TSF - Minoria Absoluta - Podcast: Confronto entre PCP e Metsola e o titânico caso de um submersível, com Daniel Ferreira e Bianca Castro

TSF Radio Notícias TSF Radio Notícias 6/24/23 - Episode Page - 33m - PDF Transcript

Na primeira semana, sem audições, na Comissão Parlamentar de Inquérito, o ATAP, os dias

ficaram marcados por um submersível e as buscas de vários dias pelo TITAN, que realizava

viagens aos destroços do TITANIC, é um dos temas para o minoria absoluta de hoje, com

a Bianca Castro e o Daniel Ferreira, mas primeiro começamos com a troca de palavras

entre o PCP e a presidente do Parlamento Europeu sobre a guerra na Ucrânia, que pela primeira

vez um presidente do Parlamento Europeu participou num debate plenário na Assembleia da República,

e Roberto Amé de Sola ouviu o PCP acusar a União Europeia de escalar a guerra, Roberto

Amé de Sola respondeu e sugeriu ao partido que visitasse o território ucraniano.

Começamos, claro está pelo Daniel Ferreira, a quem me pergunto, em primeiro lugar, se na

tua opinião faz sentido que a presidente do Parlamento Europeu discurse no nosso Parlamento

na Assembleia da República?

Bem, olá Francisco, olá Bianca, é sempre muito bom estar aqui, anos de mais.

É sempre um gosto.

E suponho que o Pássior Amé de Sola também seja sempre um gosto de ir ao Parlamento Mais

Europeu da Europa, não sei, não foi uma cadeia assim que a senhora disse.

Bem, quer dizer, isso da Senhora Amé de Sola ter vindo de discursar ao Parlamento

Europeu, não parece que fosse por princípio...

Foi a primeira vez.

Sim, claro que foi a primeira vez, é assinalável, mas não parece que fosse um motivo para polémica,

tanto não houve polémicas levantadas da outra disso, ou pelo menos relevantes.

Então vamos à polémica.

Paulo Santos referiu-se a Roberto Amé de Sola como hipócrita e arrogante, isto depois

desse discurso na Assembleia da República, cedeu-se a líder parlamentar do PCP ou concordas

com estas palavras?

Eu acho que a líder do Parlamento do PCP simplesmente respondeu e categorizou o discurso

da Senhora Amé de Sola com alguns adjetivos que nós podemos concordar ou não.

No meu caso alguns parecem que foram bem utilizados, mas no fundo a Senhora Amé de

Sola não foi ali fazer nada de muito diferente daquilo que se esperava, foi cumprir o subapelto,

vender os interesses e posições que são os oficiais da União Europeia e das grandes

famílias políticas europeias.

Ela pertence a uma delas do Partido Popular Europeu, que é e tem sido, pelo menos desde

que começou a guerra da Ucrânia, uma de conflito, de tentativa de total a oposição

de blocos, de divisão total do mundo e onde se, no que toca a guerra, se tem uma posição

que é o esmagamento militar e financeiro de um país porque não se acredita em negociações,

porque este país está a invadir o outro, como este país está a invadir o outro não

há espaço para negociações, há espaço sim para um esmagamento militar e financeiro

e para sanções e tudo mais mesmo que isso acaba por afetar menos os responsáveis pela

guerra do que o povo russi, já agora o povo ucraniano que não pelas sanções mas também

se está a ser claramente o povo mais afetado pela guerra.

Esta fórmula ao longo do século XX como se viu e mesmo no início do século XXI normalmente

não produz grandes resultados mas a União Europeia continua a acreditar firmemente nisto

e foi isso que a senhora Metzola veio transmitir e quando ele foi apresentado do outro lado

por apenas um partido que ainda por cima tem uma bancada claramente minoritária, obviamente

que pode ter um discurso mais, digamos, agarrido, aceso sim, podemos usar os eufemismos que

quisermos, porque de facto o mais simples é falar assim para quem está do outro lado

quando se tem uma oposição que é quase unânimo mesmo no Parlamento de Português e especialmente

Bianca Castro, faz sentido quase um anime e depois do início da guerra continuarmos

a discutir quem é que tem a culpa desse início da guerra?

