Alta Definição: Júlia Pinheiro: “Devo tudo à televisão, é uma aventura avassaladora, fantástica, extraordinária”

Joana Beleza Joana Beleza 10/14/23 - Episode Page - 41m - PDF Transcript

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Você nos recebes?

Só bem-vindos.

Cinco anos de programa, casa nova e a certeza comprovada de que não há histórias banais?

Não existem vidas banais.

Ficou provada ao longo destes cinco anos e o mais surpreendente de tudo é que as vidas

são cada vez mais surpreendentes, o que nos leva a concluir que há muitas, tantas histórias

ainda por contar que as pessoas finalmente os sentem um bocadinho mais confortáveis

e mais confiantes para chegar aqui e abrir o mapa.

Tem sido espantoso.

Olá, muito boa tarde, sejam bem-vindos à minha casa nova.

Júlia e Piar, estou como sou, no Alta de Fisa.

Preparados para mais uma tarde de grandes, grandes conversas.

E esses cinco anos deixam que marcam em ti.

Transformaram-me completamente, sabes?

Acho que este foi o programa que me transformou mais, porque me tornou tremendamente mais

sensível, mais humilde, empática.

Eu sempre tive um grande respeito pela verdade, aquilo que cada um traz na bagagem, mas como

temos tempo para conversar, esta capacidade de nos ouvirmos muitoamente e de estabelecermos

ali uma conexão, ali um momento com muitas destas pessoas que é profundamente comovedor

para elas e para mim.

Aquilo que a Ana Dela disse é que o há aqui dentro, não é, de todos nós, que é

aquele grito de ajuda.

Muitas vezes tivemos aqui situações de grande fragilidade emocional, em que foi preciso

ajudar, em que dar colo, tivemos pessoas aqui quase desfazerem-se emocionalmente, quase

a beira daquilo que nós chamaríamos um descontrol absoluto emocional, sendo mesmo

quase catártica, e eu tive que estar à altura desse momento.

Está precisar também de um carinho, não está?

Não.

Eu sei que não.

Está mesmo a precisar.

Saio às vezes daqui com o coração muito avariado, saio às vezes com um grande peso porque

gostaria de ter as soluções para aquilo que as pessoas me trazem como problemas, mas

transformou-me muito.

Acho que são uma opção inteiramente diferente.

Quando alguém chegar aqui, provavelmente nervoso, porque vai contar a sua história

pela primeira vez, qual é a tua preocupação de receber essa pessoa?

Que se sinta confortável, que se sinta confiante, que se sinta acolhido.

Ou seja, eu tenho que ter uma temperatura muito própria para que a pessoa sinta que

enquanto estou a olhar para ela, eu estou mesmo a olhar para ela, eu estou inteiramente

presente.

Mal é que essa pessoa entra, eu tenho que lhe dar essa garantia, mas as pessoas estão

muito assustadas, é com as câmeras também, é com as câmeras e está aqui muita gente.

E quando consigam que elas olham para mim e ficam mesmo ali na minha linha, começamos

a sentir-nos muito a menta.

Pessoas esquecem.

E nesse momento, estou sempre a dizer, vamos fazer de conta que estamos em sua casa.

Estamos laçando a lá de história, não estamos nada a ver com o seu chazinho.

São apenas truques para desbloquear a emoção e o nervosismo.

E sobretudo o que é que as pessoas saem a tocar com um grande sentimento de que a sua

dignidade, que a sua verdade, não foram tocadas.

Tenho que se educar com a sensação que foram aovivas e que aquilo que deixaram foi

respetado.

Quais foram os momentos mais duros que aqui viveste?

O momento mais duro que aqui vivi foi uma história de cancro infantil, de um jovem

que estava com um cancro muito, muito agressivo e estava esperando um transplante.

A mãe encontrou, enfim, aquele percurso todo e depois a mãe fez questão que o jovem

estava desfigurado.

A doença tinha transformado completamente as fotografias que tínhamos visto para contar.

Aquela vida já tinha um tempo.

E quando ele sinta e eu vejo a dimensão da dor daquele rapaz e depois aparece uma fotografia

no plasma em que se vê o jovem mais no vinho sentado numa cama de hospital com uma expressão

corporal, sabes, de uma dor indisível.

E quando vá com ele e diga-lhe, o que é que tu queres dizer hoje aqui?

E ele olha para mim e diz com uma voz, vinda-se a piscinar de um ano e diz, dói muito.

Aí eu venho ali porque era a verdade, a pele de ano.

E ele já não aguentava mais.

Foi um dos menos mais difíceis e tocou-me profundamente.

As crianças não podem ter esta dimensão de dor.

Não deviam.

Outra foi de um acidente em que o pai está a gerar, mora lá numa linha férrea e uma amiga

foi buscar o filho, ele olha para a linha férrea e percebe que um carro acaba de ser

abarroado pelo convóio.

E percebe que é o carro da amiga e que o filho está lá dentro.

Sai a correr e é o primeiro a chegar junto do carro, onde o filho está com experimentos

terríveis, a forma como o pai conta aquilo, é o inferno à tua frente,

é o teu pior pesadelo a acontecer à tua frente.

Comecei a pedir a Deus e por tudo que não fosse ele e que ele era mesmo próximo do carro.

Este rapaz ficou muito, muito mal.

Não é o mesmo rapaz.

Os pais viraram a vida toda, toda, toda, toda.

Para o acompanhar ele está acamado, não se movimenta, está completamente dependente.

E acabei de saber, dizendo que entra para aqui.

Esse pai me lembra que tinha uma empresa de eventos, vargaram a empresa,

abriram uma clínica para acompanhar outras crianças com este tipo de problemas

e têm feito tudo o que podem para realitar este rapaz.

E conseguiram algumas coisas.

Ele que não sorria, que não tinha nenhuma parte emocional, estava toda atreviada, já sorri,

já riaja, é um caso de amor profundíssimo.

Isso é uma palavra que eu ainda não disse aqui,

mas é a palavra que eu mais encontro neste programa, é amor.

E há também um lado que ainda há pouco tempo te indignaste,

tinha que ver com as condições em que uma família vivia.

