são muito divertidos, bem humorados, eles são engraçados, sabe,
a gente se diverte, e eles são muito amorosos, porque eu acho que a gente dá muito amor
para eles, então eles são muito amorosos, eles abraçam muito, eles dizem que amam o
tempo todo, eles dão beijinho, eles fazem desenho, é o tempo todo uma pequena homenagem
de amor.
É um amor que não se explica.
É, hoje eu sei o que é o amor, o que é essa, essa loucura que é ser mãe, esse amor
imensurável, essa coisa indescritível, e que eu não sentia quando eu pari.
O que é que eu aprendo com eles?
Eu revejo a vida, é muito bonito, né, eu acho que é uma das grandes dádivas de se ter
filho, é você rever tudo que você já viu de um outro jeito, e daí você tem a chance
de enxergar melhor.
Quem espera que eles um dia digam que foi a mãe?
Eu acho que eles vão dizer que a minha mãe era muito legal, assim, que a gente se diverte
muito, apesar de eu ser 12 anos mais velha que o Pedro, na nossa casa, e eu sei que na
casa do Pedro tem um clima muito jovem, sabe, não tem regra, por exemplo, a gente não senta
todo mundo na mesa pra comer, cada um come na hora que quiser.
O jantar tá pronto, ai mamãe não tô com fome, daí eu vejo, então tá, você pode
comer daqui 40 minutos, e quem tá com fome senta, não é muito rígido, as coisas são
mais maleáveis, assim, então eu acho que eles vão dizer que eu era uma mulher muito
legal, e daqui a pouco eu acho que eles vão entender que eu era corajosa e uma excelente
mãe, apesar de nesse momento eu sou a chata, não tem jeito.
Gosto da Europa, amo Portugal, gosto do Douro.
Eu quero ter certeza que o teu coração tá no site certo, minha filha.
Sentes uma mulher de sorte?
Olha, eu confesso que eu estava nos lugares certos na hora certa, mas eu não vou dizer
que é sorte não, eu trabalho desde os 14 anos, e eu já passei por muita coisa difícil,
já tomei muito não, já cresci na dor muitas vezes, então não vou dar esse crédito
pra sorte não.
Por exemplo, eu fui protagonista do Sex Appeal, mas eu fiz um teste com 400 meninas,
ninguém ligou pra minha casa e falou, oi você foi sorteada, depois desse teste com
400 meninas sobraram 4, para então saber quem era, daí eu passei 5 meses no Rio de
Janeiro, dos quais eu trabalhava de segunda sábado, eles me pegavam no hotel às 10 da
manhã e me deixavam às 10 da noite, de segunda a sábado, eu passei 4 meses no Rio de Janeiro,
eu não coloquei o pé na areia da praia, porque no domingo eu ia pro espelho decorar
texto, não dá pra dizer que foi fácil, não dá pra dizer que foi sorte.
Na infância fazia espetáculos pra família?
Eu dançava pra família, nos finais de semana eu pedia pra minha mãe e pro meu pai sentarem
se na garagem, e eu colocava uma música na vitrola, de braço e dançava pra eles, adorava.
Eu sou alguém, assim, nostálgica, mas é porque eu acho que eu tenho boas lembranças
demais, a minha mãe, ela sempre me deu muita liberdade com muito limite, então foi a minha
mãe que me fez essa pessoa confiante, forte e objetiva, mas os meus avós que regaram a
minha criatividade e a minha imaginação, lá tinham os animais, essas bonecas antigas,
os brinquedos crepe quebrados, a mangueira pra subir, roubar a fruta do pé, e a outra
avó era que tinha maquiagem, que gostava dos perfumes, que tinha aquela penteadeira
antiga, bonita, aquela cama com docel, então aquilo tudo pra mim, tudo era filme, assim,
e elas eram muito carinhosas, então eu tinha uma relação de devoção com as minhas avós,
a minha avó que me levou a igreja, a minha humanidade vem dos meus avós e da igreja
que ela me levou, a minha avó era bastante religiosa, eu cresci em colégios católicos
e em compensação, daí também depois que sai do colégio a vida me engoliu, hoje entro
nas igrejas pra fazer as minhas orações, mas não frequento nenhum tipo de culto, mas...
