Tabu com Bruno Nogueira: “Esta doença incurável mudou tudo na minha vida. Muita gente tem medo de falar de cancro, mas para mim é positivo. Renasci”

Joana Beleza Joana Beleza 2/28/23 - Episode Page - 1h 15m - PDF Transcript

Bem-vindos ao Tabu, um programa onde nos rimos sobre assuntos que vocês provavelmente acham que não são para rir.

Esta semana vou passá-la com quatro pessoas com doenças incuráveis e juntos vamos tentar perceber se é ou não possível rir da morte, seja ela quando for.

Por simples não, trouxe aqui um iogurte que tem o mesmo prazo de validade que alguns de vocês setembro.

Sempre não é melhor ir comendo este e depois logo se vê não?

Ah, está azevo e eu tenho comido ontem. Não devia? E o iogurte também.

Obrigado por terem vindo ao nosso talk show. Vocês comam, façam de conta que estão na vossa casa?

Obrigado.

Vocês foram à vontade de nos prepararmos isto mais rápido.

Vocês não tiveram seis manhã para fazer isto, não?

Sim. Nós estávamos em casa e gostamos muito de receber o bem.

Exato.

Está maravilhoso.

Sim.

E dormiram bem?

Muito bem.

Boa.

O que é que você fez hoje?

Estive com fã de serinho.

Ainda fiquei à espera que Francisco lá fosse bater a porta.

Graças a Deus, não o grite à noite.

Tinha que que Francisco não aproveitou para tringar, não foi?

Tinha muita coisa para ensinar.

Francisco ou a Lídia?

Para aprender ou Lídia?

O que é que a pessoa zia ou o outro? Tenho uma emoção.

É pá, não dá nenhum.

Você era contigo, Lídia?

Não, não sei.

Não, eu acho que era uma coisa que não era.

Mas era uma emoção, assim, aberta.

Mas era uma vez, ou era mais?

Estava às pessoas?

Não, então não.

Isso.

Então não se aguenta tão bem, não é?

Lídia, tudo bem?

Cá estamos, não é?

Sim.

Para que comecemos todos um bocadinho melhor a tua história,

para já, que tipo de cancro é que te calhou?

Na rifa.

Na rifa.

O cancro do ovário.

Foi a primeira, a primeira bomba.

Tinha na altura 47 anos e pensava que era no pause aquelas emoções.

Fui sempre muito cuidadosa aeromédica e pedir opinião.

E foi numa consulta que mandaram fazer uma eco vaginal,

que descobriram logo.

Fui logo encaminhada para o IPL.

E já estava no estado...

Muito avançado.

Mas, por sorte, foi apanhada até porque já andava há certas anos.

Quer dizer, não anda, porque fiz a cirurgia.

Fiz uma esterectomia total.

E, aparentemente, não tinha doença, fiz a química.

E, aparentemente, estava bem.

Só que, de dois anos e meia depois, apareceram as metásticas.

Mas, primeiro, como é que tu reagis quando te dão esse primeiro diagnóstico do cancro do ovário?

Olha, eu dizia sempre, um dia se me serem isso,

saio em braços do consultório, porque não sei como reagir.

Mas isto é como em tudo.

Todas as pessoas dizem isso na altura, depois reagem de maneira diferente.

Naquele dia fiquei em choque, como é lógico.

Mas fui trabalhando a mesma, como se fosse um dia normal.

Fui a reunião da escola do meu filho.

E surrei o que tinha que chorar, mas também não perdi muito tempo

a dar-me a lamentar por os cantos.

Eu tinha que resolver o assunto e tinha.

E foi tratar o mais rápido possível.

Depois, os tratamentos, os exames e tudo, são tantos.

Que nós andamos tão empenhados naquilo que nem andamos para o tempo passar.

Nós passem por medo?

Não.

Não tenho medo.

Levo as coisas muito...

Aliás, a minha família diz que ainda não me caiu a ficha.

Ao fim de sete anos, ainda não me caiu a ficha.

Portanto, é um dia de cada vez.

Mas eles dizem isso porque se calhar, estávamos a esperar que tudo deprimisse.

A gente está a chorar, pois, mas eu não.

Estás para virar-me.

Não, lamento, mas pronto.

Não.

O chorar não é uma cena que me assiste.

E vermos pessoas que, por minhas dias, brigam.

Tenho uma pessoa próxima que já me disse várias vezes

o que é de amátomo. Eu disse, sério, sério que me estás a dizer isso.

Eu que ando aqui a lutar há tantos anos para viver

e tu apetece de matar, matas, te...

Pouco coisas, sérios que não...

Mas eu disse, eu vou contragrada quando for...

Eu quero viver muito.

Até a média que não há pouco tempo disse,

eu sei que você quer viver muito, claro.

Eu faço tudo para viver.

Parece uma alegria que deixou por dentro,

mas que há uma vontade de estar aqui e viver...

Eu, às vezes, tenho soco de meu marido.

O meu marido vai ser muito abaixo.

E eu disse, Victor, qual é o motivo?

Tu tens que estar grato todos os dias que eu tocar.

E tu viva.

É isso aí, eu a fim de girar.

Não, não é, não.

Não, o meu marido, neste aspecto, é muito fraco.

Ele vai ser muito abaixo.

É com medo de perder.

Há que ter uma capacidade de resistir.

Não, eu não tenho.

O meu marido não tem.

Muito, muito grande, acredito.

Eu acho que ele até se...

Quero estar, eu tento de disfarçar,

mas não consegue.

E depois transmite-me aquilo.

Eu disse, Fita, não podes ficar assim,

porque eu vou me abaixo comigo.

Eu não posso ser assim.

Em 2017, março,

eu fui para o Hospital de Santa Maria de Urgência,

senti-me mal.

Eu fui fazer o TAC, porque eles não racham e viram uma massa.

E o médico virou-se para mim e disse que eu tinha cancro,

no qual ratar.

Eu fui ao Prado de Urgência,

porque eu tinha um intestino abastorido,

e tinham que pôr um saco a este meio.

Depois, fui caminhada para o oncogia.

Uma doutora disse-me, ah, isto com o rádio,

e nem precisa fazer químio,

vai correr tudo bem.

Mas quando ele viu, a gente tinha as metades no pulmão.

Pronto.

Eu entrei em desespero, coloquei-me tudo.

Fui ao Prado outra vez, porque o meu intestino torceu.

Eu tinha uma perforação no intestino.

E a médica de urgência dos cuidados,

entrementes, chega só a pé de mim e disse,

clove, isso o caso é sério.

O meu marido estava ao pé de mim,

eu me despedi do meu marido.

Despedi-me, pedi perdão por tudo aquilo que lhe disse,

sou uma coi.

Pela vida, por tudo.

Fui levada para a sala.

A minha operação ainda demorou até às três da manhã,

no Hospital Santamaria.

Eu sobrevivi, tive lá alguns dias,

regala a todas as máquinas,

tinha que ser alimentada através daquilo no pescoço.

Uma sonda.

Era tudo fios, pronto, consegui.

Quando recebes o diagnóstico,

qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?

Vou morrer.

Foi a primeira palavra, vou morrer do teu.

E eu morrei.

E chorai muito pronto.

Mas depois consegui dar a volta.

Eu disse ao Vitor, vou perguntar à médica

quanto tempo tenho de vida, eu quero saber.

Tenho esse direito.

E ele disse, não, eu não vou te deixar fazer isso.

Eu não deixo.

Por que é que tu sente necessidade de saber?

Para viver.

Gozar a vida ao máximo.

Pedir fazer tudo aquilo que tenho direito.

Ou tentar fazer, né?

Tentar fazer.

O cancro tem a parte de mamas,

também tem a parte boa.

Eu aprendi muitas coisas depois.

Nesta vida.

Valorizar mais as coisas.

As pessoas que não estão doentes,

não dão valor às coisas.

Estar com a família.

Brincar com o filho.

Uma coisa simples, jogar a bola.

Acompanhar mais os filhos.

Não só o trabalho, trabalho, trabalho.

Que eu vou fazer trabalho, trabalho, trabalho.

Acompanhar mais os filhos.