Isso indigna muito, eu acho que é aquilo que estamos a viver,

que é a falta de condições para a habitação, não é?

Isso e a pobreza.

Tu percebes que as pessoas vivem com muitos dificuldades,

nesses tiscitos que há quase 5 anos que eu consegui falar,

porque estava tão indignada, tão indignada,

que foi uma família que aqui tinha uma mulher.

Você viveu com o filho no carro?

Vivei com o filho na fábrica, uma vida perfeitamente normal,

foi aposta na rua pelo senhorio,

e uma vida normal passou a ser uma sem-abrigo.

Com problemas de saúde complicadíssimos e a ser avoperada,

estou muito, muito envergonhada por nós,

por uma ideia que se chama Portugal,

e que neste momento tem cidades cheias de turistas

e os seus habitantes estão a começar a ficar na rua, a viver no carro.

A televisão tem a destra grande capacidade

de que ainda incomodamos a alguém,

aliás, eu só me sinto aqui e todos os dias bem incomodar a alguém.

Alguém que esteja a ver, tem que ser incomodado.

Estou a falar, obviamente, das instituições que me achem na vida das pessoas.

Mesmo que não tenham nada para dizer,

têm que ouvir, têm que receber as pessoas

e ser interlocutores para qualquer coisa.

E às vezes não sei, as pessoas sentem-se extremadamente injustiçadas,

naquilo de, olha, pensem-me.

Podem dizer que eu estou a fazer demagogia,

mas isto não é demagogia.

Isto é a realidade, é o que acabava me ajudando a ouvir aqui.

Mas olha, devo me terem indignado bem,

porque dias mais tarde, teve aqui o presidente da Câmara de Lisbon.

Por acaso isto não era no Ministro Ierino,

mas ele tinha ouvido falar.

Poxa, é pronto.

Ok.

Pode ser que o presidente da Câmara do Sítio Andas da Senhora vivia,

que era só uma média infeste,

também tenha ouvido e que tenha aparecido uma solução.

No dia em que o meu pai morreu, eu estava a trabalhar.

O meu pai esporou, que eu chegasse.

Que mulher as tuas?

Sou uma mulher que está muito boa na vida.

Estou tranquila, estou serena.

As minhas expectativas em relação a uma série de coisas

estão completamente apasiguadas.

Está num asvalorizo.

Eu corrí muito, trabalhei muito, fiz muitas coisas ao mesmo tempo.

Diquei-me muita coisa, entreguei muita coisa.

Me doutor, desculpa-te mais da nossa profissão.

Não digo que me esgotei,

mas para mim, de facto, este era o momento de estar mais tranquila,

de estar com menos a fazer.

E eu tenho uma enorme vantagem.

É que eu não me importo em pedecer.

Eu não estou nada preocupada com o que o Espelho me diz.

Eu tenho até um problema que o Espelho não olhe para eles.

Não é um problema, não é?

Tu me destintas, percebas?

Eu não esteja com arzinho, com pestinho.

Envolhe-se-se.

Eu acho que é espantoso.

Estou cá, estou viva, tenho saúde.

As porcausas me já pensaram.

Estou lúcida, estou atenta.

O conhecimento continua a acontecer.

Eu continuo a aprender coisas todos os dias.

Tenho projetos.

Ele gostava de fazer a sua licenciatura.

Estou bem.

Tenho uma cintura nova.

Não fiz nada por isso, mas tenho.

Faço exercício físico.

Estou aqui a tentar contar aquelas boas práticas

que os médicos me dizem.

O investimento será melhor.

Estou a fazer essas coisas todas.

Os fitness, aquelas coisas todas.

É uma fase boa, sabes?

Não tenho medo dos sentes.

Isto é bom.

É sério.

As pessoas ficam muito sangadas com as palavras.

Eu acho imensa e graça a alguém no outro dia me dizia

não me chamem idoso.

Eu sou um homem, eu sou uma mulher.

Agora, idoso não.

Eu não quero.

Importam-se muito com a representatividade.

Eu acho que a coisa mais bonita que tenha acontecido

é a representatividade

de todas as idades do mecânico.

Porque isso é representatividade da sociedade

tal como a vivemos.

Portanto, eu,

senhora sexos na área,

como um programa e num próprio,

sentada todos os dias na antena.

Não é apenas um privilégio.

É uma espécie de declaração desta estação.

É dizer,

as pessoas desta idade têm coisas para dizer.

Estão válidas para estar aqui.

E eu acho isso importantíssimo.

Portanto,

quando me sentava,

aqui não me tirou.

A forma que as questões de saúde se abalaram?

Apenham um grande susto.

Apenham um grande susto.

Eu estava a dizer que eu tinha um problema de vesícula

e eu achava que era uma coisa mais grave.

Eu fiquei convencidíssima que era uma coisa mais grave.

Ou não era.

Foi só uma vesícula

e as consequências emocionais que isso me trouxe.

Tal dor de neuropática que eu tive posteriormente

não é mais do que manifestação

física de uma dor emocional.

Mas abalaram-me porque foi a primeira vez.

Eu sempre fui muito, muito, muito saudável.

Eu nunca tive um problema de saúde.

Eu nunca tinha feito uma operação.

Eu não sei ter bebês,

mas os bebês foi parte natural.

Nem uma cesareia nem tinha feito.

Portanto, o hospital primeiro era um local

um bocadinho distante.

Em certeza do diagnóstico era o mais angustiante?

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

Era.

profundamente desconfortável com o que estava a acontecer e não sabia bem o que estava a acontecer.

Todos os dias eu tinha manifestações que me inquietavam, pronto, agora já tenho a coisa controlada e está tudo bem.

Mas acho que as mulheres não são suficientemente alertadas e os homens também não,

os homens têm andropausa, não é?

É um estigma falar sobre isso?

Eu não sei se é um estigma, eu acho que não é agradável.

A vida reprodutora das mulheres, não sendo um tema tabu,

é uma coisa que não fica para falar ao jantar.

Você acha como que sou esta mais falada da tua vida reprodutora, não é?

