Alta Definição: Daniela Ruah sobre estar longe da família: “Eu sei separar as coisas. Sou um cavalo de corrida”

Joana Beleza Joana Beleza 4/16/23 - Episode Page - 56m - PDF Transcript

Estamos prontos?

Tinha grama.

Tinha o lá.

A coordenação de hashtag os danis.

Os traidores chegaram ao Portugal.

E eu também.

Daniela Rua, 39 anos, estou como sou aqui no Alto de Finição.

Boa tarde, Daniela.

Boa tarde.

Boa tarde.

Daniela.

Tu tens sempre um plano para qualquer coisa.

Tu tens sempre um plano para qualquer coisa.

Qual é o plano para essa entrevista?

O plano para essa entrevista?

O plano é seguir as suas perguntas.

Vejam, os traidores nasci.

Mas não, o plano é este.

Oh, pronto.

Não tens corpo nem pátria nem família.

Não te curvas ao jogo dos tiranos.

Não tens preço na terra dos humanos.

Nem o tempo de Rói.

Essa é a essência dos anos.

O que vem e o que foi.

Essa é a carne dos deuses.

O sorriso das pedras.

E a candura do instinto.

Candura do instinto, uau.

A quem farto de pão anda faminto.

Essa é a graça da vida em toda a parte.

Ou em arte.

Ou em simples verdade.

Essa é o cravo vermelho.

Ou a moça no espalho.

Que depois de te ver se aperçoado.

É um verso perfeito.

Que traz consigo a força do que diz.

É o cheito.

Que tem antes de mestre.

O aprendiz.

É o milagre.

Uma luz.

Uma harmonia.

Uma linha sem traço.

É a beleza.

Enfim.

É o teu nome.

Daniela.

Bem.

Minhas 26 anos.

Tens 30 anos.

Agora tem quase 40.

Fazer 40 este ano.

Que mulher aqui eras.

Mulher aqui eras.

Em termos de feitiúo,

como pode ter me de igual, diria.

Não acho que alguma coisa me tenha alterado

nesses últimos anos.

Fora, claro, ter me tornado de mãe.

E que me deu uma estabilidade um bocadinho diferente.

E uma visão de um mundo diferente.

Claro, porque agora passamos a proteger os filhotes.

E não só a nós próprios.

Mesmo com o matriz.

Acho que consigo entrar com um peso emocional

muito maior do que antes.

Tenho outra segurança.

Tenho outra autoestima.

Tenho que para, por exemplo, realizar.

Ter a confiança para fazer isso.

Porque como agora giro uma casa com várias pessoas.

Em conjunto com o meu marido, claro.

Ganhei capacidade também de conseguir gerir

um número maior de pessoas.

Que é uma equipa técnica e minha língua.

Gosto de estar sempre a aprender coisas novas.

Tenho que encontrar um interesse novo para continuar.

Não gosto de desrespeito ao trabalho do outro.

Se nós chegamos todos a horas,

porque é que tu tens que chegar atrasado?

Queremos todos ir para casa.

Todos temos família.

Chegar a horas e o respeito pelo outro no trabalho.

Lembro-me perfeitamente de pedir aos médicos

que iam fazer cirurgia,

de implorar o acuado e ler um dos voces.

Já salvo muita gente, tenho que o salvar.

O que é que aprendeste sobre ti e sobre a vida

neste último século?

Que consigo fazer muita coisa mesmo cansada.

Porque quando temos os filhos deixamos dormir as horas.

Mesmo que eles dormam a noite toda,

dormimos sempre com um alho aberto.

Porque queremos ouvir.

Será que vai parar de respirar?

Será que vai ter um problema?

Será que vai vomitar enquanto está a dormir?

Mesmo que com 9 anos e 6 anos,

que são as idades dos meus filhos agora,

tenho sempre essa preocupação.

As portas estão sempre abertas.

Ninguém dorme.

Porta fechada.

Quero ouvir tudo.

No momento em que acontece.

Por isso, há sempre um nível de cansaço.

E não deixei de trabalhar ao máximo.

Não só no trabalho mesmo com o matriz

ou como realizadora,

mas no dia a dia.

Não perdi energia por causa disso.

Isso foi uma coisa que eu só aprendi quando me tornei bem.

Estavas a começar a Kenzi na altura.

Estavas na fase inicial.

Passou todo este tempo.

Esperavas que tivesse sido tanto tempo.

Não.

Não era nenhuma.

Ainda para mais.

Porque muito disso não nos cabe a nós como atores.

Temos que fazer o nosso trabalho.

Porque quando os atores vão,

cada um passou a direção a pensar,

eu só vou sair da minha reloto quando o outro sair.

Vou dar um exemplo para vocês.

Mas isso acontece em várias produções

nos Estados Unidos.

E há outras coisas.

Manias, atores e tudo.

Tipo que?

Há de trocar uma fala.

Fiquei ofendido.

Agora não quer fazer.

Eu nunca assisti a isso da nossa série.

Eu já ouvi histórias.

Ou dois atores que não se dão bem,

perguntando as cabeçadas.

Não é as cabeçadas fisicamente,

mas é aquele ambiente de cortar a vaga de tensão horrível.

Nunca aconteceu na nossa série.

Foi maravilhoso.

Todos trabalharam a equipa.

E mesmo pelas palavras do David Staff,

que é um dos diretores da CBS,

ele disse, vocês são o ilenco e a equipa

que menos trabalho nos deram.

Porque isso também fez com que eles quisessem

manter-nos no ar porque éramos fáceis.

Tínhamos audiência, tudo bem, mas aquilo fluia.

O que é que me deixa mais saudades na personagem?

Despediste-te a dizer boa noite minha Kenzie?

Foi.

Fiz mesmo questão de tirar aquela fotografia

naquele sofá.

Não sei se tenho saudades ainda,

não passou o tempo suficiente.

Terminámos a personagem de uma forma muito bonita.

E não vou dizer agora,

porque ainda não passou na televisão o último episódio,

mas acho que fizeram muita justiça.

Não sei se tenho saudades dela, ainda.

Ainda.

Depois de teres mãe, ela tornou-se mais dócil.

Por que dócil?

Porque a maternidade pode trazer-se

ao lado maternal, precisamente.

Mas o lado maternal é urso.

Sou mamã urso.

E então, de que forma é que esse seu impacto

na personagem?

A personagem tinha que acompanhar

aquilo que está escrito.

Mas eu acho que a personagem,

tal como eu,

tem que ser uma personagem

de uma forma muito bonita,

mas a personagem tem que ser

uma personagem de uma forma muito bonita.

A personagem tem que ser uma personagem

de uma forma muito bonita.

A personagem tem que ser uma personagem

de uma forma muito bonita.

A personagem, tal como eu,

ganhou mais gravitas,

pesa centros na terra

e me formo mais firme,

mais acente nas opiniões,

mais acente nas atitudes,

mais acente na forma de falar com as pessoas,

olhos nos olhos.

Nunca tive o vergonha de olhar as pessoas nos olhos,

mas é diferente.

Já não me sinto atrapalhada.

Seas mãe,

mãe urso, como tu diz,

deu-te que forças.

Infinitas.

O que é que nós não fazemos

para manter os nossos filhos suros?

Não há nada.

E também sei que tenho um parceiro

do Caraças,

no meu marido.

Nós somos mesmo pais

a 50%, 50%, 50%.

Eu não posso fazer

uma série como

Estrai Dores e gravar

10 dias seguidos,

15 horas por dia e tudo.

Se não tiver um marido

a 100% pai,

organizado,

acompanhar tudo,

tanto os trabalhos de casa,

eles todos os dias têm atividades

depois da escola.

É violino,

é futebol,

é arte,

é música,

explicações,

eles gostam.

Eu não estou a abusar

das minhas filhas.

O que é que não fazia

ideia que ser mãe fosse

e que só descobrieste

quando foste?

Isso é interessante,

sentimos super preparada

para ser mãe.

Claro que há sempre surpresas.

Uma delas foi que fiquei chocada

com o que consigo fazer

com as poucas horas de sono

que tenho.

Ou mesmo que tenha

6 sete horas de sono por noite,

não é um sono profundo.

É mais duro do que imaginaste?

No princípio sim,

mas acho que agora já.

Temos o nosso ritmo

perfeitamente

e são crianças de independência,

ninguém está fazendo isso.

E eu digo assim,

mas olha que bem,

não estamos agora.

Não tem ninguém de fraldas.

Comem os sozinhos.

Da última vez,

a vista era um pouco diferente

do que é esta vista.

E portanto,

desta vez não vai ser

exatamente a mesma coisa.