Deixar memórias boas para eles.

Para eles e para o marido e para a família.

No geral.

Eu acho que isso é importante.

Mas eu para casa não faço assim grandes planos ao longo do prazo.

Também ao longo do prazo não.

Também já deixei de fazer.

Mas porque faço planos,

gosto de fazer e gosto de senhado.

Eu adoro senhado ainda.

Eu ainda me conto os meus sonhos.

Eu adoro senhado.

Eu adoro senhado.

E agora fico curioso.

Só um.

Eu já ouvi que não.

A gente estava muito, era um sonho ir para um hotel,

daqueles que se entram com o carro, como se vê nos filmes.

Você sempre não quer rir, só o meu senhor.

Mas daqueles que ninguém sabe quem tu és, não é?

Claro que não vou pensar nisso para fazer com o meu marido.

Ah, ok.

Nós já percebemos.

Desde o princípio do pequeno almoço, e eras chegadas lá, e estava lá...

A parte da gente estava...

Aquela adrenalina entrando no coiso das caras.

Estou descondido.

Você chega lá e está lá um...

Um hermano.

Espera, espera a Lívia.

Com máscaras.

Vou fazer...

3 metros.

Eu sei.

Ah...

Onde é que você vai?

Mas era assim com...

Não, com cicottos não. Eu não gosto de violência.

Já foste para o motel?

Com uma marido, sim.

Isso não tem piada?

Ah, foi giro.

O giro?

Sim, até não foi.

Você é fiel.

É fírico, é?

Gastado neve assim.

Onde é que já adrenalina não é?

Você vai fazer coisas assim?

Estava a falar...

Mas não sei como é que você vai parar o motel.

Os projetos, como é que tu fazes?

O projeto.

Uma coisa que nós aprendemos com estas doenças

é chegar para o presente, não é?

Acho que normalmente...

Pelo menos eu, quando não tinha doença, era mais lá para o futuro, não é?

E lá mais para o passado.

E quando estas doenças aparecem,

ajudam-nos a

concentrar no agora, não é?

E ajudam-nos a aproveitar mais os momentos.

No agora, com aqueles que gostas.

Toda a cor que eu tenho, não é?

É um bocado isso.

Temos que viver os momentos agora.

Sempre.

É um bocado isso.

Ai, vocês, vocês, vocês...

Bem dispostos?

Puxar para cima?

Também é puxar para cima, não é?

Eu aviso já que eu estou a pensar

fazer as piadas boas logo no início,

porque como pessoas neste estado

nunca sabiam a surpresa que tem para nós,

tantos queijados pelas conseguirem existir, tá bem?

Havia muita gente que queria vir a existir

a estes estenda para vocês conseguir entrar,

mas há muita malta que ficou lá fora.

Eu próprio não consegui meter

amigos meus aqui dentro.

Mas o que é que eu lhes disse, disse malta?

Esperem lá fora.

Porque há quatro lugares que a qualquer momento vão ficar livres.

Na verdade, estamos todos a morrer,

estão à parte disso.

Desculpem ser eu a dar-vos esta notícia.

É um ambiente merda, mas estamos...

No entanto,

ter uma doença incurável faz com que haja uns

que estão a morrer um bocadinho mais

do que outros.

Não quer dizer que morram primas do que nós,

mas a verdade é que nos dava muito cheio

aqui ao programa para as pessoas em casa

não acharem que nós estamos a mentir, tá bem?

Porque daqui a cinco anos não quer ir na rua

e ouvir, era incurável, incurável,

mas e ontem no Colombo.

Façam-me esse favor, tá bem?

Claro.

Vou dar algum tempinho.

Mas foi incrível conhecer estas quatro pessoas

que, apesar de terem doenças incuráveis,

tiveram sempre bem dispostas,

sempre a rir.

E depois apanhamos pessoas no dia a dia

que são saudáveis

e que estão de trombas.

E é sempre com os sumos

que uma pessoa pensa, vale a pena.

Ai, estou irritadinho.

Hoje estou irritadinho, estou sem neto.

Estou sem neto,

vou ter para meu

mas, se eram que apareciam entre

sete e uma

eu perdi amanhã toda,

não vieram.

Ainda tinha de ir ao Madras buscar-me

uma espereça de heroxis.

Dá vontade de ir lá e dizer

''É não é, foi uma manhã chata, não foi?''

Então olha, tenho aqui uma caixa

com cancrinho.

Tem a para ver se arrebitas, tá bem?

Eu estou com o linfoma do Ottskin,

Foi me diagnosticado em 2014, comecei com os sintomas tipo sores-noturnos, gângulos inchados

aqui nesta zona do pescoço, das verilhas, uma pessoa com 19 anos, que era o meu caso

na altura, havia mais de 90% de probabilidades de ficar bem.

Mas chegou ao final e eu faço o exame que me diz se eu estou bem, se não estou, se

estou quase, né?

E pronto, chegou a essa conclusão que não foi suficiente e então fui fazer um outro

tratamento.

Não sei, nesse segundo tratamento já ainda havia uma 60% de probabilidades de ficar bem

e pronto, ia-se e ia-se a segundo protocolo, já surgiria um transplanto de medula.

E na altura rejeitaste?

Como é que tu olha a espécie da decisão agora?

Olho como a minha decisão, foi o melhor que eu consegui fazer com aquilo que eu tinha

e com aquilo que sabia.

Sim.

E ainda hoje eu escolhi para transplante porque não tenho outra ideia melhor, digamos assim,

porque tal como já ouvi médicos a dizerem, quanto o ovos a notícia que vais para o transplante

não é uma boa notícia, pode ser a melhor notícia que se tem naquele momento para

aquele caso, mas não é uma boa notícia, porque as probabilidades não são favoráveis,

não são agradáveis, possíveis efeitos escondários, não são atraientes, digamos

assim.

Quando na balança não são mais favoráveis, o que desfavoráveis?

Como os médicos dizem, eu sou a pessoa jovem e o que eles querem para mim é uma possível

cura, não é?

E a cura, para eles, agora só nasce a partir do transplanto.

O que é que esta doença mudou na tua vida?

Eh, tudo.

Apesar, sim, de, opa, é um câncero, ninguém quer ter câncero, ou muita gente tem medo

de falar do câncero, não é?

Mas para mim eu olho para ele como uma coisa positiva na minha vida, porque é um marco.

Parece que eu morri na altura e renexi outra pessoa.

Tudo mudou à minha volta.

Eu passei, por exemplo, de um aluno que estava ali porque tinha que estar, porque os pais

diziam para estar, um aluno médio de 13 para o melhor aluno.

Depois coisas comecei a fazer diferente, comecei a perceber mais que há pessoas que precisam

que nos preocupiamos com elas e eu, como estava neste papel de cá, da pessoa com necessidades,

percebi que há outras pessoas no mesmo papel.

Então comecei também a preocupar mais com os outros.

Comecei a fazer voluntariado numa casa de saúde mental, que ainda hoje faço, a minha

relação, por exemplo, com a minha família também melhorou, principalmente com os meus

pais, não é?

Que desde que eu nasci, meus pais são separados e isso parece que, de certa forma, os aproximou

não um do outro, como é óbvio, mas aproximou-os de mim.

E também sinto que, quando nós ultrapasamos estas doenças, acabamos de ser um exemplo

para os outros, não é?

Eu acho que prefiro viver com uma doença do que viver apagado emocionalmente, porque

eu prefiro viver pouco, mas com significado, e ter impacto na vida das pessoas e aprender

com a vida, não é?

Porque há coisas que eu aprendi com esta doença que acho pouco provável que me serei

ensinado de outra forma.

O cáncord não nos aproxima da morte, torna-nos consciente dela.

E eu ter consciência que existe esse fim faz-me querer viver o máximo agora, não é?

E, portanto, eu sinto que, comparativamente às pessoas que me rodeiam, sinto, efetivamente,

que eu aproveito mais cada hora, aproveitar estes momentos, por exemplo, como que eu

estou a aproveitar agora.

Não é?

E isso é uma coisa que acho que vale a pena e que, para mim, é uma vitória.

