Tabu com Bruno Nogueira: “Eu sou o 'amigo preto' de muita gente. A comunidade branca precisa de exemplos positivos que provem que está tudo bem”

Joana Beleza Joana Beleza 4/11/23 - Episode Page - 1h 18m - PDF Transcript

Bem-vindos ao Tabu, um programa onde nos rimos sobre assuntos que vocês provavelmente acham que não são para rir.

Vou passar esta semana com quatro pessoas que sofrem de discriminação e juntos vamos tentar perceber se é ou não possível rir do racismo.

É só um protocolo normal, fazemos com todos os convidados.

Não é raro vocês vão começar a dizer que é racismo, não é racismo.

Vem a segurança só para falar, para ver se vocês estão bem.

Tá bem, tem que ir entrando. Téssar!

Olá, eu sou o Bruno. A minha voz soa diferente. É natural eu não sou o Bruno Nogueira, sou o Bruno Ferreira.

É parecido, rima e tudo, mas ele é mais alto e eu sou mais bonito.

Além dessas existe também outra diferença fundamental entre nós.

O Bruno Nogueira está neste podcast para falar de assuntos sensíveis e eu estou nos intervalos deste podcast para falar de assentos sensíveis.

Assentos sensíveis às necessidades e ao conforto de condutores e passageiros, como os do novo Peugeot 408.

Entre as opções disponíveis estão a ergonomia certificada, a função de aquecimento, a regulação elétrica com memória e até um sistema de massagens.

Assentos portanto do mais sensível que existe e vai sentar a diferença.

E senti-la também. Basta marcar um test drive num concessionário Peugeot.

Você não está sentindo se esmasa? Eu estou deixando. Eu nunca comi isso. Estou vendo aqui para aprender como é que passa para não passar vergonha nas câmaras.

Você acha que vai avançar sem medo? Luana, segura, forte e segura.

Quando era mais nova, me sentia meio deslocada. E com os meus amigos, os lugares que eu estava, sempre sentia que tinha uma coisa maior.

As coisas da cena, daquelas meras com os casacos lá em Nova Iorque, parando o taxi. Aí eu, menina, me vejo, nem sabia onde era Nova Iorque.

Mas nunca tive um plano esquematizado. Vou fazer isso para sair. Nunca tive. Na universidade teve um concurso para fazer erasmos. E esse erasmos era para cá, Portugal.

Aí eu tentei. Dois erasmos diferentes. Não consegui. Fiquei muito triste. Recuperei. E no outro ano tentei de novo. Aí eu consegui.

Eu sabia que era Portugal. Eu sabia que era Portugal, mas eu não tinha ideia. E para Portugal, colorei. Não vou voltar para aquilo.

É isso que eu quero para a minha vida. Mas a gatinha fez aqui a cruz dela na boca. Pegou o avião. Três escala. E desceu lá no porto e fiz seis meses em Guimarães.

Depois de ter vindo para estudar, o que fez ficar? Eu gostei muito. Eu me identifiquei. Porque foi a primeira vez que eu estava longe de casa.

Então aquela sensação de liberdade. Aquele mundo novo. Conheci gente de tudo quanto é canto do mundo. Aquilo me deu um frenesite. Foram seis meses.

Parece que minha vida toda foi naqueles seis meses. Então me senti muito viva.

E tu sentiste durante esse tempo, em que tivesse de estudar, sentiste alguma vez discriminação?

Ah, sim. Muito. Todo mundo. Os professores, os alunos da sala, as pessoas na rua. A gente sentia muito. Se é o brasileiro, ok.

Se é o brasileiro e é preto. Se é o brasileiro, preto e mulher. E eu, né?

Com a graça de Deus, devido ao Senhor Jesus. Só tudo isso, né?

Quando é mulher, sempre tem aquela coisa relacionada ao sexismo, né? É um adulto de programa, é uma mulher mais fácil.

Eu sei porque eu já vivi isso. Em uma festa, uma vez, dançando lá. Do nada, eu sinto um trem atrás de mim, assim.

Não tô sem meio espírito, não. Era um homem simplesmente veio, assim, dançando. Eu olhei para a cara dele assim, tipo...

Então, o que que é isso? Ah, dança aí. Ah, mas se não é brasileira, o que que você não quer dançar comigo?

Doçar para mim. E eu, tipo... What? Eu falei assim, cara, você tá doido. Isso aí, de perto dele.

Tava na balada também, duas da manhã, o cara bebeu na unia. E aconteceu, eu tava sozinha na rua, tirando foto.

Isso foi em Guimarães também. E um cara chegou perto de mim. Eu tava entendendo muito bem.

Ele chegou, ah, oi, tudo bem? Eu tava tudo bem. Sim, sim. Acabei de ser do trabalho.

Era mesmo, era oito e meia da noite. Tinha trabalhado o dia inteiro. Aí, trabalha onde?

Aí, eu falei assim, oh, meu Deus. Aí, já deu um... Eu tava domecida, assim. Tava meio sonsa, né?

A jornada do trabalho me deu uma... uma sonceira. Aí, ele falou assim, qual que é seu preço? Aí, um...

Pelo amor de Deus, gente. Era janeiro, eu acho. Inverno, frio do cão naquela cidade.

Tipo, tava... Vamos usar desculpa. Se você arroupou, se tivesse na esquina parada e alguma forma da entender.

Não, cara. Tava ali andando, a gaza aliada pra caramba, totalmente estampada.

E o cara veio, e qual que é seu preço? E eu tipo, como assim? Que preço?

Ele é seu preço, fala comigo. E aí que eu entendi que ele tava mesmo confundindo com...

Com prostituta. Com prostituta. Mas por quê? Da onde que ele tirou que era uma prostituta?

Eu era uma pessoa passando pela rua. Eu falei assim, olha, eu não tenho preço se eu tivesse, não ia te dar.

Somem. Gritei com ele, somem.

Eu tô aqui rir, porque eu sei que não passar esta parte.

Só que tu perguntaste, a Portugal é um país racista. Nós dissemos diretamente, tipo, 100% assim.

Sim. Sim.

Eu sei que quando isto passar, alguém vai mandar diz para nós e vai dizer, então se não gostam, volta para a tua terra.

Mas não existe siga na Holandia.

Mas devia existir.

Bota para a tua terra.

Mas somos portugueses.

Somos portugueses negros, seja ele, mamãe duas, ou assim, critica alguma coisa no país, é direto para a tua terra.

Os portugueses são sempre criticos. Não sei se é a Aluana ou a Xenina ou não.

O que é um argumento que me parece...

Os portugueses, acho que todos os povos estão sempre a criticar a sua terra, não é?

Porque todos nós vimos que eles deviam ser melhores e que deviam melhorar.

Sim. Ah, também pode ser.

Critico Portugal porque é aqui que eu nasci, é aqui que deixo aos meus filhos, é aqui que eu tensione viver e morrer um dia, a sua vida não mudar.

Por isso critico como que acho que deve ser criticado, o que acho que posso melhorar.

Porque é melhorar para mim, que é melhorar para os meus, que é melhorar para os pequenos e vem.

A conversa começa logo aí, a priori. O que é que é um português?

Em 2022, o que é que é um português? Seguendo, é...

É melhor voltar para a tua terra, seja ela qual for.

A minha terra é Portugal.

É melhor voltar para a tua terra. Eu não volto para a minha terra porque as cais é caro.

Eu nasci em cascais, eu tive azarra.

Eu não entendo, né? Vou voltar para a minha terra.

Nossa, eu vou mudar a terra.

Eu durava, eu durava, eu tava ali, eu no dins, na minha terra, contemplando, falar mal do meu...

Mas eu não posso. Não dá, durava. Não dá.

Pedro, a tua história com o racismo começa ainda antes de ter a emoção, que ela estava a começar?

Sim, começa antes de ter consciência.

Mas a história da tolerância é também, porque começa com que os meus pais adotarem-me, não é? Que são brancos.

Foste abandonado?

Sim, foi abandonado.

Os meus pais inscreveram-se, depois de não conseguirem ter filhos biológicos durante muito tempo,

passado poucos meses.

Diga-lhes e dizem, agora nós temos uma criança, mas há um problema.

Qual é o problema? É preto.

Dizem, sim, ok. Qual é o problema?

Dizem, é preto.

E por isso começa logo aí.

Depois os meus pais acabam por me adotarem, e a irmã da minha mãe deixou-lhe de falar em função dela,

de adotar uma criança, uma criança negra.

Lá está a história do racismo, ainda antes de tu ter as noções que havia de ter a consciência.

E isso abalou a estrutura familiar?

Claro que abalou a minha mãe, não é? Porque a irmã dela deixou-lhe de falar, mas não criou assim um grande sinal.

E isso que o resolviu de alguma vez?

Ficou, ficou.

Tenho-lhes mais tarde, elas voltaram a sedar e os meus teus pediram desculpa.