Sim.

O que é isto?

Vamos lá ver o que é isto.

O que é isto?

Vamos lá ver o que é isto.

Adoro, ela vai adorar.

Oh, meu Deus.

Adoro, que lindos.

Ai, adoro.

Vamos lá ver,

ele vai ficar maluco.

Vou para ir correr connosco.

Ai, que coisa mais querida.

Ah, para que os giro.

Obrigada.

Número 1.

No dia 30 de dezembro de 2013,

é sonhos e asmo?

É também receio?

É o que?

Não me lembro de sentir receio.

Para que você estava preparadíssima

para ser a mãe,

estava chita deíssima

para ver a carinha dele.

Já tinha estudado

todas as formas de dar à luz,

todas as possibilidades.

Uma das coisas que me disseram foi

rodeia-te só de energia positiva

e de pessoas positivas.

Nada de...

Ai, porque a minha amiga

que tive, não sei o que,

resgou toda.

Ou, ai, a minha amiga,

não sei o que,

e depois é ela que quase

tinha morrendo.

Claro que essas coisas podem acontecer,

mas não vamos entrar

numa experiência tão bonita

com esses medos

a puxar-me para trás.

Mas aquilo que abrandi mais

foi por o mais que queiramos

planear o parto.

Não vai acontecer

como foi planeado.

Mesmo.

Desbentaram as águas

às 37 semanas

com as duas crianças.

O corpo disse,

37 semanas,

acabou.

Pronto?

Tá bem.

Mas com o meu filho,

não tive contrações.

Pronto tive que ser induzida

e foi passar por isso

o que ia tentar fazer-se

em epidural.

Mas como tive que ser induzida,

o remédio que dão

para induzidas contrações,

e agora posso comparar

com as duas gravireses,

a dor é muito maior

com o remédio

que dão para induzir.

As contrações

passam a ser

quase constantes

e, então,

ao fim de 12 horas,

tive que pedir a epidural.

Não consegui mais.

E senti-me uma falhada

nessa altura que eu disparate.

Mas, naquele momento,

senti que estava a falhar

ao pedir a epidural.

E, pronto,

tive a epidural

e foi maravilhoso.

Fiz um Skype com o meu pai,

que estava em Portugal.

E eu, tá na boa,

pai, está ótimo.

A minha filha

foi uma experiência diferente.

Foi.

Só queremos dois filhos.

Se não for desta,

fazer-se em epidural

já não vai ser.

E às 36 semanas,

fui à consulta

e eu tinha sempre aqui

um alto debaixo da costela.

E eu, que fofinho,

rabinho da fofinha,

está aqui o rabinho.

Qual que era a cabeça dela?

Ela não virou.

Estava de rabinho para baixo

e diz assim,

então já não vou dar à luz,

de forma natural,

sem epidural.

E houve um quiropata

preto e tal

que disse assim,

mas por que?

Estou de rabo para baixo.

Em cima do rabo

é mais mal do que a cabeça.

E eu,

o homem tem razão.

Tentam?

Ok.

Estamos às 36 semanas e tal.

Vamos devagarinho

fazer umas coisas

para tentar virar a criança,

sem ser aquela coisa

forçada que fazem

em último caso.

E, ou seja,

então,

vais-te deitar naquelas

caminhas que fazem assim.

Ficas um bocadinho

inclinada de cabeça para baixo,

que foi um enjo ou horrível

para a criança da Pélvis

e levantar um bocadinho

para ver se ela vira.

Quatro dias depois,

rebentaram as águas

na tela.

Decidi ouvir a sua maneira

de rabinho para baixo,

mas o que me deixou super feliz

foi que,

enquanto que meu fim

não tive as contrações,

quando rebentaram as águas,

quando a minha filha

comecei logo a ter,

então pensei, ok,

isto vai andar da maneira

como eu queria.

Ah, e também,

nesse momento,

eu não tinha médico,

porque o médico

que me estava a acompanhar,

disse, olha,

o respeito que queiras

ter esta criança

de forma natural,

de partes pélvicas

com cesareana,

mas posso te recomendar

uma pessoa muito boa

que te pode acompanhar

com isso.

Mas apoio eu perfeitamente,

não tentou convencer nada

que eu achei super porraia

da parte dele.

Ó, o time disse,

tá bem, então,

depois dá-lhe um número.

Quatro dias depois,

rebentaram as águas,

eu preciso deste número agora.

Para agora.

A questão é que

a minha mãe estava,

literalmente,

no avião,

a caminho para ajudar

nos últimos semanas.

Na primeira vez,

a minha mãe também estava no avião,

quando deu delas

o meu fim, portanto.

De ela ia ficar com o meu fim,

tivemos que trazer o nosso filho

com nós para o hospital,

não estava programado,

eu não o queria na sala

porque não tinha preparado para isso.

Mas em casa,

de repente, foi tipo,

tenho que preparar o lanche para mim.

Eu não sei o quanto bem,

vamos ficar no hospital.

Eu tenho a minha malinha feita,

mas a do River não estava.

Eu fiz dar um tempo

para o isador de contrações.

E tu é assim,

Ê, tá, coisa,

já passou.

Começa.

E algo correu pela casa toda,

a fazer o lanche,

a fazer a malinha,

depois punhamos os velhos

na gestão de contração,

já passou.

Fui, literalmente, isto.

Meu marido a dormir ferrado,

foi tipo, descanse,

porque daqui a bocado

não mais consegui dormir,

porque eu vou ter de dormir.

E ele conseguiu dormir?

Eu?

Ah!

Ele era um serão safado,

é de televisão.

Ele às duas e meia da manhã,

baby, baby, Dave,

rebentaram umas águas e ele...

Não dá para ficar

em casa mais um bocadinho

e eu...

REBENTARAM umas águas!

O bem-te!

Límpago, para o hospital.

E o marido depois contou-me

que estavam umas 15,

pessoas na sala,

porque só há 4% dos partos,

que são partos pélvicos.

A gente a sala encheu-se os estudantes,

que seria uma das poucas oportunidades

que teriam de ser um parto pélvico.

Mas eu não te pai, não ouvi.

Também, por causa desse tipo de partos,

estavam vários pediatras,

porque ela poderia ficar presa,

ou quer que seja,

mas o médico foi incrível,

ele ficou susseguirinho

com caladinho na sala o tempo todo,

nunca saiu,

e às tantas soias assim,

pelos sons que estás a fazer,

acho que estás

próxima de começar a empurrar.

Que instinto este de um médico.

Foi mesmo maravilhoso,

senti-me superapoiada.

E assim que a bebê começou a chorar,

foi-se tudo embora.

Pronto, já está.

A bebê está bem.

Vamos deixar a família em paz.

E tu, com um desvisto pela primeira vez?

Eu tenho uma fotografia da primeira vez

que me passaram ao meu filho,

porque à medida que ele ia ser,

ainda médico disse,

olha, se você agarrar-os agora,

vais ajudar a tirá-lo,

cá para fora.

Agarrei e tenho a fotografia,

naquele momento foi a minha cunhada,

que estava,

eu pedi a pele a vir

para tirar fotografias.

E tive-me a minha cara,

exausta, enxada,

e mais alguma coisa.

O bebê é científico, gozma, branca, toda.

A brocaria toda.

E tem esse momento,

tem que olhar para ele pela primeira vez.

E a magia?

É, porque já estamos tão

emocionalmente suscetíveis,

naquele momento,

de cansar-se de citação,

de exaustão psicológica,

física, tudo,

de expectativa,

dos dias que vem aí.

É muita coisa ao mesmo tempo.

Mas, por outro lado,

nós somos desenhadas para isto.

Atenção, não no sentido

em que somos desenhadas,

não é o nosso propósito.

Apoi o imenso,

as minhas que os que escolhem não ter,

ou que escolhem ter de outra forma,

para mim, para a minha jornada,

foi super, super bonito.

Foi super bonito.

Quem é que tu achas que és aos olhos deles?

Acho branco.

Seja uma deusã.

Dica-te que, meu filho,

sou soft.

Soft?

Sim.

Isso foi super interessante,

esta história,

porque o pai é bastante distrito.

Em termos de...

Acorda, faz a cama de manhã,

lava os dentes,

vem tomar o pequeno almoço,

tem uma checklist.

Justamente contar sozinho com eles,

porque ele tem que ter essa organização.

Uma recruta, mais ou menos.

Uma recruta.

Também, exatamente.

É um paisão super divertido,

mas na linha certinho.

Estamos todos se instalados,

tuas, mas a casa está tão arrumada,

quanto não estás cá.

E eu...