É uma infância que cheira a lecrine?
Exatamente, exatamente, é a minha primeira lembrança, a minha amória alfativa, que eu
tenho muitas memórias alfativas, e é a lecrine, foi a primeira escolhinha que eu estudei quando
a gente ainda não é alfabetizado, eu ficava no campus da universidade que meu pai estudava
e tinham arbustos de lecrine, e eu me lembro muito desse cheiro.
Qual é o momento mais marcando da sua infância?
Bom, eu sou filha de pai separados, né, e pais que não têm uma boa relação com o outro,
então isso gera muita confusão na cabeça da criança.
Era difícil administrar a raiva que um tinha do outro.
Sem tomar partido?
É, porque eu não tinha nada a ver com aquilo, assim, então era difícil, na análise que
eu fui descobrir, né, revisitando as coisas, falando das coisas, que quando meu pai ia
me visitar, ele não tinha condições de me visitar muitas vezes, porque ele teve outros
três filhos, ele trabalhava, a vida dele também era muito difícil, nós nos viamos,
sei lá, uns quatro vezes por ano, por aí, e eu me lembro que quando ele ia embora,
ele levava os meus irmãos, e eu ficava com os meus avós, e eu chorava demais, e na
análise, um dia ela falando sobre isso, ela falou, ah, provavelmente porque você
devia pensar, por que eles vão, e eu que fico, por que eu nunca vou, meu Deus, por
que eu que tenho que pagar esse pato, e isso gerou, obviamente, sequelas na minha relação
com os homens.
Era como que uma querência?
É, era medo de sentir abandonada, porque era muito insegura nas minhas relações, porque
eu tinha medo de ser abandonada qualquer momento.
E ser amada em permanência?
É, porque eu não podia ser abandonada, porque eu fui abandonada demais durante a minha vida,
cada vez que meu pai ia embora, eu era abandonada de novo, entendeu, então eu não queria correr
esse risco novamente.
O marido da sua mãe, a Luana adotou como pai?
É, e ele me adotou como filha, exatamente, porque ele conheceu a minha mãe quando eu
tinha dois anos e meio, minha mãe se separou do meu pai biológico quando eu tinha dois
anos, então, na verdade, todas as minhas memórias de pai são com ele, né, que era meu padrasto,
não é mais porque me adotou, e o meu pai biológico já fazia parte das lembranças da
quele pai que visita no final de semana.
Eu sempre tive muito carinho por ele, muito respeito, ele teve filhos próximos da minha
idade, eu amava, amo os meus irmãos, mas a gente não tinha muita complicitade, porque
a gente não convivia, então eu me lembro que às vezes eu ficava meio assim, eu falava
ai, mas a gente ia ficar o dia inteiro junto porque vai ter uma hora, a gente não vai ter
muito que conversar, então eu gostava muito mais de visitá-lo na casa dele, porque tinham
os meus irmãos, o que quando ele vinha me visitar sozinho.
Não fazia muitas asneiras na infância?
Olha, não muito, eu sempre fui de falar muito, então assim, a minha mãe era chamada na escola
sempre porque a Luana atrapalha muito a aula, ela conversa demais, mas eu não fazia exatamente
asneiras, compensei depois, quando peguei na adolescência que eu comecei a trabalhar
guardada da minha mãe.
Estudografar e ser modelo começou por ser brincadeira?
Pessoal, ser uma brincadeira séria, porque eu sempre levei as coisas muito a sério,
mas era uma brincadeira assim, até porque eu morava na Grande São Paulo, eu morava
em São Bernardo do Campo, então quando eu me mudei para São Paulo capital mesmo, eu
tive mais acesso a testes, e aí começou a virar uma rotina, aí eu vi que não era
mais brincadeira, eu vi que era um negócio sério, eu tinha aqui cuidada da minha pele,
eu tinha que estar com a minha unha feita, meu cabelo bem cuidado, eu não podia ter
a marca de biquíni, modelo, modelo, como tem que ser.