Ó, Brunito, uma coisa, diz-me uma coisa, tenho curiosidade, diz-me se tivesse agora

que tens canto.

Olha aí, adesou mesmo.

Com isso.

Rias.

Rias.

Tá, eu acho que qualquer resposta que eu possa dar...

A primeira coisa que te suju na cabeça?

A primeira coisa ia pensar nas minhas filhas.

E a me gostar muito de ter que...

Como é que lhes dizias dizer aí?

Sim, e a me gostar muita ideia de agora isso acontecer à família, porque não acontece

só a ti, não é?

É que acontece a uma família.

Claro.

É uma coisa, não sei, para psicologicamente não te sei dizer, acho que adorava dizer

que ia ser muito forte ou que, mas não sei.

Acho que só mesmo pessoas como vocês que estão a passar por isso é que conseguem...

Eu acho que ainda a palavra canta ainda tem uma sentença.

Quando a pessoa fala...

Ainda é muito pesada.

Ainda é muito pesada e é mórtulo.

Eu acho que é isso que acontece muito.

A situação de Deus é uma situação delicada, porque com uma doença incurável, nunca se

sabe o dia da manhã.

E por isso é normal que muitas vezes as pessoas que estão mais próximas de Deus não saibam

exatamente o que dizer.

E eu sei, por acaso eu sei exatamente o que dizer, que é se me podem emprestar 1.500

euros, que eu pego mais ou menos daqui a 2, 3, 5 anos.

Tá bem?

Pronto.

Fazem a me ver o e.

Confeço que fiquei muito ansioso com esta ideia de passar uma semana com pessoas com

doenças incuráveis, porque nós, parecendo que não, criamos laços com estas pessoas,

laços afetivos e são pessoas com quem nós queremos partilhar coisas.

Mas, por exemplo, eu estava a falar à Cláudia, de um livro que eu li e que adorei e tinha

certeza que ela ia adorar e ela pediu-me um emprestado e eu disse, não vale a pena,

Cláudia.

Porque é assim, o livro tem para ir 500 páginas e a parte mais bonita está no fim.

Já não vais ler, é chato, depois com as partilhas vou ficar sem o livro, não vale

a pena.

Eu conto já.

Por que que eu estou a fazer a minha carreira?

Uma das coisas chatas de quem tem um familiar que tem uma doença incurável é que as histórias

nunca são interessantes o suficiente para vocês, não é?

Qual que é a história que uma pessoa conto?

Que é tipo, bem, nem imaginas, fui saltar de paraquedas, bem, quase morri.

Muito passa pela cabeça, passa, passa com a tencanca, passa todos os dias quando acordo,

até a deitado.

É isso que me passa.

Outra coisa que passa muito na cabeça de uma pessoa com uma doença incurável, tirando

um ou outro coágulo.

É como é que eu ando a aproveitar ao máximo a vida que tem pela frente, não é?

Como é que se escolhe?

O que é que se há de fazer para dar valor ao tempo que temos?

Eu vim dizer há coisas que não vale a pena vocês fazerem, por exemplo, uma xanfana,

vale a pena porque só dois dias é para marinar, pois são cinco horas no forno, pois não

sabem se comem.

Outra coisa que eu não fazia, é testar o carro.

Vale a pena, pegue um 10 euros de cada vez e vai se ver.

Tu tens esclerose lateral amiotrófica.

Sim.

Quando é que tu recebesse esse diagnóstico?

Recebi no passado mês de agosto.

Tanto recente.

Recente, muito recente, sim.

No meio de uma caminhada para a praia, comecei a notar que o meu pé direito, por vezes comecei

a...

Eu não diria tropeçar, mas ele detectava pequenas falhas no pavimento, falhas de altura.

Outro dos sintomas foi também típico xanlinho defiar no dedo, fugir do pé, por vezes fugir

do pé e comecei a pensar que talvez o meu dedo estivesse com falta de força.

Houve um desenrolar até chegar a agosto deste ano e ter o diagnóstico.

Quanto tempo é que foi desde que tu tiraste os sintomas até que daram um diagnóstico?

Um ano.

Podia ser muita coisa.

Podia ser até que foi uma das hipóteses que estava em cima da mesa, ser de origem oncológica.

No IPO estive lá há cerca de três meses e meio, onde fiz uma série de exames e onde

se descartou que não era, começou-se a pensar na hipótese que poderia ser de origem oncológica.

São muitas as dificuldades, ou seja, é a nível de locomção, já um pouco, é a

nível de energia muito.

A preocupação de que a progressão da doença possa ser, ou seja, que vai continuando pelas

pernas acima?

Eu não sei se pode atacar em vários sítios de maneira diferente ou se é uma progressão

natural.

Não sei se, por iniciar no membro inferior, se há uma lógica de progredir por esse membro

ou se dormendo para o outro, pode existir uma mudança e passar, por exemplo, para os

membros superiores.

Não sei, fica à espera de que possa acontecer.

O que vem descrito quando se procura sobre a doença há um quadro não muito animador

que fala entre três a cinco anos.

Preocupa-te a rapidez com que essa doença possa galopar.

Preocupa-te, no entanto, não me assusta, não me assusta, enfim, deixe-me-me o que

quiserem.

Se não encarei ainda a realidade, não acredito que seja só isso, falando em mim, não quero

acreditar.

E vou fazer tudo para que não aconteça.

Com a tua família, neste momento, nem toda a gente sabe que tu tens esta doença.

Neste momento nem toda a gente sabe, tenho dois filhos.

Com a relação a eles, como é que...

Com a relação a eles, ainda estou a arranjar a melhor forma de contar.

Isto anda a falar de uma situação tão complicada, acho que preciso mais um tempinho para conseguir

explicar da melhor forma, se é que é uma melhor forma de explicar isto, mas ainda

não contei.

É assim.

A mais pequena, com cinco anos, não tem como perceber certas coisas.

O mais velho que tem entre eles já percebe muita coisa, claro, ainda estou a arranjar

a melhor forma.

Não é uma questão de querer fugir, não estou a chutar para canto, não é isso.

Quero tentar, dentro de mim, encontrar a melhor forma, se é lá, as melhores palavras, escolhê-las

mesmo e depois então contar.

Mas eu acho que esteu a não-te-sob-ra-do-a...

Eu acho pequena, não.

Eu acho pequena, não.

Não, não.

A mais pequena, com as vezes caba, tem tirencin anos.

O que diz aos leis-ninhas da escola é, a mãe está coxa.

E não é mentira.

E não é mentira.

Pronto.

E ele se também está muito molado.

Olha, o meu filho tira partido da minha doença.

Pende que está mioda-se.

O barco.

E todo.

Conta lá como é que isso é, amiga.

Você precisa se afar.

É, o tano é.

É uma estratégia.

Ele abre uma sequetadinha em pano, tem cancro, meu pai está amado, não sei o que ela

fala.

Eu acho que tem muita pena, pimba.

Mas vai cairam.

Mas por acaso dizem-me, pode fazer isso.

Olha, eles vão por isso, já está.

Você não soube capazes.

Isso é uma das estranhas.

Não é capazes o que?

Você já conhece uma rapariga.

Aproveitás da doença.

Para fazer isso.

Ai, eu sou doente, tão cológico.

Realiza-me o último desejo.

É pá.

Que hora.

E são...

Mas qual é a mioda que acredita?

Olha, eu era a primeira coisa.

Fazias.

Logo.

Pende da sequetadinha.

Pende da sequetadinha.

Pende da sequetadinha.

Pende da sequetadinha.

Olha, queriam acreditar? Já mensagem.

Vai estar próxima.

E elas caem de nem tordos.

A Zanha queres de estranho.

E aí é porque ele tem os gênios da mãe.

É tipo, quando não puxam em tordos a caírem.

Relações também é um tema tabu.

Foi um tema que nós falámos na casa.

Só quem está lá dentro é que sabe, não é?

Como é que se começa uma relação com alguém que tem uma doença grave, incurável?

Eles já imaginaram.

Porque a magia do amor é nunca saber se aquela relação tem futuro ou não.

E no caso, Deus perde um bocado de magia porque já sabe que não tem, não é?

E também não deve ser fácil para alguém que tem uma doença incurável começar uma

relação porque...

