TSF - Minoria Absoluta - Podcast: Habitação rima com solução (mas quando?), com Maria Escaja e Bianca Castro
TSF Radio Notícias 10/7/23 - Episode Page - 35m - PDF Transcript
O acesso à habitação continua a ser uma pedra no sapato dos jovens, de acordo com
o Banco de Portugal, hoje é mais difícil conseguir casa do que em 2008, quando começou
a última grande crise financeira, os jovens e não só têm ido para a rua, mas as soluções
tardam em chegar.
É o tema central do Minúrio Absoluta, com a ativista pelo clima Bianca Castro e a nossa
bloquista festivaleira, Maria Escaja, e começa exatamente pela Maria Escaja, na semana passada
houve mais uma manifestação, o movimento Casa para Viver foi dizendo que o governo
não ouviu os jovens na manifestação de abril, passado uma semana depois desta nova manifestação
e também depois de vários políticos e governantes já terem falado sobre o assunto, achas que
há agora uma reação diferente da parte do governo?
Não, acho que falar sobre o assunto é muito fácil e toda a gente fala, e o próprio
governo já falou mais algumas vezes, inclusive acho que houve pessoas do PS que estiveram
na manifestação de um de abril, aliás, se bem me lembro, a própria ministra incentivou,
não foi, a própria ministra da habitação incentivou.
E já vai falar sobre a manifestação do fim de semana passado também.
Pronto, falar é fácil e é muito giro, o que eu não vejo são soluções para o problema
da habitação e acho que o governo continua a não querer regular o mercado e isso são
opções políticas, e são escolhas políticas, não são acados, são escolhas, e são escolhas
que o governo está a fazer e que o Partido Socialista está a fazer, o mais habitação
e o foco no mais habitação e o governo usar o mais habitação como o cavaleiro salvador
da crise da habitação, já toda a gente sabe, já se discutam muito tempo e já toda
a gente sabe que não será assim, que não é aquele pacote de medidas, aquele powerpoint
que já nos foi apresentado e que já vimos várias vezes e que já entrou em vigor, aliás.
Que vai entrar em vigor e que o próprio Marcelo Rebelo de Souza disse que não era suficiente
e se até a direita tradicional acha que não é suficiente, não percebe como é que o
governo pode achar que está ali a solução para todos os problemas.
A primeira coisa que eu achei muito curiosa esta semana foi o António Costa ter vindo
dizer que o estatuto dos residentes não-abituais cumpriu seu propósito e que provavelmente
chegará ao fim de 2024, mas há duas semanas o Bloco de Esquerda e o PCP apresentaram projetos
para o fim dos residentes não-abituais que foram chumbados precisamente pelo Partido
Socialista.
António Costa foi resgatar essas propostas da esquerda.
Mas andamos sempre, já não é a primeira vez que isto acontece, o Ministro diz uma
coisa, depois no Parlamento faz outra e depois vem o Primeiro Ministro e diz o Índaro
outra.
Os vistos-goldo também.
Foi um caso idêntico também.
E outra questão que eu tenho em relação a isto é se vai demorar tanto tempo entre
o suposto anúncio do Primeiro Ministro e o fim da medida como demorou com os vistos-goldos
e que o que acontece é há uma corrida muito grande a esses regimes, até porque com o
fim do estatuto, com o fim dos residentes não-abituais, quem já tem esse benefício
mantém-lo.
Portanto, eu pergunto se António Costa está a dizer isto agora em outubro, que dia hoje
6, portanto já estávamos em outubro.
E se...
Dia 6, o dia em que estamos a gravar.
Em que estamos a gravar.
Exato, quando as pessoas ouvirem será dia 7 ou 8.
Exato.
E se vamos ter esta medida em prática no fim de 2024 e entretanto tivemos centenas e centenas
dos milhares de estrangeiros que correram a esse regime, que vão ter esse benefício
fiscal e que vão continuar a fomentar a especulação imobiliária nas nossas cidades.
E eu acho que esta manifestação, esta manifestação teve mais pessoas do que o de Abril, que já
tinha tido muita gente, mas o que eu acho que as pessoas estão cada vez mais desesperadas,
mais descontentos e com menos soluções à vista.
Bianca, também estivesse nesta manifestação.
A Ministra da Habitação, Marina Gonçalves, entretanto já veio assumir empatia com quem
se manifestou.
