Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer: Livros da semana: Rui Cardoso Martins, Patrícia Mamona, Voltaire e uma comédia racial

Joana Beleza Joana Beleza 6/24/23 - Episode Page - 6m - PDF Transcript

Vamos falar de outros livros que merecem estar em bibliotecas.

Traga esta semana um livro que reúne 11 contos do escritor Rui Cardoso Martins,

os contos que ele foi escrevendo ao longo dos últimos 20 anos.

Como diz o próprio autor na nota introduitoria,

é convite ou, por ministério alimentar,

por acaso um dos convites foi meu.

O Conte Cabra, o livro foi escrito para o primeiro número da revista Granta,

ainda antes da revista ter uma direção editorial de prestígio,

os contos do Rui Cardoso Martins, tal como os romances saliais,

surpreendem, habitualmente, pela ideia inicial,

mas sobretudo por nunca serem esquemáticos no desenvolvimento dessa ideia inicial.

O cadáver de uma mulher, a Boiarno Tejo,

serve para nos dar a ver o cotidiano cansado dos passageiros do castelheiro,

que vêm trabalhar para Lisboa à primeira luz da manhã.

O ponto de vista de Fernando Magalhães,

do alto de Estal, na Praça do Chil,

serve para podermos olhar, com outros olhos, uma zona popular de Lisboa,

uma conversa de café entre dois amigos, escutada pelo narrador,

serve para recuperarmos,

para uma recuperação da ideia do amor romântico,

a partir da memória literária de Camilo Castalbranco.

E, por aí adiante, são 11 contos, é um grande livro de contos,

a Cresce, ainda ao facto, ser publicado por uma editora alentjana,

como o autor, uma pequena editora de resistência literária,

chamada Filigrana,

quem não encontrará este livro nas livrarias,

e é possível que a distribuição não seja excessional,

o livro se chama Passagem pelo Vazio,

encontra-o facilmente na internet,

em filigranaifan, o tracinho,

editora.pt.

Passagem pelo Vazio e outros contos,

o João Miguel Tavares,

que é alentjano a gostar desta recomendação,

e o João Miguel Tavares traz, agora,

uma campiã.

Exatamente, uma campiã,

que é Patrícia Mamona,

o GP de Cortes,

além de ser um grande fotógrafo,

ele é também o co-editor e co-fundador

da PR von Kleist,

que é uma grande editora de livros de arte e de fotografia,

e ele teve aqui esta ideia,

que foi antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020,

onde, depois, a Patrícia Mamona ganhou

uma medalha de prata e de multiple salto,

ele acompanhou essa preparação,

e este livro,

e este livro,

são as fotografias de todo o treino,

até chegar àquele momento,

junto, também, com algumas imagens

tiradas das camas de televisão,

do próprio momento do triple salto

e desse salto vitorioso da Patrícia Mamona,

em Tóquio,

e é realmente uma homenagem enorme

àquilo que é o esforço,

o trabalho desmesurado

de um atleta de alta competição.

Pedro Mexia traz Volter.

Sim, é um livro chamado

Tratado sobre a Tolerância,

talvez mais conhecido que lido,

como quase todos os livros de teoria política,

e é um livro que nos lembra

que a questão da Tolerância nasceu

historicamente ligada à questão da religião,

mas, evidentemente,

que vá para muitos outros assuntos,

e só para dizer-lhe das duas outras ideias,

aliás, todas elas muito bem referidas

no excelente prefácio do José Meranda Justo,

que também é o tradutor,

que é a questão da autonomia do direito,

a valoração da autonomia do direito

da religião,

a valorização da autonomia do sujeito,

embora submetida a um Estado forte,

como o Volter aliás até gostava,

e, sobretudo, e isso está na prefácio,

e é a ideia para mim mais forte,

que é a ideia da Tolerância como

manter o conflito,

não iluminando o outro,

nem iluminando as paixões políticas.

Uma ideia muito atual.

Ricardo Aureus, o primeiro atrás,

uma comédia racial.

O que é perigoso logo à partida.

É uma comédia racial escrita por Jorge Schuiler,

um autor negro.

Agora já agora convém sublinhar isto,

só para termos alguma hipótese de redenção.

Mas é uma comédia que parte do

seguinte ponto de partida.

Um cientista descobre um modo

de fazer com que pessoas negras

consigam transformar-se em pessoas brancas.

Isso provoca 2 ou 3 sobressaltos.

E é um pretexto para o autor

satirizar o cúclico-ciclã

e a ideia de supremacia branca,

que bem precisa de ser satirizada,

mas também a ideia das identidades

vistas como essências biológicas,

como diz o Miacoto,

no prefácio.

E, portanto, toda a gente apanha

o que significa,

que é importante precipitarem-se

para ler, antes que o mercado

vá banir de certas bibliotecas.

Chama-se Negro Nunca Mais,

e assim se conclui a Análise da Semana.

Voltamos 2 ou 8 dias

com uma nova conversa

à volta dos temas da semana

e os suspeitos do costume.

João Miguel Tavares, Pedro Mexia

e Ricardo Oroz Pereira.

Machine-generated transcript that may contain inaccuracies.

Um livro de fotografia sobre a campeã Patrícia Mamona dá a ver a arte fotográfica de José Pedro Cortes; Voltaire escreveu um “Tratado sobre a tolerância” talvez mais citado do que lido; o escritor negro George Schuyler criou uma distopia que põe em causa as noções de identidade racial em “Negro nunca mais”; e Rui Cardoso Martins reuniu os contos que escreveu nos últimos vinte anos em “Passagem pelo vazio e outros contos” e publicou-os numa pequena editora alentejana, a Filigrana.

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