É pá.

Porque eles tragam as conversas todas no jantar.

Para lá.

Onde é que te imaginas daqui a 10 anos?

Aqui a 10 anos.

No cemitério da ajuda.

Ah, eu era mais na Índia.

A viajar...

Desculpa, gostaste de te para baixo.

Uma coisa que eu gostava muito de saber é como é que o vosso gestor te conta?

Abordo o tema de lendo poupança reforma.

Não é um assunto fácil.

Que, olha, tem aqui um PPR que é muito setoso e é bom porque vai pondo aqui dinheiro aos

bocadinhos.

Mas depois, ao menos, tem uma reforma simpática quando for...

Ou uma caneta.

Tem aqui uma caneta.

Não é apenas uma caneta.

Mas há coisas positivas no facto de se ter uma doença incurável.

Uma coisa que eu vos envejo muito e que vocês podem fazer à vontade é comer laranjas

à noite.

Não é?

Pô, raga na vida.

Olha, era aqui, né?

Lidi, que dava as...

Aqui, com o visão, ganhava bom dinheiro.

E depois abrii de...

Como as botas de alta assim...

Quante que era?

Ganhava dinheiro.

Olha lá, Lidi, quanta é que está...

Menos 500 euros, não é nada.

Porra, tinhas que fazer bem...

Mas aqui há uma zona de gente rica.

Mas imagina, não passa aqui só a gente rica.

500 euros?

Bem, mas isso tinha que ser uma coisa...

Tinha que ser aqui de gatas.

Com a olidade.

Com a olidade.

Isso tem com a olidade.

É para pessoas sem de gatas.

Tem aqui muito para explorar, né?

Para ser de gatas.

Sim, pinheiros.

Ah, não, isso aqui há muito que explorar.

Ele levanta do lado, levanta do outro.

Curva contra curva.

Ah, isso...

Você é a Amazônia, pá.

A Amazônia?

A Amazônia?

E você tem tanta árvore?

Cucu!

Caraca!

É que você sabe estar lá as abaixas, né?

Cucu, cacau.

O que é que nós é que estamos a apresentar aí?

O que é que estás a fazer?

Isto é para dissolverem.

Dissolverem o que é? Frutas?

É.

Está mesmo muito...

Ela está a desfazer o vidro.

Está há tanto tempo.

O que é que está a desfazer?

Pai, eu não me tome apenas nossas vidas.

Olha, ela veio as mãos, está bem.

Quando ontem?

Às bocadas, amanhã.

Valeu ou não?

Eu vou já escolhendo o que é que estou a fazer.

Eu não queria que os humelhos também.

Não era logo.

Ascria, ascria.

Tem razão.

Humelhos?

Bolas, desculpei.

É muita pressão.

Eu não gostaria de estar por ti.

É, fazia muita pressão.

Você olha com o que eu estou a fazer.

Oh, meu Deus!

Agora acho que isto já está.

Esse é a minha.

Vou a ser de alguém.

Então não é a minha, mas passa a ser.

Isto tira-se isto baixo, não é?

Ah...

Este está, senhor.

As coisas que eu estou a mensar.

Queres um bocadinho de farinha?

Não, não.

Está bem.

Pode ser.

Ela só que a xixa.

Quer é carninha, não quer?

Quer é o cheio de carninha.

Exatamente.

Carne, carne, carne.

O que o Mels queres?

Não, isso é uma pessoa de árvore.

Não faz mal de comer esta carne.

Não faz mal.

O que é que pode acontecer mais?

Morrer.

Uau!

Está?

Oh, sim, senhor.

O senhor, já serviu para mim?

Epa!

Me servi.

A Claudia já dizia que estava a morrer de fome.

Como se ela não fosse morrer de canto.

Faz parte.

Vocês acham que a morte é um tema tabuém Portugal?

Ou seja, que é uma coisa que não se fala...

Por exemplo, nós estamos a brincar com ela.

Também é das poucas coisas que se pode fazer com ela.

As pessoas ficam sempre às vezes incondilhadas

quando se brinca com esse tema, não é?

Medo do desconhecido.

Como não se sabe o que há para lá, nós temos medo.

É um tabu mesmo?

Sim, sim, mas é um tabu.

É um tabu.

É um tabu, mas acho que nasce desse medo do desconhecido.

Por isso é que eu sou o favor e já disse à minha médica

que era a favor da eutanásia.

Já foi aprovado, mas agora ainda vai...

Outra vez já...

Mas não vai para a frente.

Muito difícil.

Muito difícil ir para a frente.

Eu acho.

Eu também acho.

Considerariam vocês?

Não sei.

Eu sei se tinha essa coragem.

Eu tinha.

Se calhar de serviço muito mal, eu tinha.

A partir do momento que eu não consigo fazer a minha vida...

Eu acho que sim, também estou com uma olhada.

Porque as entendências?

Ninguém é de ferro.

Há aqueles momentos que a gente se vai mais abaixo.

Mas assim, são poucos.

Esses momentos são muito poucos.

Tento mesmo viver um dia de cada vez.

Da melhor maneira possível, divertir-me.

Viver a vida o melhor possível enquanto cá tiver.

Aliás, eu não posso chorar à frente do meu filho.

Porque ele diz que não venhas com essas coisas.

Não me deixe chorar.

O meu marido não...

Esse não reage.

Esse também teve um cancro e também não rígiu.

Está morto e não sabe fronteu o que eu digo.

Mas esse filho também tem lima-dose grande no prata?

Tem, tem.

Tem.

Tem.

E eu acho que ele também não...

Sem ser ou não...

Nós ele desaba.

Porque é complicado lidar com dois cancerosos.

De facto, isso não são assuntos fáceis para fazer humor.

Não me preocupa como é que eles vão receber as piadas.

Porque eu conheci os e ficamos amigos e eu sei que eles se aguentam.

Às vezes são pessoas à volta que se aguentam menos bem.

Eu gosto mesmo deles e foi maravilhoso conhecê-los.

E agora só é uma satísse.

Porque eu tenho quatro pessoas com quem queria uma ligação.

Que têm doenças incuráveis.

E eu acho que é muito importante.

Amanhã atenderá a Zara.

Porque em breve eu vou ter quatro funerais.

Eu sou espécie uma coisa.

Cominem no mesmo cemitério.

Para não andar a fazer piscinas.

Eu não acho que os funerais tenham sido todos tristes.

Se não ficasse um ambiente pesado e vocês têm que pensar em quem cá fica.

Não podem pensar só em você.

Ou seja, tudo eu, eu, eu, eu, calma e depois.

Tudo normal.

Não cá achando barriga para cima.

Pronto, a antiga.

Mas mandávamos instalar um sensor.

Um sensor de movimento na vossa testa.

E sempre que alguém se aproximasse para se despedir.

Aquela ativava uma coluna de som.

Que se usurrava ao seguinte.

Olha.

Confira lá se eu não tenho uma caneta no rabo.

Pessoal, capa a Lídia. Desculpem.

Ela já escolheu. Fui a Lídia.

Todos eles falaram do papel da religião na vida deles.

E o quanto a Féus tem ajudado.

O problema não é vocês acreditarem em Deus.

O problema é Deus não acreditarem em vocês.

Isso todos disseram.

Que a doença foi uma das melhores coisas que lhes aconteceu.

Porque fez com que dessem mais valor as coisas certas.

E não despedissassem energia com coisas que não valiam a pena.

Eu imagino o top deles.

Olha, vou fazer aqui um top das melhores coisas que aconteceram na vida.

Terceiro, o nascimento do meu filho.

Que é a coisa mais linda da minha vida.

É o amor da minha vida.

Adorei.

Segundo, viagem de finalistas a Ben e dorme.

Adorei.

Eu viagem que voavam aqueles fars.

Primeiro, um cancro muito lindo que me apareceu aqui.

Começou muito pequenininho.

Mas, felizmente, voou muito bem.

E espalhou pelo corpo todo.

E faz muita companhia.

Mesmo quando o meu filho não está, ele está sempre aqui com mim.

Ahá!

Ah lá!

Então...

Eu da tu era para...

