Alta Definição: João Baião: “Ainda me escondo. Tenho dificuldade em dizer que não estou bem. Protejo-me muito porque tenho medo de desiludir as pessoas”

Joana Beleza Joana Beleza 10/7/23 - Episode Page - 47m - PDF Transcript

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Isso é uma entrevista séria João Bairão.

Vou dar outra série de serviços.

Olá boa tarde.

João Bairão, faço a minha 70 anos e estou como sou no alta de Trinça.

SIGAS SIGAS SIGAS SIGAS SIGAS SIGAS, a minha agulha!

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Tô bem vindo!

Obrigado, fazes uma vez pro convito Daniel.

É um gosto de ter-te aqui e ser recebido aqui na tua casa?

Na nossa casa, claro, exatamente.

Como é que é celebrar a vida aos 60 anos?

É a mesma coisa que celebrar a vida aos 50, aos 40.

Até porque continuo fisicamente e em termos de saúde bem.

Agora complica um bocadinho entrar na plataforma dos sexos genários.

Exatamente. Não quis psicologicamente o meu afeto, mas é 60 anos, são 60 anos.

E tu sientes que viveste, de facto, esses 60 anos bem vivido?

Eu acho que sim.

Eu sou mesmo uma pessoa muito feliz, então nesta última década tenho sido muito feliz

e sinto que tenho feito tudo aquilo que me deram também a oportunidade de fazer

e que tenho absorvido e aproveitado as coisas da melhor forma.

Sinto que às vezes não aproveito, no momento,

porque como sou muito ansioso, porque quero muito fazer bem, quero muito não desiludir

as pessoas que apostaram em mim, que acreditaram em outra pessoa,

que acabam por, no momento, não saborear as coisas.

Só o tempo depois é que, feliz que eu fui naquele momento.

Se eu vivi durante um período da minha adolescência, sempre comendo que a minha mãe me faltasse.

E quando falta?

Na segunda-feira vai estar no mercado.

Este livro, que fala dos teus 60 anos,

tu diz aqui a data altura que tu não chegas a esta idade sozinho.

Chegas acompanhado de muita gente.

E esse foi também motivo porque eu aceitei esse desafio na editora e do Rui,

quando lançou este reto de fazer um livro.

Eu disse, será que as pessoas estão interessadas, as pessoas conhecem, veem me diariamente,

será que faz sentido?

Mas depois comecei a pensar, de facto, estou a chegar aos 60 anos, sinto muito feliz,

muito agradecido a muita gente e, de facto, se calhar, faz sentido falar aqui de muitos momentos do meu percurso,

porque todas as pessoas que foram passando pelo meu caminho, ou algumas que ainda estão,

são parte integrante da plataforma onde eu estou hoje.

Qual é o outro lado da alegria?

O outro lado da alegria é, em privado, uma alegria em que você sente que não tens câmeras a registrar,

adorar receber os amigos em casa, ter a alegria da família, é a alegria de viajar,

poder estar sozinho, estar com os meus animais.

É a pessoa que eu sou, sem capas e sem personagens,

é assim sempre que eu me lembro de ser uma pessoa otimista, uma pessoa alegre,

uma pessoa divertida, uma pessoa que procura sempre o primeiro contacto com os outros

através do humor, através da brincadeira, do trocadilho.

É essa alegria que eu sinto, eu sou completamente diferente da minha irmã Jame,

a minha irmã Jame é muito mais discreta,

mas eu, na minha ânsia de viver as brincadeiras, mesmo na escola,

eu arranjava sempre um motivo de juntar a grupini,

inventar um espetáculo no quintal onde eu vivia com os meus pais,

de uma árvore fazer um cenário e construir ali uma magia,

juntar os meus primos na altura do Natal,

e preparar um espetáculo tieto para apresentar à família,

e nunca estar sozinho, com o horror a estar parado, com o horror a estar parado.

Mas não é um horror, num mau sentido, é o medo do silêncio, o medo do vazio,

que é uma coisa que eu perdi com a idade.

Eu estudava em frente da televisão, a ver a visita da Cornélia,

a ver o passeio dos eléctricos com o Julizito,

e o meu pai dizia sempre, as aprender alguma coisa.

O silêncio, aquilo incomodável, eu procurava sempre estar com barulho.

Hoje em dia é diferente, eu sinto que sou a mesma pessoa,

mas hoje em dia já me sabe bem o silêncio.

Tu escreves aqui que sempre tiveses dificuldade em partilhar as tristezas,

junto daqueles que são mais próximos, para não os chatear com isso?

Eu sou de uma geração em que pais e filhos não diziam o ante.

Eu nunca tive uma conversa de olhos nos olhos que o meu pai houve.

Eu muitas vezes ia ajudá-lo, que ele era marcenário,

e era um artista inacreditável.

Era mesmo professeonista, ele trabalhava sozinho,

mas como tinha que fazer entrega no móvel, precisava da ajuda,

e eu era o único filho que podia ajudar, e eu aquilo.

E ele estava muito, porque não queria ir para a escola, ir para o teatro, aquelas coisas.

E havia ali sempre, subjacente, na viagem, um silêncio.

Nunca tive uma conversa entre filho e pai, porque eram as gerações diferentes,

e que os filhos falavam do básico.

A mesa era uma altura em que eu tinha que pedir de autorização ao meu pai

para me matar na mesa, para ir para a rua brincar,

portanto que quando eu teria carros de condição,

não tinha carro, o único carro que havia em casa era do meu pai,

e se lhe pediu um dia, no outro dia já tinha uma certa vergonha de pedir outra vez.

E portanto não era de me desturirizar muito aquilo que eu sentia.

Quando conquiste este meu grande sonho,

que era trabalhar em comunicação, teatro e depois a televisão,

e quando as pessoas que peço a adquirir a imagem de que eu sou uma pessoa sempre feliz,

há de facto esta ideia de, eu não vou mostrar o outro lado,

porque as pessoas têm a imagem de mim de que eu sou uma pessoa feliz e otimista,

e isso depois deva nascer-se de rápido, porque eu não tenho que fingir nada.

Obviamente que sou como qualquer pessoa, tenho os meus momentos de tristeza,

e dá pouco tempo, antes de vir para o domingão, não sei se conhece.

É isso, vagamente, vagamente.

Fui uma subfície comercial, de maior que a fé,

que faz sempre de manhã antes de vir para o programa,

e emocionou-me imenso, porque é daqueles dias que estou a ensaiar a esta questão do livro,

e é muita coisa, e eu gosto, eu sou um cerebral,

eu tenho de sempre ter tudo organizado na minha cabeça.

Eu sou incapaz de me ajeitar e não saber o que vai acontecer ao programa no dia seguinte,

mas estava a pensar e a peça, e coisa e tal,

eu falei, meu Deus, eu precisava ter mais um tempo para descansar,

e agora eu vou fazer o domingão, e não...