E nunca se sentiu vulnerável?
Sim, mas sou estudiosa de mim, entrei numa faculdade de mimaiselfenai, descobri minhas
vulnerabilidades e as fortaleci.
O caso de busco já relatou, quanto tempo depois é que conseguiu contar alguém?
Cara, eu só contei no programa da Xuxa, eu fiquei depois muito tempo pensando, você
vê que loucura, eu fiz dez anos de terapia e depois acho que oito anos de psicanálise,
até eu ter alta.
E eu nunca levei esse assunto para eles.
Obviamente eu nunca contei para o meu pai e para a minha mãe, até porque são as pessoas
mais difíceis de você contar uma coisa como essa, porque eles ficam praticamente atordoados.
Mas eu acho que eu resolvi amarrei, fiz um pacotinho e coloquei em um lugar tão alto
da minha instante que acho que não tenha me causado sequelas depois.
Tinha que dar?
Acho que eu tinha uns oito, oito, nove.
Entende a perceção do que tudo aquilo era?
Não, eu me lembro que eu achava que tinha alguma coisa errada.
Eu achava aquilo estranho, mas eu não identificava o que era, ao mesmo tempo eu não me senti
exatamente ameaçada, então eu não ficava com medo.
Eu desconfiava que aquilo não era certo, mas eu não sabia exatamente de que jeito,
então eu não sabia exatamente como dividir, mas ao mesmo tempo eu não estava me sentindo,
porque essas coisas dos nomes agora, o que eu sofri foi abuso, a Xuxa que me falou, quando
você é tocada é abuso, mas eu não fui violada, então eu não tinha medo, ele não
me violentou exatamente, sabe assim, eu não chorei, eu não sofri, não me machucou,
então eu não exatamente identifiquei como alguma coisa que eu deveria se pedir socorro
contar para a minha mãe, eu sabia que não era certo, mas como eu não estava com medo
e eu não tinha me machucado, eu não levei como uma agressão, enfim, e ali ficou.
E era coincidente, portanto?
Aconteceu umas duas ou três vezes.
Alguma vez voltou a ver essa pessoa?
Não, nunca mais.
E quando a sua mãe soube, depois de ter dito?
Primeira coisa que ela perguntou, quem foi, e ela não lembra dele, ela lembra da esposa
dele, mas não lembra dele, porque era nosso vizinho.
Quando hoje olha para a idade dos seus filhos, essa vulnerabilidade que tinha a Luana nessa
altura fala ser mais protetora dos seus filhos.
É, mas você sabe que eu acho que hoje as crianças estão mais atentas a essas coisas,
eu acho que talvez elas corram mais perigo, não é mais no físico, é no...
Virtual.
Exatamente.
Porque eu acho que hoje eles estão mais atentos a coisa do físico, sabe, até porque
também tem uma conversa, né, a gente já fala isso, eu já falei várias vezes.
Como eu vivo numa cidade grande, contemporânea, tal, eu acho que os meus filhos identificariam
logo e me contariam e chamariam por auxílio.
O virtual é que fica nebuloso.
Não gosto de injustiça, de crueldade, amo tatuagens, essa, uma das minhas favoritas.
Ah, isso eu sei bem, é alguém que tem prazer em estar vivo.
Aproveitar tudo.
Tudo.
Todos os momentos.
Acordar de manhã, eu abro a janela e tá ali o sol, eu já tô life-aholic, eu já
tô falando com o sol, já tô agradecendo a Deus de estar viva, de estar levantando
com saúde, de ter sol naquele dia e de ter uma roupa para colocar e quando eu vou comer
eu gosto de comer e a comida é gostosa.