Para já a guerra também não começou só a um anime, já vem desde 2014, já vem desde

2014.

Estendeu só o restante território em fevereiro do ano passado.

Exatamente, eu acho que eu quero começar por falar também e eu sei que já vou tocar

aqui um bocadinho no nosso segundo assunto mas só para fazer já uma ponte de que este

discurso foi feito na mesma semana em que vimos a tragéria sobre os refugiados na Grécia,

não é?

E o discurso da Metzola teve muito a ver também com elogiar o acolhimento dos refugiados

ucranianos e tudo mais e depois em relação ao desafio que ela também fez, a deputada

do PCP era vir também fazer de um desafio a ela para ir também a outros países e

explicar a responsabilidade da União Europeia numas outras guerras, não é?

Por também ver logo a partir aqui do início uma certa hipocrisia nas suas posições.

Porque no fundo o apoio que quase toda a Europa dá aos refugiados ucranianos depois

não se transmite noutras guerras e este apoio é suportado pelos mesmos governos que tratam

refugiados de países como a Síria, a Iraka, Afganistão, a África e etc. com crueldade

e com racismo.

Portanto, desde aí já há aqui imensas contradições.

E depois quero pegar também uma coisa que o Daniel já falou mas sobre como a guerra

no fundo transforma-se no negócio, não é?

Portanto é um negócio para a indústria das armas, com uma corrida a elas e também

para as multinacionais do petróleo que causa, tipo estamos a ver, lucros milionários cada

vez mais e portanto todas estas medidas que estamos a ver e que ela também apoia não

só vão alimentar cada vez mais a guerra e o armamento, como vão também adiar coisas

como uma transição energética e fazer com que as pessoas aumentem o custo de vida

das pessoas e aumente bens essenciais, aumente o custo de energia e no fundo lá está.

Sabemos que quem vai pagar estas guerras são os povos de âmbitos dos países afectados.

Portanto, a guerra não serve os povos, não serve os trabalhadores, serve aqueles que

estão a alimentá-las.

É claro pra ti que caso a Ucrânia não tivesse apoio de vários países, incluindo Portugal,

teria perdido a guerra logo desde o início?

Eu acho que lá está estes apoios que estão acerdados nem estão propriamente a apoiar

o povo ucraniano, estão a alimentar uma guerra, tanto que esta guerra é uma guerra entre a

guerra, pronto, é uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia, mas também mete aqui um bocadinho

também entre a Rússia e os Estados Unidos e entre a NATO e a União Europeia, não é?

Estamos a ver todas estas ligações aqui também.

Agora, se estes apoios não tivessem acerdados, se perderia logo, não sei, acho que apoios

a serem dados têm de ser apoios que realmente ajudem a que haja estas negociações, que

o Daniel está a falar, para conseguirmos um acordo que realmente alcança o melhor

possível a paz em ambos os territórios, em vez de continuar cada vez mais a destruição.

Mas há negociações possíveis quando um país invade o outro e os dois países já

se sentaram à mesa, não entendo tu, nunca chegaram a um consenso, nem se espera que

cheguem a esse consenso brevemente.

Não se espera, acho que também é questão de não desistir dessa via e continuar a alimentar

cada vez mais, porque quando continuamos a ver que todos os apoios que são dados

é cada vez mais armas, mais financiamentos para o conflito armado, não há espaço para

outra coisa.

Daniel, faço também uma pergunta.

Tens noção, se a guerra teria ficado acabada logo no início, por uma vitória, provavelmente,

da Rússia, caso a Ucrânia não tivesse tido todo este apoio?

Bom, não diria com tanta certeza que a Ucrânia não resistiria a passar de um ano e meio,

porque a Ucrânia não tendo também da Rússia, não deixa de ser um país grande e ainda com...

Eu recordo que nas primeiras noites de fevereiro, quando começou esta guerra, dizia-se que

a Rússia ia tomar Kiev logo naqueles dias.

Sim, sim, sim.

Mas não acredito que assim fosse ainda que não tivesse tido apoio, obviamente a Ucrânia

teria menos força militar e negocial nesse caso, mas não diria assim, com toda a certeza

que passava de um ano ou um ano e meio, não estaríamos em guerra.