Mas eu acho que muitas mulheres sofrem de coisas assim lá, as tonturas, as vertigens,

as dores de cabeças, as enxaquecas, tudo isso tem a ver com um momento particular do nosso envelhecimento

e não é falado e não somos advertidas.

Eu não sei nada disso, alguém me devia ter dito, percebe-se Daniel, alguém me devia ter avisado.

Pronto, agora que já saiu, estou mais tranquila.

Clienetivos é que os teus te deram que foram importantes para essa resolução.

A Maria teve que ter uma paciência tremenda.

Ele fica muito irritado de mim quando eu começo a eleucobrar e a dizer

ai, tal, bem, maquina, ai, não, não, não, não, não.

Não quero ver mais conversas dessas, não quero ver mais conversas dessas.

Os meus filhos estavam preocupados, eles tiveram sempre informados do que estava a passar,

mas este foi um processo a dois, porque não era grave,

portanto não tínhamos que estar a partilhar mais do que era necessário na informação

e eu costumo dizer que o meu marido devia ter sido médico

porque ele é mais ou menos administra a vida de toda a gente, ele é que dá o corpo permídeo,

ele é que sabe o que é que é para a constipação, foi ele que dividiu aqui as dificuldades.

Quando não fazia isso num programa, os teus filhos...

Sim, logo, logo, confusão absoluta.

Curiosamente, eram sempre divertidos nos locais de trabalho.

A tua mãe não estava lá.

Estou lá, já estou com a capa de telefone.

Para saber o que é que se passava, o marido ficou muito aflito, porque estava em Bristol,

quando isso aconteceu, me há aquela culpa de não estar presente, se fosse preciso alguma coisa.

A coitada estava muito aflita, ela telefonava muito, muito, muito, muito, ele estava muito telefonar,

mas é muito engraçado as minhas filhas que eram uma que era outra, trabalham em escritórios de advogados

e eram sempre surpreendidas por alguém que saiu de uma que lhe rendeu a correr e ia dizer

que a tua mãe não estava no meio que era vela, vai lá ver o que é que se passa,

mas pronto, foram muito, muito queridos, como óbvio.

E quando se acerta no diagnóstico, se resolve é um...

É um alívio, ó Daniela, é o mais do que um alívio, é uma maravilha.

Fiquei muito, muito feliz, muito feliz, estava tudo certo, não há nenhum problema,

sempre um peso de cima, sabe?

Ela estava ali em cima de mim, qualquer coisa, aqui uma nuvem, e saiu a nuvem,

portanto, fiquei, fiquei grata.

A tão mediatrizada luta das audiências condiciona os teus dias?

Não condiciona, eu estou muito tranquila, porque tu estás tranquilo, isso ajuda muito,

mas sobretudo porque eu tenho a consciência que nós fazemos um produto muito bom.

Mas sente-se a pressão?

Às vezes um bocadinho, tive-mas e há anos sentado em reuniões de direção para saber o que é que se diz.

Quando as audiências não são boas.

Eu perdi-nos a minha vida em que perdi muito e perdi todos os dias as audiências,

e mesmo nessa altura, quando se tem uma grande convicção que se faz, que é o meu caso,

eu tenho uma grande convicção.

Eu acho que porque as coisas estão bem feitas, eu acho que faço bem.

É porque alguém está distrido, um dia deixe-te reparar e isto sobe outra vez.

Tanto não me condiciona.

O facto que tu e o Manel também brincarem com isso, atenua muito essa...

Sim, a nossa rivalidade é a rivalidade mais simpática e bem-humorada e tornorenta da história.

O Manel sempre disse que não está bom.

Estava em confronto comigo.

As duas situações é que estão em confronto.

Nós, as duas, nunca estaremos em confronto.

E era perfeitamente previsível que ele um dia também viesse para este horário,

porque está na idade certa, porque também gosta destas conversas,

porque trocamos imensas mensagens um com o outro a brincar,

sobre vários aspectos, com os programas e afins.

Mas sobretudo sobre a nossa vida.

Nós temos uma dimensão de amizade próxima.

Quando eu saí da TVI, se transformou num élo muito mais próximo,

porque ele preocupa-se muito.

Ele acompanha cada momento da minha vida.

Ele toma conta, ele aparece, ele está presente,

mas vazia muito.

Olha, não dá para nos acarmos.

Jamais nos angaremos.

O que é que a TVI te deu mais para além de amigos como o Manel?

A TVI deu-me uma vida, Daniel.

Que eu deva a TVI tudo.

A TVI deu-me um sentido de missão.

Quando nós começámos aqui há 30 anos,

nasci que eu não imaginava a aventura que estava para começar,

que foi a vaçoladora fantástica e extraordinária.

Mas sobretudo depois, era o meu modo de vida,

é a minha vida, o que chamava de dizer às vezes,

que a minha identidade se confundia com a da SIC.

Eu era um bocadinho da SIC, e isso era muito presente em mim.

Portanto, a TVI deu-me isso, deu-me essa pele,

deu-me conhecimento, deu-me asas em criatividade.

Eu aprendi tanto, tive tanta sorte nela.

As minhas fias foram sempre fantásticas.

Fui abençoada com oportunidades tremendas.

Eu só tenho a agradecer.

Portanto, a TVI deu-me isso tudo.

Eu estivesse nos três canais,

fizeste muitas coisas como dizes.

O Gozo foi feito de quê?

Ah, o Gozo foi feito deste jogo, de estar aqui,

mas estou no país todo.

Eu não vou lá nenhum neste país,

em que não saiba o meu nome.

Às vezes trocam e te chamam de 13 glegos.

Ou Fatima Lopes.

O Gozo é esse, quer dizer,

é que nós viemos fazer uma coisa que a partida parece

que é só para nós, não é?

Que é o nosso momento.

E de repente aquilo não é nada,

mas nada a nossa.

É que ele está...

A recomentar pelo país todo,

e está a tocar tantas e tantas pessoas.

É muito divertido.

É um jogo de...

As equipas, com as pessoas que alguém trabalha nos,

nós estamos sempre a dizer,

mas vás que as pessoas nunca acreditam isto.