Não é cansado, porque cansado não entra no meu dicionário mesmo,

mas às vezes, psicologicamente, fico cheio de assuntos, e vinha bem.

Vamos lá para o domingão, agora tenho que me considerar no domingão,

amanhã tenho ensai e tudo o resto.

E de repente, eu atchei as escadas e vejo uma senhora com alguma dificuldade em subir,

a ser ajudada pelo filho, e quando chegou a fim das escadas,

vejo a senhora atcher as escadas com uma ligeireza, a chamar-me,

o meu filho disse que é ali, e a senhora para, e começa a chorar convulsivamente,

de emoção de me ver.

O filho só diz assim, você não sabe o que está a fazer,

e ela já ganhou o dia, e a senhora num pranto diz,

você não sabe o bem que me faz todos os dias,

você não sabe aquilo que encha a minha vida.

E isso, claro, fiquei logo em lágrimas, e saí da pede da senhora e disse,

meu Deus, eu não estou pensado, tudo isto vale a pena,

porque isto é um privilégio muito grande, nós às vezes não temos a noção,

o quão importante somos para as pessoas, e a forma como estlegamos a casa,

e a forma como, às vezes, um pequeno sorriso aqui deste lado

pode aliviar a vida de todas as pessoas, e de repente se diz,

que também há, para o amor de Deus, estás agora a superbar de pensamento,

tens a que fazer as coisas, porque estas pessoas estão aqui por ti,

e para ti, e elas merecem, e de facto, passou tudo.

Essa importância que tu sientes, que aquilo que tu fazes aqui,

é um dos teus segredos, as pessoas perguntam a todos,

qual é o segredo dele?

Pois, mas toda a gente pergunta, e essa energia, e o segredo,

e nunca estás cansado, e como é que tu aguentes,

eu não tenho segredo, porque de facto, é um prazer enorme,

esta entrega que me é natural, as coisas não são forçadas.

Eu não venho para a casa feliz, programa que eu gosto muito de fazer,

principalmente porque conheci uma pessoa extraordinária, que é Diana,

a equipe é maravilhosa, mas isto, estar a rir,

estar a dançar no domingão, a fazer aquelas brincadeiras,

não é forçado, não é porque eu tenho que fazer,

é porque me dão a liberdade, porque eu sinto...

Porque isto é de facto uma festa, e eu nunca me permiti,

tirar os pés da terra em relação à chamada popularidade,

nunca deixei que isso me levasse para outros patamares.

Mas neste programa, obriga-me de uma forma inconsciente,

abaixar a terra, porque nós aqui encontramos histórias de vida,

tão dramáticas, tão tristes, que às vezes,

como se costuma dizer, deixá-me-nos demais.

Descreves uma coisa extraordinária no livro, que é,

ninguém pode ser dali derrotado, ninguém.

Ninguém, e aconteceu aqui uma coisa, uma vez,

mas não teve a ver, e não quero aqui que isto pareça

que eu estou aqui a culpar alguém, mas pronto,

os bastidores da Casa Friseu é uma agitação completa,

e veio aqui uma senhora que falava de um caso muito dramático da vida dela,

e acabamos da entrevista com a senhora,

e de repente, acaba a entrevista, vamos para a intervalo,

ao momento que ela é promissão, e veja a senhora completamente aqui perdida,

e isso deixou-me tão embaixo, porque estas pessoas têm uma vida,

vem aqui partilhar momentos importantes da sua vida,

e não é porque elas já deram a entrevista que tem que ser abandonadas.

Não acontece isso, nunca acontece.

Mas é que aquele dia houve qualquer coisa,

e eu, das coisas que mais me deixa destabilizada,

é a vulnerabilidade das pessoas, e quando elas mostram essa vulnerabilidade,

junto dos outros, e muitas vezes aqui no programa,

as pessoas vem aqui despojadas, tudo e vem a mostrar a sua vida,

e o quão difícil é a sua vida.

E eu, quando vejo as pessoas desprotegidas e desamparadas,

eu fico um bocado inteligente.

O que que sabes hoje sobre ti e o que que não sabes?

Há coisas que ainda não sabes sobre ti.

Há coisas que ainda não sei sobre mim.

Por exemplo, ainda não sei enfrentar essa fragilidade nos outros,

ainda não sei estar mais disponível para as pessoas que me são próximas,

ainda me enive muito, ainda me respondo, mas não é com medo de nada.

É porque eu tenho, às vezes, alguma dificuldade em olhar nos olhos as pessoas e dizer,

eu não estou bem, eu não me estou sentindo bem, eu estou frágil.

Eu precisava agora, sei lá, dar um abraço qualquer e eu às vezes escondo-me,

escondo-me por ter-se muito, porque às vezes tenho medo de desiludir as pessoas, tenho às vezes...

Não corresponder à imagem que as pessoas fazem de ti.

É isso, é isso.

E às vezes, mesmo com as pessoas mais próximas,

há um bloqueio de não conseguir dizer,

rapaz, eu acho que ti, dar-lhe um abraço e sou um bocado fugido, mas isso sempre fui.

E ainda não consigo mesmo ir ao fundo de mim e perceber

por que é que fico nervoso umas semanas antes,

quando venho à alta definição?

Por que é que fico nervoso? Por que é que fico ansioso?

Por que é que sou bom palco?

Por que é que vou para o domingão e fico com vó mitos, porque estou nervoso?

Eu acho que ainda, por exemplo,

ainda não consegui dizer à Diana a importância que ela tem na minha vida,

ainda não consegui.

Não sei por que.

Porque há uma barreira em mim que me bloqueia,

mas eu não fujo e nem sequer uso uma capa para me relacionar com as pessoas,

mas há aqui qualquer coisa.

A verbalização é mais difícil?

Sim, é mais difícil.

O meu irmão foi sempre...

Enquanto de nós pequenos, mais velhos que eu,

e que a minha irmã somos gêmeos, e ele foi tadinho.

Foi privado de ir para a rua, brincar com os amigos, andar de bicicleta,

porque tinha que ficar a tomar conta dos irmãos gêmeos.

E o meu irmão acabou de terminar de altura sempre muito com pincha,

e após bales, eu ia atrás dele para ver como é que era,

ficava à porta que eu não podia entrar,

e ele ensinou-me a andar de bicicleta,

e uma vez estávamos na rua lá, na buraco onde nascemos.

E eu tive a ensaiar aqui para mim a dizer,

ante muito, meu irmão, ante muito, ante muito,

e chega à altura, é agora, vou dizer, e disse, fugir.

Nada a ver, é uma coisa que nunca na minha família,

fizemos dentro do seu da família,

nunca houve essa demonstração de carinho, da feto.