E como é que tu recebes esse pedido de desculpa?

Eu recebi bem. Ou seja, a minha mãe, quando falou com a minha tia, depois falou comigo e com o meu pai na altura,

disse que a minha tia queria voltar a retar as relações, as coisas tinham mudado,

e nós tivemos uma conversa em família e decidimos, de facto,

decidimos perdoar e avançar.

E depois, anos mais tarde, já termos retado a conversa, os meus teus, no teu nome.

Neste caso, de facto, este conversa comigo e pedimos desculpa naquelas anos.

Quando é que tu tens noção que faz parte de um grupo que sofre discriminação?

Até entrar para a primeira classe, nunca sofrei qualquer tipo de conceito,

pelo menos que eu tivesse dado conta, mas, ou seja, não tenho consciência.

E isso da minha tia não me ia contar assim.

Por isso, na primeira classe, quando entro para a primeira,

há aqueles episódios normais do preto da Guiné,

chegava a casa a chorar, o preto, o preto sai para a tua terra.

Portanto, para aí, cinco anos?

A primeira classe era cês, cinco, seis anos.

Tens esses episódios, mas achas que são pontuais,

achas que é contigo, até porque eu estava em uma escola que era privada

e era o único negro da escola.

O único negro não via.

Nunca tinha andado no meu negro naquela escola.

Quando saio dessa escola e vou para uma escola pública,

ali na zona de Audivelas, pova de Santa Adrião,

e, de facto, há muitos negros.

E é a primeira vez que eu tomo consciência de,

verdadeiramente, não, isto é uma coisa mesmo global,

em relação a toda a gente tem um tom de pele,

porque havia uma divisão clara, que era racial e que era também muito económica.

Todos os alunos com menos condições eram todos negros,

eram os alunos da Sase, e a escola era muito, muito, muito segregada.

E nessa altura criou-me um bocado de revolta, que é normal,

que é a primeira vez que eu tome contacto com isso.

E os meus pais também não souberam lidar muito bem com isso,

porque não estavam minimamente preparados, como é normal.

Quando isso não souberam, é porque não souberam de dizer a coisa certa,

não souberam bem como é que...

Senti que não gostavam preparados para as questões

que eu tinha que desfazer sobre porque havia racismo,

sem ser aquelas coisas de, ah, fi, porque há pessoas mais...

aquelas questões mais profundas, nem nunca eles tinham pensado nelas.

No caso, nunca eles tinham sentido, só sentiam agora por mim,

e sofreu muito com isso, obviamente.

Não tinham estruturas, sequer, para me dar os alicerces,

para perceber melhor porque é que aquilo se passava.

E o né que tu conseguiu estar encontrando esses alicerces?

Em mim, nas músicas de répoca, comecei a ouvir na altura,

nas experiências partilhadas com colegas meus,

e com amigos meus também, também espacializados,

também negros na minha parte deles.

E depois há um outro choque ainda, tenho vários choques aqui,

parece-me assim, nem cadê é que é.

Eu sendo um negro criado por brancos,

para a comunidade negra também não era bem visto como negro.

Eu também não tinha sotaque, eu não falo como negro.

É uma outra camada de choque para mim.

Havia muito isto, não é?

Ou seja, eu não falo com sotaque, eu não como comida africana,

eu não ouço as músicas africanas, porque eu venho

numa matriz cultural 100% de portuguesa típica, não é, meu pai?

Era da penha de França e a minha mãe nasceu em Almada.

Então, há-me um outro choque, porque queres-te agarrar alguma coisa,

depois há aquela coisa da revolta de,

então se não sou isto, sou verdadeiramente aquilo,

e os teus depois também dizem que não existe, não existe, não existe.

E torna-se difícil de tu encontrar-se a tua identidade, não?

E torna-se difícil, enfim, ficas mesmo aqui

num processo mesmo de quem é que eu sou, nem que eu pertence.

Ah, deixa eu para dizer que continuamos a ser perseguidos

por um carro de suspeito com um negro e uma cigana.

Só para ter tipo roubado.

Põe na porra.

Você vai com põe da porra na garganta.

Fique porra, Guts.

Mas espera, porque não é que eu vou levar com o pássaro na cara.

Olha, olha a mamãe.

Eu quero uma manacara

A manacara

A manacara

O que?

A manacara

Já, vamos gravar isto.

O iu.

O iu?

O iu dá a manacara.

Já se vai aguentar?

Queres os óculos grandes?

Não.

O que?

Os grandes, não.

Está sempre me dá os óculos.

Eu vou aguentando.

Cada vez que olho para ela, está com os óculos diferentes.

Ah, muito obrigado, muito obrigado, escritos, escritos, escritos.

Muito obrigado.

Está bom, está bom, está bom.

Boa noite.

Sejam bem-vindos a um programa sobre racismo e xenofobia.

Ou seja, hoje vamos dizer as mesmas coisas que se dizem no Comício do Chega.

Mas a pessoa que as vai dizer andem duas patas.

Ok?

Muito bom estranhar.

Temos aqui cinco convidados a...

Ah, espera, que o Pedro tinha as pernas abertas.

Facemos cinco, parecia que tinha um bebê alcoólogo, mas não é.

Agora, sério, temos aqui quatro fantásticos convidados.

Quer dizer, quatro até a ver, porque uma foi feita para o chineso

e pode se estragar entretanto.

Só para vos situar, a minha semana foi a seguinte.

Eu tive numa casa de luz com uma cigana, um negro, uma brasileira e uma chinesa.

Isto parece um alerta C.M.

Ao Carlos, estou aqui perto da casa.

O Bruno foi avistado naquela casa de luz com quatro miliantes.

Afinal, são dois miliantes, um arbusto racializado

e outra, eu não sei porquê, está a atacar o Bruno com bolas de ping-pong do pipi.

Sim, sim, agora só há uma vítima a apontar.

Hoje em dia, há muita gente que diz a frase.

Portugal não é um país racista.

Agora, curiosamente, a cor das pessoas que dizem isso

é sempre mais a puxar para o branquinho.

E de facto, elas têm razão.

Para elas, não há racismo.

Brancos dizerem que não há racismo.

É como um toureiro dizer que a torada não doe ao touro.

Doe onde?

Se não doe nada, nós somos amigos.

Fio que eu criei, olha aqui, ele nem mexe.

Ele tem a língua de fora, todo o ampeiro e o rei.

Eu a mim disseram-me para nunca olhar diretamente para pessoas chinesas.

Então eu estou só obedecer àquilo que me disseram.

Não sintas que é, não é discriminação,

é só porque eu sei que vai acontecer alguma coisa mais se olhar diretamente para ti.

O que é que vai acontecer?

Eu ouvi tantas histórias.

Uma delas é que me caia um testículo.

Ah, sim, faz-te o sentido.

Eu já só tenho um, porque já olhei uma vez num restaurante.

Espero que se tenha tornado num prato tricioso.

Sim, era o 43.

Olha, a primeira de tudo eu tenho que perguntar.

Eu tenho que se pronuncia corretamente o teu nome, uma pergunta que nunca te fizeram, certamente.

Xini.

Xini.

Disse bem?

Xini.

Claro.

Ok.

Então, está-se à feira só isso, tem entrevista.

Ok, bem, está-se à feira.

Tu estás há cinco anos em Portugal?

Sim.

Cinco anos?

Mas tu, antes de ir para Portugal, na China estudaste?

Língua e cultura portuguesa.

Quero fugir dos pais.

E queria escolher um daís onde...

Que não sabem onde figar.

Não era mentira.

Tinha interesse por línguas culturas estranhas.

E depois acho... Ah, porque o que é isso?

Pouco a gente sabe, por esse pedacol.

Que eu sou uma hipster pesadola intelectual.

Claro, foi essa a razão.

É a razão certa para aprender.

No terceiro ano de inteligência e atura, nós fizemos um intercâmbio.

Tipo, irásmos.

E eu fui grávida para ir para inter.

Mais coisas, mais língua e cultura portuguesa.

E depois, ah, é fisco viver em Lisboa.

Estou mesmo muito longe dos pais.

Eu já repito duas vezes que era estar longe dos pais.

Estou só a dar esta pequena aula de psicologia.

Eu sei, gostei.

É tipo, amor para a primeira vista.

Não sabes como ser.

E quais foram as maiores dificuldades do centrista na adaptação a Portugal?

É quando falo muito rápido, não percebo nada.

A separação de lixo, que eu tenho de lembrar.

OK, a amarelo é para plástico.

Uau, nunca estava à espera de tudo ser soco.

É, muita coisa para aprender.

O que é isso?

O que é isso?

O que é isso?

O que é isso?

Uau, nunca estava à espera de tudo ser soco.

É, muita coisa para aprender.

Não tem máquina para fazer arroz.

OK.

O arroz, que há, também não é bem o arroz que tu estávais à espera de encontrar, talvez?

Arroz em Portugal, também não é assim tão mal.