Tenho razão.

Fomos jantar fora uma vez,

o Dave não estava,

e o meu filho,

não se não ficava sentado à mesa,

estava a fazer um bocadinho de show-off,

portávamos com outras pessoas também,

e tal.

E eu, em português,

disse-lhe, no carro estava uma conversa.

E tivemos uma conversa.

E disse-lhe, se o pai estivesse aqui,

tu sabes muito bem que estarias

à mesa sossegarim.

E ele disse,

Oh, but you're soft.

Tu és mais docile.

Ele disse aquilo como ataque,

porque lá está,

ele tem nove anos,

e está a tentar ver

onde é que estão os parâmetros dele.

O dia tinha ficado chateada,

zangada,

mas houve assim uma voz em dentro de mim,

e diz assim,

por que não ser docile?

Há que ter um equilíbrio entre os pais.

E eu expliquei-lhe isso.

E disse assim,

pois sou.

Eu sou docile.

Portanto, o que tu me estás a dizer é,

se o pai não estiver,

tu assaltas uma loja?

Não.

Então tu sabes tomar decisões certas

sem o pai estar presente.

E depois de eu lhe expliquei,

eu disse aqui assim,

tu precisas de um dos pais

que sejam mais estritos

e outro um bocadinho mais docile,

porque nós queremos que vocês sejam

adultos equilibrados.

Isso é importante.

Na altura, na tua vida,

vais ter que ser um bocadinho mais

estrito contigo próprio,

vais ter que seguir as regras um bocadinho,

e às vezes,

em que tu tens que saber ser

um bocadinho mais relaxado com essas coisas

e, se calhar, apoiar-te a ti próprio

de outra maneira.

Nessa própria noite,

o pai e o filho andaram na brincadeira,

no chão,

e os dois, claro,

cada um mais bruto que o outro,

de bom sentido,

e às tantas, o amigo estava cansado,

começou a dizer,

ah, ah, ah,

eu devia refilar mais,

eu vá, deve, acabou-se, vá.

Está na hora de ir para a cama

e dê-lhe um abraço e tal e coisa.

E depois, se tudo der ao ouvido,

gostas,

e a mãe dócila agora.

E eu,

e eu.

Eu acho que todos os pais acham

que os filhos são espetaculares,

mas

são muito unidos um com o outro.

Isso é uma coisa que eu nunca tive,

porque eu não cresci com irmãos.

Foi a filha única e,

depois, entretanto,

meu pai casou-se de novo

e teve um filho

que tem menos 23 anos do que eu.

Portanto, eu nunca tive

esse exemplo de casa,

tanto que isso foi uma coisa

que me fez imensa confusão.

Quando eu tive a minha filha,

porque foi a segunda,

eu estava a dar de mamar.

Eu lembro de meu filho

com dois anos e oito meses,

que ela tinha acabado de nascer.

Ah, mamá, mamá, mamá,

preciso de mamar.

Eu disse, oh, a mãe pega na bebê

que o Revers estava a chamar

e ela,

ele que espera,

ela está a comer.

E a minha mãe é do meio de três.

Ele que espera.

Eu disse, ele precisar,

eu ajuto,

eu estou aqui,

mas ela vai acabar de comer.

Ele tem que perceber

que agora tem que partilhar-te.

E eu.

Porque, costa imensa,

tínhamos super culpado

de tirar essa atenção

a 100% do primeiro filho,

mas a melhor coisa

que podíamos ter feito

foi ter uma filha,

de ter um segundo filho.

Descobrir-se coisas novas

sobre ti,

ao ser humano.

Se calhar as coisas

ficaram um bocadinho mais exageradas,

amo com mais força,

perca paciência,

mas acho que isso é natural.

Eu não sou uma pessoa

muito paciente

com a ineficácia,

mas eles são caras.

Eu sou uma pessoa

muito paciente

com a ineficácia,

mas eles são caras.

E, obviamente,

ainda estão a explorar o mundo

e estão a explorar

a forma de ser e tudo.

Mas lá está

aquela reprição

que os pais fazem sempre

com esses sapatos.

Põem os sapatos.

Põem os sapatos!

E tu ves coisas de ti

neles,

coisas que tu fôs?

Completamente.

Histórias que a minha mãe

me contava

e tudo ela diz que

os meus filhos

estão a vingar-se a dela.

Sem dúvida,

a minha filhantão.

Isto é engraçado.

Os meus filhos

são outros.

Eles são super, super unidos,

super amigos.

Se um recebe uma coisa na escola,

parto ao meio

e depois dá ao irmão

e ao irmão no final do dia.

Ando às cabeçadas de vez em quando.

Meu filho

é super direto.

Posso fazer isto?

Agora não.

Mas porquê?

Não, mãe.

Tenho nenhuma pergunta.

Sempre.

Sempre.

Aliás, uma vez,

estava a deitá-lo.

É por favor.

Não vamos falar mais.

A mãe já está a dormir.

Não se fala mais agora.

Mas porquê eu adoro falar?

É o meu tema.

É o meu desporto.

É o meu arco-íris.

O que é?

Falar

é o seu tema,

o seu desporto

e o seu arco-íris.

Ele é muito cómico.

Já a minha filha,

que tem o nome que começa a conhecê-lo,

tem a falafelinha de massa.

Que ironia, não é?

Fiera.

É coisa mais fofa,

mas eu vou ficar tão triste

quando ela deixar de falar assim.

O teatro disse isto,

depois passa a cuidar.

São os teus vozes rabiscos.

Eu chamo-vos de rabiscos humanos.

O meu filho, então,

é um rabisco humano

que nunca mais acaba.

Aquela é uma mistura entre o Jim Carrey

e um palhaço.

Ele é super, super expressivo.

Eu, quando falo com ele,

ele é tão fofinho.

Estás bom, ele?

Pois foi assim.

Mas eu não posto as caras delas

porque se eu postar

essas coisas que eu encontro

no meu telemóvel,

é tanta careta, tanta careta.

O que é que recebe no dia da mãe?

Sempre um cartão escrito um desenho.

A minha filha é muito dada nesse sentido.

Passar a vida a fazer um desenho,

nos a escrever,

eu amo a mãe.

Aliás, vou te deixar ouvir

uma coisa que ela me mandou.

Ela fez puré de batata

e quis que eu

soubesse sobre isso.

Está dentro da minha carteira.

Obrigada.

Quando você está se convocando

de uma distância,

quando você está se convocando

aqui,

adençam as saudades,

aquecem o coração.

Às vezes,

com as crianças,

elas têm a vida bastante ativa

e não notam muito bem o tempo passar,

entrou na rotina com o pai,

tal e coisa.

Não é que não tenham saudades,

óbvio.

Mas entram numa rotina,

isso também é bom,

que é para depois não ficarem

sura-mingar constantemente.

Mas receber estas mensagens,

é tipo,

ah, ela está a pensar em mim,

sem eu ter ligado primeiro.

Claro, aquece o imenso seu coração

e eu já tenho imensas saudades.

Nós fazemos tudo juntos,

os quatro sempre que têm uma pecinha

na escola, uma coisa qualquer.

Estamos sempre os quatro,

a assistir e apoiar uns aos outros.

Portanto, quando faltam um pilar

desses quatro,

nota-se,

nota-se imensa a nossa família.

Mas, por outro lado,

eles já estão habituados,

eu também já estou habituada,

a esta rotina de vida Portugal,

durante uns dias,

ou duas semanas,

ou o que seja,

trabalhar,

e eu venho ter comigo a seguir,

ou eu volto

e depois voltamos todos juntos

na altura qualquer.

Mas, bate,

imensa saudade,

imensa, imensa, imensa.

E há dias mais difíceis

em que o trabalho te impede

um trabalho,

primeiro dia de escola, por exemplo.

Foi o primeiro dia

de escolhinha dela,

foi tão difícil,

mas depois é tão bonito,

porque eu postei isso

e há toda uma comunidade de pais

que dizem,

''Ei, é custo de tanto,

também já tive que o fazer.''

Acabamos por sentir-nos superacompagnados

e não me sinto mamãe, vá.

Mas isso é uma coisa muito importante

que eu aprendi,

que é,

não se pede desculpa aos filhos

por ter que ir trabalhar,

porque o trabalho

é uma coisa que é precisa,

porque sem o meu trabalho,

ou do pai,

não há casa,

sem o trabalho da mãe e do pai,

não há escola.

Neste caso,

não há escola privada,

e para terem a vida que tem,

a mãe e o pai têm que trabalhar.

Isso é importante.