Por acaso, se me permites fazer aqui um parênteses, ah, porque eu esqueci muito falar da questão

das viagens do PCP.

É muito engraçado, eu acho que alguém, algum empresário devia por os olhos nisto, porque

as viagens recomendadas ao PCP são algo muito comum.

Normalmente acontece quando o PCP solidariza com um povo que está a sofrer e diz-se ao

PCP que devia visitar isso para ver o sofrimento das pessoas e porque é que nós devíamos

apoiar.

No entanto, neste caso, a Senhora Metzola disse que o PCP não apoia ou não solidariza o

suficiente com a Ucrânia e por isso também devia viajar para lá, portanto acho que as

pessoas do PCP deviam ser muito viajadas e acho que alguém devia pegar nesta ideia.

Mas ainda em relação à guerra em si, eu acho que aqui a questão das negociações, é

verdade que as negociações já falharam muito, mas isso tem a ver muito com ambas

as partes não estarem realmente dispostas a negociar e não é só da parte da Rússia

que não quer parar com agressão, nem é só da parte da Ucrânia que se recusasse de

território.

Simplesmente não há nem de uma parte nem de outra, por muito que os partidários

cada um dos lados anunciem que o seu lado está depois de negociar, mas o outro não

cede, não me parece que haja um esforço real de nenhuma parte, por mais que ambas

as partes falem, obviamente, em paz.

Qual aqui é a chave para a paz, na tua opinião?

A chave para a paz tem que estar dos dois lados, tem que ser um fim desta escalada

e desta corrida.

O Ucrânia tem que ceder território à Rússia?

Eu não sei se o Ucrânia tem que ceder território à Rússia, depois são questões que se

têm que resolver entre os diplomatas das países até portanto todas as negociações

têm que passar por cedências territoriais, por saídas de alianças militares, podem

ou não passar por aí, mas isso tudo vai te mandar como é que as coisas se desenrolam

daqui para a frente.

Bianca, qual é a chave para o fim desta guerra?

Lá está, não sei se tenho muito a acrescentar, acho que a chave realmente é tentar parar

de simplesmente alimentar este conflito cada vez com mais armas, que está a destruir as

vidas de ambos os povos, não é?

E realmente tentar ao máximo colocar...

A Rússia não tem sido apoiada por nenhum outro país, ou seja, a Rússia utiliza as

armas que têm à disposição desde quase sempre, ou seja, caso não existisse esse apoio

à Ucrânia, voltando à pergunta de há pouco, provavelmente a guerra já tinha terminado,

ou não?

Mas tinha terminado com a vitória da Rússia, lá está.

Não sei, também não vou estar aqui a repetir o que já foi respondido, mas acho que agora

para alcançar paz é realmente, acho que o primeiro ponto é querer alcançá-la da melhor

maneira possível para todas as pessoas envolvidas, porque mesmo na questão a Rússia, pronto,

não está a receber apoio internacional, mas acho que também há que pensar que as pessoas

que não têm culpa nenhuma e o povo da Rússia, com todas estas sanções, já não conseguem

viver, não é?

E acho que é realmente urgente tentar arranjar uma coisa que concilia, que encontre o melhor

acordo possível para pôr um fim a isto.

Paulo Santos, no final das jornadas parlamentares do partido, que ocorreram na semana passada

na Covelhain, acusou também que eve de assassinar a população, concordas com estas palavras

fortes do líder parlamentário do PCP?

Eu acho que, pegando um bocadinho ainda na questão do desafio que foi feito para ir

visitar o território querido, e eu acho que também é engraçado pensar que, se calhar

também não, eles não teriam interesse nenhum em ouvir este discurso lá, porque também

não poderiam, não é?

Porque o partido lá não seria possível existir, seria bonito, portanto também acho

muito engraçado ver isso, e que realmente a Ucrânia já há vários anos que era considerada

de cima e que um paraíso para a extrema-direita ir lá ser treinada, e portanto é um problema

real que lá existe, sem dúvida.

Paulo Santos falou até em nazis, Daniel.