Sentes esse conforto da parte do governo?
Não há conforto nenhum, e aliás acho até um bocadinho condescendente, não é, não
fazem nada, mas depois dizem que se reveem na luta ou algo do género, mas nós não
precisamos disso, nós não precisamos dessas palavras quase um bocadinho de caridade ou
assim, quase que um passou bem de, ok, fiches, continuem, mas depois não fazem nada e sabem
perfeitamente que nós precisamos é que eles façam, e lá está, e não é com promessas
vazias que se resolvem crises, e acho também curioso que apenas uns dias depois dessa manifestação
o stop despejos, que é um coletivo pela habitação, teve de impedir um despejo de uma família
vulnerável que não tinha qualquer outra alternativa e com a solidariedade das pessoas
que se juntaram conseguiram adiar esse despejo, mas a resistência tem de continuar e portanto
uns dias, não sei se foi dois, três dias logo após a manifestação, isto continua
a acontecer para antes nossos olhos e é preciso parar estes despejos, é preciso parar estes
desalojamentos de famílias que não têm outra alternativa nem para onde irem, é preciso
como a Maria estava a dizer regular as rendas, é preciso aumentar realmente os salários
e precisamos de parar com estes pensos rápidos, não é?
E deixamos dizer uma coisa sobre esse despejo, foi na terça-feira, foi parado naquele dia,
mas a polícia continua a ter uma ordem para despejar aquela família, são três pessoas
e mais cheia da mais tarde a fazer, conseguiu separar naquele dia, porque houve uma data
de gente que se juntou a stop despejos e mais algumas pessoas estiveram alguns camaradas
meus presentes, mas mais cheia da mais tarde isto vai acontecer, e como esta família
há muitas outras.
Exatamente, e numa situação em que nós, já em 2020, tínhamos mais de 700 mil casas
vazias e não fazemos nada com elas, não é?
E temos, e já nesta altura, portanto, em 2020, tínhamos 14% de casas vazias, sem ocupação,
sem locatários, sem função e ao mesmo tempo já tínhamos mais de 30 mil famílias desalojadas
ou precisavam de apoio para ter acesso à habitação e isto continua a acontecer, estamos a ver
dia após dia, quer ser as famílias que ficam desalojadas, pessoas que têm trabalho e têm
de viver em tendas, estudantes que não conseguem realmente continuar a estudar, porque não
tem acesso à habitação, pessoas que têm de voltar para casa dos pais, pessoas que
não conseguem sair.
Pessoas que vivem em caravanas.
Exatamente.
Também tive a ver uma notícia de que cada vez mais famílias chegam às tendas, cada
vez há mais famílias a viver nesta situação, e portanto, como é que estas palavras, que
nem são palavras bonitas na verdade, mas como é que estas palavras, este pequeno conforto
falso, não é?
Vai realmente fazer alguma coisa?
Tal como a Maria Escaja estava a dizer, concordas que desde abril até agora há cada vez uma
mobilização maior em relação a esta crise na habitação, ou seja, as ruas de Lisboa,
Lisboa, não foi só Lisboa que recebeu uma manifestação, mas as ruas de Lisboa no
passado fim de semana encheram-se ainda mais do que em abril.
Sim, e lá está, e faço das palavras, das minhas palavras, acho que realmente as pessoas
não têm outra opção, e acho que há muita gente que, se calhar, nem se via como uma
pessoa que iria há manifestações, etc., e realmente estão a ir e estão a perceber que
não há outra opção e que realmente temos de nos unir.
E lembro-me que acho que a manifestação foi lindíssima e super poderosa, e quando
chegamos ao Rousseau, o Rousseau já estava cheio e a pessoa que estava no palco estava
a dizer, é incrível já estarmos em encher isto, porque a manifestação ainda vai no
Martímenis.
Não é?
É só ir ver se a quantidade de pessoas que realmente saíram às ruas para se manifestarem
e a força que houve em todos os cânticos que aconteceram naquela tarde.
Como já dissemos, a maioria absoluta do Partido Socialista confirmou o diploma mais
habitação, mesmo depois do veto do presidente da República e, apesar dos vários protestos,
Maria Escaja, isto quer dizer que o governo não houve sociedade civil.
Desde logo o presidente da República, mas também os jovens e todos os outros.