Embora eu, como minha mãe, tivesse uma relação muito mais próxima,

e sofrei imenso à janela, onde ela saía para trabalhar,

e ela dizia, estou ao caso, às oito horas, e ela não estava,

e eu ficava à janela a contar os minutos,

e quando ela não chegava, eu ficava num pranto, num pranto, num pranto,

porque vivi sempre, a minha vida com medo que a minha mãe morresse, sempre, sempre.

Sempre que ela tivesse um problema, que ela não viesse mais para casa,

que ela morresse, eu vivi durante um período da minha adolescência,

sempre com medo que a minha mãe me faltasse.

E quando falta?

E quando falta, não há nada a fazer, não há nada a fazer.

Fica, esta coisa de dizer que as pessoas ficam no coração, ficam no coração,

e ficam-se com a sensação que não dissemos tudo, que não fizemos tudo.

E agora, para o fim dos últimos dias da minha vida com a minha mãe,

em que ela estava já inconsciente, que disse, muitas vezes,

mãe, ame-te muito, e houve uma vez que ela acordou,

mãe, tenho muita orgulho em si, ame-te muito,

e ela, neste momento, acordou e disse,

disse, isso agora, porque eu estou aqui.

Mas eu não sinto remorso, nem sinto que tenha faltado alguma coisa,

mas pronto, foi assim, fomos educados com muito carinho, com muito amor.

A minha mãe e os meus pais lutaram, porque era uma família de classe média,

ligeiramente baixa, porque só o meu pai é que trabalhava.

Tivemos sempre tudo o que eles conseguiram dar,

mas não havia essa abertura, não havia essa proximidade,

mas, quando isto tudo começou, o bichocic, tudo isto,

era aquele orgulho enorme, mas mesmo assim,

quando meu pai, meu pai era muito crítico,

quando tinha alguma crítica, não me dizia diretamente a mim.

Dizia a minha mãe, aí o teu pai disse que não goste nada de casa espalhaçadas,

aquilo é o exagero, e ele é que dizia, nunca como dizia a mim,

eles morrem na véspera do teu aniversário, os dois, 9 anos de diferença.

Eu não sei essas coisas dos universos, essas coisas,

esse mundo esotérico que eu tenho alguma curiosidade

e que gostava de se desenvolver,

mas o meu pai morreu no dia 7 de 2010.

E, 9 anos depois, a minha mãe entra no Estado de Mência

e entra para o hospital em agosto, porque ela entrou de urgência para o hospital,

portanto ficou completamente, praticamente do outro lado,

e ficou assim, ficou assim, não teve melhoras,

depois mudou de hospital.

Ela cai praticamente em coma em agosto e resistiu até outubro.

A verdade é que ela foi aguentando, foi segurando, e, dia 6 de outubro,

eu fui vê-la, como fazia todos os dias, fui vê-la ao hospital

e dei-lhe um beijinho e disse, meizinha, até amanhã,

eu amo-te muito, tenho muito orgulho em si,

e saí do hospital, amadoura cintra,

pensei amanhã, dia 7, faz anos.

Isto é, eu nunca coloquei isto a ninguém, porque isto é verdade,

eu perguntei, meu Deus, será que me despedido da minha mãe?

Não, amanhã estou cá, e está tudo bem.

E no outro dia, quando acordo,

telefona-me a minha irmã e dizia, amadinha morreu.

9 anos depois, no mesmo dia,

eu velei a minha mãe no dia do meu aniversário,

e penso-se, meu Deus,

é para ficar para que eu nunca mais me esqueça dela,

mas eu jamais esqueceria,

é porque quis cumprir o sonho, quis cumprir o mesmo caminho

do amor da sua vida, porque ela não conheceu outro homem,

senão meu pai, e, portanto, ficaram manchados

esses meus dois aniversários para sempre.

Estes dias não consegue-se ter uma felicidade plena, nunca?

Nunca, nunca.

Agora, quando se labra do aniversário, não?

Não, nunca. Se levo também por eles,

e pela vida que eles me deram, e pelaquilo que eles me deram,

e sempre que posso, nos dias especiais,

faço sempre uma visitinha onde eles estão,

mas todos os dias me lembro deles nos mais pequenos momentos,

e, principalmente, quando estás no meu aniversário,

às vezes, assim, estou aqui fazer festa,

mas pronto, eles adorariam que eu estivesse a viver em festa,

e é assim, a vida continua, de facto, a vida acaba para quem parte.

Quem cá está, o tempo acaba por resolver as situações,

se nós deixarmos, e se nós também trabalharmos nisso.

Em que momentos é que mais te recordas deles?

Em todos.

Quando eu faço o dono dentro, lembro-te do meu pai,

que ele não gostava nada de me ver vestido de mulher.

Aquela geração que acho que os homens não serem vestidos desmulheros.

Mas, por exemplo, neste momento do vansamento do livro,

seria uma coisa em que eles estariam orgulhosos,

com certeza, iram só, depois dos meus pais,

eram muito, principalmente a minha mãe.

Havia aquela sensação de que ninguém faz nada de jeito,

e, de repente, só o filho é que é bom,

só o filho é que faz coisas e eu dizer,

oh, meu Deus, não existe só o jovem,

há outros artistas.

O momento dos globes de ouro, seria o momento

que eles teriam ficado orgulhosíssimos.

Mas lembro-te de todos os momentos,

porque a vida, realmente, todos os dias,

é uma conquista que vamos trafando

e que vamos lutando a nossa maneira,

cada um, como sabe e como pode.

E todos os dias me lembro de deles,

porque eu, de facto, neste momento,

num período muito feliz da minha vida,

eu simplesmente formo,

eu acho que a vida devia parar neste momento,

e das coisas que mais me entrestece,

mas é uma coisa que com aquela, eu não posso,

não posso mesmo combater.

É o desaparecer.

Eu gosto de tanto viver, gosto de tanto estar cá,

gosto de tantos ofruídos aqui,

faz-se de aprender, de fazer coisas,

que penso-nos às vezes, o que é que vai ser

depois de morrer?

Destrever as suas pessoas,

isso é o que mais me entrestece,

é o deixar de ver as pessoas,

de abraçar as pessoas,

as pessoas com o que eu estou,

nunca mais vou ver aquela pessoa,

aquela pessoa que foi tão importante para mim,

na minha vida.

E tu achas que é aquele cara que vazio,

quando isso acontecer?

Qual é o legado do jovem?

Isso é muito difícil de farar no próprio,

daquilo que é o legado,

mas eu acho que,

quando eu partir,

quando eu me furem embora para o outro mundo,

se aqui existe todo mundo,

acho que vou deixar um live do sorriso,

da minha alegria,

que eu acho que é um bocadinho,

inerente à minha pessoa,

e é isso que as pessoas me referem muito,

e eu te faço uma pessoa alegre,

mas ainda um antem, por exemplo,

no ensaio estava a falar com o Ito Lourenço,

da falta que a Maria João Abreu nos deixou.