Se encontrado, arroz estarendiz.

Já sabe?

Mas em termos de te conseguires integrar na sociedade,

o que preconceito é que tu encontraste em relação a uma rapariga chinesa como tu?

Ah, dificuldade de engração.

Que as pessoas fazem o julgamento antes de conhecer, de mesmo de conhecer,

isso tudo tem por detrás um bocadinho de preconceito.

Os chineses são desanestos.

Eu, supostamente, tenho aqui uma loja, um trabalho, num restaurante dos países.

Por acaso não é um caso.

E se for o caso, agora é um mal.

Não pegamos impostos.

Depois comemos cães, por isso é que todos os cães te apreceram no bairro.

Tanto chegam os chinês a um bairro e os cães...

Enfim.

E temos c*** atroversada.

Tinha a provar a toda gente, que não é?

Mas tu não sentiste...

Eu espero que não tenha sentido essa necessidade de provar, não é?

Porque senão...

Não, não tens que provar isso.

Mas agradeço por ter usado essa palavra, porque normalmente sou sempre o que eu uso.

Espresse para a Andota.

Não é uma brasileira, uma chinesa, mas se ganha, ninguém vai para água.

É agora que tu vai acabar com a raça.

Raça, raça.

Eu acho que este lago nunca teve tanta diversidade.

É um lago com representatividade.

Temos a fazer história. É um passo de cada vez.

Tá, puta, criando aí uma...

Um passo de cada vez.

Olha, adorei que conhecerte.

Ah, tá bom, tá bem eu.

Vou falar bem à tua família, tá bem?

Calma, Lous, calma.

Vou contar belas histórias à família.

Maracena!

Há aquela ideia feita de que os giganos vivem num descampado,

trabalham na feira, que todos têm essa história,

a tu é diferente.

Exatamente.

Até porque os tempos são outros

e já não vivemos mais naquela história.

Até porque os tempos são outros e já não vivemos mais naquela época

em que eram desimpostos por lei sermos nómadas,

onde apenas nos era permitido estar 72 horas.

Tínhamos que nos movimentar de local a local.

Hoje em dia, graças a Deus, as leis mudaram

e podemos ter uma vida como qualquer outra pessoa normal.

Como é que foi a tua história?

Em que é que differa esta ideia feita que existe da comunidade cigana?

A tua infância, neste caso?

Não existe uma comunidade cigana.

Existem comunidades ciganas

com diferentes fatores influenciatórios,

geográficos, socioeconómicos,

como tantas outras culturas e sociedade maritaria.

Quando se diz uma comunidade cigana é discriminatório

no sentido em que há várias comunidades ciganas?

Exatamente.

No entanto, não se diz a comunidade cigana...

Não, nós somos um povo homogéneo, somos diferentes.

Ok. Pronto, já aprendi.

Muito bem.

Na altura, os meus avós já tinham loja física.

Os meus pais se acabaram também por abrir loja.

A minha infância foi uma infância muito boa,

super protegida.

Infelizmente, na área dos estudos,

não havia a noção de quanto são importantes

e o quanto fazem falta como temos hoje em dia.

Então, nós chegávamos ali a uma certa faixa etária

onde os nossos pais tirávamos da escola

porque nós éramos necessários aprender o ofício.

Então, foi um bocadinho por aí,

fiz os 10 anos, saí da escola

e fui aprender o ofício do qual eu deveria extrair o sustento

futuramente para a minha família,

que era vendedora, era feiras, era isso tudo.

Uma coisa que eu adoro, adoro o contacto com o público,

adoro conversa, adoro isso tudo.

Então, estamos em constante evolução

e hoje em dia cada vez mais os pais, as mães,

temos noção de quanto os estudos são valiosos

para que possamos vingar na vida.

Durante muito tempo, falou-se que os gigantes

tinham uma versão muito grande a sapos.

Porque os gigantes, estamos ligados a um povo muito superstisioso

e no fundo, também todos os portugueses têm naquela coisa

de não cruzar os telheres, não passar por baixo das escadas,

o gato preto, essas coisinhas todas que,

durante muitos anos, construíram na mentalidade

da maioria das pessoas e então o que é que acontecia?

Eu sabia que as pessoas da etnia cigana

associavam o sapo a um animal que trazia azar,

que dava agoro.

Vocês se repararem, em vários comércios,

havia o sapo de louça à porta.

Que era para evitar que os gigantes entrassem.

E vocês começam a pensar quantas e quantas vezes

vocês nem se separaram com isso.

Hoje em dia, qualquer tipo de animal,

não me diz absolutamente nada,

não tem qualquer tipo de preconceito contra,

não faz diferença.

Mas a intenção com que lá é colocado,

essa sim faz uma enorme diferença.

Embora pretensamos a uma etnia, somos indivíduos,

somos pessoas individuais.

Mas na sua maioria, o que acontece mesmo

é sermos sempre incluídos em tudo que é de mal.

Um cigano roubou, são todos ladrões.

Um cigano matou, somos todos assassinos.

E quando há um cigano que faz algo de bom,

é diferente.

Desculpe, não estou a aguentar com os olhos,

tenho que arranjar uns óculos de...

Não tens a ver o óculos do solo que me passa.

Pá, tem aqui uns espetáculos.

Veja lá qual é que gostas.

Olha, esses são muito bons.

Tipo...

São verdadeiros?

Pá, ficam de cá um terror.

São verdadeiros?

São um pai, então ficam de cá um escandal mesmo.

Pá, gajume já, tá bem?

Obrigada.

Mas eu não te disse quanto é que era...

Eu faço de 60 euros, por sempre para ti, tá bem?

Ah, 50.

Não tens os 60, tá?

Não tenho, não tenho mais nada.

Tá bem, agora fica assim.

Além de racismo, é também alguma falta de noção.

Por exemplo, em pessoas que vão ao restaurante dos chineses

e na brincadeira começam a trocar os erros pelos eles

e pedem um clepe.

Desculpa.

Que que é isso?

E tão calgo, mas porque é o possível?

Atenção, não fazem por mal.

De um bocadinho de racismo.

Há racismo mal, doze e agressivo,

mas também há racismo tonto que acha que é engraçado.

Ou, como diria a Shinri, engraçado.

Que é para lá apanhar as piadas todas.

Mas nós somos um animal engraçado, ser humano,

que as mesmas pessoas que se queixam dos chiganos

são depoisas que vão à feira

e vão comprar coisas mais baratas aos chiganos.

Deve ser difícil de viver nessa cabeça.

Desapareçam daqui, fora aos chiganos.

Tiram nas quintas de manhã e encarcavelos, ok?

E levem xzl, que eu estou com a enca larga.

Uma coisa que todos já reparámos,

é que em entrevistas,

olha, tu podes comprovar isto,

os brasileiros acham sempre tudo maravilhoso.

Xinguão cá dizendo,

''Tô adorando Lisboa, tô amando Lisboa.''

Tipo assim, faz 30 minutos e ainda não levei nenhum tiro.

É tipo, que país é esse, nossa?

Que isso?

É mara!

É mara!

Você não leva tiro,

você corre e não vem de polícia atrás.

Que isso?

Agora, os racistas acham que os brancos

são superiores aos negros,

mas, a verdade, atenção,

isto é factual, vocês dançam melhor,

correm mais rápido,

e ouvir dizer de um amigo meu da tropa,

tem a pila maior.

Ouvir de ascensão, ouvir dizer às jazéboados.

E, portanto, o que eu acho,

se for preparar uma genética,

é para que seja a vossa,

porque eu acho que não há pessoas racistas,

há pessoas invigosas.

E isto, e dizer, sim senhor,

isto que está aqui,

se não houver correntes da área,

é uma raça superior.

Como é que um branco se acha superior?

Se quando fica 30 minutos ao sol,

sem protetor,

começa a escamar

e adetar sangue do nariz,

tem que andar assim, raça superior.

Nós somos superiores,

só se for à sombra,

à sombra somos superiores.

Você diz que o racismo sistêmico

começa logo na escola.

Em que é que se reflete

para ti esse racismo sistêmico na escola?

Eu notei isso até pela atenção,

ou pela maneira como...

Era dado como garantido que os bíduos negros

não iam ter grande futuro.

Isto notava-se.

E as pessoas chamam.

Por parte dos professores,

uma orientação mais de...

Por que que nós experimentamos

cursos profissionais em vez de...

Vejo e já ouvi isso muitas vezes.

Muita gente que foi encaminhada

para os cursos profissionais,

a vasta vez, na maior parte deles,

não são portugueses negros,

ou são africanos que isto não dá.

Acabas por terminar o ensino superior.

Fui advogado durante as aulas.

Mas tiraste o curso advogado assim.

Tu sentes que é um lado perverso

que é quase como se tu fosse um priviligiado

porque conseguiste atingir isso

no mundo dito de branco?

Eu tenho plena consciência de meu priviligiado.