Não, mas acho que o governo não houve, e não só o governo, acho que o Partido Socialista
não houve a sociedade civil desde, pelo menos desde o janeiro de 2022, desde o início
da maioria absoluta.
Já disse isto aqui algumas vezes, mas acho que é das coisas mais nocivas que aconteceu
à nossa democracia nos últimos tempos festa maioria absoluta, porque, porque o PS não
deve nada a ninguém e faz o que quiser e, portanto, não tem, efetivamente, que nos
ouvir.
E nós vamos para a rua e gritamos alto e fazemos nos ouvir, mas efetivamente tem que haver
vontade política e tem que haver vontade política do Partido Socialista porque se não
houver de uma forma pacífica e democrática não haverá alterações e isso é muito
preocupante.
Os partidos à esquerda já disseram que o voto no próximo orçamento do Estado, que está
prestes a ser entregue na Assembleia da República, o voto depende muito daquilo que o governo
apresenta para a habitação.
Mas continua a ser indiferente.
Podem todos votar quando o acorregimento passa na mesma e esse aqui é o grande problema.
E o Partido Socialista continua a aplicar medidas bastante centristas e algumas mais
à direita e, portanto, irá continuar a governar até porque o governo só cai quando
o Marcelo Rebeldo Souza quiser.
E o Marcelo nunca vai querer enquanto não achar que o PSD está preparado, portanto
nós estamos reféms numa maioria absoluta, muito na altura patrocinada por um falso
medo que se gerou na comunicação social e na opinião pública de uma maioria direita
que nunca esteve sequer para acontecer.
Portanto, houve muito voto.
O Rui Riu deixou a porta aberta caso o PSD vencesse as eleições.
É certo que esteve longe de o conseguir.
A questão é que esteve longe muito mais longe do que alguém algum dia pensou, eles
próprios e provavelmente o próprio Partido Socialista.
E portanto vamos continuar de mãos e pés atados enquanto estiverem, enquanto fomos governados
para esta maioria que não nos quer ouvir.
O Partido Socialista também tem dito várias vezes que não há nenhuma bala de prata para
resolver a crise na habitação e que esta crise é transversal a vários países, percebes
certas palavras, são palavras de há pouco tempo, tendo em conta que...
Eu percebo que eles estão atentos a fazer, não é?
Agora Portugal é mesmo a crise habitacional que se vive em Portugal e é verdade que não
se vive apenas aqui, ou infelizmente é transversal em imensos países neste momento, mas não
deixa de ser gravíssimo.
E na verdade não deixamos de ser um dos países que está pior se formos comparar não o preço
médio da renda com o salário miserável que ganhamos.
Até houve uma estatística que se seguiram há pouco tempo, que Portugal agora, Lisboa,
está mais cárcama, esterdão, se fizemos esse tipo de comparações.
E também é uma das cidades europeias cujos valores das rendas aumentaram mais.
Aliás, entre o primeiro trimestre de 2023 e o mesmo período de 2020, o aumento das rendas
foi quase 23%.
E eu acho que é uma loucura tentar apaziguar isto, não é?
E tentar que isto não pareça uma coisa assim tão grave como esta, aos olhos de qualquer
pessoa.
E na verdade é engraçado que ainda hoje estava a ler um artigo que a Guada, que também está
no Minoriá absoluta, escreveu, em que ela diz valer a palavra de António Costa tanto
quanto um metro quadrado em Lisboa.
E eu acho que isto é um resumo incrível do que está a acontecer e de todas estas
falsas promessas e depois a diferença para a realidade que estamos a ver.
E aliás, obviamente, esta desigualdade social no que toca ao acesso à habitação
e ao acesso a tantas outras coisas que já sabemos, não é?
São mais uma vez consequências da lei da maximização do lucro e de todo o sistema
em que vivemos.
Portanto, a crise da habitação precisa de respostas urgentes, mas também políticas
estruturais e sistêmicas.
Neste momento, Lisboa tem mais alugamentos locais por habitante do que cidades como
Paris, como Londres, como Roma.
E no entanto, temos o Moedas a jurar que ainda não estamos em excesso de turismo.
E acho que isto também fala um bocadinho por si.
E ao mesmo tempo, sabemos que cerca de 20% da população vive abaixo do limiar da pobreza.