Não só em termos artísticos,

mas e se faz falta a toda a gente,

mas era aquilo que ela representava

e o importante que era na nossa vida,

e lembro muito dela,

que me fiz os monólogos da vacina,

porque estava muito pedindo a opinião

das pessoas que me eram próximas,

e de partilhar com ela,

porque te lhe donávamos muitas vezes,

todas as semanas,

e é aquela coisa de,

João, estás bem?

Vem cá, o que é que tu achas?

Dá-me aqui uma opinião,

e isso tudo faz falta,

até mesmo só para dizer um bom dia,

só para aquele encontro que fica marcado,

mas que nunca aconteceu,

eu tenho que vir cá à casa,

vou fazer aquela moqueca de peixe

que tu mais gostas.

Só por isso, já nos faz falta,

porque agora eu acho que,

quando eu morrer,

as pessoas vão se lembrar

da minha alegria, acho que sim.

Se pudesse regressar

um momento do teu passado,

onde regressarias-te?

É muito difícil essa pergunta,

porque todo o meu passado

é recheado de momentos maravilhosos.

Desde aprender a andar de bicicleta,

na cidade de Beja,

a cidade natal da minha família,

os acampamentos dos escuteiros,

a primeira vez que fomos de férias,

na minha família também,

com uma tenda da tropa,

pelo Algarve,

em que dois dias estávamos,

num sítio,

outros dias estávamos,

de outros,

desde o sonho com os Jogos Olímpicos,

a participação do Festival da Canção,

que eu era pequenino,

no Coliseu,

foi a primeira vez que eu enfrentei

assim uma grande plateia,

muitos, muitos momentos,

porque de facto,

todos esses momentos,

foram construindo um puzzle.

O que é que mais te orgulhas?

Tudo o que fizeste?

Olha, eu orgulho-me de quase aos 60 anos,

ter as pessoas que apostam no meu trabalho,

não me ter acomodado no sentido

de agora vou ficar aqui no meu cantinho,

puxar a eternidade,

de facto, orgulho-me,

sem falsas modestias,

de ainda com esta idade,

e depois de um percurso muito atribulado

em termos daquilo que eu fiz,

porque na altura do Big Show Sique,

a minha imagem,

para muitos dos meus colegas-actores,

era a Pessoira Não Grata,

porque fazia um produto menor,

que era um programa da música popular.

Porque eu fazia aquilo com tanta legitimidade,

fazia aquilo com tanta entrega,

e aquilo, de facto, era uma festa tão grande,

mas depois eu comecei a ver,

mas não, eu não tenho que, agora,

faça o Big Show Sique,

e depois tenho que fazer um Shakespeare

só para mostrar que eu faço outra coisa qualquer.

Não!

Eu tenho que aproveitar as oportunidades que me surgem,

e usufruir daquilo,

porque a da diversidade,

nós fazemos coisas e orgulho-me de,

nesta idade,

ainda estar na competitividade

do mundo que é a televisão.

E orgulho, de facto,

das coisas que tenho feito,

das pessoas que reuni,

enquanto minhas amigas,

orgulho-me de hoje conseguir deitar-me,

ter a consciência tranquila de ter amigos,

de reunir amigos,

de fazer coisas que me dão realmente prazer.

Também, por tudo isso,

os Globos do Ouro tiveram um sabor especial?

Claro que sim, claro que sim.

João Bayão!

Eu vou te dizer honestamente, Daniel,

é assim, eu nunca quis lutei

ou sonhei isto para ser capa de revista

ou para ganhar prêmio.

Houve ali uma altura,

quando eu entrei para o teatro a ver,

pensava que ia ganhar um prêmio,

e ia dizer tão gira,

mas depois,

o interesse é a essência.

Obviamente, que ser conhecido

para um Globo do Ouro,

que é um espetáculo nobre

da nossa televisão,

para todos os canais,

é de facto uma referência,

só ser nomeado,

e eu tinha sido nomeado

há muitos anos pelo Big Show,

somos muitos neste país

a tentar um lugarzinho no palco.

E, de repente,

assim que são destacados,

é, tu é destacado.

Isto é um grande previlejo.

Vocês que estão aí,

que está colado ao lado,

obrigado com o apoio,

pelo carinho,

que é pura e para vocês,

vale a pena toda entrega,

toda a adicação.

Claro, que subir àquele palco,

da Coliseu,

depois ouvir meu nome,

e sentir a plateia,

esganuinamente,

para aplaudir-me,

foi um dos momentos que eu pensei

que pena,

gostava que os meus pais

tivéssem visto isto,

porque foram embora se calhar

com a ideia que o João Bayão

não é apreciado profissionalmente

por algum leque de pessoas.

E hoje, lá em cima, no firmamento, duas estrelas estão ainda mais brilhantes.

Obrigado, boa noite, do Fundo Ceração!

Tenhas de 17 anos.

Sim.

E entrasse-nos no programa do Júlio Zidro.

Ah!

E a crítica disse o Mário Castrín.

Humildemente, peço especial atenção para o segundo rapaz que fez de António Silva nas

grandes fitas.

Está ali a nascer qualquer coisa.

Era bom ir ver o quê?

O que é que estava a nascer ali?

Estava ali a nascer esta vontade de se calhar, levar mais a sério.

Sinceramente, nessa altura, não sabia que existia um conservatório.

Nem sequer conhecia o Mário Castrín.

Havia ali muita ingemidade de fazer tiata e de fazer coisas.

E de aprender, com quem depois acabei por aprender,

um teatro aberto, teatro espetal de cascais, para ir fora.

Nunca até com certeza.

Eram 8 a 10 contos.

Ganhava.

Estava em RUF.

Ah, sim!

Estava ali a nascer.

Estava ali a nascer.

Esta vontade de se calhar, levar mais a sério.

8 a 10 contos.

Ganhava.

Estava em RUF.

8 a 10 contos.

4 para cada um.

E não sei se era tanto.

Às vezes era 3, porque nós chegávamos a uma altura.

É que criou um impacto tão grande que fazíamos há todos os dias num bar

diferente.

Corriamo-nos de Lisboa inteira.

E essa altura foi uma altura muito feliz.

É aquela altura em que tu te atiras para a frente.

Mesmo que faças figuras ridículas e desajustadas.

E esses momentos ajudaram a crescer imenso.

Foi aí que eu conheci a RUF e foi daí que depois tudo aconteceu.

Como é que tu eras com os alunos da família Pituxa?

E eu era um professor muito atento.

Muito condescendente também e muito tolerante.

E depois quando tinha que dar repriações dava.