Porque, repara, as caracteristas

fazendo com que os negros não me vissem

assim, tanto como o africano e como o negro,

faziam com que os brancos me vissem

mais próximos, mais semelhantes deles.

Mas sentes que esse priviligiado

te é desconfortável no mundo em que

não está à espera do sucesso

porque nunca é reconhecido,

porque é sempre tipo, que bom,

é sempre condescendente.

Tu sentes isso?

Sinto isso, mas sinto que toda a gente

mesmo que um dado branca goste de que haja

aquela exceção que prova

veja, está tudo bem.

O umigo preto de a gente tem, acho-te um umigo preto de muita gente.

Tem que mudar de branca.

Preciso dizer esses exemplos positivos

para dizer-te, o quê?

Mas olha, o Pedro conseguiu.

Ou quando eu falo desses temas de racismo,

tu queixaste de quê?

Tu não fostas de lado?

Não tiraste de teu curso?

Se tu conseguiste, o que é que os outros não conseguem?

A América Ocracia funciona.

É um presente envenado, né?

Ele consegue, portanto...

Portanto, o quê?

Vão mudar o quê?

Os outros não conseguem porque...

Está tudo bem assim.

Fogem muito do mérito, mano.

Fujimos do mérito.

Está tudo bem.

Não é nem água lá.

É, estamos sempre a correr.

Fujimos do mérito. Nós fujimos, mano.

Eu estou em Portugal, lá na minha faculdade.

Temos pouquíssimos.

Claro que nos conheciamos todos,

eram os pai e 10.

E desses 10, 5 vinham de acordos,

ou seja, de gente que vinha dos palópses

estudar no Portugal.

E depois volta.

Foi o que aconteceu comigo também.

Por dias negros, nós fazemos 5.

Uma vez estava a falar com um amigo meu,

com o Fred,

e estávamos a falar nos corretores

e para o meio da nossa frente.

E vira-se e ficassem parados a se enganhar.

Nós ficamos a se enganhar para ela.

Sim?

E ela...

Vocês falam bem.

E tu, e tu, e tu?

E eu também ia comentar isso

para que vais estar a falar bem.

Meu Deus!

A gente tem muita coisa aqui,

para que tivamos a comentar aqui.

Parabénsos.

Nem parece espreto.

Eu já vi isto.

Nem parece espreto.

Tu paraprete té, é inteligente?

Eu também senti-se essa seguração.

Seguração.

Seguração.

Aí, não falo nada.

Para ver o final, não falas assim também.

Reprovada.

Não vai ter carteirinha de português.

Volta para a sua terra.

A sua vida.

A terra só está em uma,

no sistema solar não está em uma.

Olha que óleo produzindo racismo, sabe?

Eu tomei tanto racismo, agora vou atacar.

Agora vai expulsar, claro.

Era um pouco mais baixo aqui,

eu acho que dá para...

Dá, dá para expulsar.

Dá para expulsar.

Agora que este episódio de tabu vai a meio,

proponho uma reflexão.

Afinal, quem somos?

Para onde vamos?

Porque estamos aqui.

Há falta de tempo para refletir sobre todas estas questões,

foqueim-nos na última.

De todos os podcastes nacionais,

não escolhemos tabu por acaso.

Escolhêmo-lo porque é um formato criativo,

pioneiro na forma comum,

descontração e desconstrução.

Descontreidamente, tabu desconstrói temas sérios,

e contribui para um mundo melhor,

através de uma experiência de prazer,

tal como o novo Pajô 408.

Sim, estamos parando de um automóvel pioneiro,

que nasce da criatividade das equipas Pajô,

para graças aos motores híbridos plug-in,

encarar com seriedade a transição energética,

sem pôr em causa uma experiência prazerosa

e descontraída de condução.

Ou, em linguagem corrente,

um automóvel que junta o útil ao agradável.

Não acredita?

Marca um teste Drive-in tempo útil

e vai ver como é agradável.

Sento uma mulher negra brasileira,

mesmo assim decidir vir para Portugal,

é porque apesar de tudo sendo descar

a menos discriminação do que no Brasil,

ou não, ou é impossível comparar?

Tem ciência faceta de que é um pouco menos,

crime ou assédio,

ele é um pouco menos pior,

não é melhor, é um pouco menos pior,

mas no Brasil, para além disso,

tem todas as questões políticas,

as questões econômicas, sociais,

de poder te comprar, que lá no Brasil

eu não tinha e aqui eu tenho.

Aqui eu continuo sendo pobre.

Se as pessoas mandam mensagem,

ah, você está bem de vida aí,

a gente continua sendo pobre,

se compara, ganha até menos o que eu ganhava aí.

Mas aqui eu consigo,

pronto, se eu quero viajar com meus amigos

no final de semana,

aqui no restaurante, se eu quero ir fazer

qualquer coisa, ah, eu quero ir para a Espanha,

eu quero ir lá no Porto, não sei,

eu vou lá com uma passagem baratinha,

cinco euros consigo, no Brasil isso é impossível.

Então tem essas questões, obviamente,

em relação ao sexismo,

ao machismo, ao racismo, que no Brasil

são extremamente

fortes, e aqui também existem,

só que tem esses outros prós

em relação à qualidade de vida,

e a sensibilidade que para mim,

mesmo com todos os problemas que aqui tem,

o Brasil ainda

consegue ser um pouco pior nesse sentido.

Aqui

tem uma cena que eu odeio, que eu já ouvi,

que é o exótico, me chamar de exótica.

Eu falei assim, oh, meu camarada,

mas eu não sou, eu não sou arara,

eu não sou dragão de comoda exótica,

eu falo, é como se fosse um produto,

sabe, você é um produto.

A gente vê que as pessoas do Brasil,

elas vêm para cá,

geralmente, elas vão entrar em vagas de trabalho

de menos qualificadas,

foi o que aconteceu comigo,

eu estou aqui há dois anos.

Você não tem o mesmo acesso profissional?

Não, não tem.

Há também o estereótipo, que os estrangeiros

vêm para cá roubar os nossos trabalhos.

Sim, sim, vai, vai.

Eu gosto desta ideia de imaginar um brasileiro

em casa, em Ipiguaço,

a pensar, é pá,

sabes o Carlos de Massamar, que é a trollha,

vou roubá-lo.

Não, não, o emprego,

eu vou mudar a minha vida toda

para ir para Portugal só para eu chegar

a casa coberto de cimento e sem um dedo.

Deixamos todos feliz os meus filhos,

adeus linhos, o pai vai para Portugal.

Também há quem diga que os siganos

não se entendem, mas atenção,

há um ditado popular que prova o contrário,

que é um olho no burro e outro no sigano,

que é uma expressão que junta

o André Ventura com siganos.

Eu vou fazer com assim.

A ver no partido como chega,

não é que há jamais racistas,

há menos vergonha,

por parte dos racistas, dizerem o que pensam,

é como se para eles fosse legitimado

o discurso racista.

O fundo é como uma pessoa pedar-se num grupo,

percebem, é preciso que seja um

a soltar primeiro e depois os outros pensem,

ah, está a valer, ok?

Não sabia que...

Ok...

Ele começou.

Também há outra coisa perversa,

que é se uma pessoa branca se atrasar a pagar a renda,

é pá, está tudo bem?

Uma pessoa branca?

Se atrasou a pagar a renda, acontece.

Agora, se foram os meus convidados, ui,

eu já sabia.

É pá, chineses, chineses,

sabe como é que eles são?

Toda na chinesa.

Onde é que está? Já estamos a dia 10 e...

Ah, já foi para o milênio.

Ah, eu tinha visto no Santander.

Ok.

Eu tinha aqui um amigo meu a dizer que chinês

existia aquilo, e eu disse à minha frente, não,

que eu tenho uma amiga da minha chinesa

que faz um arroz que não é brincadeira.

E paga sempre lá, então vá, Deus, vou desligá-la,

pode-te se bem.

A verdade é que toda a gente

tem um familiar racista.

É com muita tristeza que eu, por exemplo,

assumo que a minha mulher

é racista.

No outro dia, eu peguei a entrar

no Ibis da Segunda Circular,

como a senhora que calhava a ser chinesa

e começou a dizer,

o que é que tu estás a fazer com essa gás

e eu respondi logo, é assim, olha,

discriminação à minha frente, não, é?

Ok?

Respeito pela senhora,

falamos daqui a meia hora, tá bem?

...

Um vírus que começa

ou que aparece pela primeira vez

na China, como é que

para uma chinesa que está a viver

em Portugal, de repente, as pessoas

durante a pandemia olhavam para ti?

Antes da pandemia,

não olharam para mim.

Eu era transparente, não existia.

Depois de pandemia,

daqui a hora e a época,

toda a gente olhou para ti.

Sente?

É para eu ser o Gui, Mónica Poutin.

Sou a mulher mais bonita do mundo.

Claro.