Eu agradeço a tudo.
Eu passo, eu vejo uma flor, eu sinto um aroma, eu falo, hum, como é bom poder sentir cheiro
e eu abraço os meus filhos e eu agradeço a cada dia a saúde deles.
Tudo assim.
Tá com um amigo tomando uma imperial, poder fazer um brinde, ver a Lua cheia, fazer o
pedido toda noite, a primeira estrela que eu vejo, realiza o meu desejo.
É isso, quem olha pro céu, quem sabe que nós estávamos há quatro ou cinco anos com
vênus e júpiter no nosso céu?
Ninguém, ninguém olha, ninguém procura, ninguém sabe, só se quer like, só se quer dinheiro
na conta, só se quer, tá jovem, cada dia é mais bonita, o mundo está de ponta cabeça
e ninguém parou, como disse K.C.L.
O mundo está bom entrar e ninguém reparou.
O que foi determinante para o seu sucesso?
Essa pergunta é incrível, Daniel, e eu vou te dar a resposta que eu acho que eu não
saberia dizer se eu não visse.
Eu vi essa palestra no Instagram de alguém falando sobre sucesso e de repente ela disse
uma frase, ela falou, você sabe porque que a Beyoncé tem sucesso, você sabe, e aí
falam, sei lá, uma seis, porque eles não tiveram medo de ser quem são.
E quando eu escutei aquilo, eu fiz bem bingo, é isso, as pessoas ainda tem medo de ser
quem são, porque acham que não vão agradar, e aí entram por rebano, e aí você fica igual.
Aí você não sobreça, entendeu?
Quando você tem a coragem de ser quem você é, isso brilha os olhos das outras pessoas
porque as pessoas sobrevivem, elas não vivem, elas têm medo, e aí é assim que eu sou,
e desse jeito que eu quero me vestir é assim que eu falo, eu sou negra, mas eu quero
ser loura, eu quero me vestir de rainha, é isso, aí as pessoas começam, nossa, nossa,
nossa, daí quando você vê, você já virou impa, você saiu do paro.
Gosto demais de tomar vinhozinho no meu moço, não gosto de azeitô na comida no pé, descobrir
que é terrível, não tenho o mesmo gosto da azeitô na que a gente conta e quando tá
no restaurante.
Situações drásticas pedem atitudes drásticas, logo logo tudo se esclarece, meu amor.
Qual marcada ficou pela Cruz que diz que ter carregado desde 2000?
Enquanto eu carreguei, ela foi muito pesada, porque eu era muito jovem.
Por causa do impacto público?
É, você conhece uma música do Chico Buarque, geni?
É uma letra incrível, conta a história de uma cidade que tava acabada, chega um cara
muito poderoso, muito rico, que fala que vai destruir aquela cidade, daí ele fala só
não destruir essa cidade se essa rapariga dormir comigo e inacreditávelmente era a
mulher que todo mundo cuspia, que todo mundo tratava mal, que era geni e daí de repente
a cidade fica na mão da geni.
A geni vai lá, dorme com cara, salva a cidade, ele vai embora e no dia seguinte ele estáca
um pedra na geni, ela ainda dá pra qualquer um maldito a geni, enfim.
E eu disse que eu fui a geni brasileira durante muitos anos, porque apesar do Brasil ser
um país extremamente sexualizado, é um país extremamente machista e retrógado.
Me colocaram uma cruz como se eu fosse a pecadora traidora do mundo e eu carreguei
muito tempo essa cruz, mas a análise foi me fazendo entender que não.
A análise e fatos também, porque depois eu descobri que do mesmo jeito que lá foi
cair, enfim.
Uma das coisas, por exemplo, que a análise me trabalhou, a análise e crime castigo.
Eu resolvi a minha culpa do meu colégio católico da vida inteira no livro crime castigo.
Eu entendi que é a culpa quem faz e quem dá só eu, que eu que me sinto culpa.
Larguei o deus da utopia de todos e disse não, não quero.