O facto é um processo coletivo.

E o facto de termos aqui estas complicidades todas,

e passarmos as longuíssimas horas uns com os outros,

e contribuímos todos para o mesmo objetivo,

isto dá um gozo tremendo.

Continuar a dar.

Eu já tinha gostado muito da rádio.

Mas a rádio até terminar a altura,

eu sentia-se em casazinhas no abrilhão.

E eu queria muito facilitar isso.

Em Casas da Serra, vivo soem sólido.

Uma questão administrativa

tem lançado a maior confusão nos habitantes da aldea.

O que é que mais te orgulhas?

Eu orgulho-me.

Espero eu de ter feito bem.

Que a minha comunicação seja limpa,

que as pessoas continuem a sentir-se tocadas por mim.

Nós temos termos somos,

por uns no lado do outro,

e que o outro não está a ver.

Portanto, te orgulho-me só disso.

Vais nada.

Diz das coisas que preferias não ter feito?

Uma ou outra.

O que é que a televisão te tirou?

A televisão não tirou exatamente nada.

Não tenho que achas nimas a fazer,

pelo facto de ter alguma notoriedade pública.

A televisão é a única coisa.

A disciplina que eu exerço na televisão,

que é o daytime.

O daytime é muito castigador.

Em matéria de tempo.

Todos os dias.

Há uma parte do dia que não despretence.

E não interessa o que é que acontece.

Nós temos de estar aqui todos os dias.

E isso, às vezes,

conta-se as coisas na tua vida pessoal.

Às vezes, limita-te muito.

E às vezes, já há uma certa exasperação.

Por exemplo, eu sou filha única.

No acompanhamento dos vários problemas de saúde

que os meus pais tiveram,

eu não me botar tão presente quanto gostaria.

No caso, o meu pai foi terrível,

porque no dia em que o meu pai morreu,

eu estava a trabalhar.

O meu pai esporou,

que eu esquece

para se despretencer.

A minha mãe, hoje,

tem uma condição muito frágil.

E eu, para estar com ela, tenho que

estar ali na minotagem

do tempo em que posso estar lá,

e depois tenho que ficar aqui.

Às vezes, isso

fica um bocadinho apertado aqui,

cá dentro.

Tenho que me ver em uma hora

e percebo que ela gostaria que eu ficasse muito nesta.

E ser cuidadora

traz o peso da responsabilidade?

Eu sou cuidadora da minha lei,

eu sou responsável por ela,

que é uma situação que a vida

nos deve preparar.

Mas quando chega,

é sempre muito, muito difícil.

Agora é minha filha,

e eu sou a mãe dela.

É ao contrário.

Não que, na balança da nossa relação,

isso seja dessa forma.

Minha mãe é uma senhora...

Black.

E nada um belo general,

num exército qualquer.

Eu percebo que ela queria mais tempo com mim.

E não o tempos.

Está com 85 anos.

É uma senhora muito particular,

marcou-me muito.

Mas agora, isto seria o atema à conta dela,

é muito estranho,

porque ela é uma pessoa que sempre conta de mim.

E o autoritário é muito disciplinadora,

e hoje sou eu que tenho que

às vezes ser disciplinadora

e um bocadinho autoritário.

É custa muito.

Não é todo.

É aquilo que nós achamos que vai ser.

Quando tens casos semelhantes aqui,

há um grau de identificação...

Logo.

Logo, claro.

E custa.

E custa, e atualmente,

depois tens que ir buscar ela e dizer,

eu sei que eu é aqui agora, neste momento.

Mas...

Há aqui uma espécie de cinema,

de uma lámina.

Passa aqui dentro.

E...

Depois...

faz-me ela.

Procuras hoje mais o silêncio,

mais tarde nesse recato.

O silêncio é muito importante.

Eu era muito isobarante,

eu costumo dizer que era irritante, mentalego.

Não dava,

era a espécie de uma seca.

Eu sempre posto polo sempre.

Sempre, sempre.

Ah, na má agitação e tal.

E nos últimos anos,

comecei a ficar mais tranquila

dessa matéria

e comecei a valorizar

muitas coisas que,

se calhar, não valorizavam no passado.

E até mesmo às vezes na nossa profissão,

que tem aqui um lado de representatividade,

às vezes, festas,

coisas que é preciso estarmos.

Faço, no sentido de ver,

mas, de facto,

muita agitação,

sinto que,

há uma altura,

está na altura de ir para casa.

A hora cindrela.

A hora cindrela.

A hora cindrela está na altura de ir para casa

e estar ali no meu pequeno universo

dá-me uma grande alegria.

Uma alegria serena.

Dá-me uma grande alegria.

A televisão de companhia,

num país tão invidecido como o nosso,

é central na vida de muita gente.

Há essa preocupação de que estamos aqui a fazer,

para muitas pessoas,

é vital no seu dia a dia.

Foi particularmente importante na pandemia,

acho bem.

A pandemia, acho que, foi central.

Nós somos uma extensão

das suas realidades.

Existe a realidade

que as pessoas têm nas suas vidas

e, depois, há uma série de pessoas

e de locais que aparecem na televisão

que são uma extensão das suas casas.

E, portanto, é muito, muito importante estarmos lá.

Criamos um estilo de vida e uma cultura

que afasta as pessoas idosas

das nossas vidas.

E falo de pais e de mães e da voz.

E as pessoas ficam sozinhas

e estão em uma grande solidão, acho bem.

E é por isso que a nossa presença é tão importante.

E os casos que te chegam

e as pessoas que te abordam,

sentem-se, vinculou-me a outra vida

que essas pessoas mais velhas tenham,

serem ouvidas, de alguma forma?

Sim, naturalmente.

Serem ouvidas de serem valorizadas.

Vistas.

Não são seres invisíveis

que estão em casa

e que não têm nada para dizer,

não têm nada para partilhar.

É justamente ao contrário,

em outras culturas,

os mais velhos,

são os sábios, não é?

E são aqueles

a quem se vai pedir conceito.

Nós aqui temos a virtude ao contrário,

que é uma perna.