Fazer família Pituxa.

Não te lembra da família Pituxa?

Não, não.

A família Pituxa era o vitinho daquela altura.

Para quem não se lembra de vitinhos não temos assim nenhuma referência.

Mas era um boneco de animados que nos mandavam para a cama.

Os pequeninos.

Era uma família que cantava.

Vamos dormir.

Vamos dormir.

Bom sonhos para vocês meninos como nós.

E um dia o meu pai oficiou-me um quadro com o desenho da família Pituxa.

E aqui para mim era.

Eu penderia o quadro na parede.

E às tantas como um dos meus sonhos passou por ser professor.

Eu pegava no livro de gravática de português.

E hoje vamos dar morfologia.

Então meninos, hoje vamos dar morfologia.

E estava ali a falar com os bonecos.

E eles ouviram.

E eles nada.

E depois quando era a altura do ponto do exercício.

Redigia lá o ponto.

E a minha irmã fazia os pontos de todos.

Absolutamente.

Fala-me do teu tempo na tropa.

14 meses?

14 meses.

Foi um tempo divertido e sim.

Quer dizer, o primeiro impacto de chegar ao corte-alfa é difícil.

Para já depois de ter a família toda.

A despedir-se de mim a Santa Polónia que foi uma estudadeira.

Minha vozinha.

Foi para onde?

Foi para Abrantes.

E ir para o mundo desconhecido.

Para aquele mundo que a gente não sabe o que é.

Sei lá o que é que é a tropa.

O que mais me incomodou foi o afastamento da família.

Porque era muito ligado à família.

E a familiar ao meu núcleo.

O corte familiar foi...

Eu lembro que foi o caminho todo no comboio.

Choraria a minha vozinha.

Minha mãe e meu pai.

Tudo a chorar.

Foi uma dor mutugana.

E depois chegas ao corte-alfa.

Lá as tantas da manhã.

E tens uma caminete da tropa que leva para o corte-alfa.

E quando chegas ao corte-alfa distribuindo o cassifre.

Os bolijos ficam ali.

E a meia da noite vem-nos interromper.

Tudo a levantar, tudo em cuecas.

Vai tudo marxar para...

Vai tudo marxar lá para fora para...

E não diga-lhe que em cuecas ninguém se conhecia ninguém.

Depois põe-te uma gravata.

Em cuecas na camarata.

Começam-nos a obrigar a cantar.

Passarinhos a bailar.

Malacca.

Porra-binha-darada.

Isto foi logo o cartão de visita.

E depois são as vicissitudes de tarde a trabalhar no campo.

Para fazer exercício físico, a aprender a tiro.

Para fazer aquelas coisas.

Inicialmente foi complicado.

Tivem a brante.

E o corte-alfa era afastado da cidade.

E para ir à perna não dava muito cheio.

Mas depois fui tirar a especialidade.

Em Aveiro, o corte-alfa era mesmo no centro.

E aí tínhamos um núcleo de amigos.

Acabava o trabalho ali.

E às cinco da tarde fazíamos sempre passear para a cidade.

E isso era como se tivesse um emprego normal.

Mas aí foi engraçado.

Tanto que na última semana da recluta,

há sempre uma semana de campo.

E lá descobriram que eu fazia teatro, amador.

E lá organizei.

Juntaram dois camiões para fazer um palco.

Lá juntei uns camaradas de saudades.

E lá fizemos umas rávores.

E já tem que fazer.

Uma festa.

Depois em Aveiro, na especialidade,

fui chamado à tribuna.

Como o soldado ganhou uma medalha.

Havia três medalhas que eles atribuíam na recluta.

Era o melhor na carreira de tiro.

O melhor atleta.

E o mérito pessoal.

Eu ganhei o mérito pessoal.

Porque a minha querida mãe dava-me para eu engraxar as botas.

Enquanto todos engraxavam com pasta e que davam luz,

o trio era um auto-brilhante.

Que era uma coisa que era só aplicar.

E as botas foram adquirindo um brilho fora do normal.

Que começou a ser muito falado no cortel.

E então por causa disso,

chamei a atenção.

Arranjadinho.

Sempre metapromado.

E ganhei a medalha de mérito pessoal.

Claro que essas coisas da particularidade

depois tem o reverse à medalha.

Como fiquei mais conhecido no cortel.

Na semana seguinte fui apanhado a Val d'Armes.

Um exercício que íamos fazer com o joelho em cima da arma.

Fui apanhado.

Fiquei apanhado a fim de semana de casquinha.

Pouco tempo depois, vais fazer figuração no Teatro Aberto.

Com 23 anos.

Exatamente.

Comecei a fazer figuração no Teatro Nacional.

De repente, entres naquele palco e vejo a Dona Unice Menós,

o Sr. Rui de Trabalho, o Regério Paulo, o São José Lapa,

António Ancho, que atirei na Valéria.

De repente, parece que nem sabias de te pisar um palco.

Era como se aquilo fosse semastereia.

Mas enquanto continuava a manter o meu trabalho,

a minha profissão,

que trabalhava como impressor do Offset.

E saía do meu trabalho,

leia para o Teatro, saí do Teatro, leia para o trabalho.

Sempre arranjava o motivo para fazer brincadeiras.

Eu estava sempre a imitar os atores, nos intervalos.

E um dia, hoje, o Lourenço, que era um ensinador,

chama-me ao Barro do Teatro Nacional

e obrigou-me a imitar a Unice Menós, o Rui de Trabalho,

à frente deles.

Uma vergonha.

Pronto.

Porque eu chamei um bocado de atenção,

devido às minhas brincadeiras saudáveis.

Depois, quando acabo essa produção,

precisaram do Ator Novo Grupo,

e lembras aquele rapazinho aí,

e lá me chamaram para o Teatro Aberto.

É a altura quando tens que decidir bem.

Isto é uma coisa mais a sério.

Eu fui falar com os meus pais e disseram,

se é este, o teu caminho segue,

já sabes que isto é uma profissão.

E instava aquelas coisas, aquela preocupação do pai.

Eu podia ter ido estudar à noite,

mas não fui por causa do Teatro,

mesmo o facto de eles me permitirem continuar a fazer Teatro,

mesmo o facto de eles darem a liberdade toda

para escolher o meu caminho.

Porque eu tinha uma profissão,

e parti completamente para o Vazio,

sabendo que ficava ali numa situação instável,

como aconteceu depois.

Mas eles deram-me sempre tudo.

E eu olho para trás

o esforço que eles fizeram para nos dar a nós todos.

Melhor a melhor educação.

Eu lembro que a minha mãe sempre,

na altura do aniversário do Natal,

ia sempre comprar umas roupinhas,

que na altura era paga as prestações para nós teríamos

a roupinha no aniversário, no Natal.