A ignorância, claro.

Um...

um ponto de vista mais micro,

a ignorância, mas entre a ignorância

e a discriminação, é só um passo.

Entras no supermercado,

não precisas de fazer filas, porque toda a gente

se afasta de ti, estás no metro,

tens sempre um lugar para sentar,

ao menos para ficar um pouco

muito confortável, porque

ninguém se aproxima.

E as pessoas

ficam os olhos em ti.

E o que é que o humor

te ajudou?

Eu tenho este costume.

Quando uma coisa

uma goa acontece,

eu penso de uma maneira

isso até está empiado.

Eu parto de mim,

riso muito,

para ajudar, para aliviar.

E criações é que tens

quando fases stand-up

ou quando fases uma piada

sobre a situação.

Tinha salvo de palmas,

tinha...

tinha cacalhadas também,

mas às vezes

as pessoas ficam

caradinhas.

Estão mesmo a ouvir,

estão mesmo a sentir mal

para mim.

E não se conseguem rir.

Não conseguem rir.

Só que este tipo de humor

é tão negro como negro.

Não. Não é asiático.

Uou!

Uou!

Uou!

Uou!

Uou!

Uou!

Uou!

O que está, Pedro?

Não foi só água?

Jéna, está bom.

Quantos dias é que foram a água?

Duas, só.

Uma.

Eu não fui nenhuma com reações estéticas, né?

Não.

Claro.

Ioridades.

E a Sena está acabando de dar o cabelo de propósito.

Sim, ela sai como uma cereba.

Vou ter da licença aqui do trem.

Vamos recebê-la, ela está em sereia.

Sereia, se engana.

Paz.

É para se estar em cima da praxa para cair lá.

Está boa a água?

Está ótima, não está?

Só puxar o primeiro, mas puxar a boa.

Está doce?

Vocês tiveram muito dignos.

Agora se queríamos comer, pá.

O que é que vocês acham?

Não puxaste nada quando estavazinho.

Eu achei que ele tinha de puxar um peixinho lá dentro.

Para a gente bilhar.

Já, já, já.

Nós chegamos mesmo de loja, tudo na hora.

Claro.

Vem que eu aqueço, é que vocês estão com frio.

A quantidade e diversidade está aqui dentro.

Uma carrinha preta.

Com vidros fumados.

Isso não é bom.

Numa opressão de tope, o seu bazar não leva em a mal.

Está bem.

Não, nós entendemos.

Nós entendemos, não te preocupem.

É possível que eu faça só assim.

Anitta, está sabe?

Anitta.

Está louca, estou brincando com o bumbum.

Vai, Malandra.

Viu?

Eu não sei cantar mais, viu?

Em inglês, com português.

É um bumbum.

É um bumbum cultural.

Mute, é anitta.

Anitta é isso.

Essa é mulher unir o mundo.

Você viu que ela foi número um no esporte faz semana passada.

A primeira mulher brasileira conseguiu fazer isso.

Falem bem, falem mal.

Eu defendo a Anitta,

porque ela fez, era a empresária dela.

Ela é uma mulher da favela,

mas ela é formada.

Acho que em relações de alguma coisa, eu não lembro.

A bicha não é burra.

Está achando travesti bagunça, mas não é.

Ela tem aqui, mas ela tem aqui também.

Claro que uma coisa

não é isso e a outra.

Ela não anda.

Ela desliza.

Ela é top, capa de revista.

Ela é a mais, mais.

Ela arrasa no look

e tira foto no espelho.

O papo está no Facebook.

O que temos aqui?

Cozido.

Cozido à portuguesa, comida tradicional.

Aqui temos carnos,

varia deíssimas carnos.

Aqui temos enchidos, varia deíssimas enchidos.

E aqui temos várias batatas.

Aqui, como podem ver.

Por favor.

Eu vi tirar a casa de banho,

e agora a casa de banho.

Exatamente agora a casa de banho.

Ele está ao seu tradicional.

Mas o que se diz assim?

Covo.

Uma boi velha.

Cove na boca do Bruno.

Cove na boca do Bruno.

Na boca do Bruno.

Você quer cove?

Quero.

Bota a cove no prato.

Bota a cove na boi.

Soca.

Bota.

Cove no enche.

Acredito que bagunça.

Nossa bagunça.

Tá pingando a cove.

Bagunçou a minha cove.

A cove.

A cove bagunçou a minha chorisco.

Prepara, prepara, prepara.

Prepara e vai cove.

Cove no arroz.

Bagunça no arroz.

Tá fazendo a cara.

A cove.

A cove.

Você quer cenoura?

Você quer batata?

Grão, grão, grão.

Deus te bendiga.

Nossa bunda aí virou.

Quer batata?

Você quer batata?

Você quer batata?

Eu não quer ler batata.

Fui inclusive, juntei o funk.

Juntei o funk ao cocer à portuguesa.

Entendi.

Foi uma...

Foi um funk à portuguesa.

Foi um funk à portuguesa.

Fiz muito bem.

Salto para o Pedro Felipe.

Pedro Felipe, para a mesa.

Diz-me que prefere o termo negro a preto,

porque nunca ninguém o ofende dizendo

o negro vai para a tua terra.

Pronto, fica aqui a dica para os racistas,

porque eu não quero que vocês deixem de ser burros

por nossa causa, tá bem?

Sim, um racista instruído.

Por ter nascido negro numa família branca,

diz que nunca se sentiu nem da comunidade branca,

nem da comunidade negra.

É para também, isto é tudo para embirrar.

Se é negro é porque é negro.

Se é branco é porque é branco.

Isto mais valia ter ficado no parque,

de facto, se é assim para embirrar, não está bem com nada.

Também disse que não gosta de música africana.

Nem de comunidade africana.

Que é triste.

Eu me ajino a empregar no restaurante.

Ora bem, três moambas e um omelete.

Olha, desculpem lá.

Se calhar, o omelete tem ganho e os amigos.

Não, não, isto é para o nosso amigo negro,

que é um cara meio estúpido a comer.

Explica-me que o Incomoda,

que por ter sucesso nos estudos e no emprego,

digam, vejo Pedro,

conseguiste? Não há racismo em Portugal.

E depois acrescentam.

Olha, agora se não te importas,

vou só continuar a arrumar estas práticas

que estão aqui à tua frente, porque eu sei como é que vocês são.

Tá bem?

Pedro diz que a violência policial contra minorias

é outro problema, sem resolução,

não entender dele, porque a polícia bate em negros,

porque pode, e é difícil provar que é racismo.

Consegui imaginar o Pedro conversar com a polícia

e dizer, mas há racismo na polícia.

E o agente não...

Ó, sou Pedro. Não há nada.

O que é que é isso? Não há nada racismo.

Então, mas o que é que é isso de cá 70 que eu tenho no curso,

a polícia?

Sona, quais são os maiores estereótipos

associados às comunidades ciganhas?

Não são pessoas confiáveis,

são ladrões,

trapaceiros,

são figueiristas.

Há muita associada às comunidades ciganhas,

a que o ciganho não trabalha,

viverem independentes do RSI,

e como é que tu lidas,

porque imagina agora fazendo a devogada do diabo,

há de haver casos em que

também acontece, como é que tu lidas com isso?

Comem qualquer outra

comunidade

ou sociedade militar e obviamente

também há alguns bastante malandros.

Mas, na sua maioria

as pessoas da etnia cigana

sempre trabalharam.

Inicialmente, dedicavam-se mais

aos trabalhos agrícolas,

porque era aquela questão das 72 horas

que poderia apenas estar 72 horas.

Então, naquelas 72 horas

dedicavam-se ao trabalho agrícola.

Posteriormente, começaram nos mercados.

Ou seja,

não há ninguém que sobreviva

sem trabalhar.

Quando uma pessoa frequenta às feiras

tem que fazer as suas declarações

de RSI, tem que pagar os seus impostos,

tem que pagar o espaço à Câmara

e tem que ter o cartão de ferante.

Para ter o cartão de ferante, tem que estar coletado.

Obviamente,

está a contribuir para a sociedade.

Queria saber a vossa opinião sobre

não desconfio já,

mas acho que gostava de ouvir

sobre o crescimento da extrema-direita,

como é que vos afeta

diretamente na pele

essa

analisação

do discurso de ódio.

Eu acho que é uma normalização

do discurso racista.

Quando é alguém, como o André,

que está legitimado por uma grande

franja da sociedade,

é um professor direito, que diz estas coisas

e dê-las com palavras

que faz com que o cidadão comunique.

Isto é aceitável.

E, por isso, o crescimento despidencial

do discurso de ódio, de manifestações de ódio

em relação à minorias étnicas, cresceu, cresceu, cresceu.

Os pessoas hoje

nunca afirmam que são racistas,

mas não se coubem de fazer comentários

declaradamente racistas.

Estamos a falar em racismo direto e agressivo,

que é isso

que tem provocado o tal dito Cujo.