E estas pessoas são pessoas que trabalham, não é?
Portanto, é bastante nítido que neste momento há realmente alguma coisa que está errada.
Estamos também a ver cada vez mais pessoas a fazer cada vez mais dinheiro.
Portanto, esta desigualdade está cada vez maior também mesmo, não é?
Quando falamos da situação nacional.
E ainda não há medidas que resolvam isto.
Há pensos rápidos.
Já que falaste de Carlos Moedas, deixe-me referir que Carlos Moedas foi um dos alvos
da manifestação do passado fim de semana.
E fez a sua própria cama, pró-ser, não é?
Continua a fazê-la.
Mas Maria Escája, António Costa já disse, ao contrário daquilo que pede o Bloco de
Esquerda, que no próximo ano não vai haver um travão ao aumento dos rendas.
Como o ovo no ano passado, vai haver um mecanismo sim, mas um mecanismo que está a ser trabalhado
com inquilinos e proprietários.
Claro.
A solução...
Correis-se super bem.
Tens-se de desabsoluta.
Lá está.
Portanto, esta solução deixa-te apreensiva.
O que eu acho incrível, primeiro, é que o Partido Socialista não tinha a cara quando
se autodomimia socialista.
Não percebe.
Eu, se fosse do Partido Socialista, não conseguia dormir à noite, porque primeiro ia achar que
o nome do meu partido era ofensivo em relação à minha política.
É um partido socialista, mas toda a gente sabe que António Costa é social-democrata.
O PS tem essas duas verdades.
Eu conheço social-democratas mais humanistas e mais preocupados com a crise à habitação
do que António Costa.
Há vários países, em várias cidades europeias, a tomar medidas e cidades que não são minimamente
suspeitas de serem de esquerda a tomar medidas muito mais radicais do que o que António Costa
está a fazer.
Só um exemplo.
Nova Iorque, o pináculo do liberalismo, onde eu já vivi, está a limitar o Airbnb.
Eu acho um pensamento um bocadinho provinciano.
Nós achamos que está toda a gente a fazer isto porque há uma crise à habitação mundial
e toda a gente está a sofrer, mas nós vamos fazer equestras pequenas medidas, umas mesinhas
e pode ser que isto resulte.
Claro que não vai resultar, mas como é que António Costa?
António Costa quer sempre estar bem com Deus e com o diabo e enquanto assim continuar nunca
vai ter coragem para tomar uma medida séria, que é uma coisa que falta muito a António
Costa é coragem política.
Pode ser muito bom outras coisas e acho fantástica, não de uma bonita forma, mas acho fantástica
a forma como António Costa se consegue manter de pé com todas as polêmicas e todo o lixo
dos seus próprios governos, mas acho muito pouco corajoso.
E sem um travão às rendas, a Bianca, os números apontam que uma renda de 500 euros
em 2023 passe para 534 em 2024, em 2024, é exato, portanto são números...
É absolutamente assustador, eu acho que também nós temos um bocadinho uma visão de que às
vezes é preciso com tudo, mas aqui eu acho que quando vem alguma coisa de fora já acreditamos,
quando as pessoas que moram cá dizem alguma coisa ainda não acreditamos e nem isto está
a acontecer com a crise habitacional porque já a Ministra Internacional disse que isto
é uma ameaça aos direitos humanos em Portugal.
Portanto já temos organizações mundiais analisarem o que se passa aqui a acharem
que é gravíssimo e mesmo assim continuamos a ver isto, por acaso havia um cartaz na
manifestação que foi o que me ficou mais na cabeça, que alguém escreveu um cartaz
que dizia as portas que Abril abriu a ser entrangadas pelos senhorios e é um bocadinho
isso que estamos a viver.
E no 5 de outubro, Marcelo Rebelo de Souza teve algumas palavras para os jovens, dedicadas
aos jovens, não entendo, nunca falou em habitação.
Pedro Felipe Soares, depois do discurso Marcelo Rebelo de Souza, tocou até neste ponto.
É um ponto negativo que Marcelo Rebelo de Souza, embora falando dos jovens, não fala
que ela que é a maior crise para eles.
Marcelo Rebelo de Souza está sempre a tentar somar mais pontos negativos, não é?