Nós vivemos acelerados,

vivemos na dimensão de disparate,

de pressão tremenda com as horas.

Aquilo que nos é solicitado,

aquilo que temos que entregar,

as nossas tarefas,

enfim, essas coisas todas

e estas pessoas acabam por

não ser a nossa prioridade.

Os avós também perdoam,

perdoam a toda a gente.

E se eu fiz algo mal,

quero que me perdoem também.

O que é que mais sensibiliza aqui?

A emoção cometida das pessoas.

Quando tu sentes que a pessoa está

profundamente tocada,

profundamente vulnerável,

e ao mesmo tempo tenta se proteger

e contém sendo um bocadinho.

Nessa contenção,

é o momento de um sentimento

lindíssimo e que me move,

me toca, me perturba um bocadinho,

porque eu tenho que ter a contracena adequada.

E não posso desmerecer naquele momento,

não posso esvaziar o sentimento,

tenho que dizer a coisa certa,

tenho que pôr a voz no sítio certo.

Porque eu até já falo mais baixinho,

pelo menos.

Porque, de facto, estas conversas

implicam um tom mais confecional,

e, portanto, eu,

sem querer, vou baixando a voz,

porque sei que a minha voz

nascia mais suave,

propicia mais conforto.

E, portanto,

tem si mesmo um transformador.

Respira,

o mais difícil já foi dito,

o mais difícil já foi dito,

tento respirar.

Quais são os dois mecanismos de defesa

para que isto não tome?

São muitas histórias,

muitos dias,

para que não levas a carga

que isto tem.

É, é mais difícil.

Por vezes,

já é muito perturbada mesmo,

e, portanto,

leva às vezes uma noite

para esvaziar

e para colocar no sítio certo.

O que este programa trouxe também

foi que essas vidas reais

não tenham tempo para ser contadas.

É isso.

Aliás, a cliqueza deste nosso programa

é o tempo,

porque as pessoas podem permitir-se

começar,

depois aquece um bocadinho

e depois a conversa vai se soltando

e, quando acabamos,

fomos a sítios

que foram extraordinários

das vivências dessas pessoas

e do ponto de vista da comunicação.

Comunicámos mesmo.

Muito obrigada por ter estado com eles.

Obrigada a eles.

Aqui,

há outros menos mercados,

foi entrevistado pelo teu filho,

pelo teu marido.

As coisas que acontecem.

Intervistaste a Teresa.

São momentos fantásticos.

Olha, entrevistar a Teresa,

olha-me, foi das coisas mais simpáticas

que podia acontecer,

porque nós tínhamos ali uma espécie

de um conflito, exatamente,

mas havia ali, assim,

uma crespação.

Vamos para aí, uma crespação.

E que era absurda.

Não faz sentido.

Ela com 60 e qualquer coisa.

E eu com 60 andámos agora

crespadas,

ainda por cima,

para pessoa que o respeito tanto profissionalmente.

Quando foi possível

que fazermos este encontro,

eu fiquei felizíssima,

e correu tão bem.

Foi ótimo que isto é imenso.

E agora, nunca mais,

na vida nos angámos,

a tempo não tem muito tempo.

Não tem muito tempo.

Não tem muito tempo.

Mas o vagar,

ser entrevistada pela minha menina

era uma coisa que nunca tinha ocorrido da vida,

devo dizer.

Porque ela é um ser muito discreto.

Foi muito giro, foi muito giro.

Ela como vêu-se muito,

porque ela é de lágrima mais fácil do que eu,

o coração mole.

Dos filhos que me veram ser imensos,

acho que churou tudo.

Eu não vi com eles

que não estavam a buscar,

mas os filhos viram todo junto,

e acho que foi uma churadinha de graça.

O que só prova

que os pais têm a capacidade

de tocar os filhos

dos emocionar.

Como é que se exerce

a autoridade com os filhos de trinta anos?

Não se exerce.

Quer dizer, exerce.

Mas é onde tem que ser uma coisa...

É uma gestora de influência.

Exatamente.

É mais isso.

É mais isso.

Há uma altura em que temos que perceber

que eles são indivíduos,

não é?

No primeiro bocadinho.

E que, a terminar da altura,

quaisquer que sejam as escolhas que os façam,

eu já não posso fazer nada.

Tenho muita sorte,

porque, no caso,

os quatro filhos da mais velha,

a Sofia, que tem 46,

até as mais novas têm trinta,

todos eles conversam.

A grande decisão passa sempre

em concílio familiar, digamos assim,

e corre bem.

Agora, a terminar da altura,

tais que recuar um caminho

e só deixar-os uma palavra mais autoritária

e mais vinculativa com eles,

só em ocasiões especiais,

porque é isso.

Influência.

Mas eu tenho sorte.

Eu tenho sorte.

Estou a fazer percursos

que são compensadores,

tão felizes.

A gente ainda tem muitas coisas

para realizar,

mas o rolê está a seguir

o seu sonho na representação,

continuar a ser um profissional de comunicação

muito bem-sustido.

A Sofia também tem a vida dela,

como jurista,

e todas as coisas correm bem.

O que é que aprendeste com eles?

Aprendi que o modelo de educação

que eu tinha tido

não podia ser o mesmo com eles,

e eu tentei reproduzir o velheco.

Estou a falar muito de tudo aquilo

que tem a ver com a focação,

escolha de carreiras,

eu achei que é mais ou menos reproduzir aquilo

que os meus pais tinham feito comigo.

Insistiai às vezes em certas coisas

que não devia terem insistido,

e eu e o pai, também, nos juntos nisso.

Vai para o direito, meu filho,

vai para o direito, meu filho,

o direito é que é.

Pois vais ser nacionalista,

mas agora vais para o direito.

Foram todos para o direito.

Só duas delas é que terminaram o direito.

Foi a Sofia e a Matilde,

a outra licenciosa em comunicação,

e eu reconhei a história.

Tanto eles ensinaram isso,

que é, não vale a pena

tu queres impor aquilo que tu achas

que é a tua sabedoria e aquilo que

tu aprendeste.