E então,

eu ouvi numa entrevista qualquer,

uma atriz americana,

qualquer do que diz a filha,

é,

''Olha,

eu tenho o privilégio de trabalhar,

e estou tão feliz

que quando eu chegar à casa,

vou estar contigo,

e vai ser ótimo.''

E eu cidi formular as frases

dessa forma também,

e dizer aos filhos,

''Tenho uma sorte enorme,

eu vou fazer aquilo que eu adoro fazer,

pago-me para isso,

e depois olha,

quando eu chegar à casa,

vou vos mostrar

tudo o que eu tive a fazer,

os videozinhos dos stunts,

das lutas e das pancadarias,

ou trago um video do pai

a fazer as coisas,

é para também ver.

O que é importante garantir

na educação deles?

Respeito pelos outros.

Inevitávelmente,

eles estão a crescer,

privilegiados,

é o que é.

Tenho o que tem,

ando na escola que andam,

e vivem com um privilégio.

Isso é verdade,

eu tenho consciência disso

e o meu marido também.

E tentamos sempre,

ao máximo,

explicar que a realidade

deles não é a realidade do mundo,

e que temos que ver as coisas

com outros olhos,

e ter compaixão

pelas pessoas.

Mas é difícil,

porque a não ser que se viva

sempre em privilégio,

não se consegue saber

o que é viver sempre em privilégio,

mas podemos pelo menos tentar explicar

que nem toda a gente vive assim,

e temos que ter compaixão,

temos que ter cuidado

em ser bons para as outras pessoas,

e também não fazer show-off

daquilo que temos.

Já perguntaram todas as vezes,

ah, mas ganhas,

vem lá.

O que é isso?

O que é que se tem interesse?

O que é que interesse?

Interesse na mesa,

ter um telhado em cima da cabeça,

e ter paz que os adoram.

Em que é que tu replicas

características da tua própria educação?

A unos idades dos meus pais

que sempre tiveram comigo.

Ser honestos,

com a forma que se estavam a sentir,

o Dave e eu somos muito abertos.

Se eu estou triste,

digo, olha, eu estou super triste,

um cara embaixo.

A gente faça uma favor,

ajude-me um bocadinho.

Não me façam repetir as coisas,

estou com super pouca energia hoje.

Como, por exemplo,

quando tivemos que abater a nossa cão,

foi uma decisão super difícil,

mas o cão tinha uma doença desnarrativa

e ia morrer sem dignidade nenhuma

e ia acabar por morrer na mesma.

Então tivemos que tomar essa decisão

muito difícil.

Ora,

podíamos ter abatido o cão

quando os meus estavam na escola,

ou havia várias maneiras de lidar com o assunto.

E nós falámos sobre isso

e decidimos ser o mais honesto possível,

não responder que estávamos tristes,

porque acho super importante

as pessoas não pensarem,

ah, eu, à frente das pessoas,

não posso ter emoções.

Por quê?

Pessoal, a gente já está aí.

Por isso perguntámos, mesmo aos meus,

tivemos a conversa, olha,

vocês veem que o Aixe não está bem,

o Aixe não consegue andar,

não consegue ir lá para fora,

para ir à casa de bem sozinho.

Se calhar está na altura de ajudarmos

a descansar.

A minha filha começou a estirar muito logo,

o meu filho ficou muito

sério e focado,

sem uma emoção visual.

Fiquei ansiosa de observar,

a reação dela já estava à espera,

tentamos fazer, daquele momento,

um momento, separar a emoção da lógica,

dizer, é claro que estás triste,

eu também estou.

Mas aqui estão as razões lógicas do porquê.

E explicámos tudo, claro,

o meu filho não chorou,

no dia a seguir,

o meu filho continuava sem chorar nada.

O meu marido mostrava lágrimas,

eu mostrava lágrimas,

deitávamos desculcão no chão,

passávamos imerso tempo com ele.

Decidiram fazer em casa, não?

Decidimos a bater o cão em casa,

sim, a uma veterinária móvel

e vai lá à casa,

porque eles ficam os cães,

pelo menos os meus,

sempre que se aproximam de um veterinário,

ficam noga de tremere,

eu senti, para ser a última hora da vida dele,

não vai ser assim,

vamos fazer em casa,

onde ele se sente confortável,

na cama dele é um cão grande,

é um pastor alemão branco,

com 45 ou 50 quilos,

é verdade, grandão.

E o meu filho continuava sem chorar,

sem nada,

entretanto, o meu marido e minha filha

saíram do quarto e disse,

como é que te sentes?

E ele olhou para mim e disse assim,

eu nunca perdi nada,

não sei como é que é de sentir.

Ah, cumpri-a de perfeitamente.

Ou seja, não estava a deixar-se levar

pelas nossas emoções,

ele estava à procura das dele,

e achei-se super,

emocionalmente inteligente

para um rapaz de 9 anos, 9.

E eu disse tudo bem?

Diz-se, tu podes chorar hoje,

podes chorar amanhã, quando acontecer,

podes não chorar nunca,

ou podes desatar a chorar daqui uma semana

e nem sabes porquê,

é tudo válido.

É o primeiro contacto que eles tiveram com a morte,

porque graças a Deus não tem os avós todos,

e as pessoas que eu já perdi na minha vida,

não eram pessoas próximas deles,

realmente.

Houve muita conversa sobre a morte

e aquela coisa do que é que se passa a seguir,

e nós explicámos,

há várias culturas que acreditam em coisas diferentes,

e damos as opções todas, basicamente,

e a que vos fizer mais sentido,

é o que vai ser a verdade.

E então, eventualmente,

o que chegar a uma conclusão é,

nós vamos ajudar o cão a adormecer,

mas quando ele acordar,

acorda no céu.

Então foi assim a forma bonita

de descrever a coisa.

Claro, quando a médica chegou lá à casa,

aí o meu filho começou a chorar logo,

mas a parte mais difícil,

parte mais difícil,

e que me surpreendeu mais,

foi a reação do meu marido.

Eu sabia que os me diziam chorar,

eu sabia que eu ia chorar,

tudo mais.

A médica deu injeção

para convocar-me num sono profundo,

e só depois é que dá um injeção que para o coração.

Deu injeção,

um sono profundo,

e então o meu marido disse,

fui o que eu trouxe para aqui,

e eu aqui vou tirar daqui.

Portanto, eu faço questão

de ser eu a dar,

a última remédia.

Então ele é que pôs a agulha,

ele disse, pode-se dar,

muito vagarinho, muito vagarinho,

depois são dois minutos horríveis,

porque ela pediu silêncio,

dois minutos em silêncio,

a ver o coração,

para ver quando é que parava.

Passados os dois minutos,

ele diz, já está.

E o meu marido depois pegou no cão,

ele disse,

vai abrir a parte de trás da carrinha.

Ele pegou no cão,

foi lá para fora,

as crianças aceguíam, claro,

onde é que o pai vai levar o cão,

e não sei o que é,

e ele dá um berro.

Eles vão todos para dentro,

ele pôs o cão na parte de trás da carrinha,

deburçou-se sobre ele,

e começou a pedir desculpa.

Eu traí-te, eu traí-te desculpa.

Mas eles choraram para bem-reinvo.

Estamos a falar de um homem militar,

com força,

que já viu muita coisa,

mas era,

apesar de ser o nosso cão,

era o cão dele.

Foi ele que os escolheu,

fez-lhe surpresa,

mas não estava à espera,

não estava à espera dessa reação.

Não é que o meu marido não chora,

ele é uma pessoa super emocional,

e fala disso, não há vergonhas,

mas não sabia que ele ia ter

uma reação tão explosiva

na sua tristeza.

Foi interessante

conhecer essa parte dele

ao fim de 12 anos juntos.

Esse exercício de verdade

que tem com os vossos filhos,

parece ser essencial,

no sentido de que a vida é assim.

Claro.

Você não acredita em esconder

as realidades da vida mesmo,

porque um dia vão ter que

os aprender,

e que seja por nós,

pelo filtro que nós temos o cuidado

de pôr,

conhecendo quem eles são

como pessoas individuais.

E assim,

dizem,

um dia vão te partir o coração.

Aconteças a todos.

E um dia vais partir o coração a alguém.

Acho mais válvios ser honesta agora.

A vida tem alças e baixas,

as emoções têm alças e baixas,

as pessoas têm relações,

e depois deixam-me ter.

É normal.

Não faz da nenhuma pergunta.

A pergunta sobre a reprodução.

Mas lá está.

Eu sempre expliquei,

o homem tem sementes nos testículos,

a mulher tem ovos nos ovários,

e essas duas coisas têm que se juntar,

como em qualquer animal,

para o bebê ser criado.

