Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer: Livros da semana: Rulfo, Sousa Lobo, Mandelstam e Sontag

Joana Beleza Joana Beleza 7/1/23 - Episode Page - 7m - PDF Transcript

Os livros da semana têm o patrocínio Renault-Etec.

Bom, está na altura dos livros e esta semana eu trago uma obra-prima da literatura latino-ombricana.

Ainda antes do chamado Bume da Fama Mundial do Realismo Mágico de García Márquez,

o escritor mexicano Juan Rufo publicou dois livros nos anos 50 do século passado

e com apenas dois livros tornou-se um nome central da literatura em língua espanhola.

O primeiro com um livro de contos em 1953 e dois anos mais tarde, em 55, com este Pedro Páramo.

É um romance breve, reeditado agora com um prefácio precisamente de García Márquez, num belo tributo,

um livro sobre uma cidade de fantasmas, a história extraordinária,

mas acima de tudo o que faz deste romance uma obra-prima é o modo como Juan Rufo,

numa linguagem seca, sem qualquer tipo de excesso,

modo como vai construindo uma narrativa em que a pouco e pouco, com avanças e recursos,

se desvenda quem é Pedro Páramo, o nome do título, e a história de violência que matou aquela cidade.

Não sei se já disse que este livro é uma obra-prima, Pedro Páramo de Roland Rufo, edição Caval de Ferro.

O Pedro Mexia traz esta semana surpreendentemente um livro de bonecos.

É um livro...

Banda desenhada?

É um livro, não, é uma novela gráfica, não sei como é, como é que o autor...

Ah, a versão se diz Banda desenhada, tem que ser um livro de bonecos.

O Francisco Sousa-Lobo, que chama Cartas Inglêsas, é um livro que este título tem a ver

com o facto de ter sido escrito e ter sido desenhado entre Londres,

onde o Francisco Sousa-Lobo vive, e Tormes, ao abrigo de uma bolsa da Fundação,

essa quer dizer, é uma fonda.

Tem que ser uma fonda.

O abrigo de uma bolsa da Fundação, essa quer...

Tô cansado, sério.

Cansado.

É esta hora da noite.

É mais uma vez um livro autobiográfico, onde há uma grande presença do catolicismo complicado,

digamos assim, e da investigação sobre o que é isto de fazer bonecos, como tu dirias.

Mas também tem uma dimensão inglesa muito forte sobre a reação ao novo Red Inglaterra,

que não é, como seria, de esperar, muito simpático, a desigualdade social,

e a curiosidade da ideia de que Deus é um caricaturista, é ver o livro.

O João Miguel Tavares sugere um livro de memórias com a tragédia russa, como pan de fundo.

Tu disseste duas vezes a obra para ir, mas à propósito de teu livro,

eu digo três vezes a obra para ir, mas à propósito de este,

este contratou da esperança, sai já agora, na imprensa da Universidade de Lisboa,

que é um excelente catálogo, mas como acontece com muitos catálogos universitários,

são difíceis de encontrar nas livrarias,

que o meu apelo é realmente uma distribuição.

Sente, porque a qualidade do catálogo da imprensa da Universidade de Lisboa

realmente merece mais divulgação.

Eu encontrei, de repente, na feira do livro, e este é um dos livros absolutamente fundamentais do século XX.

Podemos equipá-lo, talvez, ao arquipélago regular do Solgenitzin,

mas não existe, quer dizer, são talvez os dois grandes monstros da denúncia daquilo que foram os crimes,

sobretudo do estalinismo.

Portanto, a Nadeja Mandelstam era esposa de Ósip Mandelstam,

aliás, um escritor russe que Ricardo Arasparara ainda há pouco tempo recomendou,

porque saiu um livro dele, e o Ósip Mandelstam foi preso numa noite de 1934

e estima-se que terá morrido alguns no inverno de 1938.

E este é o relato desses quatro anos, a Nadeja Mandelstam é viúva dele,

mas, ao mesmo tempo, sentiu uma necessidade gigantesca de preservar a sua obra.

E muita da sua obra desapareceu, ou ela tinha medo que desaparecesse,

e, portanto, ela sentiu necessidade de amorizar.

E para quem já viu o Farnet 451, ou seja, no filme do Truffaut,

ou lê o livro do Bradbury, a Nadeja Mandelstam foi verdadeiramente percussora

daquelas pessoas que fixavam os livros, porque alguém os iria queimar.

Portanto, isto é uma narrativa absolutamente extraordinária,

escrita de forma crua, sem um pingo de lamaixis, e é realmente um livro extraordinário.

O Ricardo Arasparara traz também um ensaio já clássico.

Sim, já clássico. Eu lembro-me de ter lido este livro quando a minha avó adoisseu,

e por isso foi há mais de 20 anos.

Só que agora há esta reedição, uma reedição que se chama...

A doença como metáfora seguida e as suas metáforas.

Ela, por exemplo, se viu primeiro a doença como metáfora,

quando ela própria estava a convulsar-se de cáncoro.

O texto é basicamente sobre isso, sobre, digamos, as metáforas que rodeiam as doenças.

Neste caso, o cáncoro e também a tuberculose.

Tal como a tuberculose, o cáncoro também é considerado hoje,

tal como a gente até a certa altura se considerava a tuberculose,

sobretudo quando a gente não sabia o que é que é provocado e como é que se curava.

Nós achávamos que uma determinada disposição atraía a tuberculose,

ou seja, que pessoas, por exemplo, de disposição melancólica,

eram mais atraitas ou...

Deuro astêcnico.

Exato.

Os poetos eram um desgraçado.

Era um desgraçado.

E a relação ao cáncoro há mais ou menos a mesma ideia,

ou seja, a ideia de que uma determinada disposição do paciente faz com que ele desenvolva a cáncoro

e se leva a uma espécie de culpabilização da vítima,

sendo que mesmo, por exemplo, eu lembro quando o Lobantur nos adoeceu

e sinto um grávio do cáncoro, essa ideia da gravidez,

como é ouvido quando uma pessoa é engravida,

tem responsabilidade no fato de estar grávida,

e isso não se verifica em relação ao cáncoro.

E portanto, é isso.

É um livro que foi muito útil nessa altura para desmontar esse tipo de ideia.

A doença como dafora de Suzane Sontag, assim se conclui mais uma reunião semanal,

dois ou oito dias à mesma hora, os mesmos de sempre.

Pedro Mexia, João Miguel Tavares e Ricardo Orujo Pereira, também em podcast.

Legendas pela comunidade de Amara.org

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Duas reedições de textos já consagrados preenchem metade da estante desta semana. A cidade fantasma de “Pedro Páramo” e o modo como encaramos a doenças, analisado pela inteligência fulgurante de Susan Sontag, são leituras ou releitura sempre oportunas. A descoberta dos ensaios gráfico de um expatriado, dividido entre Portugal e a Inglaterra vai surpreender muita gente. E a desesperançada autobiografia de Nadejda Mandelstam, viúva do grande poeta russo Osip Mandelstam, é a prova de que mesmo a mais feroz ditadura nada pode contra a conjugação da memória com a coragem.

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