Existem efetivamente nazis no exército ucraniano, isso é conhecido, tal como os campos de treino

da extrema-direita existiam lá, que era uma força até mais militar ou paramilitar do

que organizada no Parlamento onde nunca tiveram assim grande relevância, e isso é assim

elógico, como a coisa que normalmente se ignora, não é tanto, e obviamente tinha que deixar

aqui esta nota, porque senão estaria a ser um pouco hipócrita, e se também acontece

muito do lado do lado russo, sendo que, por exemplo, o Grupo Wagner, embora agora esteja

com alguns problemas com o presidente Putin, durante muito tempo, e até há muito pouco

tempo aliás, e não só na questão da Ucrânia, esteve perfeitamente integrado, e a fazer

ações conjuntas com o exército russo.

Portanto, se te sugerissem uma ida à Ucrânia, como Metzola sugeriu ao PCP, não o ias?

Sabe que eu sou uma pessoa que gosta muito de viajar, claro que prefiro sempre países

que estejam no momento pacífico, e neste caso, o nome está muito apto de ser tanto

ir à Rússia como ir à Ucrânia, acho.

Exatamente.

Há umas dezenas de países no mundo que eu gostava de visitar antes, mas se tivesse

a garantia de que podia dizer a minha militância política sem ser, no fundo, perseguido por

isso, acho que iria.

Bianca, o PCP ganha com esta posição desde o início da guerra?

Não sei se ganha, até porque acho que desde o início que é muito mal interpretado, e

é muito, faltas, falsas interpretações, e se calhar também alguma dificuldade em

comunicar bem a posição que estão a defender, portanto não diria que ganham, mas diria

que vão continuar fieis àquilo que estão a defender e que é o que se espera de um

partido.

O Daniel é, faz parte do PCP, e isso é assumido.

Dizem que sim, dizem que sim.

Dizem que sim.

De tua parte, que és uma jovem, ambientalista, como é que olhas para essa posição pelo

PCP, comparando também com os outros partidos?

Como é que eu vou responder a isto?

Não, olho como olho para as posições dos outros partidos também, é uma posição

sobre a qual concordo com alguns aspectos, escalhar não com tudo, mas acho que é realmente

uma posição que tem sido vinculada e defendida com unhas identes, e acho que é assim que

qualquer partido deve ser, porque não deixa margem de dúvida que realmente estão a dizer

e que realmente acreditam que tem de ser a solução para este problema.

Se tivermos eleições nos próximos tempos, agora já não se fala até em eleições

anticipadas, mas há umas semanas era o tema do momento, se tivermos eleições nos próximos

tempos, acreditas que o PCP vai conseguir um bom resultado eleitoral?

Eu penso que tudo depende do contexto, depende do tipo de eleições, porque é que chegamos

dessas eleições, por exemplo, se calhar numas europeias, numas legislativas, seria

diferente por causa da presença do voto útil, por causa de quem é que queremos que vá

para o governo, quem é que não queremos que vá, mas não acho que...

Pro bem e pro mal, mas especialmente pro mal, porque é isso que normalmente se diz, não

acho que a posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia seja decisiva para perder votos,

acho que as dinâmicas eleitorais são muito mais do que as poma dos dias poderão...

Mas a única questão é, o PCP consegue agarrar eleitorado jovem, ou seja, aquele eleitorado

que não está vinculado ao PCP com este tipo de posições?

Eu acho que sim.

E faça-te a pergunta, não como tu sendo comunista, mas como um jovem eleitorado de Portugal.

Sim.

Bem, eu acho que depende muito do tipo de jovem que se quer atrair, do tipo de interesses que

esse jovem tem, mas quando as pessoas se juntam ou apoiam a um partido de classe, um

programa eleitoral, acho que poderão e deverão ser atraídos por muito mais do que uma posição

sobre a guerra.

Aliás, malseríssimo, a posição de política estena de um partido, seja ela qual for, seja

ela, que é praticamente unânime entre os questantes, seja ela do PCP, fosse decisiva

para a militância de um jovem, portanto eu acho que sim, que é possível, e aliás

tem havido um reforço mesmo, que isso não se note eleitoralmente, especialmente na juventude

comunista portuguesa, ao longo dos últimos anos, e que tem continuado mais ou menos

ao mesmo ritmo, nem mais de pressa, nem mais do agar desde que começou a guerra, por isso

acho que não é um impeditivo, mas também obviamente não é um motivo que leva os jovens

a quererem juntar-se ao partido, às juventudes.