Foi assim uma manifestação de amor sempre presente,

sempre constante.

O que é que tu dirias aos jovens de 20 anos?

Que eu diria que esse brilhinho, os olhos,

essa atuância de viver,

essa tua vontade de fazer tudo ao mesmo tempo,

vai te dar alguns frutos.

É preciso é peneirar e saber distinguir

o que é que é as prioridades.

Tens hoje menos medo de falhar?

Não, não.

É o contrário.

É o termo de desiludir as pessoas,

o de criar uma expectativa

que depois seja defaldada.

Eu vivi agora, desde o último ano,

uma experiência que, para mim,

foi das experiências mais inovidáveis

que foi em não-próprio através da minha produtora.

Habe a produtora que fiz os monógrafos da vacina

que passaram aqui na C.

Eu tenho sempre muito medo de arriscar e de me tirar.

Preciso sempre de alguém que me puxe.

Não, acredita.

Mas é haver a produtora de nós,

de nós, de nós, de nós.

Mas é haver posições da nossa produtora pequenina,

de três pessoas.

Tínhamos feito poucas coisas,

só espetáculos sporádicos,

mas uma coisa com esta grandeza

é que liseu e te valia e, de repente,

tínhamos um país interreendido

a aquele espetáculo.

Mas a verdade é que eu tinha sempre medo,

porque as pessoas não sabem o que é que vão haver.

Em termos de teatro, vêm-nos à televisão,

fazemos muita coisa, mas num contexto perto,

não sabem o que é que vou encontrar

e eu não queria desiludir as pessoas.

Doi-te alguma coisa?

Voi-te.

A idade doi mais vezes aqui um bocadinho.

O valto deixou umas marcas, né?

O valto deixou umas marcas

na parâmetro da cama.

Eu já disse à minha seleção,

ao seleção, que a gente agora descansava um bocadinho.

Não é.

Vamos passar férias, vamos para Medidor,

pasar uns dias.

Sou muito tenso sempre,

e como estou sempre muito tenso na vida,

em tudo mesmo, mais vezes,

sem estar a fazer nada,

mas tenho sempre esta parte aqui muito tenso.

Por exemplo, quando acaba um domingão,

fico sempre às vezes com a zona lombar,

onde não percebe.

Então sempre quietinho ali sentado na cadeira,

realmente a gente passa de uma certa idade

e as coisas começam a acontecer,

e o corpo já não é o mesmo,

não responde da mesma maneira,

o cuidado deve ser outro,

não sou hipócondrico.

Mas antes de sempre com atenção,

se tenho aqui mais uma,

oi, oi, por exemplo,

mas eu estou sempre atento e tenho de facto medo

de não ter a mesma capacidade de teatro.

Qual é o secreto do domingão?

Não há secreto.

Eu acho que,

quando as coisas crescem,

sem ervas da ninhas,

crescem de uma forma natural,

sem produtos químicos para adobar,

percebes o que eu quero dizer,

a coisa cresce,

vizosa e saudável.

E se eu me fizer com um efeito de distanciação,

sobre o que é que acontece,

o domingão é uma coisa que

nasceu de uma forma praticamente artesanal,

um de parque de sessionamento,

e as pessoas perceberam a autenticidade disso,

e depois, no meio, tens artistas

e tens pessoas que se divertem muito

a fazer o domingão.

É uma festa,

é uma brincadeira,

onde tudo pode acontecer.

Mesmo quando não está no ar,

que é bastante paradigmático,

vocês estão em festa.

Ah, sim?

Não gastas quantos figurinos por...

Já gastaste todos.

Todos, todos, todos.

Não só para arranjar conteúdo,

mas para brincar,

para aproveitar as pessoas,

e as pessoas falam muito isso.

Ah!

Se o palhaço andava lá naquela coisa,

eu gosto tanto de ver a polcabaleira,

e assim que...

Então é uma coisa que aconteceu naturalmente,

porque a premissa não era.

Agora tens de mascarar,

não, não foi essa, foi aí,

fazes a festa.

Portanto, dizer que é o segredo,

o segredo é ser autêntico,

ser sendo o mínimo.

Quando é que tu descansas?

Quando é que tu relaxas?

Quando é que tu te permites

não estar nesse segral de energia e atividade?

Pois é que eu mesmo prefere,

eu mesmo conto, descanso,

e principalmente agora que estou em preparação,

em fase quase de estreia do espetáculo,

estamos a preparar,

a comédia é o feliz aniversário,

não me permito descansar,

porque tenho muita coisa em que pensar.

Mas eu consigo descansar nos entretanto,

nos intervalos.

Eu relaxo a mimense, por exemplo,

quando vou para minha casa,

que é 50 quilómetros daqui,

o facto de ir a conduzir,

de ir e vir,

no mesmo dia,

relaxo a mimense.

Mas claro, obviamente que o descanso

é fundamental,

até para a própria sanidade mental,

para poderes discernir

uma coisa e outra,

que isto é a casa feliz,

não é um domingão e vice-versa,

é preciso descansar,

e vou tendo pouco tempo a descansar.

Na casa feliz, o que é que te toca mais?

O que é que é mais impactante para ti?

Para mim, são as histórias de vida.

Uma história de vida depende

de tipo histórias de vida,

ou aquelas muito tristes,

e na pouca tempo fizemos um segmento

em que recordámos as pessoas

que passaram para a casa feliz

e que já partiram,

e de facto é estranho,

as pessoas que tiveram aqui

e falaram das vidas

e que muitas delas vêm sempre,

porque temos sempre esperança

no dia a seguir,

e aquelas pessoas já não estão cá,

e isso emocionou-me bastante

como histórias de pessoas

que passaram por momentos

de uma doença oncológica.

Eu lembro-me de uma senhora

que veio cá com um canco,

sensibilizou-me o facto

de a senhora estar com tanta certeza

de que não,

eu não vou morrer disto,

eu vou sair desta,

eu vou conseguir,

e a verdade

é que um ano depois

essa senhora teve cá

completamente curada,

e isso foi das maiores felicidades.

Outra das coisas

é o segmento da análise criminal,

que realmente,

ou porque vive na lua,

ou porque vive...

Um retrato do país muito duro.

Muito duro.

Muito duro.

Histórias de despedidas

marcam de particularmente

pessoas deias.

Ou deias.

Por força de teu avô materno.

Sim.

E por força também,

eu lembro que uma altura

tinha uma tia minha

a viver em Angola,

e naquele período

em que estava o tentávio para cá,

e lembro-me muito bem

que uma das coisas que mais me marcou

foi quando me fui despedir

deles ao aeroporto,

e ainda eram numa altura em que

o aeroporto tinha uma tipo varanda,

e que nós íamos para a varanda ver

os aviões partir,

e aquela imagem do avião

e a minha família irem embora

para Angola

sem saber se faltava ou não

aquilo deixou marcas.