A conversa ficou por aí,

há uns anos atrás,

que para mim,

ainda era muito cedo para ter a conversa

do como é que as duas coisas se juntam.

O meu filho disse,

mas como é que se juntam?

Ele disse,

quem quer fazer bolachas?

Vamos fazer bolachas?

Bora.

Até os dois quatro.

Também já disse ao meu filho,

tens razão,

há mais nesta história para contar,

mas eu não sinto ainda que seja a altura,

especialmente para a tua irmã,

mas eventualmente vamos contar

o resto da história,

mas vais-me prometer uma coisa.

Não vais para a escola contar aos seus amigos,

porque acaba aos pais contar,

e não é o teu trabalho

dizer isso aos seus amigos.

Portanto, vais ficar de bico calado,

senão não te conto.

Ainda não me contei,

mas é de contar.

Já está, já está,

ele tem 9 anos,

de explicar.

Gosto de pessoas,

aprender sobre as pessoas,

perguntar sobre elas.

Não gosto,

boro-lhes de uma pessoa a mastigar,

não aguento.

Boro-lhes repetitivos.

Isto.

Ou fazer assim com o pé,

que é só o que irrita.

Que me toca,

de uma forma repetitiva também.

Imagina o meu marido,

estamos a dar as mãos,

e ele faz assim,

imagina assim.

A sorte,

ou muda de sítio,

ou para.

Estás bem?

Agora,

é mais feliz do que na infância?

Não.

Sou igualmente feliz.

Tenho um problema,

que é...

Não é problema,

estou a brincar.

É um bocado

positiva para a arma,

sempre na boa.

Relativiza os problemas.

Mas também os vou guardando,

e deixo que me afeta

na altura certa,

que é usar para o meu trabalho,

que é a representação.

Todas as experiências

que nós temos na nossa vida,

vai para o saco de ferramentas.

Por exemplo,

o meu pai teve um AVC há 3 anos e meio,

um AVC esquêmico.

E um homem,

orador,

senhor professor,

respeitado por todos e todos

da profissão,

todos os pacientes,

todos os doentes de sempre,

adoram o meu pai ainda.

E melhor amigo,

meu conselheiro,

tudo.

E de repente,

passei a ser a cuidadora.

Apesar de já ter sido adulta,

e conseguir pensar

nas coisas de forma lógica,

é super traumatizante.

Super traumatizante.

Quando meu pai foi ao hospital,

fui lá a ter,

felizmente estava aqui a gravar a espia.

Fui ter com ele ao hospital,

e eu pensava que dali não passava,

pensava,

este é o último momento que vou ter

com o meu pai.

E lembro perfeitamente de pedir aos médicos

que iam fazer cirurgia,

de implorar quase,

ele é um dos voces.

Eu já salvo muita gente,

tenho que o salvar.

E conseguiram,

porque ele sobreviveu.

E isto está bem,

cogritivamente,

voltou a ser ele próprio,

falo com ele praticamente todos os dias,

fisicamente ficou mais afetado,

mas o meu pai é um tal como eu,

é um positivo palermo.

E está na maior,

está completamente na maior.

E depois da sua Covid,

que foi chato,

porque interrompeu muitas fisiotrampias,

e eu acho que ele poderia ter recuperado

um bocadinho mais,

se não fosse a parte do Covid.

Mas o mais importante,

foi que eu voltei a ter o meu pai de volta,

que é a pessoa em que eu posso ligar,

lembra-se de tudo,

presteve tudo,

lê tudo, vê tudo,

tenho um querido dificuldade em comunicar,

que ficou como querido,

fazia?

Fazia.

Mas falamos perfeitamente,

voltou,

lá estaria muito mais difícil

se a parte cognitiva

não tivesse voltado.

Porque aí parece que a pessoa

que era já não está lá,

mas está sempre sendo.

Felizmente eu estava cá,

quando aconteceu,

mas depois de ir-me embora,

costumava imenso,

eu sabia que precisavam de apoio.

E no lar dele,

com a mulher dele,

e com o filho dele,

ele é um dos pilares da casa,

e de repente ficaram só com dois.

E isso é super, super difícil,

portanto,

eu não só fiquei triste,

como filha,

mas fiquei triste pelo lar deles.

Porque depois,

quando começamos a imaginar logo,

foi o que que eu faria

se fosse na minha casa,

o que que eu faria se fosse eu,

o que que eu faria se fosse o meu marido,

alguma coisa assim.

Eu próprio entrei pelo um caminho

de vamos avaliar este corpo

todo agora,

para ver se alguma coisa genética

que possa ter influenciado o AVC,

porque me avisava ao Teve,

a minha avó Teve,

o meu pai Teve,

todos soveremos de enxaquecas,

e fiquei,

será que há aqui alguma coisa genética?

O AVC não é genética,

nós sabemos isso,

mas pode haver alguma propensão,

alguma formação de qualquer coisa no corpo

que possa provocar o AVC.

Porque então fui fazer

uma ressonância magnética

da cabeça aos pés.

Não tem nada,

está tudo bem.

Sempre que vem da Portugal,

faz a questão de reservar

tempo de qualidade com ele.

Sempre, sempre.

A minha equipa daqui,

digo sempre,

vocês têm até o dia X

para eu trabalhar.

A partir daí,

não há mais nada.

Já fui a pessoa

que dizia que sim a tudo.

O que vinha à rede é pés.

Hoje, felizmente,

posso me dar a luz

de ser muito mais seletiva

naquilo que faço.

E quando se passa

por um momento como esse,

que o teu pai passou

e que tu passaste também naturalmente,

dá-se mais valor

ao tempo que se gasta

com cada coisa?

Sim.

Mas ter-me ido embora

já me deu esse conceito

de valor ao tempo.

Porque se eu não estou

em Portugal a tempo inteiro,

logo tenho que aproveitar

o tempo que estou.

Portanto, se só estou cá um mês,

por exemplo, no verão,

como que se não me fazer,

quero aproveitar ao máximo.

O facto de ser sido mãe

dá-se mais valor à mãe

que a tua mãe foi para ti.

Mas a minha mãe

teve uma situação

muito mais difícil que a minha.

Para já era mais nova.

Tinha 25 anos,

quando me teve.

Não era miúda,

mas não tinha a vida estabelecida.

O meu pai

fazia bancos

de assim e de não.

A minha mãe e meu pai

estavam a ver

nos Estados Unidos na altura

quando eu nasci.

Eu não tinha uns avós

por perto, não tinha nada.

A minha mãe estava a fazer

o mestrado,

com o bebê resanachido.

Ela ia comigo para a escola

nas costas.

Date para o Los Angeles

era um ato de amor.

Claro.

Filha única

e são os únicos netos sim,

está reformada.

E infelizmente,

os meus avós já faleceram.

Não fazia sentido ficar

em Portugal.

A vida dela soy eu e os netos.

Entretanto,

também se casou

com o segredo americano.

Foi ele foi sorte

que se conheceram

numa altura...

Foi mesmo o momento

do Covid que se conheceram.

E deu certo.

E ele é amoroso.

Adoram-se,

são super felizes

e compraram caso para o pé

de nós.

Ele também tem dois filhos

que vivem na California.

É, portanto, foi sorte mesmo.

Foi sorte mesmo.

Aqui, com esse sentimento sempre de latente, das saudades.

Eu consigo separar.

Eu sou um cavalo de corrida.

E quando faz assim...

E começa a corrida, é ali, a meta está ali.

Quando a meta chegar ali, aí eu vou dar os abraços à família, vou se liberar e tudo.

Claro que eu tenho saudades, falava com eles todas as noites.

O facto de estar em 8 horas a menos ajudou,

porque, quer dizer, acabávamos a 1 ou 2 da manhã de gravar.

Eu ligava para eles e estavam todos acordados ainda.

Portanto, esse horário até deu certo.

O que é que te tem mobilizado mais?

As intuções matam mais nos traidores.

Já conheci o formato e já gostava do formato.

A parte misteriosa, a parte psicológica de influências e manipulações,

mas ao mesmo tempo, é um estudo de psicologia humana super interessante.

Todos os concorrentes foram criando laços verdadeiros.

Estamos aqui para jogar.

Isto é só um jogo.

Há traidores que têm a sua missão e está-se bem.

Isto é um jogo e não tem problema.

E isso é uma dicotomia psicológica complicada para quem tem integridade.

E isso viu-se muito nos concorrentes.

Começou-lhes a gostar muito aos traidores em particular,

continuar a trair pessoas de quem já começavam a facefar.