Bianca Castro, Paulo Raimundo surpreendeu-te pela negativa ou pela positiva, ao longo

destes 8 meses, quase 8 meses, desde a militância do PCP?

Sinceramente pela positiva, mas se calhar também por ignorância minha, porque eu não

acompanhava o trabalho dele, não sabia muito bem quem era, portanto não sabia muito bem

o que esperar, acho que até no último episódio que eu cá tive, falámos um bocadinho sobre

isso, que também foi assim, apanhada de surpresa, nem sequer estava cá e pronto, depois quis

acompanhar um bocadinho, mas sim, mas temos surpreendido pela positiva.

Daniel, Paulo Raimundo, é uma aposta ganha do PCP?

É sim, eu acho sempre alguma piada quando se comentam secretários gerais do PCP, como

se a sua personalidade moldasse o partido, que é um bocadinho o que acontece com cores

restantes, não todos, mas os partidos que disputam primeiro lugar nas eleições, o PSD

e alguns One Man Shows, que de vez em quando aparecem, mas sim acho que tem sido uma continuidade

da parte do PCP e mais uma vez veio-se a mostrar tal como se mostrou há uns anos com a renovação

da bancada parlamentar, que uma mudança de rostos e assim, um rejuvencimento por parte

do partido não tem que se refletir numa mudança, nem para um lado, nem para o outro, de políticas.

O PCP continua a estar do lado dos trabalhadores, a ter o seu projeto, o seu programa político

e não se tem desviado desse rumo e mais uma vez tendo saído o camarada jornalino de

Souza para vir o camarada Paulo Raimundo, não mudou a linha política, que é no fundo

mais importante que um partido tem.

No Bloco de Esquerda, a Mariana Mortágua já tem alguma visibilidade desde o início,

deixe-te com algum receio, tendo em conta que pode roubar algum eleitorado ao PCP.

Bom, o Bloco de Esquerda é o partido que está ideologicamente mais próximo do PCP,

ou seja, que está no fundo da esquerda do PS, tal como o PCP é o partido que está

provavelmente ideologicamente mais próximo do Bloco de Esquerda, embora já aqui um pequeno

conflito com o livro, em relação a proximidades, e por isso, obviamente, essa troca de eleitorado

é comum, acontece, apesar de muitas vezes as pessoas acharem que o eleitorado do Bloco

só troca com o do PS e do PS com o Bloco e o PCP e o Bloco não pertilham eleitorados,

obviamente que isso é uma fantasia e, quer dizer, não é por a Mariana Mortágua ser

uma figura conhecida e provavelmente vira a ter um bom desempenho, embora isso possa

acontecer, que poderá ter eleitorado vindo do PCP, tal como o PCP pode ter eleitorado

vindo do Bloco Esquerda, alguém que eventualmente não goste da Mariana Mortágua, por isso acho

não é uma questão para nos deborçarmos muito.

Vamos então passar para o segundo tema, deste minoria absoluta, isto com as buscas

pelo submarino Titã, que foram acompanhadas com pompa e circunstância nos meios de comunicação

social.

Por outro lado, um novo frágil de uma treineira junto à Grécia, vinda da Líbia, com cerca

de 700 pessoas a bordo, não teve a mesma atenção, não só da comunicação social,

mas diga-se também do interesse da população em geral.

Bianca Castro, é caso para dizer que a vida de um milionário vale mais do que a vida de

um imigrante?

Claramente é o que parece, não é?

E aliás, acho que até dá para fazer a ponto com o que acabamos de falar da Ucrânia

versus outros países, que parece que continuamos aqui em todas as circunstâncias a ter uma

solidariedade selectiva, não é?