Estos últimos meses têm sido fantásticos, ao nível da falta de tato no geral, acho
feio, honestamente acho feio acima de tudo, acho feio que estando tantos jovens na rua,
tantos jovens sem casa, tantos jovens sem conseguir ser de casa dos pais, tantos jovens
a terem que dividir, a terem que dividir apartamentos até muito tarde na vida e a não conseguirem
constituir família, e a não conseguirem viver a sua vida de forma independente, acho
feio que Marcelo Rebelo de Souza escolha, porque lá está outra vez, é uma escolha,
não falar sobre o assunto.
Carlos Moedas, o resto também não o fez, mas Carlos Moedas demite-se de qualquer resposta
à crise abertucional, porque para Carlos Moedas está tudo bem, mas amostraram solidariedade
com aqueles que foram para a rua.
Eu fico tão contente que ele tenha mostrado solidariedade, é assim, no fim deste mês,
quando chegar à altura de pagar a minha renda, eu vou ligar o meu senhor e vou perguntar
se ele se importa que eu pague em solidariedade.
Ou com a empatia de Marina Gonçalves também.
Sim, vou tentar, vou ver o que depois, a próxima vez que aviar, quando tu fizes o que é que
é que eu me rebaneu.
Mas já que falamos em Marina Gonçalves, Bianca, se estivessos no lugar da Ministra
da Habitação, o que é que farias para fecharmos este tema?
Eu obviamente começava por acabar com estes despejos, não só alguns ilegais, mas alguns
de famílias vulneráveis que não têm qualquer outra opção para viver punham um teto máximo
nas rendas, obviamente, portanto regulávamos a partir do primeiro momento as rendas e
depois temos de acabar com, não é o grande bicho que está aqui e que as pessoas não
falam, é precariedade no país e a questão também dos salários a serem tão baixos
e que mesmo ao aumento que estão a prometer não vai valer assim tanto, portanto, e são
algumas das coisas urgentes.
E tu, Mariascaja, se estivessos no lugar de Marina Gonçalves o que é que farias?
Ia falar com o meu chefe e dizia-lhe que estava na hora de tomar medidas sérias e não de
continuar a brincar às preocupações.
Acho que está na hora de ouvir as pessoas e acho que quem se propõe a governar um
país deve ter sempre a capacidade de ouvir os problemas e os grandes problemas que quem
vive nele enfrenta e acho que é isso que falta, eu acho que a António Costa é muito
arrogante e é aqui que se vê, uma das questões em que se vê muito bem a arrogância dele.
Passamos então para o segundo tema deste debate porque a semana também ficou marcada
por novos protestos dos ativistas pelo clima, é praticamente ao ritmo de um por dia parar
o trânsito na segunda circular, bem perto aqui do estúdio onde estamos a gravar este
programa, também a tirar um tinta contra a sede da REN de Anga Castro, novamente tenho
de começar por ti, não temos que a certa altura os portugueses começam a desvalorizar
este tipo de protestos, como se fosse por exemplo, são apenas aqueles jovens a fazer
umas coisas.
Eu acho que em parte isso vai sempre acontecer mas acho que também é impossível agradar
a toda a gente com esta forma de manifestação, porque é uma forma de manifestação arriscada
não é verdade, mas por acaso uma das perguntas que fizeram em relação a estes protestos,
acho que foi em relação ao da segunda circular, não tem a cereta mas foi em relação a um
dos, pronto tem que se bloqueou o trânsito, era se não tínhamos medo de estarmos a instalar
a desordem pública, e a pessoa que estava nessa entrevista disse, mas a desordem, nós
não estamos a instalar a desordem nenhuma, a desordem pública está instalada, nós
estamos a visualizá-la, nós estamos a mostrar a desordem que já existe aqui, porque a
desordem na verdade é o que já existe quando não há serviços mínimos para nada e quando
não há a ação climática da que precisamos e portanto acho que são protestos que obviamente
dão de falar e aliás é o que temos visto, estamos a abrir todos os jornais, não se
fala de outra coisa neste momento e acho que é isso que é o necessário e há vídeos
também em que há reações muito violentas por parte de condutores que param e obviamente
estão frustrados, querem ir trabalhar, querem ir fazer a sua vida, reação bento, há um
vídeo nesse aspecto, sim, um vídeo super agressivo também, mas que é engraçado porque nesse
vídeo pronto é um condutor que sai de uma carrinha e agarra duas activistas pelo cabelo
e aquilo de uma forma horrível, mas vem outro, outro senhor que estava também só no passeio