E eu até achei isso bastante bonito,

porque apesar de saber que é um jogo, não te quer trair.

E agora chegou o momento de eleger os traidores.

Eu só quero dizer aqui uma coisa.

Eu estou habituada às equipas técnicas americanas.

As nossas equipas técnicas em Portugal são tão incríveis,

porque fazem tanto ou mais do que fazem nos Estados Unidos

com muito menos horas de sono, menos dinheiro, menos equipamento.

E eu estava a falar com vários dos técnicos durante a gravação dos traidores

e nós passamos para fazer isto da forma como nós fazemos.

Só por paixão.

Quem está aqui tem que ter uma paixão enorme por aquilo que faz.

E tenho mesmo.

Tinha que dizer isso, porque eu tenho um amor enorme pelas equipas técnicas aqui em Portugal.

Trabalham tão bem mesmo.

Até me senti emocionada a falar disto.

Gosto de dobrar a minha roupa ou de apendurar de volca ao fim do dia de trabalho,

porque respeito o trabalho do guarda-roupos.

Eu não gosto, mas está parada.

Portanto, gosto de estar sempre em movimento, fisicamente,

como na caseira, como o mãe, como a mulher, como a esposa.

As uma mulheres de fazer balanças, de olhar para tudo o que já fizeste

e para o que está para vir, mas perceber onde estás em cada momento.

Sim, acho importante para ter uma estratégia de vida

dentro daquilo que conseguimos controlar.

Convém-se a saber onde é que está que estivermos, onde é que estamos

e com isto, para onde é que se pode ir.

Há uma coisa que eu me lembro de dizer na entrevista na escola de dança na manjericão.

O que é que os teus olhos dizem?

Tenho fome demais.

Os meus olhos ainda têm fome demais.

E não é porque o que eu tenho não chega.

É só porque isto é tão bom,

está cá mais bom.

Esta fatia foi tão boa, está cá mais.

Também tento ser super realista comigo,

no sentido em que, atenção,

não te podes ver com os mesmos olhos.

Não te podes ver com os mesmos olhos que o público te vê.

Porque eu sinto muito que em Portugal em particular,

porque conhecem desde os meus 16 anos e viram-me crescer

e viram o sucesso profissional que tive a sorte de ter.

É uma das nossas que está a conseguir aquilo.

Exatamente.

E eu tento representar sempre Portugal da melhor forma.

Nunca escondo que estou portuguesa.

Mas, por vezes, sinto que me põe num pedestal maior do que aquilo que mereço.

Não é porque me desvalorice.

Basicamente, nós temos uma balança na cozinha.

Quando ligamos a balança, ela está a zero.

Pôs-me a de gela, ganha o peso da de gela, põe-se a comida, o peso da comida.

Quando ligamos a balança com a tigela já em cima,

ela começa no zero.

Mas a tigela está lá na mesma.

É assim que se faz, que é para pesar-se só a comida.

E essa tigela passou a ser o NCIS Las Angeles para mim.

Ou seja, estava lá, mas era a minha estaca zero.

Não já não era a minha estaca dez.

Pronto, e então fazia-me falta mais.

Por exemplo, lembro-me perfectamente.

Há uma revista em particular boa.

E estava planeado talvez fazer a capa dessa revista.

E lembro-me de falar com a minha rapá que ia fazer assim.

Por que que eu vou fazer a capa dessa revista?

Então, por que isso?

Sou triste, mas só sou triste.

Realmente, quem está na capa dessa revista

engloba mais do que só uma coisa, profissionalmente.

E eu não sentia então que merecia,

ou que valia a pena gastar esse cartucho,

em fazer a capa dessa revista.

Quando eu sabia que ainda havia várias coisas que eu queria fazer

para fazer-me crescer dentro da minha profissão.

Não tinha realizado nada naquela altura,

não tinha produzido nada naquela altura,

mas sabia que tinha que haver mais.

Quando só olhar a distância, parece fácil.

O que tu tenhas chegado lá, não olhar mais cru.

Consegui o papel na série e... e... e a tigela dela.

Não foi fácil, não.

Houve muitas negas até lá chegar.

Mas, felizmente, o que tem acontecido ao longo dos últimos 14 anos

é o quantidade de trabalho que agora se faz,

por causa das plataformas.

E, portanto, há trabalho.

Nós, como pessoas criativas,

podemos sempre criar o nosso próprio trabalho.

Nós podemos criar o que quisermos.

Ter essa criatividade.

Há YouTube, TikTok, Instagram.

Há várias pessoas que conseguiram te mostrar a sua criatividade

e, eventualmente, arranjar trabalho por isso,

ao postar as suas coisas que são originais diferentes

e que ganham visionamento,

há pala de ser bom.

Ok, é preciso dinheiro. Certo.

Mas para a ideia não, né?

Mas para a ideia não, exatamente.

Ninguém me tem que pagar a mim para escrever um guião.

Ninguém me tem que pagar para pegar uma câmera

e filmar qualquer coisa.

Isso cabe-me a mim.

Não tenho um curso de realização.

Eu não fiz um curso de cinema,

eu fiz um curso de representação e dança.

E, então, comecei a ler

o livro do Sidney Lumet, Making Movies,

o livro do Oliver Stone,

a ver tudo o que eu conseguia ver no YouTube.

O Quentin Tarantino já disse,

a melhor coisa que tu podes fazer como realizador

é arranjar essa melhor equipa à tua volta,

comunique-as aquilo que queres ver na imagem

e, depois, o diretor de Segurifia vai te arranjar essas luzes,

os câmeras vão fazer, não sei o que, as lentes, etc.

Tu não tens que saber essas coisas técnicas.

Eu disse que não tenho, mas vou.

Não te mexe, vou.

E dirigir as pessoas com o que eu trabalhava foi te confortável.

Foi.

Eu não faço nada de sentir a certeza que quero fazer.

Todos temos medos,

todos temos receios,

temos dúvidas.

E eu deixo passar essa fase

e, depois, é que digo,

bora.

Portanto, quando eu chego ao trabalho,

neste caso, a dirigir colegas,

já estou segura que o vou fazer

e como quero fazer.

E como quero fazer

é ter uma mentalidade aberta,

porque os atores são seres humanos,

todos precisam de uma coisa diferente,

terem que ser incomunicados de formas diferentes.

Há pessoas que é só um bocadinho mais ritmo.

Não preciso dizer mais nada, já perceberam.

Outro é falar de uma forma um bocadinho mais redonda

de explicar onde é que veio antes

e por que que estamos aqui agora,

talvez, falar mais nas circunstâncias.

Uns precisam mais espaço,

outros gostam de um bocadinho mais mal agarrada.

Tu como é que és?

A ser dirigida.

Eu gosto, gosto de direções.

Mas, por vauturas,

é que me deram um apontamento que diz assim,

isso não faz muito sentido.

Explica-me por que que tu queres que eu faça isso,

não estou a perceber bem.

E lhe pensam, vou-te dar uma a fazer assim

como tu estás a pedir,

e depois vejo se fico orgânico ou não.

E faço, e às vezes sou errada.

E funciona bem.

Já há algum hábito português que tenhas imposto ao tamari?

Infelizmente, não me gostam da calhar.

Eles não me gostam.

Ele começa logo a comparar com um prato norueguês,

porque ele é de origem noruegueza,

que é o Luda Fesque,

que também é um peixe qualquer,

e no caso deles, que cheira mal.

Oi, David.

Mas com a minha mãe lá, já ajuda,

porque ela cozinha a tua vida em novembro,

pela primeira vez.

E pronto, minha mãe fez um bacalhau com o Nato,

e foi muito bom para a minha recuperação.

Casar em Portugal foi um sonho?

Foi.

Por que?

Querias casar cá?

Para começar, a minha família é muito maior do que a do Dave.

Logo, seria mais fácil pedir-nos

que viajassem a ter aqui do que ao contrário.

Foi aqui que eu cresci,

e o casamento do Dave adora Portugal também.

Acho que, se calhar também,

que casar de uma forma mais logística e fria,

tivemos mais possibilidades dos passos.

Nós casávamos no Farol Design Hotel,

no espaço que era o antigo Coconates em Cascais.

Eu diverti-me no Coconates, sem miuda.

Trabalhei no Coconates depois da faculdade,

e depois casei-me no espaço do Coconates,

porque para mim tem uma história muito engraçada.

Em uma brinça de agi, não me conta ninguém

que estamos a casar num espaço que se chama Coconates.

Eu tenho um amor, mas é o que é.