Tanto que hoje em dia

nunca vou despedir-me ninguém,

vou sempre a receber,

despedir não.

E a despedida do meu avô

foi...

Foi...

Porque o meu avô vivia com nós,

que o meu avô era uma pessoa

com deficiência auditiva,

ouvia mal,

e ele fez um bocadinho da vida

negra à minha mãe

quando era pequenina,

porque não deixava fazer tiato,

tinham feito o complicado.

Mas ele vivia com nós,

que ele e meu pai não tinham assim

uma relação muito pacata.

Então dava-se para ali

o outspeak,

até que um dia

ele se saiu de casa

e lembro-me que ele comate

roxa às costas,

virou às costas

e disse,

até um dia,

e este até um dia

marcou-me para sempre,

porque este até um dia,

até um dia,

é como dizer até sempre a alguém.

Eu era pequenino,

mas como tanto aquilo,

fiquei tão...

Somos a soma disso tudo.

Somos a soma disso tudo.

E felizmente que,

eu hoje sinto que,

é uma soma muito positiva,

também porque tive uma infância feliz,

tive uma infância

arregada de muito amor,

de muita brincadeira,

de muita convivência,

com muitos amigos,

podia ter,

em verdade,

por outro tipo de pessoa,

mas a verdade é que,

devido àquilo que eu passei,

sou o que sou hoje,

por causa disso tudo,

tenho esta coisa de ser responsável,

por que os meus pais me curtiram

essa responsabilidade,

porque eu tinha muito respeito

para os professores genais,

porque eu treinador de futebol,

e os professores,

e daí o meu desejo

de cumprir sempre

aquilo que me pedem.

Às vezes,

devia se pisar mais o risco,

mas eu não consigo.

O que é que tu vais fazer, Diana?

Que eu quero saber

com o que posso contar

neste grande duelo,

o primeiro de 2023.

Como é que tu e a Diana

se foram moldando?

Foi uma coisa natural.

Se fosse uma coisa fabricada,

se calhar hoje,

nós estaríamos aqui,

porque quando fomos destacados

para esta urgência,

como a incidência é considerável,

considerável,

tivemos dois meses a maturar,

em Marcos Chóles.

Eu conheci a Diana,

nos encontrarmos em galas

dos Gobes do Ouro,

apresentações e grelhas

em momentos sociais,

porque a Diana é uma pessoa normal,

uma pessoa simples,

uma pessoa sem qualquer bloqueio.

Eu pensava que ela

fosse uma menina fraz,

mas não,

ela é uma pessoa super bem disposta,

muito divertida,

e depois é daquelas pessoas

que te deixam ir

e que te protejam ao mesmo tempo.

Ela de repente

caiu qualquer coisa na camisa.

Ela vê logo,

bemzinha,

ela limpar,

porque ela não é daquelas

que se querem meter à frente.

Não,

isso às coisas de urulário.

Obviamente,

como é muito humilde,

ela no início

pôs-te sempre nas minhas mãos,

porque dizia,

tu tens mais experiência,

eu não tenho experiência disso.

E depois, para trás,

aquela beleza

é uma pessoa muito inteligente,

pros picas,

e é uma pessoa que é simples.

Não tem qualquer tipo de porridos

em fazer o que quer que seja.

Bacalhau.

Bacalhau,

pois ela faz qualquer receita.

Envolves tudo

e fica assim,

Bacalhau, abro.

Abro.

Fomos encontrando,

dentro da minha ansiedade,

da minha coisa de,

aí temos que fazer,

dentro da serenidade dela,

fomos aqui encontrando

um caminho

que eu não sei explicar como,

mas que foi acontecendo.

E quando acontece uma forma natural,

acho que chega mais próximo das pessoas,

tanto que hoje em dia,

quando eu vou na rua,

é,

João Meia Onnes aqui,

mando um beijo neá de ano.

Não, não, não.

João Meia Onnes aqui,

mando um beijo neá de ano.

Isso aí, é incrível.

E esta é a minha dineta.

Tão linda que eu tivesse um beijo de jovem.

Ai!

Ai, a tempo está lá,

está agora.

Ai, o João se estala-me toda.

Bom dia!

Começareste comigo

a dar comida a vamos.

Ah!

Fotei-se bem.

Está bem?

A importância tem para ter estes animais.

Ah!

Tem toda a importância.

Eu interneço o olhar dos animais,

vejo neles a felicidade.

E tem a importância

porque é como se fosse da minha família.

E na pandemia sentia isso muito mais

porque tive sempre com eles.

O facto de estar com ela

é como se fosse um prolongamento de mim próprio.

Porque, independentemente de tudo,

preocupa-me quando eles não se estão bem,

preocupa-me para que eles estejam bem.

E depois há ali uma entrega

e uma afeição que é uma coisa natural.

Tem qualquer tipo de interesse secundário.

Quer dizer, interesse secundário,

que se olhar uma comidinha,

melhor ainda.

Mas ficam lá, não é mesmo?

Os nascimentos são especiais?

Os nascimentos são sempre especiais.

Assim como as mortes são especiais, ao contrário.

Mas os nascimentos são sempre especiais

no sentido que a vida é um ser a nascer.

Tem uma coisa da natureza,

é o chamado milagre.

Como é que de repente,

do movinho,

hoje, tomava assim?

E depois tens coisas inexplicáveis.

Como é que, por exemplo,

tu tens o tipo de mastufa

e depois há óbvios de um casal de decisões.

Os ovos são chocados naquela máquina.

Quando os bebês nascem,

pois ao pé dos pais,

se não foi a mãe que o chocou,

como é que de repente tens ali

uma relação familiar para a vida?

É inacreditável.

Nunca quiseste ter a tua cria.

Ah, quis.

Mas depois começou a ficar tarde mais,

no sentido de,

quando eu fui jovem, já sou velho,

porque na minha vida,

nunca determinei etapas.

Nada, as coisas foram acontecendo naturalmente.

E houve uma altura

que me deu, de facto,

essa vontade, mas depois...

Foi passando.

Quando se deste o programa 24 horas,

aqui, à vida,

marcou a forma como o Sérgio da Pra Vida,

marcou.

O que tens? 24 horas.

Sentir que tens um tempo limite,

é sentir que estás a despedir,

é sentir que tudo isto acaba.

O que é que vai ser?

O que é que vão ser daqueles bichinhos

que estão lá na minha casa?

Quem é que vai cuidar deles?

O que é que vai ser deles?

Eu não vou ouvir mais aquelas pessoas

que eu adoro.

Eu sei que isso vai acontecer,

porque é inevitável,

agora, ter um prazo, saber o que vai acontecer.

Taquia é uma coisa horrível.

Eu não sei o que é que faria.