Ah, essa é minha.

É que tem em tu.

E onde eu chato? Eu faço sozinho.

Ah, eu disse para fazer.

Ninguém ajuda.

Então, prático.

Volga.

Não deixa eu estar, Lidia, não te mexas.

Francisco, não é?

Eu trato disto.

Não é o corte de chato.

E a tu só pediu depois de um tempo talvez te mastigar.

Está bem? Obrigado.

Eu não fazia mesmo nada.

Pois, eu já percebi.

Não parece.

Mas eu estava bem.

Essa tua maneira de reagir e de lidar com o cancro

é também para proteger as pessoas que te rodeiam?

Tudo se resolve à solução para tudo.

E penso sempre que há pessoas piores que eu.

E o que é que sentes que mudou...

tu teres esse diagnóstico?

O que é que mudou na tua vida?

Sentes que havia...

A melhor coisa que me podia ter acontecido foi ter cancro.

Mas a sério, eu diga isto e as pessoas às vezes pensam que não estou a brincar.

Mas aprendi a ver a vida de outra maneira.

Nós, quando não temos esta doença, não damos valor àquilo que temos.

E nós, com o cancro, acabamos por dar valor a tudo.

Uma coisinha que, ao princípio, não se dá importância.

Ou até mesmo uma discussão.

Para que é que a pessoa está a discutir?

Não vale a pena ver esse tipo de percas de tempo para que é.

Tanto nós temos que aproveitar enquanto estivermos.

E tu pensas muito nisso, quanto tempo é que...

Às vezes, penso.

Eu, por exemplo, fui a um encontro de doentes oncológicas em outubro.

E fomos fazer um sancete em um barco.

E eu, quando passei em Portimão, olhei para a praia e pensei assim...

Se calhar a última vez que eu estou a ver isto, a gente pensa nessas coisas.

Olá! Obrigada, e eu mando a vocês aqui.

Depois da notícia, não houve nenhuma transformação para melhor ou para pior dentro de ti?

Houve uma transformação para melhor, tornei-me uma pessoa mais calma.

O que mais te assusta na progressão da doença?

O que mais assusta será perder a fé e a esperança.

Olha, eu passei só golfinhos.

Oh, tão giro.

Eu adorei.

Eu nunca fiz um passeio em que não vi golfinhos.

Não sei o que vocês fizeram.

As golfinhos devem ter.

Tipo, ui, olha que quatro.

Olha, quatro e fugiram todos. É possível.

Um panho é tanto frio, para nada.

Eu acho que congelei o cancro.

Olha, que sorte.

O meu cancro ficou congelado.

Agora não vai deixar ti a mais.

A última consulta diz, não sei o que é que olha isto.

É inédito, mas o seu cancro congelou.

Olívia, não sei o que aconteceu.

Mas aqui não, Orta.

Está congelado.

Agora dá para fazer assim.

É.

O meu filho tem uma piada.

O que é que o IPO tem?

O mesmo que o aeroporto.

É assim qualquer coisa.

É os terminais.

Mas há pessoas que não gostam.

Há pessoas que levam isto muito a risco.

Eu já encontrei pessoas no hospital

que levam muito a risco e não gostam.

Por exemplo, se eu estiver muito abatido

com a doença, se me vier a fazer humor

sobre aquilo que me acabou de abater,

o limite é diferente.

Ah, claro.

Eu digo em casa muitas vezes,

eu já sei que vou morrer disto.

Eu vou morrer, eu digo na minha família.

O meu marido não gosta de nada.

E há uma boa piada.

Eu já sei que vou morrer disto.

Quando estou aqui embaixo,

eu largo a sorrir.

Sabendo do tema do programa,

o que é que os levou a cada um de vocês

a aceitar participar?

Eu aceitei

com o intuito

de me desafiar a mim mesma

por ser

um diagnóstico muito recente,

ultrapassar a barreira

do querer esconder

alguma coisa.

Assim já não preciso esconder nada.

E também,

eu estava a ajudar alguém

que esteja na mesma situação que eu.

E é um passo importante

para ti na aceitação da doença?

Sim, é um passo muito,

muito importante.

A pessoa conseguir falar abertamente.

Para mim é muito evidente

a facilidade com que tu vais falando

da tua doença.

E acho que tem que ver também

com esse processo de aceitação,

como para ti é muito recente,

imagino que também seja um choque maior.

Estar a ver

estar a ver que nós já lidamos

com isto há tantos anos.

Não sei, como a galera...

Estar a se arrever,

apesar de não ser o mesmo problema,

mas estar a se arrever também

que na aceitação.

O problema é que não é igual agora,

estamos no mesmo barco.

A meu ver,

não me pausamos.

Não, é louco frio.

Não é louco frio.

Começámos para a espalhinha.

A Lidia tem cancro nos ovários,

que me testizou para a horta

e que agora é inoperável,

mas ainda assim é que tem melhor proagnóstico.

Por quê? Porque sendo além de Xana,

o cancro ainda é capaz de demorar a fazer o seu trabalho.

Não, mata amanhã.

Mata amanhã.

Está calor.

Os dias que eu passei com a Lidia,

nós rimos muito,

e eu consegui perceber que a Lidia

de facto tem um coração maravilhoso.

Só é pena,

está forrada cancro.

A Lidia partilhou

que quer viver o suficiente

para ver o filho terminar o curso

de animador turístico.

Ela também considera que o cancro

foi a melhor coisa que lhe aconteceu.

Diz que passou a ser melhor pessoa,

dizer obrigado.

No fundo, o cancro fez

o que os paisinhos dela não fizeram.

Deu-lhe a educação.

A Lidia também gosta

de tirar selfies com caixões

em funerais, não é?

O cancro fez o que os paisinhos dela

não fizeram, deu-lhe a educação.

A Lidia também gosta

de tirar selfies com caixões

em funerais, não é?

O que se passa, Lidia?

Mas também é uma pancada

dela daqui a uns meses passa.

A pancada e a Lidia

passam os dois ao mesmo tempo.

Na casa da Lidia, tanto ela

como o marido, são doentes, são

cológicos, o marido tem cancro na

garganta e ela tem cancro nos ovários

metastizado na orta,

e o filho deles o que é que tem?

Tem um checa

para fazer todas as semanas, não tem?

É que é para ver se não calha, não é?

Olha, mas o Francisco

não está aqui.

Não, não, não.

A coitada da Lógana.

Não, não, não.

É que eu andaria a ver depois de viva canadiana e oi?

Não, não.

Não, não, não, não.

Não, não, não, não.

Mas é que...

Não, por acaso não está cheio.

Pode, pode estar mandado.

A coitada do chanel.

Vá, manda, manda-te, vá.

A gente está guiando.

Vá, fica no meio da alga e da clodinha.

Vocês são gostadas da minha casa?

É espetacular.

Posso cávita dos pedaços?

Eu adoro a pexina.

Tu?

Olá, estás bem?

Entra.

Martín, está aí?

Posso falar um bocadinho com ele?

Oi, filho, tudo bem?

Está ótimo, filho, está tudo bem?

Então, saudades da mãe?

Muitas.

E os teus filhos?

Como é que eles lidam com uma informação tão grande como essa?

Imagino que para o mais velho seja mais...

Mais fácil.

Eu acho que ele até conseguiu lidar bem com isto.

Conseguir dar a volta.

E o teu filho mais novo?

Não sei como brincar.

Eu estava a comer assim,

na cozinha, a fazer qualquer coisa.

E eu senti a necessidade

de chegar a abraçar o meu filho mais novo

e dizer,

filho,

nunca te esqueças também.

E chorei.

Acarrar-me a ele e chorei.

E ele

virou-se para mim e disse,

mãe,

eu acredito

que tu vais ficar bem.

Ele chorou,

disse isso.

Mas é difícil para me afirmar novamente.

Eu sei disso.

Espera-me.

A única coisa que eu tenho pena,

mais pena nisto tudo,

é o meu filho mais novo.

Porque o mais velho

já se consegue fazer rascar.

É diferente.

E o pequenino não.

Eu acho que as crianças

não merecem.

Eu disse isso ao professor, no princípio do ano,

o diretor de turma deu.