E o facto de ter sido um sonho foi porque

não só consegui mostrar às pessoas

que vieram o país de que tanto falo,

vieram as pessoas que todas nós adoramos mais profundamente

para não estar rodeada dessas pessoas em Portugal,

na minha vila das Cascais, na minha cidade,

e depois foi um sonho também porque foi meu pai

e o meu sogro que nos casaram,

para não poder ter sido mais pessoal.

Meu pai trouxe as tradições mais daicas,

e o pai dele, as tradições deles.

Foi uma mistura muito bonita na casamento.

A forma como eu compare sempre

as nossas feitios é, eu sou um balão délio.

Ou seja, ele é o meu fio,

para não deixar-me voar, mas não vou ao calhas.

Ele é definitivamente uma estabilidade enorme para mim.

Eu sempre fui desorganizada, sempre fui desarrumada.

É um facto.

E quando temos filhos, e trabalhamos,

e temos que girar numa casa,

e não há alguma organização,

ou forma de fazer as coisas estruturadas,

perdemos um bocadinho nas nossas próprias vidas.

E ele trouxe-me essa estrutura,

e eu acho que isso também traz imensa segurança às crianças,

às crianças que não têm estrutura em casa,

não se sentem seguras,

não sei se as outras pessoas têm isto,

mas eu pelo menos na minha cabeça sempre tive.

Gostava que o meu parceiro de vida fosse de uma certa forma,

tanto psicológica como emocionalmente, como fisicamente,

e ele, quando o conheci,

ele me disse,

para reproduzir.

É isso,

crianças,

porque vão ser muito afichos.

E há romantismo em ti, ou mais pragmatismo?

Claro, claro, claro.

Tenho um lado romântico, e ele também,

mas é engraçado, porque ele não é um romântico

de trazer filhos para casa, nem olha,

vamos fazer um date night de filhos das velas,

e não sei o que, mesmo se estando ocupado,

ou eu estando ocupada,

eu tenho que estar juntos por dia, a telefone.

Pensou em mim e que eu me entrei, ligou-me.

Está a caminho daqui, ligou-me.

Quer que você seja para falar das coisas da casa,

ou, olha, só para dar um beijinho.

Para mim, é um romantismo mais ativo, e adoro.

Ele, por exemplo, se nós temos que ir para um sítio de carro,

o quality time,

o tempo de qualidade passado juntos,

para mim, o tempo de carro conta.

Era o tempo de conversa.

Eu sinto muito isso, para ti, eu prefiro

dar uma volta de 20 km para arrumar o carro,

irmos os dois do que iremos em carros separados.

E ele percebeu isso muito cedo,

e agora também faz questão de fazer isso.

Não por ele, mas por mim.

É tão bom estar ali no carro de mãozinha agarrado,

ouvir música ou fazer jogos no carro com os miúdos.

Eu adoro.

Como é que fez Portugal à distância?

Com o que olhar?

Nostálgicos, saudades, família, casa, lar.

Nós fizemos uma viagem de helicópteros nos traidores.

Começamos a ver a vista daquela zona da Alcubassa.

De ele índice em ver um mistério de cima,

e de repente senti uma paz de espírito

dentro daquele helicóptero.

A família do lado do meu marido

foi tipo, eu estou em Portugal

com saudades de Portugal.

Fiquei com saudades de uma coisa que ainda está ao pé de mim.

Já estava com aquela ansiedade

de foda que uns dias vão me embora.

Eu prefiro ir sem eles ter comigo,

mas os miúdos ainda estão na escola, não pode ser agora.

No verão, nós voltamos no verão.

Por que é que te falta tempo?

Para mim.

Olha, até estou a dizer,

em dezembro de 2019

tive uma mini depressão,

diga mini, porque

acho que foi apanhada a tempo,

no sentido em que não se aprofundou

ao ponto de eu não funcionar.

Comecei a sentir-me super emocional sobre tudo.

Sentia-me constantemente triste,

mas não sabia porquê, porque não tinha acontecido nada em particular.

Triste, chorava por tudo e por nada.

Recordei uma menina das duas da manhã,

porque eu já tinha saído da cama,

tinha ido para a casa de bem, chorar, chorar, chorar,

chorar, barbá e rei.

Voltei para a cama, não conseguia dormir.

Acordei-me e disse, olha, preciso que falas comigo.

Lá está ela, meu parceiro, é a minha estabilidade.

Estou uma sentida desequilibrada,

preciso que falas comigo sobre o que quero que seja.

Não tem que ser aquele assunto em particular.

Fala comigo, estraima.

Começamos a falar e lá consegui descansar

e relaxar e adormecer,

mas não me estava a sentir feliz.

Havia ali uma depressão qualquer que se estava a desenvolver.

Decidi ir a uma psicóloga,

explicar-lhe tudo, falar tudo

e ela disse

aquilo que eu sinto é que está a faltar tempo para ti.

Quando desatas a chorar e vais a correr para a casa de bem,

é o teu corpo a obrigar-te

a ir para estar-te tempo sozinha.

Oh!

O que é que começou a parte da tristeza?

Foi o meu marido desco a casa onde ele disse assim,

olha, sabes, não sei quantos perguntou-me,

quais é que são os teus hobbies?

Eu sei o que é que tu gostas de fazer,

mas não sabia o que é que ele havia de dizer.

Fiquei assim, eu não tenho hobbies.

Tudo o que eu faço é para os outros.

Claro que eu adoro-te o trabalho que faço,

mas o trabalho é uma coisa que tem que ser.

Depois o horário é em relação ao horário das crianças.

A comida é para as crianças.

O trabalho de casa, fazer a roupa,

ou então vivemos para os nossos parceiros de vida,

não é? Tipo, o que é que tu queres fazer hoje?

O que é que te apetece? Não sei o que é.

E eu percebi-me que tudo o que eu fazia

não era em função a minha, era em função

ao mundo da minha volta, o meu mundo.

E pronto, uma vez que me percebi

que o problema estava aí, resolvi-o,

comecei a fazer questão de passar mais tempo sozinha.

Hoje vais-te buscar os meitos à escola.

Olha, eu vou fazer uma mensagem sozinha.

Vou fazer uma aula de não sei o que,

mas depois entrou a realização que me inspirou,

porque para aí já senti...

Os cavalos de corrida são assim.

Eu tenho corrida na baia, eu não consigo.

Eu sou super feliz a trabalhar.

Eu sou super feliz a trabalhar.

Que estrelas mais te impressionaram?

Sempre fui super fã do Ricky Martin,

e vou te dar uma fotografia para tu poderes pôr aqui na edição.

Que sou eu com 14 anos, sentada na minha cama,

calça aberta, tipo, a cozer qualquer coisa naturalmente

porque eu adoro costura, e com um bruto posta

do Ricky Martin na minha parede mesmo atrás de mim.

O que acontece?

Bom, passado.

Está uma produção na Paramount.

Ao lado da nossa, de repente,

quem é que sai da rolata da maquiagem?

Ricky Martin.

E de repente fui uma menina de 14 anos,

outra...

Estou eu, Ricky Martin.

O que acontece?

A cabalera que trabalhava com o NOSCO

era a minha amiga da cabalera,

que estava a trabalhar naquela produção.

Então, é assim.

Queres saber o que aconteceu?

Quero.

Pronto, e lá arranjámos um momento

em que eu sou super cool, tranquilo,

mas aqui estou com os fones assim,

porque estava a preparar para realizar um quizato.

Com a confiança,

mães falsas que eu já tive na minha vida.

Uma brasa, super giro,

falámos os filhos, etc.,

e disse, olha, tenho que mostrar esta fotografia.

E mostrei-lhe a fotografia.

E eu disse, ah, então,

isso foi o princípio agora,

temos que tirar uma agora.

O ano depois, eu disse, ah, sim,

querido, bora lá, tirámos minhas fotografias os dois,

e voltei para a nossa cabalera em maquiagem,

deixou a porta e eu...

Bem, melhor amiga Ana,

Marta, olha, olha.

Há 13 anos, dizias, que o futuro mudou.

O futuro mudou no sentido em que agora

deram um contrato sete anos.

Impede-me fazer outras coisas, claro,

não posso ir viajar quando me apetece,

sei lá, casar e ter filhos, por exemplo.

Agora, também, está sempre a mudar?

Está, está sempre a mudar,

nomeadamente, nesta profissão,

é impossível prover completamente as coisas.

O que é que te preocupa no mundo?

Agora, política, economia,

que os meus filhos cresçam no mundo

que não foi um mundo em que eu cresci,

por um lado, não é?

Digamos assim, os direitos das mulheres

estão a ser mais reconhecidos,

se bem que as leis do aborto

em alguns sítios não estão, infelizmente.