Se me dissesse ainda aqui,

a três horas isto vai tudo para os ars.

Não sei o que é que se calhar ficava aqui.

Se fosse garantido uma resposta

a qualquer pergunta tua,

o que é que tu querias mesmo saber?

O que é que está do outro lado?

Oh, quando eu sair daqui,

o que é que eu vou encontrar?

O que é que eu vou sentir?

Será que vou ter a noção que tiver esta vida?

Será que vou saber o que é que eu vou fazer

as pessoas que eu amo?

Será que há reencontros?

Aí eu adorava.

O que é que dirias a estes pais?

Tenho tantas saudades a vocês.

Gostava tanto que estivessem aqui.

E olha para assistirem

ao lançamento deste livro,

que era no fundo de um agradecimento

a vocês,

meus queridos pais,

que eu vos amo muito,

e a todos os que me têm ajudado

neste curso todo.

O que é que você me desculpa?

Eu sinto culpa às vezes

de estar mais presente estando.

Eu ocupo muito, muito.

E ainda agora com os meus sobrinhos netos,

tive com eles há pouco tempo

no aniversário da minha cunhada

e que os vi mais crescidos

e as tuas crenças adoráveis,

amorosas, que dizem

que eu sinto culpa de não estar mais com eles.

Sinto culpa de...

Vem-me sempre uma frase à cabeça.

Quando a minha mãe partiu, morreu.

A minha mãe que vivia muito

em frente à minha mãe,

e que foi ela muitas, muitas vezes,

quem cuidou daquelas crises mais agudas.

E, portanto, eu via muito a minha irmã,

que continuava vivendo a buraca,

porque ia ver a minha mãe

e ela estava lá.

E quando a minha mãe,

no dia do funeral,

a minha irmã disse,

porque é uma coisa que me deixou

um bocadinho embargado da voz

que é...

Agora que ela me morreu,

já não te vou ver mais vezes.

E isso é uma coisa que eu decido,

não, vou contrariar isso.

E a verdade é que ainda não contrariei,

o que eu quero dizer.

Mas, fisicamente,

é mesmo complicado,

mas eu culpo-me

por não encontrar a forma

de estar mais vezes com ela.

E sinto que ela tem falta assim

como eu tenho falta.

E culpo-me de não estar mais tempo com ela,

de não acompanhar mais de perto

o crescimento dos meus sobrinhos netos.

Não está mais tempo com a minha sobrinha.

Culpo-me de tanta coisa.

Alguém te conhece como só tudo conhece?

Não.

Aliás, eu acho que

a pessoa tem um mundo que sobe

a própria conhece.

Alguém te deve um pedido de desculpas?

Sabe, Daniel,

eu não sei se alguém me deve.

Eu, se calhar,

deve-me tanto a alguém

como eu devo um pedido de desculpas a alguém.

Porque eu não penso isso.

Nem tu aspera a dizer desculpas.

Se calhar, alguém deve.

Mas isso não interessa.

A idade trouxe-me

a não ficar agarrada

essas coisas que só trazem

poluição à minha vida.

Eu quero ir às coisas

de uma forma positiva.

Se calhar a alguém,

como se calhar,

eu também devo um pedido de desculpas a alguém.

Porque eu não sou perfeito.

Eu também, em algumas ocasiões,

posso ter sido menos conveniente,

mais incoveniente.

Portanto,

não te aspera a dizer

que eu quero dormir descansado.

Não fica a pensar que alguém

amanhã me vai pedir desculpas.

Quando é que a vida deu-me uma lição?

Todos os dias a vida me dá uma lição.

Mas deu-me uma lição

a primeira vez que eu senti

na própria pele

a perda de um familiar.

Todos os dias eu recebo lições

de pessoas que falam

de vidas dramáticas

na casa feliz,

a partir dos meus pais.

Todos os dias,

a vida me dá uma lição.

Porque é que terminas o livro

com obrigado, obrigado, obrigado?

Porque é o que eu quero dizer

a todas as pessoas

que, ao longo deste caminho,

fizeram parte dele,

que me deixaram sempre

algum ensinamento,

que me chamaram à razão,

que me alertaram

para diversas coisas,

até que,

algumas vezes,

que me viraram as costas

porque eu estava a ser

brincalhão

demais,

ou porque não entenderam

as minhas brincadeiras,

todas as pessoas

que fizeram parte

do meu crescimento

e que, hoje,

eu me lembro de cada bocadinho

delas

e por isso é que eu digo

obrigado, obrigado, obrigado,

pela forma como toda a gente

que eu encontro

me faz sentir, de facto,

como se eu fosse da família.

E chegar aos 60 anos

com a impressão que estou

lucido, estou bem fisicamente

e estou numa das fases mais

feliz da minha vida,

eu tenho que agradecer

a pessoa ginástica,

ao treinador,

toda a gente.

E por isso é que

faço sempre questão

de nem que seja no Natal,

eu deixo a mensagem

e essas pessoas

para que saibam

eu estou aqui.

O João Meijão

nasceu na Boracade

com muito orgulho,

teve o seu caminho.

Hoje é uma pessoa

que toda a gente conhece,

que é carinha,

mas eu nunca esqueci

as pessoas que fazem parte

da minha vida, nunca.

No período da pandemia

fiquei num hotel

e há tantas,

houve uma pessoa

que me diz assim,

creda,

então posso falar

toda a gente,

cumprimenta toda a gente

e por que não?

Porque é que tenho que

cumprimentar

só o diretor do hotel?

Eu só não gosto

das pessoas que são arrogantes

e convencidas

e que são mal educadas.

Agora toda a gente,

todas as pessoas,

eu cumprimento,

claro,

porque é que não havia

de cumprimentar?

E por isso

eu tenho que agradecer

a todas as pessoas

porque todas as pessoas

são importantes.

Foi por esse propósito

também que fiz este livro

que é agradecer

a todas as pessoas.

O que dizem

os teus olhos?

Os meus olhos

dizem que estou

muito feliz

num período maravilhoso

e que quero muito,

muito abraçar

o que aí vem

os próximos 60 anos.

Obrigado.

Obrigado.

Obrigado.

Corretoma.

Dizem todos isso,

não é?

Claro.

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João Baião é conhecido por ser o animado apresentador das tardes e das manhãs da televisão portuguesa, atualmente, faz parte dos programas A Casa Feliz e Domingão. Na próxima semana, lança um livro da sua autoria, intitulado O Outro Lado da Alegria. Neste Alta Definição, veio mostrar a Daniel Oliveira, no dia em que comemora os seus 60 anos, esse lado mais triste e íntimo que, admite, tem receio de partilhar com os outros. Recorda ainda o início da carreira, a morte dos pais e a relação com a televisão. Para ouvir em podcast o programa emitido na SIC a 7 de outubro. 

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