Porque o mundo hoje é outro,

que te serviu para ti,

vamos nos servir a nós.

E ele moria há algum tempo até chegar lá.

Foi um bocadinho,

me achava até lá.

Mas conseguindo,

uma coisa que a minha meizinha me ensinou,

eu e o meu paizinho,

todos os licenciados,

não havia possibilidade alguma

de não acabarem concursos superiores,

e no caso do ruído de morocadinho,

e depois ali com a Carolina também,

mas todos descansados.

Fiz a minha parte,

todos descansados.

A infância deles parece-te longínqua?

Tremendamente longínqua.

Mas tremendamente longínqua.

Como houve muito vezes,

algumas fotografias que me movam

tremendamente,

porque parece que foi a nutra vida.

De facto, teremos todos os diferentes.

Eu e eles.

Eles ensinam o amor incondicional

ou esse amor não depende necessariamente

daquilo que eles fazem?

Ah, não,

eles podem fazer tudo.

Podem fazer tudo o amor incondicional,

é isso.

Na maior das dificuldades,

na maior,

o disparado que possam ter feito,

o meu amor está lá.

O não significa que eu aprovo

que possam ter feito.

Agora,

é um amor desmesurado,

é uma coisa...

absurda, absurda.

Existe uma disponibilidade total

para aceitar todas as suas escolhas.

Existe.

Mesmo quando a gente não concorda nada.

Às vezes não concordamos,

mas...

Tem que se dar essa noção de segurança.

As crianças estruturam-se na confiança,

na certeza de que

têm segurança

atrás de si.

E os jovens também,

e os adultos também.

Portanto,

está lá.

Estou lá.

Estás logo pouco fora.

O que é que eles já te disseram

de mais marcante?

Mãe gosta de mentir,

mãe ame-te.

Há um momento que eu guardo com muito carinho

que foi quando eu tive a minha incursão teatral

nos monólogos da vagina.

Justamente nessa altura,

três dias antes de estriar,

a minha mãe teve o seu primeiro IPC,

que foi muito, muito sério.

Portanto,

eu cheguei a apontar,

não fazer,

e estava completamente desnorteada,

mas desnorteada completamente.

Ela estava em dificuldades intensivas,

eu tinha equipa o teatro,

era preciso ir fazer aqui o programa todos os dias,

essas coisas todas,

e os meus filhos,

principalmente as minhas filhas

que não estavam em casa nessa altura,

eram o estado de calamítulos em que eu estava,

e precisam que eu ainda não tinha o texto dominado.

E então,

vão ao ensaio geral,

que é só para convidados,

eu preço de ver as carinhas deles todas da neve.

Os quatro com o ar do género,

ela vai colapsar,

ela não vai conseguir fazer isto.

O amor que eu vim naqueles rostes,

o que eles estavam a sofrer por mim,

só visto,

depois de uma do palco,

ainda me tem tempo.

Eu pensava, estou a sofrer imenso,

estou a não fazer isto,

mas não está a fazer bem.

E quando eu consigo chegar ao fim da peça,

sem cair para o chão,

sem me ter enganado muito,

no meu texto,

a minha filha me tente,

que é assim uma coisa deste tamanho,

porta-chaves autêntico,

arranca-nos a correr,

faz o quê?

A correr da plateia,

sobe pelo palco,

não sei como,

ela literalmente voou pós meus braços,

e agarrou-se a mim,

e disse,

eu estava com tanto medo que tu não fizes capaz.

E fos-te bem, fos-te.

La Grimita,

eu e ela,

ela é muito pequenina,

mas era um gigante adulto,

estava agarrada um gigante,

um gigante amor,

sabes bem que é,

um gigante amor.

Tão bonito, tão bonito.

Eu falei, oh filha,

isto faz, e tal,

e eu pensava,

como tu tivesse perto da verdade.

Mas foi um momento de amor

para os outros todos à volta.

Eles formalizam muito o amor que têm por mim.

Outra coisa,

porque eu acho que o alho disse,

posso morpear,

mas é uma grande afetividade.

São muito amigos entre eles.

Eu queria muito,

era minha família numerosa,

por isso,

porque estou sozinha,

como não tenho irmãos.

E eles são muito amigos uns dos outros.

A Sofia é a generalda,

que é a irmã mais velha,

também está uma conta atacada de gente toda,

também é toda a gente na ordem,

e são muito complices,

muito complices uns com os outros,

e isso deixa-me muito feliz.

E as tuas netas,

é uma avó com açúcar ou não?

Tô um bocadinho em falta,

tô um bocadinho em falta,

porque sou uma avó

que não pode buscar à escola,

sou de fim de semana,

e nem de todos.

E sobretudo,

tenho muito respeito

porque as minhas netas

pretensiam mais avós.

As minhas netas têm avós,

não acabam mais, não é?

Mas estão com nós com frequência,

e nessas alturas,

a principalmente a mais velha

é muito engraçada,

a Francisca,

é a minha bestie.

Viajámos com ela o ano passado,

pela primeira vez,

fomos com ela lá,

antes do avô,

e foi muito contigo,

avalia-se uma coisa,

eu e a bestie andámos ali as duas.

A Zaro tinha morrido a rainha,

tudo o que era castelos,

não podemos ir ver,

porque rainha, coitadinha,

gostava naquele momento, não era?

A minha bestie ficou

muito arrediada com isso.

E eu estava pequenina,

ou até tenho seis anos,

que é o meu hot-filer.

Há, não é?

Uma despachada,

que é abendita,

e a abendita

é muito engraçada.

Mas não sou aquela avó

típica, não, não sou.

É tudo de papo, tia.

É a vinha-deta,

é a vinha-deta.

Iniciam-se hoje

as Noites da Má Língua,

uma missão consagrada à crítica,

e à opinião.

Quando houve as primeiras emissões

da Noite da Má Língua,

que agora estão disponíveis

em podcast,

que julia que houve?

Não dão opinião de muito.

Acho que eu não faço muito

esse exercício de me ver no passado.