Como você vai pra Nova Iorque e é rediglobo que é de contratar para fazer a novela?
Eu falei gente, mas eu não quero.
As pessoas ficam ooohh, vamos simplificar a vida é cada dia vivido.
Não engrandeça nada.
O peso da cruz era arreter ou sentir que podia ter provocado dor?
E isso era.
Me senti coipada, oca, oitadinho, que dor, que casei, como eu sou macho, como eu fui tirana.
Imagina...
Eu fui uma jovem absolutamente saudável e esperta, que saiu de uma relação que estava péssima.
E que eu muito jovem não conseguia reconhecer, porque todos no meu entorno achavam que era o Brad Pitt e a Angelina Jolie, e não era.
E queria que estava mais vulnerável aos olhos da imprensa e que isso foi uma violência grande, o facto de ter sido flagrado, né?
Não foi uma violência para comigo, né? Foi uma violência para com o outro.
Eu vivi a culpa, eu vivi a cruz, e ele viveu a sátira, mas cada um carrega a cruz que merece, eu carguei a minha direitinho.
Como é que lida com os egos dos outros?
Lito bem pouco, viu, com os egos dos outros, porque os outros não fazem mais parte da minha vida há muitos anos, Daniel.
Fechei essa porta.
Os outros que fazem parte da minha vida são os outros que eu deixei entrar, são os meus amigos.
E olha que eu faço amigos novos muito rápido, mas eu sou boa em fazer amigos por causa da minha intuição, eu tenho uma intuição boa.
Mas se eu for trabalhar com alguém que tenha o ego grande, vai dar confusão, porque não aguenta injustiça.
Eu não consigo ver alguém falando mal com uma outra pessoa e calar e ficar quieta.
Outro dia eu estava dentro de um táxi, aqui na Avenida Liberdade.
Daí eu estava olhando ali o canteiro, passou o moço com um cãozinho, e o cãozinho parou para fazer cocô.
O que ele parou para fazer cocô? Bem!
Vamos ver se vai recolher o cocô.
Eu não fiquei olhando.
Ó, o cachorro fez cocô, ele solenemente seguiu.
Coloquei a cabeça para fora e falei, muito bonita, hein, moço!
É assim que o senhor cuida do seu país.
A moça que estava do lado, que viu tudo o que aconteceu, inclusive fez assim, ó.
Foi fingindo que não era com ela.
As pessoas não querem se envolver.
Se sou eu, a mulher, eu falo, ela está coberta de razão.
O senhor tem que ir ali, recolher o seu cocô, está pensando o quê?
E se passa uma senhora ali, escorregue cá e quebra a perna.
Então é isso.
Eu tive sorte na minha vida, mas os poucos egos inflados que vieram falar comigo,
eu falei, opa, opa, opa, opa, se comece a gritar que não vai ter conversa.
Uma vez eu cheguei atrasada numa reunião, era a novela que eu fazia a filha do Zé Wilker,
Suave Veneno, e eu cheguei 20 minutos atrasada para a reunião de Elenco,
e era a direção do Daniel Filho.
E o Daniel Filho hoje está uma flor, mas já foi mais esquentado.
Eu entrei e ele começou a gritar, o que é isso?
Onde já se viu estar 20 minutos atrasada?
Sabe quanto vale o minuto da minha vida?
Desculpa, me desculpa, me desculpa, me perdi, comecei a gritar, me desculpa, me desculpa.
Estão todos aqui, só você que...
Quando ele começou a dar o discurso todo de novo, ainda gritando,
eu falei, oh, oh, oh, oh, só um pouquinho.
Eu já entendi que eu estou atrasada, eu sei, estou pedindo desculpas,
a gente vai começar a trabalhar ou você vai continuar gritando comigo?
Porque daí a gente vai se manter atrasado.
Pronto, parou de gritar.
Eu não me atraso, sou muito comprometida.