Eu acho que nenhuma criança merece

passar por este processo.

Porque é muito doloroso.

Há dias que o meu filho

vai me levar a comer da cama.

É um pequenino.

Quando eu faço tratamentos

e não consigo me levantar da cama,

é porque

não consigo mesmo.

E eleva-me comida,

água.

Mãe, vai ter comigo. Mãe, precisas de alguma coisa.

Tais bem.

Tô, querido.

Ah, filho.

Tá tudo bem?

Tô, não explique isso.

Óbela da piscina.

E vocês, o que é que eu não vou fazer?

Fica viva.

Sim, faz-se bem.

O seu, com o Martim.

Tá bem. Olha, um beijo em grande.

A mãe te ama muito, tá bem?

Todos os dias.

Tchau, querida. Eu tenho muitas faladas das tuas.

Tchau, beijinhos.

Te amo.

Já me despachou.

Ah, estouittens.

Não estou a dizer que não tenho a certeza de cura

nem a certeza de morte.

É uma questão que está sempre presente,

a questão da morte.

mas na prática não está presente na minha cabeça, no dia a dia.

Uma coisa que eu faço uma estratégica lisa é estar bastante tempo ocupado

e essa ocupação também, quando tu estás ocupado, faz as coisas que gostas

e tens um retorno positivo, não é, tens sucesso naquilo que fases

isso acaba de protegerar ali um ciclo que está de felicidade.

Há momentos em que te esqueces que tens canto.

Ah, sim, absolutamente, a maior parte do tempo, eu vejo uma pessoa doente oncológica

quando estou no IPO, quando estou fora do IPO, eu sou francisco

e neste momento estou com uma dança oncológica.

O futuro, ninguém sabe, mas neste momento estou com um francisco

com uma dança oncológica.

Eu já nasci num meio espiritual, ou seja, os meus pais são espíritas,

desde que eu já há muitos anos, e eu já nasci nesse meio.

Ou seja, acreditam que existe alguma coisa para além da morte.

Isso é uma coisa que no meu dia a dia absolutamente

tem impacto na minha forma de pensar, ou seja, eu olho para mim

não como o francisco, eu sou um ser universal

que neste momento estou no corpo do francisco.

E futuramente, é lógico, eu acredito na reencarnação

e, portanto, futuramente eu posso encarnar noutros corpos,

mas vou continuar a ser o ser que eu sou.

Por outro lado, faz-me aceitar que, se eu tiver que morrer amanhã,

eu vou aceitar isso, não é?

Vou dar uma salva de palmas para o francisco.

O francisco tem uma informa de Hodgkin.

No primeiro protocolo, tinha 90% de hipótese ficar bem,

recusou o tratamento, depois ficou com 60%.

Agora, já não lhe dão percentagem.

No fundo, o francisco é mau em negócios.

É só isso.

É, pai, eu estava a vender por 100%.

Pareceu um gajo que estava 120.

Então, o francisco não cai nessa, vende, e por 60, a chupem.

O francisco considera que, apesar das baixas probabilidades

que lhe dão de sobrevivência, tudo serve como ensinamento.

Mas a questão é, para usar quando?

Um dos primeiros sintomas que teve foram suores noturnos

e enxásse-se nas verilhas.

Até achou que tinha vários testículos, a certa altura.

E depois de 30 minutos a que só alos, pensou,

''Pera lá, tu queres ver que eu acordei com o meu cunhado em conchinha?''

Não, está aqui ninha.

Mesmo assim, o francisco não deu grande importância aos sintomas.

Só quando mostrou à mãe, é que ela lhe disse que...

É pá, que se calhar devia ir ao médico.

Eu imagino o momento... Eu adorava tentar lá.

Imagina chegar à cozinha.

''Mãe, és boa?''

Olha, quando eu nasci, quantos testículos é que eu tinha?

Dois, pois também é possível.

Mas olha que eles pegaram muito bem, porque...

Agora tenho cinco, vejo?

Em fome era nesta zona.

O francisco disse que nunca lhe passou pela cabeça,

que fosse um cancro.

Passou, passou.

Não vou dizer o resto.

Não vou dizer o resto, vocês já perceberam.

E a dizer a palavra ''puxa'', aí era chato.

O francisco, neste processo, passou de ser um aluno de 13,

para ser o melhor aluno da faculdade.

É incrível.

Imaginar a quantidade de pais lá em casa a pensar.

Olha.

Se calhar amanhã, vou dar a uma mais novo...

Amiante, com as estrelitas.

Não ponho muito grão em comida de pote.

Como os modos.

Você tem, então, um arroz basmati, com... em cama...

Bata onda?

Em cama de puxela, em cama de...

Está aqui na cama do prato.

E levem, então, aqui com o valor.

Temos aqui um pinhão.

Tem também um bocadinho de canela.

E tem ali... o que é que tem ali?

Nada, meu querido.

Está bem?

Não será bem.

Então, vou ter que escravar mais um bocadinho.

Você pode cruzar?

Não.

Vai cruzar, vamos todos ao meio.

Vamos todos ao meio.

E vai acima, vai abaixo.

Vai ao centro e vai para de baixo.

A vossa.

Olha, a vossa.

A nossa.

Os nossos médicos nunca fiquem vivos.

Fiz o meu melhor.

Espero corresponder às nossas expectativas.

Não, mas eu já vou desculpar.

Obrigado.

Obrigado.

Vamos a isto.

Está bom?

Não estava a contar com isto?

Já te faço desta.

Está malarindo isto.

Já é, calma.

Está quente.

Olha, vocês sentem que a partir do momento tem...

quando um vossa diagnóstica, alguém...

as pessoas passam a tratar-vos como coitadinhos.

Eu a mim já me aconteceu.

Comi não.

A mim já me aconteceu.

Mas o teu diagnóstico também é muito recente.

Quando tu diz o que...

a doença que tens...

qual é a reação, normalmente?

Muitas pessoas não sabem o que é.

A maioria.

Pois é que não é como o canto,

porque é uma coisa...

Que é do forno neurológico,

conhecem Parkinson e Alzheimer.

Eu conhece.

Vamos suportar-nos a um namorado.

Como é que vai acontecer?

Bom tema.

Já aconteceu e está a acontecer.

Ah...

Isso.

Calma.

O que tens a namorar?

Mais ou menos.

Deite.

É assim.

Em caso?

Aos 43 já não sei se as pessoas namoram.

Não sei.

É sério?

Juro que não sei.

Então não namoram.

Por que não namoraram?

Psicologicamente,

a ter um P é significativo de saber

que alguém que, apesar de ter conhecimento

da nossa condição física,

não vê nisso um entravo.

É bom demais...

que seja assim, não é?

Sim.

É bom demais que seja assim.

Tudo muito fácil.

E divertido.

E divertido.

Foi por aí que começou pela parte de...

divertido.

Aí ele é divertido.

É muito divertido.

Sim.

E isso faz toda a diferença.

Alguém que nos faça rir.

É uma ensarra.

Não.

E ele diz-me que ele ainda...

Olha, até esse tempo todo...

Não, não, não.

Não é uma ensarra.

Alguém disse-me que tinha uma coisa para contar.

É há pouco tempo.

Estamos ainda a conhecermos o que é normal.

A conhecerem-se todos?

Só que...

Todos os altavais, não é?

Então sei conhecer.

A conhecer.

A conhecer, sim.

Não é fácil tirar daqui informações?

Não.

Não reparei nada disso.

É assim, não é fácil.

Fala-se tanto.

E fala-se tão à vontade.

Tudo que põe na mão.

Não.

Nada.

Nada, nada, nada.

Mas sabes o que é que eu sinto?

Eu sinto que tu as queres dizer.

Eu já agora faço uma contra-pregunta.

Diz-lhes.

Tu namoraria...

Se tivesse solteiro neste momento,

namoraria-as com uma pessoa...

Apólogica.

Uma boa pergunta.

Não te sei dizer porque eu acho que

quando tu estás verdadeiramente apaixonado

em...

Não decides bem se queres namorar com uma pessoa.

Mas será que chegas a esse ponto,

se pelo caminho percebes que a pessoa

é de mente oncológica?