Acho que os dois lados estão a falar super alto agora.

Xenofobia está a crescer imenso,

o antissimitismo está a crescer imenso,

anti-immigrante,

leis de controlo ao corpo da mulher,

contra a comunidade LGBTQ Plus,

essas vozes estão a crescer muito.

Mas estas também estão,

estas já estão a ganhar muita força,

felizmente. Custa-me perver para que lá é que o mundo vai agora,

e isso assusta-me nesse sentido,

porque eu já sou ser humano formado,

mas os meus filhos ainda não são.

E então estou a tentar formá-los dentro daquilo que eles são.

Um pastor não forma a ovelha.

A ovelha já existe.

O que pode fazer é, não vá para ali que é perigoso,

vem para aqui que tens segurança,

vai ajudando a ovelha a sobreviver

e a perceber qual é o caminho mais seguro e certo.

E nesse sentido, os pais, enquanto as crianças são pequenas,

são os pastores e as crianças são as ovelhas.

Elas nascem como são, com um feitio particular delas.

E nós depois ajudamos a moldar para que sejam adultos de sucesso

no mundo sucesso,

emocionalmente, psicologicamente, profissionalmente, o que sejam.

Nas relações que tiverem com outros,

acho que a parte que assusta é simplesmente não saber o que é que vai ser o mundo

quando forem mais velhos, o que é que será o futuro deles,

não da minha parte, mas da parte que não é controlada por nós.

Alguém te deva um pedido de desculpas?

Não.

Tu pedi desculpas a todas as pessoas a quem queres pedir?

Sim.

Porque peço logo.

Eu não gosto das coisas não resolvidas,

eu não tenho vergonha

e tome perfeitamente responsabilidade

pelas minhas ações e as minhas palavras.

E por vezes até para se agitarem.

Às vezes digo coisas que, se calhar,

podem amaguar sem querer, porque sou demasiado direta,

e não me percebi que amagou,

até homens chamarem a atenção,

alguém dizia, vou descer aquilo nosso aqui.

Pois fui, pera lá.

Olha, aquilo que eu te disse é imensa desculpa,

não foi nada disso que eu queria dizer,

ou não foi com esse tom,

ou isso foi o que quis dizer com aquilo,

mas sim, diretamente, sim, não gosto.

Que coisa te deixa mais feliz na vida?

Eu acho que o que me deixa mais feliz na vida

é saber que os meus filhos são felizes e saudáveis

e que, pelo menos por agora, tenho feito um bom trabalho

como mãe em parceria com o meu marido,

de facto de poder fazer aquilo que eu adoro

e ganhar com isso.

Se te fosse garantido uma resposta,

uma qualquer pergunta tua,

o que é que tu querias mesmo saber?

As coisas que eu não posso controlar, não questione.

O que é que nos acontece depois da morte?

Não tenho.

Não tenho essa curiosidade.

Eu acho que viva a vida de uma forma tão cheia, tão boa,

quando acabar acabou, olha.

Não tenho medo desses futuros.

Não tenho receios profissionalmente.

Sempre aquela menina de dúvida,

será que vou trabalhar outra vez,

mas como estou a tentar criar as minhas próprias coisas,

também estou a fazê-lo por mim,

portanto se vier a mais de fora ainda melhores,

e acho que financeiramente vivemos

de uma forma muito conservadora nestes anos todos.

Nós fizemos as contas.

Se eu ficasse em trabalhar xis anos,

tá?

Tá.

E consegue agarrar os momentos?

Desfrutar os momentos bons quando estão a acontecer?

Mm-hmm.

Consegue.

Tive a sorte de ter dois pais super positivos.

Ou herdei, ou aprendi-se com eles.

Claro que me vou abaixo,

pois enquanto já falámos disso,

não é possível estar 100% feliz todo o tempo.

Mas as coisas boas da minha vida

superpõem-se um milhão de vezes sobre as coisas menos boas.

A felicidade é isto que estás a sentir,

que estás a viver?

Eu diria que sim.

Estou a fazer tudo o que sempre quis fazer,

quis ter filhos anos dos 30,

meu filho deixou em dezembro,

quando eu fiz 30.

Portanto, técnicamente,

estive grávida durante os 29.

Sempre quis ser dois filhos,

sempre quis ter um tocado,

um rapaz e uma rapariga,

em relação ao meu parceiro de vida.

Você me perguntaria uma vez,

achas que se o teu irmão não se tivesse juntado a sério,

e se não tivessemos trabalhado juntos,

que nos tínhamos juntado?

E ele?

Claro que não.

Lá vem a lógica e ele,

não, como é que a gente se conhece?

Portanto, não era suposto?

Sim, eu estou super feliz.

Sinto-me super realizada

em todos os sentidos da palavra.

Mas lá está,

eu não fico sentada só

porque já realizei muitas coisas

que queria concretizar.

Falámos quando estávamos na casa dos 20,

falámos no ano em que fizeste 30,

falámos a falar no ano em que vais fazer 40,

como é que vai ser daqui a 10 anos,

quando falarmos outra vez?

Acho que nesse caso,

a conversa sobre os filhos vai ser diferente,

porque vai ser,

ai são adolescentes,

chatos,

não me ouvem.

Espero ainda estar com o meu marido,

Dave, don't leave me.

Don't leave me.

Não, nós nunca nos vamos deixar um a outro,

nunca, jamais.

Olha aí,

isso é uma coisa que me assusta.

Alguma vez,

num mundo na vida,

não ter ao pé de mim.

Ele tem mais 8 anos do que eu,

já disse,

tu não podes morrer,

até aos 98,

porque eu faço questão de chegar aos 90.

E depois morremos os dois ali,

agarradinhos,

a Titanic, na caminha,

os dois, a dormir,

os dois, pomba,

e vamos fazer os dois.

Então, não vou viver sem ti.

E ele sente o mesmo.

Nós falamos isso de vez em quando,

tipo, imagina,

eu venho para aqui,

ele dizia,

pai, imagina isso,

eu conheço algo de uma coisa

nesta viagem,

mas o que eu fazia sem ti?

Isso eu também não sei.

E vamos resolver o assunto,

mas também não saia uma fácil ideia.

Quando ele ia para as viagens,

ele fazia, por exemplo,

segurança nos barcos,

que iam para a costa da Somália,

porque ali eu tenho muita pirataria,

para, às vezes,

quando lá ia,

antes de termos filho,

um mês inteiro.

Ah, sim.

Quem gostaria que os seus filhos

dissessem que foi a mãe?

Eu acho que essa mensagem

talvez fosse um bocadinho diferente

de cada um,

mas eu gostava que ela dissesse

a minha mãe e mostrou-me

que tudo o que nós

quisermos fazer

é possível.

Há tantas pessoas que acham

que para poder ter uma família

a 100%

tem que abdicar-la

a uma coisa profissionalmente,

ou vice-versa.

E conheço muitas pessoas assim,

e não é uma crítica.

É o que elas acham,

é o que elas sentem,

é a escolha que fizeram.

E eu fiz que gostavam

de fazer as duas coisas

a 100%.

E quero que eles sabam

que isso é possível,

se é o que querem.

E a minha mãe foi criativa

conosco,

mostrou-nos o mundo,

mostrou-nos que tudo é possível,

deu-nos várias culturas,

que viveu a sua vida a 100%.

E que nós também podemos.

O que é que dizem?

Os teus olhos?

Quero mais.

Mesmo.

Eu não consigo estar parada.

Obrigado.

Estou daqui a 10 anos.

Não, mas eu quis.

Não, eu vou te entrevistar

aqui antes disso.

Também, também.

O que se vê?

Farias?

Não, pense que não.

Mas por que?

Já que está a começar, é isso.

Não.

Muito obrigado.

Muito obrigado.

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Daniela Ruah ganhou grande projeção como atriz quando se estreou na série Investigação Criminal: Los Angels. Pouco mais de um ano depois, estava a ser entrevistada por Daniela Oliveira no Alta Definição. Era uma jovem de vinte seis anos, com o desejo de ser mãe e grandes ambições. Treze anos depois, regressa ao programa numa nova fase da vida: teve dois filhos, despede-se da personagem Kensi Byle e estreia-se como apresentadora no novo programa da SIC “Os Traidores”. Continua com vontade de mais e garante que não vai ficar parada. “Eu sou um cavalo de corrida”, avisa. Desta vez, no Alta Definição, fala sobre os desafios de estar longe da família e da maternidade. Confessa que teve o início de uma depressão e revela como a ultrapassou. Ouça a conversa em formato podcast. Este episódio foi emitido na SIC a 15 de abril.

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