e vem ajudar e na verdade nesse protesto houve várias pessoas que eram das que estavam
sendo impedidas de passar mas que saíram dos carros para ajudar e para ajudar a acalmar
as outras pessoas que estavam a ser mais violentas etc, portanto vê-se muitas reações contra
obviamente e de frustração e reações assim violentas de forma que nunca devia escalar
porque os próprios activistas nunca vão escalar para esse nível também, mas também se vê
muitas reações de pessoas que pelo contrário se querem juntar e querem saber mais e muitas
pessoas que se calhar não se empatizam com a forma de protesto mas percebem por que
está a acontecer e ainda hoje mais cedo houve um bloqueio também de trânsito na Avenida
de Roma em que aconteceu exatamente isso, em que aliás uma pessoa que estava no passeio
viu aquilo acontecer, havia várias reações negativas e pessoas a gritar etc e este rapaz
estava a tentar acalmar as pessoas e a tentar explicar-lhe o que que se passava e por que
que estava a acontecer etc e depois chegou um momento em que ele simplesmente foi para
o meio dos activistas e sentou-se com eles a bloquear e fica lá o resto do tempo e depois
mostra também a solidariedade por parte do português comum.
Sim, exatamente e não foi a única pessoa que se empatizou, havia pessoas que bateram
palmas na rua, houve uma senhora que perguntou o que estava a passar e quando alguém explicou
ela, já sei, já sei, ainda muito bem, muito bem, portanto há um bocadinho de tudo também,
mas pessoalmente nem estava a espera que houvesse tanta solidariedade após uns dias, claro
que há ver um choque porque é uma coisa nova, não é, não são as manifestações
a que estamos habituados, que infelizmente já percebemos que não resultam, mas acho
que realmente está a causar muito impacto e muito deles está a ser positivo.
Mas não temos que a certa altura se torne quase habitual a ver este tipo de iniciativas,
ou seja, nós no jornalismo dizemos deixar de ser notícia.
Sim, sim, claro e eventualmente se calhar é o que vai acontecer e o que é engraçado
porque começou por ser um dos motivos pelos quais isto está a acontecer, não é, porque
os ativistas que estão a fazer isto já fizeram tudo o resto, já fizeram manifestações,
mobilizações, pronto, concentrações, já tiveram negociações com pessoas, já tiveram
petições, etc, portanto todas as táticas já foram esgotadas e por isso é que isto
está a acontecer.
A tática vai ser esgotada, não é infinita, mas acho que depois vamos ter é de encontrar
outra coisa.
Maria Escaja, é ajuda de um partido que tem como base os ativistas, percebes esse tipo
de protestos?
Eu percebo e percebo especialmente quando não há outra forma de se fazerem ouvir e
de pôr este assunto na ordem do dia e aqui há uma grande diferença entre a habitação
e o clima, habitação atinge muita gente e atinge muita gente no imediato, o clima
é uma ideia, é estar no futuro, as consequências da crise climática ainda não são, na verdade
até já são, já se sentem, mas não se sentem tanto, estamos em outubro e estão com o
clima.
Estamos em outubro e ontem às 11 da noite estava na rua de Calções e Ticharte, mas
ainda não se sentem de uma forma que seja suficante ao contrário da habitação e a
verdade é que se estes assuntos fossem potes na ordem do dia e se o governo mostrasse
vontade de fazer alterações e transições verdadeiras e um investimento sério na ferrovia
e acabar com a exploração de lítio e uma data de coisas, de uma data de reivindicações
que não são absurdas, vamos só ver que Portugal tem vários capitais de distrito que não
têm em Combois, eu sempre quero ir para algum sítio de Combois e vez me aflita porque
não tenho como.
No outro dia tive que ir para Viseu e não poder ir para Comboi e eu não percebo como
é que num país tão pequeno como o nosso, a ferrovia foi, eu sei, quase é que foi
nas escolhas, sei quem é que as tomou politicamente, mas na próxima com o PRR para executar, que
foi vendido como a grande solução para tudo, de repente todos os problemas do país
não acabaram com o dinheiro do PRR, a verdade é que o governo nem toma decisões nem fomenta
discussões sobre estes assuntos e ao manter-nos sempre fora do debate público e do debate
político é lógico que as gerações mais novas que são quem está mais afastado e
quem vai ser mais impactada por estas alterações climáticas e pelo eventual desastre, é normal
que tenham que procurar outras formas de chamar a atenção e é normal que elas sejam incomodativas
para muitas pessoas.