Há maridos que deixam as minhas.

Sim, sim.

Há muito caso.

E mulheres que deixam os maridos?

Sim, vice-versa.

Eu estou a falar vice-versa.

Pronto.

Porque não querem...

Mas pronto.

Dá muito trabalho.

Dá muito trabalho.

É doido.

Tudo bem.

Mas é assim.

Se nós dizemos que vivemos um dia de cada vez...

Nós.

Nós devemos ter uma relação hoje.

E depois amanhã logo se vê.

Eu digo, nós.

Eu não sei se é assim.

Não é?

No sentido prático, não é?

Exato.

Depois amanhã logo se vê.

Eu não nunca vou perguntar

quando tem o que é que eu tenho de vida.

Quando tem o que eu não quero saber.

Porque isso ainda...

Então ainda é viver mesmo com o inimigo.

A gente já basta vivermos como vivemos.

Eu tenho que pensar.

E eles enganam.

São os médicos.

Também não é uma ciência exata.

Não podem adivinhar.

Ele vai durar cinco meses.

Eu, ao fim daqueles cinco meses,

ando a bater com a cabeça nas paredes.

Não quero.

E nunca pensei, tipo,

se calhar já ultrapassei muito o que o médico teria dito.

Não, mas eu sou um caso raro.

O giro é médico.

Ele tem 15 minutos.

É, pai ia fazer as maiores doidos.

Primeira.

Eu ficava para a história, de certeza.

Nem que fosse olha como a outra,

não dá toda a volta do marquês.

Por exemplo.

Há uma coisa que queres dar nuas.

Já percebi que estás muito focada nisso.

É, é.

Sentir-me livre.

Eu digo, muita vez,

eu, se tivesse um gajo que me soubesse de dar a volta...

Mas você já não me diga bem nisso, já.

Eu falo, falo, falo.

Eu não posso dar mais vinho.

Mas eu sou mesmo assim.

Eu sou mesmo assim.

É de alguém que se esqueça que isso é slidia.

Paz maldiva, já.

Opa!

E entro paz maldiva.

Fazias uma chamada para casa ou não é isso que é isso?

É, para quem ele nem atenda a tua foto, é?

Ligava já de lá.

Olha, fica com o gatinho.

Fala-me desse gatinho.

Fala-me desse gatinho.

É a coisa mais querida que eu devia ter achado.

É quando eu me dou-se.

Quando ele olha para mim com aqueles olhos que me vai atacar,

só penso na minha sogra.

Ah, sério?

Acho que...

O que é que achas que é a tua sogra?

Ah, acho que não tenho certeza.

O que é?

É que encarnou no gato.

Ah, para ele.

Eu estou toda arranhada.

Mas a tua sogra arranhava?

Isso é normal.

Ah, não, mas não gostava de mim.

E eu nunca me fizeste nada do gato.

Nada.

Eu?

Ele gostava de ti.

Só lhe dei um víctã.

Teve-te de um víctã?

Pela calmar os negros.

Dois dias depois.

Não senti as venas.

Queimou uma vida?

Não, uma já vai.

Já só tem seis.

Tem um aspecto.

Boa, las.

Ah, isto aqui é o que a tua sogra pensa, não é?

Preciso.

Peço que ia lá para casa.

Vou te contratar.

Ah, tu te falaste tantas cabecinhas.

Não iria chupar as cabeças.

Não.

Vocês...

Deixem-se de brincadeiras.

Estarmos de querer chupar as cabeças.

Estarmos de querer chupar as cabeças.

Isto é perder tempo.

Isto é...

A vida não está para se perder tempos para a cabeça.

É uma frase que devia haver mais, não é?

Ah, boa vista.

Uma salva de palmas para a Olga.

Ainda a Olga.

Espera.

A Olga tem esclerose lateral amiotrófica mais conhecida por ela.

O corpo começa a desligar.

Ainda não há uma cura conhecida para esta rival doença.

Portanto, a solução possível.

E a que me parece mais divertida é por quatro piscas e um triângulo.

Esperar que venha alguém com cabas de bateria.

Também tem uma coisa positiva, que é quando chegar a essa altura,

em vez de tomar bem que chegar a uma fase da doença,

em que já é só preciso sacudir a janela para tirar as migalhas.

Agora, o que é que uma pessoa faz com um diagnóstico tão duro?

Não é?

A Olga fez uma mudança drástica na sua vida há três anos,

mudou toda a alimentação, começou a fazer desporto

e mais tarde foi o diagnóstico esclerose lateral amiotrófica.

Já viram?

Conclusão a tirar disto.

Não tenham esclerose lateral amiotrófica.

Ela percebeu que algo não estava bem numa ida à praia.

Já no passado isso.

Ela disse ao médico que o pé-direito falhava e o sinal começou a fugir.

Eu consegui imaginar ela chegar ao médico.

Então, como é que se sente?

Olha, ótima.

Ótima porreira.

Não consegui andar de sinales.

Pois, fazer...

Olha, eu tenho boas imagens notícias, Olga.

Tens esclerose lateral amiotrófica.

Essa é a porreira.

A má, que vai ter de ser forte,

é que vai ter de passar a andar de croques.

Olga explicou que a variante que ela tem da esclerose lateral amiotrófica é rara,

e que se manifesta em cada três a cinco pessoas por cada 100 mil habitantes.

Mas reparem, só na aldeia onde ela vive, na freguesia,

que tem 200 pessoas, há três casos.

Portanto, agora eu queria me dirigir aos outros,

197, que estão a ver lá na aldeia.

Malta, há uma aldeia muito gira aí ao lado,

onde não se falece de esclerose.

Mudem-se para lá.

Tá?

Tá resolvendo, de nada.

Só um fracisco grande e de chaves.

Tenho uma fotografia que eu adoro, o careca e a minha sobrinha aqui.

Lídia, queria que tu falasse um bocadinho da associação às carecas.

É as carecas?

Não, é associação careca power.

Eu não queria que me corregisse,

queria que parecesse que eu acertei.

De outra vez, Lídia,

sei que entretanto mudaram o nome,

e agora avala-se associações de uma associação careca power.

Tem programas, tem iniciativas,

de irem fazer passeios?

Sim, sim, já fomos a Londres, Madeira,

fazemos jantares, orques-shop, de pintura, de maquiagem.

Se tu dizias que não fazias planos assim a muito longo prazo,

mas com elas, é dos poucos grupos com quem fazes esses planos?

Fazemos, mas com a nossa doença,

nos podemos estar vivos hoje,

então, um bom ano, passei que estamos a pensar, a não se realizar,

pelo menos da minha parte ou da outra.

Qual é o próximo que tem a jantar?

Assores, penso eu.

Quando?

Não sei se é bom ano de ser daqui a dois anos.

Pois eu não sei se vou...

Ainda nem dei o sinal do Lídia,

porque não sei.

Temos momentos bons, muito bons,

entre ajuda, faleceu uma grande amiga

e eu tive com ela os últimos dias.

É complicado, não é?

Eu estar a ver o que ela passou

e eu poderei ir passar,

escalar daqui a pouco tempo, não sei.

É sempre uma incógnita.

Nessa altura, gostava de ter alguém contigo,

quando desse momento chegar?

Gostava, mas não é fácil para outra pessoa.

Não é fácil para outra pessoa,

porque tem que haver muito amor, muita compreensão,

muita paciência,

para estar a levar com aquilo tudo,

é muito desgastante.

Quando imaginou assim, tu, por exemplo...

Eu não, eu dava para rir.

Eu imagino-me eu estar no caixão

e estar a observar aquelas pessoas que estão a chorar e coisas assim.

Eu não estava bem, galera.

Não me tratava bem agora eu não venho para aqui chorar.

E prepararam alguma coisa?

Eu tenho.

Eu tenho alguma coisa a preparar?

Eu tenho.

Eu também tenho uma carta escrita.

Você tem uma carta escrita?

Eu já pensei em fazer isso, mas...

Eu tenho.

Os masaijos e dizemos que preparo.

Tem que fazer aquilo, aquilo, aquilo, aquilo.

Vai deixar trabalho?

Não, vou deixar que ele se...