Mas que...

Tu sentes que aumentou, claramente,

desde o aparecimento deste partido?

Sem dúvida, sem dúvida.

É o que estou a dizer, as pessoas saíram

cá para fora, saltaram do armário.

Muitas das vezes as pessoas

disseram que era uma decisão

de por que estão a aderir a este partido.

Muitas das vezes foi apenas para afrontar.

Eu ouvi isto

de pessoas que, durante tantos anos,

voltaram em outros partidos e agoteceram.

Agora vamos castigá-los.

Mas, tipo, o castigo que eles estão a fazer,

a factura vai chegar bem cara para eles.

O meu racismo é uma forma de terrorismo.

E agora, com este tipo de normalização,

as pessoas começam a pensar

que, claro, é uma ideologia

legitima que ainda

merece um tepate.

Mas quem sofre

é que sabe.

Primeiramente, eu sou portuguesa.

O meu cartão de cidadão

é português.

Quando eu vejo um jogo de futebol,

há qualquer coisa.

Eu torço pela minha seleção.

Se eu tiverem qualquer parte do mundo

e ouviram portuguesa falar,

o meu coração bate mais forte.

Porque é a minha terra, porque é o meu país.

Mas eu acho que o meu país

já tem a certeza

que o meu país não me quer.

Vamos amagá-los.

Vamos amagá-los.

Eu esqueço.

Incha!

Mora lá!

Manda para mim, não para a mãe de Deus.

Boa!

Um pouquinho de ventais para mim.

Foda!

Agora dois, dois, dois, dois.

Lindo.

Foram as culturas que se misturaram.

A união está vendo.

A união cultural desse lado.

Eita!

Já foi?

Ok, lá vai se ganar a penhar a bola.

Você quer entrar um pouquinho em Quileira?

Estou brincando.

Estou muito cansado.

Eu sinto, por exemplo,

um lado perverso que às vezes o que é?

Fora negra, isso se for bom.

Foi a melhor coisa que aconteceu ao país.

Acho que o desporto...

O desporto e a música são os únicos campos

onde é universalmente aceito o negro como nosso

e como o bom, porque é bom.

E é a melhor forma de integração

e de união, é através dos...

O cidadão, como é o caso do...

Por exemplo, não é?

Isso é aproveitamento por isso simples.

Mas o universo...

É porque o Ludifico é ao país?

Sim, mas em questão de movimentação social,

não é racista, não importa se é Beyoncé,

a Rihanna,

o Neymar, o Pelé,

não sei quem está indo bem.

Eu não fumo som dos homens iguais.

Eu sou muito má.

No desporto, tu.

E também há pessoas toda rasa que é muito má.

Sorry.

Eu sou brasileira e não gosto de futebol.

Não faço questão nenhuma.

E é isso, não é?

Aqui...

Achiminho diz que não percebe nada do que nós dizemos.

Quando falamos muito rápido,

é curioso porque eu também não,

mesmo quando ela falava devagar.

Ela falava e eu fazia que sim com a cabeça,

só porque nós tínhamos a casa só ligada

para uma semana e tínhamos de despaixar aquilo.

Se ainda estava lá agora, tentar perceber o nome dela.

Desflicou que estranhou o facto dos portugueses

beijarem e abraçarem muito,

que de onde ela veio,

as pessoas não se vejam nem abraçam estranhos.

Nós aqui fazemos muito isso.

Onde é os 100 euros e o quarto é a parte.

Mas fazemos muito, abraçamos muito.

Diz que durante a pandemia,

havia gente que olhava para ela e eles chamavam

corona ou corona.

Nós podemos dizer muita coisa do português,

mas não podemos dizer que é aborrecido

porque o português, de facto,

que é que acontece na tua vida?

Tens vontade de chegar ao pé de uma chinesa e dizer

ó corona,

vítima, vítima.

É o nome da vida.

Também nunca está a satisfeitar a chinesa.

Todos têm o melhor preconceito.

O preconceito da cigana é que o robo,

ele é trabalhador do sexo.

Ao menos a ti dizem que tens uma loja em um restaurante.

Qual é que é o problema?

Ele dizerem que comes cão.

Ah, depois na borda do prato, como são os legumes.

Não, como mas o cão.

Em relação ao sexo com mulheres chinesas,

diz que toda a gente acha que são muito flexíveis,

obedientes e caladinhas.

Até agora não encontrei defeitos.

É que na boca dela aparece uma queixa, sabe o que ela disse?

Parece que estava a dizer defeitos.

Quando chegou ao Portugal,

diz que se parou com alguns choques culturais.

Por exemplo, ela percebeu que ninguém usava guarda-sol,

só creme solar.

E também percebeu uma coisa que é

que os cães dormem fora do forno.

Diz que desde cedo percebeu os estereótipos portugueses,

como acharem que é desoneste e que não paga impostos.

Atenção.

Isto de ser desoneste e não pagar os impostos,

é o que dizem dos ciganos.

Se vocês estejam habituados a copiar tudo.

Não há mal.

Podem ver nada que é fazer igual a mais barato.

A Shini diz que amagou-a

quando houve comentários preconceituosos,

como, por exemplo, ter a vagina atravessada.

Como é que é possível,

em pleno século XXI,

ainda se achar uma coisa desta.

Porque este programa também está aqui para ajudar

e para educar.

Então, Shini, andamos para a tareca aos senhores.

É para acabarmos com esse preconceito.

De uma vez por todas.

E este?

Não vem, estás a prolongar o estereótipo.

Tentei te ajudar.

Houve alguma situação em que tu já estivesse sentido

na pela discriminação?

Várias.

Diariamente.

Por exemplo, quando nós falamos assim

como se está com um bocadinho mais arrastado

ou que nos possa identificar como,

nós já começamos logo a sentir aquele preconceito.

Por exemplo, há dias bons, há dias maus,

há dias que a gente não nos apetece arranjar

para ir ao lado nenhum.

Então, nessas alturas, ainda se nota

muito mais o preconceito que existe.

Aconteceu, por exemplo, recentemente

ter uma reunião

e a pessoa encaminhar-me logo

para o serviço social de pedido de habitação.

E eu tenho uma reunião, mas não é deste lado.

Do outro lado?

Não, não, é aqui, é aqui.

É aqui que se pedem as casas, eu.

Eu não quero pedir uma casa. Desculpe.

Eu tenho uma reunião marcada, do outro lado.

As pessoas partem logo do princípio

em que esse grano vem aqui para pedir,

não vem para dar,

não vem para contribuir.

Olhem,

fiz isto com muito amor.

Espero que goste.

A sossana tem que apresentar o prato.

A sossana é que fez o prato

e o porquê ter feito o prato?

Pronto. Fiz o prato porque é um

prato típico da gastronomia

cigana, que é o cabrito à casamento.

É um prato que já se faz

há muitos, muitos anos.

E é um prato que,

em todos os casamentos,

tem que estar em casa,

em todos os casamentos,

tem que estar presente.

Espero que gostem, senão, lembrem-se que tenho muita família.

Eu já adorei.

Eu estava a dizer que só pelo cheiro já estava ótimo.

Está delicioso toda a gata.

Esqueço aqui o prato, o que é que você achou.

Eu não queria dar isto todo.

Tudo o que eu faço está a ser...

Se eu estou a mudar um osso,

eu quero dizer que vem...

de um osso a ser.

E aqui é cigana, sem as gás.

Não é um cachorro, é isso?

Não, foi o osso.

O osso não foi.

O osso está fora.

Será que vai ser a verdade que tu queria?

Está incrível.

Por favor, alguém me arranja a máquina da verdade.

Eu vou trabalhar.

Fico com os olhos em pico.

Que é o momento fantástico.

Está ótimo.

No senso não há dados étnico ou raciais.

Tu achas que se houvesse

era uma forma de combater de uma forma mais concreta o racismo?

Sim, acho que era a única forma

de combater o racismo de uma maneira verdadeiramente eficaz.

Não tendo números que não conseguis provar um problema.

É sempre uma questão da opinião.

Eu chego a pé de um deputado, seja ele qual for de bancada,

e digo, há um problema com esta comunidade.

E ele diz-me, não há.

Quando os negros há nas faculdades, quando os negros lá chegam,

eu acho que há os suficientes,

não há recolha de dados,

e por isso não há recolha de dados,

não há provas do problema,

eu o Estado não tem que fazer nada em relação a isso.

Por que tu achas que se foge ao problema?

Porque o problema é tão grande

que se quer estar a abrir a Caixa de Pandora,

é estar a aceitar aquilo que é impossível

e que é, de facto, uma discriminação.

Sim, porque acho que o problema está tão enraizado

na sociedade portuguesa.

Ainda por cima vem de tão de trás

e do tempo glório que começa ali no colonialismo,

começa ali nos descobrimentes.

É como tudo misto.

É um problema que só faz perder votos

e só dá dor de cabeça.