A única vez que eu tive uma curiosidade

de me ver,

foi no tradeco a aparecer

umas imagens minhas,

engravidíssimas,

15 dias antes de ter as minhas filhas,

e eu sentado na praça pública,

fazer uma praça pública

no casal ventoso,

onde aconteceu tudo atrás de mim.

Mas tudo o que tu posses imaginar.

Os praça pública

vai para a vó para falar

do pão-sum-de-droga.

Estamos no bairro

do casal ventoso.

Quando emzenou,

eita a Má Língua,

eu percebi que aquilo seria duro,

porque íamos mexer

com uma perceção sobre aquilo

que era a crítica,

que a nossa seria tremendamente

ácida,

e que aquilo ia trazer

a consciência do mesmo.

Mas agora,

não estava à espera,

por exemplo,

que algumas pessoas

me deixassem de falar assim.

Não estava à espera

que, de vez em quando,

houvesse assim umas manifestações

de algum mau humor,

quando aparecia.

Só muito mais tarde,

é que o programa se tornou

uma espécie de culto,

uma coisa consensual,

e toda a gente deixava muita graça.

Mas eu vou ler uma fase que não.

Eu tinha muito boa imprensa,

nessa altura,

porque vinha da praça pública,

que tinha sido aqui

um programa fantástico,

o povo tinha, finalmente,

a sua voz na televisão,

e de repente,

fez-me na guleta Má Língua

a levar castada todos os lados.

Estávamos, de facto,

ali a romper qualquer coisa.

Estávamos a romper,

e romper doi.

Romper doi.

O nosso pâniel de comentadores

não deixarás capar nada

usando a sua acútilância habitual.

E os continuamos.

Fazemos o nosso podcast

que eu acho sempre que

é um grande exercício

de docência retardada.

Cosemos quatro docentes excitados

a conversarmos com os outros,

mas que eu também acho

que tenho sua frescura.

E de viver-te imensa,

a fazer-me na pessoa,

porque é um registro totalmente diferente

do que eu estou fazendo.

E que, ah, tá,

para ter que ler-me.

Dá-me ali um oxigênio

tremendo,

como deve-se calcular.

E nesta criança,

que as tuas filhas diziam que eras?

Acho que sim.

Sou um bocado infantilóida,

às vezes sim.

E aí, em mim,

ainda uma...

não é ingenuidade,

mas aí, em mim,

uma indiebrada.

Eu sou um bocadinho amalucada.

Sou desgrinhada, mentalmente.

Do nada,

pode acontecer qualquer coisa assim lá.

Eu não terei para alguém

um susto desmesurado

a alguém que tinha entrado

aqui no estúdio.

E estávamos nas vésperas

para irmos de férias.

Estávamos naquilo,

à praia,

não sei o que,

não sei o que,

eu de repente até os gritos

a fazer de gaivota.

Mas não tenho assim

um gui enxagudíssimo

e me matando a pessoa

que tinha entrado.

Tenho este lado

criassado,

pronta, patetado.

Eu acho que vai bem.

Você consegue ver

alguma das coisas

que fazes,

ou não,

aqui?

Vou falar com o meu chefe

ou vou falar com o que?

Eu vejo o primeiro

e depois fizeram

uma grande agenera.

Aí vou ver.

Mas só dessas ocasiões.

E as imunóis comentários

que hoje em dia

estão com as redes

massificadas?

Absolutamente imunóis.

É esses comentários.

Uma opinião

que eu respeito muito

de meu marido.

Se eu chegar a casa

e a minha marida disser,

o que é que não sei o que?

Que desparado foi aquele

que coisa mal feita

foi aquela.

Eu baixo as orelhas

e tento me justificar

e ele diz

não justifico,

injustificada,

aquelas coisas.

Eu baixo o nariz.

O que vier

de mais ou duas,

três pessoas

no nosso circuito profissional,

tu incluindo,

que se me disseria

alguma coisa,

não está bem.

Eu fico preocupada

e vou ver.

As cartes sociais,

para mim,

fazem parte do trabalho.

É preciso estar

nesse universo também.

Mas eu prescrevo lá

meu respeito.

Quando é bom,

eu fico muito contente.

Quando é mal,

não valoria e sabes.

Não desfer o ego?

Não.

Não.

Eu tenho ego a prova de mal.

É?

É.

Olha,

foi uma das grandes ofertas

dos meus pais.

Foram maravilhosas

a trabalhar o meu ego.

Os pais díam todos os dias

que eu era maravilhosa,

que me adoravam

e que eu podia fazer

tudo o que me desce na cabeça.

E depois não foi bem assim

quando eu cresci.

Mas não me deixava fazer

tudo o que me passava na cabeça.

Mas respaldaram-me

tremendamente para aquilo que é

o que tu faz.

É bom,

e tu és maravilhosa.

Acho que nunca me deslumbrei,

porque sempre tive o meu marido.

A minha vida profissional confunde-se

muito com o meu casamento.

Não é?

Eu casei com o meu marido

quase 40 anos.

E ele já era profissional de comunicação.

E ele sempre foi muito adulto

e muito sensato.

Dá uma forma educoma

para este meio.

A televisão é uma coisa,

a vida é outra.

As nossas vidas profissionais

passam-se

num determinado sítio.

Nós temos a nossa vida,

as coisas não se comem.

E tu não te podes deixar

enabriar.

Eu fiz um ótimo trabalho,

porque eu nunca me enabriei.

Mesmo quando

houve momentos em que

eu estive aí muito na crista da onda,

era verdade, mas era só

para passar para a onda seguinte.

Não era para,

agora vou ficar aqui,

que são maravilhosas, extraordinárias,

e agora devem-me isto aqui,

louco ou outro.

Nunca, nunca, nunca.

Aliás, achei sempre que a televisão

não me servia.

E eu é que servia a televisão.

Já mais foi ao contrário.

E fico muito irritada

quando vejo profissionais fazer isso,

porque o nosso trabalho

não é para nós.

Acanhamos a nossa vida aqui,

mas não é para isso.

Nós temos um...

uma tarefa a escutar,

que é entregar,

todos os dias,

um produto irreprensível

que as pessoas lá em casa

possam consumir,

sem qualquer defeito.