E eu acho que eu tive a pensar bastante nisto e até porque conheço bastante bem pessoas

que, entretanto, também tiveram de se sair dos seus países, inclusive a Pakistão e

etc., em que há uma coisa muito poderosa que uma amiga minha dizia, que ela é originalmente

o Pakistão, que é, mas o meu sangue não é tão vermelho como os outros, porque realmente

parece que aqui faça esses 5 milionários, que, ok, claro que foi uma tragédia, não

é?

Qualquer vida perdida assim pode o ser, mas temos 5 milionários e vemos, não é?

O Canadá, os Estados Unidos, França, tantas buscas a investir dinheiro a procurar, e depois

temos 700 pessoas que estão a fugir pela sua sobrevivência e parece que não há,

aliás, não parece, é realmente não há esse esforço e acho que também é muito importante

frisar que estas pessoas realmente, se elas não tivessem de sair do seu país, provavelmente

elas não sairiam, portanto, perceber por que isto está a acontecer e por que nós

temos tanta dificuldade em ser solidários para com elas e por que há tanta dificuldade

em a União Europeia e a Grécia em específico, mas todos estes países, realmente tomarem

medidas de apoio e também queria só dizer que, por exemplo, há um poema sobre isto

que se chama Home e que tem uma estrofe que começa logo por.

Ninguém sai de casa a menos que casa seja a boca de um tubarão, só corre para a fronteira

quando vê a cidade inteira a correr também.

E neste poema fala-se, por exemplo, como ves o rapaz com quem estudaste que está a

segurar uma arma maior que o seu próprio corpo e depois, então, perceber que contexto

é isto, não é?

E depois, as poucas pessoas, se calhar, que neste contexto conseguem chegar ao seu destino

final, são presas, ficam em campos refugiados, são silenciadas e se conseguirem ter lá

uma vida, vão ser precárias, vão ser alvo de imenso preconceito e racismo e vão ser

mandadas voltar, lá está, para os países de onde vieram e quase que a pontada a culpa

é elas pelo que se passa lá, quando na verdade o que se passa lá muitas vezes é responsabilidade

dos governos que não as querem ajudar.

Ficamos colados à televisão e às rádios, por causa das buscas, por um submarino ou

submersível, mas não temos a mesma abertura para falar sobre estes temas, porque é que

isto acontece?

Que é algo mais recorrente?

Bom, eu quase que me dava vontade de dizer que havia encarado isto, mas vou tentar acrescentar

alguma coisa.

É muito mais a dizer.

Ah, muito mais a dizer, é verdade.

É assim, se nós começamos a pensar o no que é que estes acontecimentos têm como

é que ambos aconteceram no mar em ambos, nenhuma pessoa ficou viva e em ambos as pessoas deram

muito dinheiro para estar onde estavam.

Agora, quando pongamos em tudo o resto é que temos uma diferença clara, temos pessoas

que deram tudo aquilo que tinham por uma oportunidade que se haviam sido curta de conseguirem ultrapassar

uma fronteira mesmo que ficassem no campo de refugiados para poderem pisar terra num país

seguro e temos do outro lado pessoas que simplesmente se queriam divertir e aquilo é

capaz de ser interessante estar a ver o Titanic e tal, todas aquelas coisas, mas porém são

situações claramente diferentes, essas pessoas também deram muito dinheiro, obviamente

não era tudo o dinheiro que tinham para poderem estar ali, ambos foram tragédias, mas acho

que devíamos, sem dúvida, ser muito mais solidários com as mortes dos imigrantes,

talvez seja porque já se banalizou de certa forma o facto de um armadir terrâneo atualmente

ser um cemitério mesmo, porque é muito recorrente centenas de pessoas ou dezenas de pessoas morrerem,

muitas vezes perto da costa, que também é uma coisa que ultrapassa, que é as pessoas

que têm de uma forma ridícula perto da costa e não se conseguisse salvar ninguém, por

exemplo neste acontecimento é algo que choca, mas quer dizer, esta desumanidade até chamamos

de assim, não é só quando os imigrantes estão na costa, é algo que vem de dentro

da União Europeia e do sentimento dos países e do sentimento dos governantes, porque não

só e nem quer entrar por aí o facto da União Europeia e dos países que pretensam terem

culpas no cartório em relação à situação de instabilidade desses países e a Bianca