E uma outra vez também aconteceu,
mas aí o diretor estava completamente equivocado,
e eu, no amor, na elegança, coloquei no lugar dele.
Eu falei, olha só, você pode parar de gritar, senão não vai ter conversa aqui.
Você está equivocado, eu não estou atrasada.
Foi a sua produção que me marcou na última cena da externa
e na primeira cena do estúdio.
E te digo mais, liguei para a produção e disse,
esse tempo aqui não está dando certo.
Como é que vai dar certo?
Eu não vou comer, o que vocês estão achando?
Daí o diretor disse assim, mas é que isso aqui é a minha vida.
Eu falei, ah, então é essa a grande diferença.
Isso aqui é a sua vida, isso aqui não é a minha vida.
Esse é o meu trabalho, e eu não vou deixar de almoçar.
Acha que esses dias ele dá mais ou menos trabalho?
Me dá mais respeito, talvez menos trabalhos.
No Brasil, as pessoas trabalham com um neon psicológico, assim, ó, desemprego.
Se você perder, tem um milhão querendo, tem um milhão querendo.
Então as pessoas se borram de medo, de tudo.
Não podem perder o emprego, porque senão não vai conseguir outro,
porque daí não vai conseguir comprar a bolsa Chanel,
ou porque vai perder o plano Saúde.
É um desespero, e eu nunca me senti escrava disso.
Eu sempre me senti dona de mim e do meu talento.
E a vinda é para Portugal?
Não ele trouxe receios quase como que um recomeço?
Não me trouxe, e não era porque era Portugal,
porque eu não pensava em vir para Portugal,
eu pensava em ir para a Califórnia.
E eu também não tinha medo da Califórnia,
porque se precisasse eu ia vender bolo,
ou se precisasse eu ia fazer a empregada,
ticana, bonita, loura, gostosa, da novelinha.
Eu não estava indo para a Califórnia
para virar Cameron Dias, ou para ser indicada a Oscar.
Eu estava indo para a Califórnia,
porque o meu país não me permitia viver com dignidade
criando os meus filhos.
Então, se eu não tinha medo da Califórnia,
imagina que eu ia ter medo daqui de Portugal,
onde nós temos a mesma língua.
Mas eu, graças a Deus, que eu cheguei aqui,
começaram os convites.
Tudo deu certo e tem dado ainda.
Mas eu não tinha receio,
porque eu não vim para cá ser rica,
ou ter lá, entendeu?
Eu quero o país.
Oi!
Tem aí que vai viajar?
Vejo que gostou das miudas que eu indiquei, não é?
Showtime!
Tudo ótimo!
Mamô, meu olho clínico não falha,
e ela tem muita experiência, viu?
O que é que foi mais estranho em Portugal?
Ah, e tem várias coisas.
Eu acho muito estranho vocês comerem salgadinho frio.
Ok.
E eu acho muito estranho,
mas eu amo e eu conto para todo mundo
que nas gravações, nos trabalhos,
talvez não em todos, mas nos que eu faço,
na hora do almoço é servir do álcool.
Você pode tomar uma cervejinha,
ou pode tomar uma taça de vinho.
Isso é o máximo.
Eu acho que é o ápice da liberdade.
Mas é, porque cada um confia na sua própria responsabilidade.
Agora, você sabe o que vai acontecer no Brasil
se eles oferecerem cerveja no almoço?
Ninguém volta não, meu amor!
Os portugueses, aos seus olhos,
são mais reservados, mais tímidos?
Bem mais.
O brasileiro sai para pegar mulher.
O brasileiro está indo a feira comprar legumes.
Mas se tiver uma mulher no meio do caminho,
que paquere, que flerte,
ele vai flertar e não vai comprar o legume,
ele vai sair com a mulher.
Pegar mulher é uma coisa que está o tempo todo na atenção do brasileiro.
E por que eu notei isso?
Por que quando eu cheguei aqui, em Portugal,
que eu me separei e estava solteira,
como chama aquela festa que vocês têm aqui,
que tem as sardinhas?