Ela quer ir à vestida noivo.

Eu quero ir à vestida noivo.

Ah...

É?

E como ter-se na mão?

Veste que eu casar.

Por que?

Eu sei por que.

É isso que eu quero.

É como imaginas.

É.

É como se fosse isso.

É, é um momento em que te diz muito bem, não é?

É.

É.

É que as levaria a isso.

Foi um dos dias mais felizes no meu bem.

E deixaste...

E vais deixar uma carta?

Sim, tenho uma carta escrita.

E ainda não acabou bem.

Mas vou acabar.

Prometo.

Até morrer, vou acabar.

Mas...

Todas as vezes que eu escrevo te choro.

Porque isso é difícil para mim.

Sim.

E é para...

É para o teu marido?

É bom.

Sim, eu queria tirar uma foto com o meu marido.

E o para outra pessoa.

Não, é o outro.

Espera aí que não.

Mas o Olívio não pode estar neste programa.

Olívio, eu vou entender.

Tens que ir lá para fora.

É o outro.

Ela já pensava que era o outro.

Olha lá.

Eu nunca pensei.

Eu vou dizer o que eu pensei.

Passou-me pela cabeça.

Filho.

Pois.

Amém.

Amiga.

Eu posso ver?

Aqui passou de logo.

Amante.

Não, mas ela diz.

Para o meu marido e...

Para outra pessoa.

Mas se calhar, não quero dizer que é outra pessoa.

Se calhar, o outro só não quer dizer quem é.

Se calhar, o outro só não sabe para receber a carta.

Sim, sim.

Não sabe.

Pronto, por isso.

Meu marido.

Agora já sabe.

Agora já sabe.

Se ir a um papelinho...

Olha, eu tenho escrito que eu não quero preto.

Quero ir em bom.

Quero que visse aquele sete-feira.

Estás a chorar de quê?

Estás a chorar de quê?

Isto é um banho tão alegre.

Já passou.

Quero ir em bom.

Quero que visse tão branco ou cor-de-rosa.

Quero...

Não quero pegar sem dinheiro.

Cor-de-rosa?

Não, não deixe.

Esqueça.

Não quero pegar sem dinheiro.

Quero ir em bom.

Quero ir em bom.

Quero ir em bom.

Quero ir em jovelo ou jovelo de cor-de-rosa.

Jovelo ou jovelo.

Uma rola de jovelo.

Uma rola de jovelo ou jovelo.

É uma estupidez, a gastar dinheiro em foco.

Não, ainda para mais o que é.

Eu acho que é uma estupidez.

Chromada.

Mas agora é o teu.

Ah, não, gramada, não quero.

Esculpa, eu quero ir para a terra.

Eu quero ser cromada.

Eu acho que é cromada.

Eu também disse isso na carta.

Eu quero ser cromada.

Se você é abanhada, é cromada.

Eu quero ser cromada.

Bem, então, se vais inteiro, vais...

Ai, eu quero inteiro.

Mas ao forno?

Não, não vou ao forno.

Pronto, vai inteiro.

Você vai ao forno.

Eu quero ir bem pra Sudinha.

Vem pro meu filho.

Vamos ver, já sabes.

Eu vou ir bem pra Sudinha.

Uma salva de palmas pra Claudia.

A Claudia é só esta semana. Fez 50 horas de quimiotrapia.

Portanto, se algum dia vos falta atratamento,

já sabem que foi esta lambona com uma motude.

Claudia tem um saco ligado ao intestino.

Estava tal maneira.

Isto aconteceu mesmo.

Isto nem sequer sou eu a escrever.

Que a certa altura a Lídia disse,

eu é que precisava danar com um saco como tu

pra ver se emagrecia.

Não pode ver.

É envejar o cancro da amiga.

Ai, ela tem um cancro que a faz magra.

E o tomás de larga danca.

Enceramente.

Claudia tem um cancro colóretal

que se elastrou para os pulmões,

mas é católica e vai à missa todos os domingos.

Portanto, vai ficar tudo bem.

Vai correr bem.

O marido dela recusa-se a falar da morte,

diz a Claudia que sabe que a perspectiva não é boa.

No entanto, a Claudia partiu na casa,

que o marido lhe explicou

que o Sema não faz bem à pele.

Porque há assuntos que realmente importam.

Pra que perder tempo com homicologia

quando pode aprofundar a funda da dermatologia?

Ai, o Vitor toa morrer.

Tá bem.

Já falamos sobre isso.

Agora, para que ataca a cabeça.

Porque...

Eu tô a ver aqui que tens uma borbolha na testa.

E aqui o Doutor Vitor...

Tem um creme muito bom que vai resolver isso.

Claudia já nos contou como é que quer ser enterrada.

A vestida de noiva.

E eu acho muito bem que uma pele tão bonita

e a vestida de preto.

Os amigos, muito obrigado.

Uma salva de palmas para a Olga,

para Francisco,

para a Lídia,

e para a Claudia.

Quem é ouvir isto?

Os normais e a gente até somos umas pessoas tão normais.

Sim, há dias.

Também acho que sim.

Então é este dia, Lídia, em jeito de conclusão.

Olha,

sou feliz por estar cá,

por terem proporcionado estes dias magníficos.

Não tenho palavras para descrever

e não há dinheiro que paga

tudo aquilo que eu vivi nesses dias.

Foi inesquecível.

Para mim, a palavra que mais pode significar

é inesquecível.

Muito obrigada.

Já não é pouco.

Mas tu pode. Se quiseres.

Eu só tenho duas palavras.

Gritidão e obrigada a todos.

Pensava que era só logo.

Agora não é possível.

É só isso que eu tenho que dizer.

Gritidão e obrigada a todos.

Como tratar.

Já está.

Foi muito inesquecível.

A primeira coisa que me vai à cabeça foi conhecer pessoas especiais.

Estão excelentes dias.

E para ti, como é que foi conhecido-nos?

É lá, Lídia.

A palavra não é sobre mim.

Mas ficas com a ideia das pessoas que conheceste?

Sim, verdade.

Para mim, foi muito enriquecedor.

Foi... É verdade.

Muito risto quando ele falou.

Fai-o!

Estás e vergonhou o menino.

Deixe-o lá falar.

Foi muito duro também, não vou mentir,

ouvir uma realidade que uma pessoa...

Uma coisa é ouvir falar, outra coisa é ouvir falar na primeira pessoa.

E estar aqui com vos e passar de...

E ouvir os contar as vossas experiências, mas...

Na verdade, de uma maneira muito egoísta,

acho que também ajuda a relativizar muitas coisas

que às vezes uma pessoa pensa que são problemas e que não...

Que olha de repente para a vossa força

e para a capacidade que vocês têm de lidar com os problemas que têm...

Pronto, é uma lição.

E portanto, fico muito agradecido-vos muito

para me ensinar um endiretamento.

Obrigado por nos ouvir.

É também verdade.

Então, é obrigado por terem disponibilizado para contar

coisas que eu imagino que não sejam fáceis de contar,

mas que é muito enriquecedor ver a maneira com que vocês falam

da vossa doença e a capacidade que têm de transformar isso em coisas boas.

Eu só queria dizer uma coisa, eu espero que este seja um exemplo a toda a gente.

Vai ser. Vai ser.

A vossa.

A vossa.

Obrigado.

Obrigado.

Afeito, Malta.

Obrigado.

Obrigado.

Machine-generated transcript that may contain inaccuracies.

É possível rir da morte? E rir do medo da morte quando se sabe que esta pode estar próxima? Durante uma semana, Bruno Nogueira viveu com quatro pessoas com doenças incuráveis, ouviu as suas histórias, percebeu como se integram, como são olhados e os obstáculos com que vivem. Depois, pegou nestas histórias e tornou-as protagonistas de Tabu, um espetáculo de comédia sem limites. O episódio foi emitido originalmente em março de 2022 e duas dos convidadas - Lídia e Cláudia - faleceram alguns meses depois. A ambas Bruno Nogueira agradeceu a participação no programa, afirmando que foram "um exemplo superior de como lidar com as rasteiras da vida".

See omnystudio.com/listener for privacy information.