E que te faz entrar literalmente em guerra aberta

com uma data de franjas da sociedade

e ninguém quer ter a coragem

de trazer para si e de abordar essa luta.

Não dá votos.

Não é uma conversa que...

De tudo.

Pelo contato, tira votos.

Isto ainda são resquiscidos.

Isto não se mexer agora mais sequentemente.

Para mim tem que se mexer para ontem, não é agora?

Isto era para onde?

Com várias décadas de atrás.

Fala-se muito, hoje em dia penso

que mais do que nunca é na representatividade

nos cargos públicos, nas empresas,

em vários sítios.

Queria saber a vossa opinião.

Se acham que já começa a ser

visível

que ainda está muito aca, hein?

Eu acho que está muito, muito, muito aca.

Basta olhar-se para o Parlamento

nós tínhamos três mulheres negras

e neste momento temos um...

Temos outro deputado negro

para casa do Chega,

porque a vida é muito irónica.

Mas até lá houve uma diminuição

da representatividade

e pessoas chegando-as então

em cargos públicos,

em cargos de relevo, eu não me lembro de nenhum.

Acho que melhorou a situação,

por exemplo, na Amatórias

já temos um deputado

de 100 anos chinesa

e...

Mas também temos de fazer isso

pouco a pouco.

E agora fazendo a devogada do diabo

do que se diz nestas situações, que

se tivessem realmente valor...

A meritocracia é a melhor desculpa

para manter tudo como está.

Agora se tem de comparar aqui

a questão da causa negra

com a causa feminista,

que é a democracia quanto as mulheres tínhamos

no Parlamento.

Até essa provar, em 2005,

uma lei da paridade que exigia

pelo menos um terço.

Porque as listas têm de ter um terço

de, digamos, o sexo, se não podem haver

três pessoas de mesmo sexo seguido,

de repente a questão de meritocracias

desapareceu hoje em dia.

Já a maior agenda é que já temos um governo

que tem mesmo número de ministros e ministras,

mas então onde é que estava a meritocracia antes?

Porque sim, uma coisa é legal, não pode,

não é?

Uma das coisas incríveis de ser uma minoria

é a individualidade,

a falta de individualidade.

Ninguém deixa de ser branco por dançar

quesombra.

Ninguém deixa de ser branco se gostar de música assim.

Até é aplaudido.

É tão do mundo.

Mas não há muita individualidade

na relação minorias.

É suposto de ser daquilo que nós achamos que tu és.

É uma coisa de pessoas que são iguais...

Iguais entre si, iguais em pensamento,

iguais em tudo.

E devem corresponder, exatamente.

E esta mensagem é perpetuada

sempre nos mídias, sempre.

Imagina, tu não consegue fazer

uma normalização, como vejo nos filmes do audio,

tipo, se alguém pensa, ok, vamos ver

que é preciso um médico.

Tu sabes que o caçinho para esse médico

não vai querer estar hoje nem.

Não te vão dizer isto no caçinho, mas não vai.

O pai de família não vai ser.

Márcas portuguesas antes de te esquecer isso.

Ah, vamos representar uma família,

não.

Há para representar alguém que

está num nível de condição mais abaixo,

num nível social mais abaixo.

Não há diversidade.

Não há qualquer tipo de diversidade

na representatividade que há.

E isso causa um mal muito grande

também à própria comunidade, que é

o orgulho frio e a maneira como nós nos vemos.

Nós somos sempre a senhora que limpa,

nós somos sempre o tipo da obra.

O Terereira, do prédio do Vasco.

Nós somos sempre isto.

É um problema da representatividade.

Quando tens uma comunidade

que não se vê representada

em nada daquilo que as pessoas valorizam,

a comunidade deixa de gritar em si

e talvez seja a coisa mais triste.

Se os caras estão de colégio de Lisboa

e perguntarem-se aos minutos o que é que eles querem ser,

vão dizer que é ser médico, que é ser engenheiro,

que é ser arquiteto.

Façam esse exercício numa escola na Amadona.

Porque não vais ouvir essas histórias.

Aquelas crianças não veem...

profissões médicas,

arquitetos, não veem a sua volta.

Elas já sabem que não vão conseguir

alcançar certas coisas.

Não foram como portugueses, não sonha ser astronauta,

porque sabe não astronautas portugueses.

Em um americano de sonha ser, porque sabe que pode ser-lo.

Uma criança negra em Portugal

não vai se sonhar uma parte das vezes ser médico e arquiteto.

No bairro de naturalidade

é que tu não pensares em ir para a faculdade.

É uma minoria, os que conseguem.

Tu pensas que aquele lugar não é para ti.

E essa falta de representatividade

ajuda a perpetuar isto.

Põe-te uma cruz. Deste cedo

tu estás pensado para ser isto.

Invariávelmente, cumpre-se.

Salve Pámas Paulo Ana.

Foi tudo a correr do chimarrão? Pá aqui.

Pá aqui.

A Luana é brasileira e está em Portugal há 4 anos.

Luana, é assim.

Se vieres para buscar o ouro, esquece.

Já gastamos tudo.

Eu percebo que a Luana

esteja farta das piadas sobre as brasileiras

serem trabalhadores do sexo, mas depois

chama-se Luana Stefani.

Não, ajuda.

O excesso de nome não me dá a contar de ir ao multibanco.

Ela diz que via filmes do Hollywood

e sonhava viver em Nova Iorque,

mas acabou em Guimarães.

Isto é o que se chama um péssimo sentido de orientação, não é?

Bora para Nova Iorque.

O que é?

Diz que nos primeiros meses foi difícil

cá em Portugal por causa da língua

apesar de ser português.

Eu imagino que vai piorar quando isto acabar

e for para o ar, porque na rua vais ouvir imenso.

Olha a garota do programa!

Vai ficar baralhada, não é?

É doo.

Em Guimarães, a Luana diz

que percebeu que o estereótipo

da mulher brasileira ser prostituta

é muito real.

Quer dizer, muito real é no Brasil.

Em Guimarães, é muito euro.

Luana diz que muitas vezes é olhada

de lado por ser brasileira.

E é anormal que se olhe de lado

porque enfrentou as nossas mulheres,

portanto, você tem que se olhar.

Bate a palma e foge!

Foge?

Ou foge?

Foge e

foge!

Bate a palma e foge!

Mas eu estava a dizer foge,

tipo, bate a palma e foge.

Mas você acha de fã que pensaste logo, ok?

Então ele se calhar está a dizer...

É uma condotação, né?

Já sabe!

Durex, por exemplo.

Ok.

No começo eu não sabia, obviamente.

Ou me arrumo o Durex aí,

e as pessoas tipam.

Uau!

Oito da manhã, acho que é um Durex pra quê?

E é fita-cola.

Mas no Brasil nunca a gente fala fita-cola.

Nem existe essa expressão.

Então o Durex, por exemplo,

tem uma outra, bico.

Eu vou fazer um bico ali.

Parabéns.

Ah, eu vou fazer um bico ali.

Vou fazer um bico, pô, acho que eu coloco o mal.

Não há mal nenhum.

Depois me falaram que não era,

que no Brasil fazer bico é fazer freelancer.

Trabalhar...

É tipo um biscate.

Mas o biscate no Brasil já é outra coisa.

É, tipo, uma mulher fácil.

O biscate é aquela biscatezinha.

É muito biscate, muito promisco.

Entendeu?

Então dá você, eu tenho que controlar na hora de falar.

Também há com rapariga, não é?

É, mal.

A mesma coisa.

A mesma coisa.

Quando eu vejo no mercado tem

grelo, que eu acho muito estranho.

A ver grelo?

Eu acho que é importante ver grelo.

Que é grelo no Brasil, é?

Ah, sim, sim. Vou deixar com esta.

Cara, também pode ser.

Quando tu diz,

Êpa, hoje for termos de comer grelo.

O que é que ele está a falar?

Pronto, aí eu acho muito estranho.

Você pode comer legumes?

Ok.

Trepar uma árvore?

Não, jamais.

Gozar também.

Você fala gozar, tipo,

você está gozando com a minha cara?

Eu já falo no Brasil um trem desse,

que gozar é só mesmo.

O ligagem, não é?

Eu estava brincando com a minha cara.

Eu já falei algumas vezes,

estás a gozar, mas isso foi,

tipo, algumas vezes,

no começo.

Ah, isso.

Quando vocês pensam no futuro,

o que é que imagina?

Eu, Luana,

apesar de todos os pesares,

apesar de Portugal ser racista,

o Brasil também é, vai lá.

Eu, por enquanto, me vejo aqui,

daqui a muitos anos,

pretendo fazer a minha vida aqui,

pretendo continuar trabalhando aqui,

na área do social,

porque eu acho que é isso.

A mudança tem que começar de algum lugar.

E eu me vejo como esse canal de mudança.