Mas já que falaste novamente na habitação, também na manifestação do fim de semana
passada, houve jovens que partiram a uma montra de uma imobiliária, consideras que
este tipo de ações são aceitáveis?
Considero desnecessário, considero desnecessário por uma razão, é importante em qualquer luta
sensibilizar mais pessoas para a causa e agregar mais pessoas e acho que ações como
essa, o que acabam por fazer sem ter grande impacto, ou seja, não muda nada na prática,
não provoca nenhuma mudança estrutural, acaba por alienar várias pessoas e por dar
argumentos a quem já estava à procura de argumentos para ser contra esta manifestação
encontra-os aí e nessa forma eu acho desnecessário, não acho que traga nada, não acho que acrescente.
Bianca, em relação aos protestos pelo clima, pergunte-se na tua opinião estes jovens têm
escolhido bem os alvos, isto porque a Ren, por exemplo, é uma empresa que tem apostado
de alguma forma em energias renováveis, hidrogênio verde, energia eólica e por aí fora, já
te estás a rir portanto.
Já desculpa, mas não, é porque acho que realmente eu sou da opinião de que empresas
como a Ren, Galps, EDPs afins não têm espaço numa mesa de negociação sobre transição
energética, porque são empresas que estão ativamente a impedir que ela aconteça e não
só a impedir que ela aconteça, mas a lucrar com o facto de não estar a acontecer.
Mas não vão ser importantes também para essa transição?
Não porque elas não querem fazer parte e quando estas empresas, por exemplo a Ren,
mas quando falam de energias renováveis e se calhar até investem, mas isso é mais
uma expansão energética do que uma transição energética, porque a Ren não deixa de ter
um papel no terminal de gás ligue feito em CINES, por exemplo, que foi também um dos
sítios onde as quais houve mobilizações há pouco tempo e um dos sítios que neste
momento também está a travar ação climática neste país e empresas como a Ren são no
fundo, são quase que armas que continuam a não é fazer com que esta crise climática
avance cada vez mais e por isso acho que não, que não tem lugar nisto e lá está
e podemos também ligar ao protesto que falámos na semana passada, no outro episódio,
mas em relação ao ministro e o protesto da tinta na conferência que foi organizada
pela EDP em que lá está, para mim é um pouco mesmo, estas empresas realmente não é do
interesse delas fazerem a transição, é muito bonito em palavras e etc e aliás, acho
muito engraçado também que são estas empresas que no site provavelmente também conseguimos
encontrar aquelas coisas para ver a nossa pegada de carbono, acho também muito engraçado
porque são as empresas que mais emitem, aliás, sem empresas mundialmente causam cerca de 70%
das emissões globais, portanto logo aí podemos ver e portanto acho que sim, acho que é bem
direcionado, acho que são alguns dos alvos que realmente temos de te desdar nomes, acho que
realmente é em relação a estas empresas e em relação ao governo que temos de falar e abordar
e fazer estes protestos, até porque isto não são os ativistas que inventam, é a ciência que
diz, globalmente temos de cortar 50% das emissões até 2030, mas como cada país não contribui
da mesma forma, isto para Portugal significa pelo menos 75% de corte de emissões até 2030,
ora isto não está previsto em qualquer tipo de plano que nós temos e aliás o governo continua
a elogiar o seu próprio plano de neutralidade carbónica da 2045, que é manifestamente insuficiente
E o Portugal tem falhado as metas todas, não é? Sim, e eu acho que não só tem falhado as metas,
mas globalmente, mesmo que os governos estivessem a cumprir com as metas que se propõem a fazer,
estamos rumo a um aumento de 3,2 graus Celsius, quando nós sabemos que temos de limitar a 1,5
E aliás, em relação, estávamos a falar agora do facto de ser outubro e tarta de calor e saiu
ainda hoje um artigo no The Guardian em que até os cientistas estão assustados porque setembro foi
o mês mais quente deste que há recorde, seguido de agosto que tinha sido também e juro que tinha sido
Portanto, estamos aqui numa maratona de recordes desde que há registros e em setembro tivemos
uma média de 1,5 graus Celsius mais quentes do que os níveis pré-industriais, o que é absolutamente
assustador, não é? E nós já sabemos que o caos climático já está praticamente instalado e já está
instalado em vários sítios do mundo num aquecimento de quase 1,2 graus Celsius e agora vemos que em
setembro na verdade a média foi 1,8, eu acho que super assustador e não sei como é, mas lá está,
como a Maria disse, é uma coisa que nós não ainda, a maior parte das pessoas ainda não sentem na pele
neste preciso momento, parece sempre que podemos adiar, adiar e eu acho que também é por isso que é
preciso e acho que é uma coisa que tem de ser melhorada a todos os aspectos, não acho que a nível
de ativismo, se calhar seja suficientemente claro ainda, mas relacionar esta crise com todas as
outras porque a crise climática também não está, por exemplo, distanciada da crise habitacional ou de
uma crise fenómica, é transversal a tudo e se não se resolver esta crise também não conseguimos
adiar às outras, tal como há soluções para uma que também pode ser soluções para as outras,
né? E portanto é preciso falar destas coisas desta forma e não esquecer que são crises interseccionais.