É junho, né?
São de populares?
Isso, são de populares.
Eu fui com um amigo e eu estava solteira,
em uma festa na rua,
já está quente,
que delícia, estou na Europa,
celebremos, né?
E eu me lembro que eu via blocos assim, né?
De vários meninos, rapazes.
E aí eu passava para pegar uma cerveja,
depois passava para pegar a cerveja do amigo,
daí passava e ninguém olhava para mim.
Tenho falado aqui curioso,
me dá a sensação de que eles saíram com os amigos.
E eu vou sair com os amigos,
e é com os amigos.
Então vou conversar, beber e estar com os meus amigos.
Hoje não é dia de pegar mulher.
Hoje não é dia de flertar.
Porque eu falava, não é possível que eu estou passando
para a pessoa não me olha.
Hoje eu vou sair, vou para a boate,
hoje eu vou flertar, hoje eu vou paquerar.
Quero ver se eu arrumo uma namorada, uma ficante.
E a mulher sai com o mesmo espírito, ou não?
Não, mulher não precisa disso, não.
Uma mulher que escolhe.
A gente não sai para pegar o homem.
A gente pega a hora que quiser,
porque é a gente que dá o sinal verde.
Eu aqui que moro aqui hoje,
eu vejo como sexualizar do Brasil.
É uma loucura, parece que o mundo vai acabar
e que se eles não fizerem sexo,
vão todos morrer.
Uma loucura.
Eu vou matar na luz.
Todos que me fizeram sofrer.
Eu vou matar.
Gosto de gente.
Gosto de história, gosto de teatro, de música.
E gosto muito desses prédios lindos e maravilhosos
que têm Lisboa, que eu passo sempre olhando o bracinho
e me deliciando com eles.
Alguém lhe deve um pedido de desculpas.
Há várias pessoas.
Várias pessoas.
Queria que vão pedir?
Não.
Precisa que peçam?
De jeito nenhum.
Até porque se eles precisam pedir desculpas,
é porque eles erraram.
E isso está na conta deles, não está na minha.
Esse é o karma deles, é a conta deles,
é o apocalipse deles.
E a Luana pediu desculpas a todas as pessoas
que eu queria pedir?
Acho que sim.
Talvez tenham escapado algumas,
mas acho que sim.
Se lhe fosse garantido uma resposta
a qualquer pergunta sua,
o que é que querida ia mesmo saber?
Olha, tem uma coisa que eu fico na dúvida,
porque eu falei que eu sofro muito com injustiça.
Então a crueldade num todo,
ela me tira muito do prumo.
E eu queria saber se quem é ruim
em algum momento vai pagar.
Por isso.
Porque não é justo.
O que é que dizem os seus olhos?
Que querem conhecer os seus.
Sempre essa curiosidade, essa habidez.
Eu amo, gente.
Eu amo o ser humano.
Por isso que eu gosto de fazer teatro.
Porque eu gosto de gente.
Eu gosto da respiração.
Eu gosto de ouvir as histórias.
Eu gosto.
Obrigado.
Eu que agradeço.
Foi ótimo.
Papo delicioso.
Obrigado.
Vê os primeiros episódios das séries Premium,
as melhores novelas e o melhor da SIG na tua plataforma de streaming.
Descarrega a aplicação ou veem opt.sig.pt.
Machine-generated transcript that may contain inaccuracies.
Nesta conversa intimista, originalmente emitida a 21 de janeiro de 2022, a atriz conta que sofreu abusos sexuais quando era criança, algo que nunca contou aos pais. “Não identifiquei como uma coisa que devesse pedir socorro. Tinha uns oito anos”, revela. Luana Piovani diz que não sente que seja polémica, mas admite que dizer o que pensa, “exigindo respeito”, pode causar medo e estranheza. Esta entrevista conduzida por Daniel Oliveira foi emitida a 30 de setembro na SIC.
See omnystudio.com/listener for privacy information.