Agora,

quis-se-me servir a nós

e quis-se servir para não ser o que?

Para termos esta aquela atitude

e para legitimar

isto ao que lhe conto.

Não, já mais.

Como é que lida os cluséicos dos outros?

Olha, muito honestamente,

com algo muito dificuldade.

Quando eu esfiava equipas,

tentei sempre

passar estes códigos.

Foi a pena.

Tenha-la calma.

Hoje é extraordinário,

amanhã não é.

No dia bestial,

não teria besta.

Quer dizer, não vale a pena.

Hoje, que já não tenham

essa exposibilidade,

distanciam-me.

Também tive de dizer

aqui, na nossa casa,

não temos muitos casos

de exagerados,

antes pelo contrário.

O que é que corrigirias

em ti, se pudesse?

A voz.

Logo, claro.

Estou um bocadinho mais paciente

e ser um bocadinho mais tolerante

com as insuficiências dos outros.

Fico muito...

nervada,

muito...

crispada.

Quando percebo que alguém

não me tos lá para a preguiça,

sou intolerante a esses casos.

Estivei atrapalhando-se na minha vida.

O que é que tem de repente?

Olha-me toda esta memória de nada.

Às vezes, tenho aquelas coisas

de uma projeção,

de um sonho.

Aquela minha coisa de...

eu teria dado uma investigadora boa.

Teria sido uma boa acadêmica

em história,

que isso teria tido,

porque eu queria ser esquiola.

E às vezes, tenho uma coisa assim,

quando vejo aquelas coisas

do Discovery e tal,

e essas coisas sobre grandes descobertas,

aí é minha assim uma coisa,

um eco,

de uma nostalgia não vivida,

de uma outra vida

que eu podia ter tido,

que seria totalmente diferente.

Mas, provavelmente,

sempre se enfiada num buraco.

A descobrir coisas,

estaria um dia,

olhava para a televisão e dizia,

ah, eu podia ter feito aquilo.

O que é que é fazer-te mal?

O que é que te desilute?

Olha, mentirem-me.

Mas, certamente,

eu estou muito diferente

nesse aspecto.

Eu, há uns anos,

teria achado as faltas de realidade,

as faltas de alinhamento

de alguém que eu achava

que estava malada em final.

De contas,

eu teria achado isso terrívelíssimo,

deixava-me tremendamente mal disposta

e tinha dificuldade em outra passar.

Hoje, não.

Hoje estou mais ciente

das circunstâncias dos outros.

Às vezes, as circunstâncias dos outros,

lê-las a fazer coisas que se calhar,

me desiluíram.

Mas, já.

Releva, não é?

Olha lá isso,

já não interessa.

Estou muito sensada, Daniel.

Imagina, estou muito sensada.

Não quero polêmicas,

desentendimentos,

não quero...

Exatamente.

Não quero polêmicas.

Teste tudo.

Não quero polêmicas.

Alguém te deve um pedido de desculpas?

Eu saco, não.

Espero que não.

Estou que se despacho.

Tu pedias desculpar

todas as pessoas aqui em que lhes pediu?

Acho que sim.

Não tive muitas vezes pedido de desculpas, sabes?

Eu tenho muita facilidade em pedido de desculpas.

Eu não sou nada aquelas pessoas que

já arrancam os dentes,

tiram as unhas,

mas não vou pedir desculpas.

Não, eu peço.

Logo.

Mas é logo.

Tanto as tu não tué déficit.

Quando olhas para o futuro, o que é que fez?

Ai, tempo.

Queria tempo.

Sabe, essa é a única coisa que eu quero.

Tempo e saúde.

É a única coisa.

Tempo para...

Sistir em uns anos de qualidade,

de qualidade de vida,

sem horários,

sem maquiagem.

Tranquilo,

uma marido ao lado naturalmente, os dois.

Temos os anos que mercemos juntos.

Temos muito isto.

Para nós, os dois,

estamos muito felizes um com o outro.

Isso é muito bom.

E é isso que eu quero.

É continuar assim.

Foi a verdade a teoria de que nós somos o reflexo

das cinco pessoas como são mais próximas?

Quem é que é isto?

Não mais posso ser um reflexo do meu pai.

O meu pai era assim.

O meu pai era...

Eu sou muito meu pai.

Sim, meu pai.

Desgrinhado,

politicamente incorreto,

divertido,

nada é um problema e tudo se resolve.

Sim, meu pai.

Vamos cair.

Isto não é interessante nada.

Vamos cair.

Vamos andar para a frente.

Todos,

dizem o momento em que eu estou, espero.

Que é uma mulher,

no momento certo,

no sítio certo,

a fazer as coisas certas.

Obrigado.

Obrigado.

E isso,

partaste comigo com tempo.

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Ajudou a fundar a SIC há mais de trinta anos e toda a sua vida profissional passou pelo ecrã da televisão. Em entrevista a Daniel Oliveira, no Alta Definição, Júlia assume: "a televisão deu-me uma vida, deu-me essa pele, conhecimento e asas à criatividade; aprendi tanto". A apresentadora fala também sobre a família, a idade, a condição feminina e o peso que tudo isso tem na sua gestão entre vida pessoal e profissional. "Não tenho queixas nenhumas a fazer sobre a televisão, a única coisa é que o 'daytime' é muito castigador em matéria de tempo, todos os dias há uma parte do dia que não nos pertence. Nós temos de estar aqui todos os dias e, às vezes, acontecem coisas na tua vida pessoal, às vezes limita-te muito e há uma certa exasperação. Por exemplo, eu sou filha única e no acompanhamento dos vários problemas de saúde que os meus pais tiveram não pude estar tão presente quanto gostaria". Júlia Pinheiro fala ainda do impacto que os problemas sociais têm na televisão e, entre as histórias que mais a marcaram recentemente, recorda as histórias de quem não consegue neste momento pagar uma habitação digna. "Estou muito, muito envergonhada por nós, por uma ideia que se chama Portugal, e que neste momento tem cidades cheias de turistas e os seus habitantes estão a começar a ficar na rua, a viver no carro."

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