Recuando um pouco, Maria Escaja, consideras aceitável que dois jovens atirem tinta a um ministro ou é um
caso um pouco excessivo? É uma forma na qual eu não me revejo, não me revejo por algumas razões,
primeiro porque não me é confortável a personalização num agente de uma coisa tão grande como a luta
climática e os alvos de luta climática. A personalização numa única pessoa faz-me alguma confusão.
No outro lado, tal como falamos agora das montras, o efeito é o mesmo, cria antagonismos e não torna
mais difícil a sensibilização e a educação das pessoas para a causa. E o problema da causa
climática é que quando se sentir a necessidade imediata já vai ser tarde demais, aí já está tudo perdido.
E agora que se tem que fazer as alterações, não é quando tivermos lisboa debaixo d'água, Portugal sem árvores
e não tivemos água para beber e de centímetro e de repente pôs-me um graço de folha e tão 50 graus.
Ups, aí era mesmo, o final era verdade, espera. Vamos agora fazer aqui a transição, não, agora já não fazemos
ter de ser nenhuma, agora fazemos transição para a vida depois da morte, se houver.
Mas faço também uma pergunta que fiz há pouco à Bianca. Não temos que haja a certa altura uma desvalorização
desse tipo de protestos.
Francisco, o tema como tema em tudo, não é? O problema da velocidade da sociedade onde vivemos é que
está sempre toda a gente está procurando a próxima notícia. E não são só vocês jornalistas.
Jornalistas é as redes sociais, é as tendências, é quem decide o que é que vai ser consumido no próximo mês,
vestido no próximo mês e calçado no próximo mês, está toda a gente sempre à procura da próxima coisa.
E isto torna-se, às tantas, deixará-te ser notícia. E quando isso acontecer,
ou os protestos escalam em dimensão, ou então, de facto, efectivamente, qualquer dia
vem para o braço de folha de tão 50 graus.
Bianca, todos querem esta resposta que protestos é que estão preparados para os próximos dias.
Boa sorte, Francisco.
Só um cheirinho, sim.
Eu não te podia dizer em óptimo, não posso dizer agora também.
Não, acho que posso dizer...
Isto que não sabes, não fazes ideia.
Não, também, não preciso dizer...
Bianca, nem é antes disso.
Eu não faço tal.
Eu não faço tal.
Existe a climática, explica o que quiser.
Não, mas o que eu te posso dizer é que, de facto, não vão parar.
Acho que vais ter muita coisa para cobrir.
Tu e muitos jornalistas em Portugal.
E que realmente o movimento de protestiça climática nunca foi embora,
mas está de volta em forças neste momento e sem perspectiva de serembora.
Portanto, continuem atentos.
Esse é o Conselho da Bianca.
No final de mais um episódio do Minúria Absoluta,
desta vez com a Bianca Castro e com a Maria Escaja,
todos os episódios estão disponíveis entre SF.pt e também nas plataformas habituais de podcast.
Este programa teve o apoio técnico do Alexandre Lima.
Machine-generated transcript that may contain inaccuracies.
Edição de 07 de outubro 2023