Não sou perfeita, não sou a melhor,

mas eu vejo que eu,

sei lá, o que eu puder fazer

para ajudar pessoas

em vulnerabilidade, isso não são pessoas neclas.

Apesar de ser o meu,

o meu lugar ali,

eu vou fazer o que possível.

Eu gostaria, obviamente,

de não, de que o racismo acabasse,

mas eu sou bem realista,

porque eu sei que, infelizmente,

não vai acabar.

Ficou ali no bastidores, meio apagado,

e agora tem votado com toda força.

A gente continua regredindo.

Então, sinceramente, não vejo,

e eu sinto medo,

mas o que eu gostaria de ver

era um mundo mais aberto,

mais humano, mais empático,

que a gente fosse capaz de olhar para o outro

e não ver cor, não ver deficiência,

não ver limitação,

e ver sim uma possibilidade.

Muitas pessoas, quantos ciganos, quantos chineses,

quantos homens e mulheres negras

não morreram antes para a gente chegar até aqui.

E isso aqui não é o fim.

Eu falei isso antes, isso aqui não é o fim.

A gente não está no topo,

tem muito caminho ainda, muito.

Mas eu estou feliz

que eu estou fazendo parte desse trajeto.

O futuro que se vê

real dá-me medo,

dá-me muito medo.

Se imaginasse,

gostava de imaginar

um mundo mais de oportunidade,

de igualdade

e pai, um sonho.

Um sonho era que terminasse o racismo.

Isso era um sonho maravilhoso.

Mas isso não

não é real.

Mas salto para a Susana.

Eu tinha umas piadas muito giras

para a Susana.

Mas entretanto, a produção informou-me

que ela trouxe

15 familiares.

Mais 10 que estão lá fora.

O que prefaz no total,

25 ciganos.

Portanto,

o setenta sobre ela vai ser

muito curtinho.

Então, cavai, estão os ciganos lá, andam.

Obrigado.

Até a próxima.

Bem, a coisa que eu queria já dizer,

que se quiserem mandar a Susana,

mandem para a Gimela,

porque o Pró-do-Sápela não abre.

Não abre?

Esqueçam isso?

Essa foi na escola que descobriu

no dicionário,

o significado da cigano,

traficante, trapaceiro

e bárbaro.

Eu acho exagero.

Eu, para mim, era tirar bárbaro.

Contou-me que se és cigano

e queres alugar uma casa,

não vão alugar,

a menos que omitas que és cigano.

Consegui imaginar a Susana

na altura de anunciação

a esforçar-se para esconder

a cigana que ela é.

Dizem, então, para onde?

Na Susana.

Não, desculpe, vamos assinar.

Sobre a representação na televisão,

a Susana diz que recentemente,

isto é grave,

houve uma novela onde se representava

uma comunidade cigana como traficantes

e violentos.

E, atenção, para mim,

obviamente que isto é mal, mas para mim não é o pior.

O pior é que quem fazia de cigana

era a Rita Pereira.

Malta, eu se fosse comigo,

eu pegava na minha comunidade toda

e ia para a Espanha,

para limites.

A Susana diz que só hoje é que consegue

refletir sobre alguns episódios

em que foi posta de parte.

Diz que, por exemplo, tinha imensos amigos,

mas que nunca foi convidada para o aniversário

de nenhum, vendo assim à distância.

Eu acho que aqueles pais tinham medo

de que ela não levasse prendas

e só trouxesse.

Parabéns, parabéns, homeninho, parabéns, homeninho.

Para dar o exemplo aos filhos da Susana,

está agora a acabar o décimo segundo ano,

que foi muito avançada na escola,

porque ela desde muito pequena

que sabia algumas letras, por exemplo,

o S, o M, o L...

Passava de palmas para os meus novos amigos.

Muito obrigado.

A Luana.

A Susana.

Pedro.

Ah...

Não é que eu não trouxe carteira.

Mas...

Obrigado, boa noite. Obrigado.

E cá está o eu de novo.

Talvez não me esperasse voltar a ouvir,

mas eu sou como um novo pajô 418,

inspirado sobre todos os ângulos.

E embora não pareça,

este programa já está a chegar ao fim.

A sensação de que o tempo voa

quando estamos entretidos explica-se

pela produção de dopamina no cérebro,

que faz subestimar a sua passagem.

Não sou eu que o digo.

Quer dizer, sou, mas com base

num estudo da Fundação Chambalimô,

isto para dizer o quê?

Que as viagens a bordo do pajô 418

também parecem sempre mais curtas do que são.

Porque este é um automóvel que sabe entreter.

O conforto do habitáculo faz lembrar

de uma sala de cinema,

a iluminação LED proporciona um ambiente sofisticado,

o som do sistema premium focal

de 10 alto e falantes é cristalino

e os sistemas de conectividade

e infotainment garantem que a tecnologia chega a todos.

Por isso, Mark conteste Drive

num concessionário pajô

e vai ver que passa de pressa

como pessoas de podcast.

Espero que...

quando chegar a próxima pandemia

20 da Ásia

menos crianças

vão ser retiradas

da escola por causa de bullying

e menos lojas chinês

vão ser incendiados

incendiados

por causa de

simplesmente

somos o que somos.

E li

uma replotagem

no jornal e depois fui para

a sessão de comentários de gosto de fazer isso

mas isso faz mal

e vi um comentário

que mesmo me deixou pensar

disse assim

desde quanto é que o Portugal

tem uma equinia chinesa

mas nós estamos exatamente a fazer isso

nós estamos a

criar portugueses

crianças

já temos a 3ª

e a 4ª geração

e isso no futuro

vai

enriquecendo a cultura

aqui.

Quando morreu um bruno de candê

nós estávamos a ver atalas jornavias

atalas online em casa e Francisco no fio tem

a altura tinha 5 anos

mas olha pai, ele é tão parecido contigo

é aquilo que fez mostrando

mas é verdade porque eu acho que foi isso

que toda a comunidade negra em Portugal sentiu

tipo sim e que ele podia ter sido eu

uma questão qualquer, volta para a Senzala

com mil pretas na tua terra, palma, dois tiros

mesmo sonhando gostava que os meus filhos

não tivessem que passar por algumas das

coisas para os cais eu passei

e para os cais passamos aqui todos

nas suas diferentes formas

isso era uma coisa que imaginava

que eu gostava e espero que aconteça

gostava que depois

deste programa sair mais

gente tomasse a mão na consciência e aqui vou ser um bocado específico

a bocado falarmos

das ofensas de terceiros nas redes sociais

isso é só a segunda coisa

que mais me custa com as questões do racismo

eu acho que a que mais me custa com as questões do racismo

não é

o ataque de desconhecidos é o silêncio

de alguns que são meus amigos

é incrível como em certas situações

nas minhas redes sociais, na rua

onde eu estou, há uma situação destas

e eu estou com pessoas que eu sei

que verdadeiramente gostam de mim

e ninguém faz absolutamente nada

e eu sei que eles gostam verdadeiramente de mim

a questão é até que ponto

como é que sabes que uma questão que é tão importante

e que faz furetante a alguém que envias custar

não nunca estás lá

isso é uma das coisas que me causa mais

a mais angústia

nesta questão é o com sozinha me sinto

no meio da comunidade

e de pessoas que dizem que são humanistas e que gostam

e gostam de democracia, que são meus amigos

que são muito bons, onde vamos ao meio que é muito bom

a vida é muito boa, a jantar

quando é um problema grave e sério

que afeta a mim, que afeta a minha família

e que afeta aqueles que me são próximos

é só silêncio e ausência

o que é que as pessoas capacitem que não é um problema nosso

que é de facto um problema de todos

pelo menos de problemas de todos que dizem estar

estar com elas que eu não sei lá

é sim

qualquer coisa que eu posso dizer agora no fim disso tudo

não vai acrescentar nada e

corre sempre um risco

para ser condescendente

mas queria só agradecer uma vez mais

já agradeci

a coragem de

virem aqui

para pessoas

por isso simplesmente

por existirem tem que ter coragem

terem a dupla coragem

de vir aqui e falar

e de nós todos podemos ouvir

se isto mudar

2 centímetros que seja

é muito bom

obrigado a todos

obrigado a vocês pelo convite

ai meu deus

pela malta

sei lá

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Será que existe racismo, discriminação e preconceito em Portugal? A resposta é óbvia também segundo os exemplos e experiências que Susana Silveira, Luana Aparecida, Xinyi Li e Pedro Filipe trazem a este episódio de Tabu, de Bruno Nogueira, em podcast. Luana reflete sobre o sexismo e xenofobia que sentiu apenas por ser brasileira a viver em Portugal, e a imagem que muitos assumem apenas por vir daquele país: "É uma garota de programa, é uma mulher mais fácil." Pedro, nascido em Cascais e adotado por pais brancos, confessa que "para a comunidade negra também não era bem visto como negro". Ouça aqui o terceiro episódio da segunda temporada de Tabu.

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