já tocou também nesse ponto há um bocadinho, mas também, e aqui vamos lá ver, por exemplo

nós temos tido um aclimento exemplar dos refugiados ucranianos e bem, e mais de qualquer

outra coisa isso prova que a União Europeia e as instituições europeias têm todas as

condições para conseguir acolher imigrantes e refugiados mesmo em grande número, que

conseguem que eles se integrem por mais diferente de seja a cultura e por mais desgraçadas que

estejam as vidas dessas pessoas e nós devíamos pegar nisso para outros povos, povos que

não vêm do leste que vêm do sul e aqui nem sequer vale a pena usar aquela coisa

das fronteiras que estão mais perto das nossas, porque nos impactam mais, porque foi aqui

ao pé, no mar Mediterrâneo, foi mais perto que o titã até, geograficamente nós e quer

dizer, isto tem outros reflexos que não são só nos refugiados que morrem nos barcos,

mesmo na própria política de imigração, mesmo depois dos imigrantes que a estarem,

são basicamente tratados como mão-de-obra barata e descartável, que serve para trabalhar

a um baixo custo para mantermos o nosso modo de vida e depois ou voltar para os seus países

ou morrer desgraçado sem qualquer dinheiro e sem quaisquer condições, aparentemente

claro isto só nos choca quando há um mundial de futebol num país de meio-orente e quando

é na União Europeia, se calhar não é assim tão grave, mas acho que isto foi um exemplo

mais gritante obviamente, mas daquilo que foi mais um dia na União Europeia, na política

imigratória.

A relação a Portugal, Bianca, a António Costa tem dito ao longo dos últimos anos

e voltou a dizê-lo na semana passada no Parlamento, que Portugal precisa de imigração e de

mais estrangeiros a trabalhar cá.

Portugal tem conseguido acolher bem estas pessoas.

Portugal tem conseguido acolher bem muitos estrangeiros, mas não são os refugiados.

Aqui podemos pegar em tantos outros assuntos que já foram pegados em outros episódios

na discrepância e no acolhimento, nesta hipócrisia, quando são pessoas estrangeiras que vêm

para cá porque querem, porque para eles, se calhar viver aqui até é bom, é barato,

é um país com sol, é muito afis, e depois realmente a discrepância entra isso e pessoas

que realmente querem vir para cá para sobreviver e para terem uma vida melhor do que aquela

que tinham no seu país.

E aí nós estamos de todo a fazer o suficiente e há exemplos bastante concretos e posso

por exemplo até pegar no caso de Odemira na costa Vicentina, que é de onde eu sou

também, em que há anos eu lembro-me de estar para ir no oitavo ano e ouvir falar sobre

isto e a partir daí só vêm aumentar, aumentar cada vez mais o problema e parece que só

na pandemia é que as pessoas começaram a abrir os olhos para isso e até houve uma

altura que havia mais notícias a nível europeu do que a nível nacional sobre este assunto,

que eu acho absolutamente inacreditável.

E assim foi um tema bastante discutido na altura.

Claro, claro, mas a escala que aquilo tem é que realmente temos milhares e milhares

e milhares imigrantes, que lá está muitos países do Sudeste asiático também, vêm

para cá para ter uma vida melhor, muitos deles também pagam para conseguirem vir para

cá e depois estão altamente explorados, mas a um nível inacreditável, como vemos também

em muitas outras situações, em termos de habitação, em termos de salários miseráveis

e ninguém faz nada em relação a isso.

E parece que há aqui...

Por quê?

Exato, por quê?

Porque é que temos solidariedade seletiva com isto, porque lá está, volta à primeira

questão daquela pessoa do Paquistão, mas o sangue não é vermelho para todos, não

somos todos iguais, o que que se passa aqui?

Que seleção é esta e por que que isto continua e de forma cada vez mais visível também.

É uma desumanidade, como dizia a Poco o Daniel.

Sim, e pegando também no que o Daniel disse sobre o Mediterrâneo, que eu nem diria

que é um cemitério, eu dizia que é uma sena de crime autêntica e desde 2014, já

cerca de quase 27 mil pessoas desapareceram...

Mais de 27 mil refugiados, para perceber.

Mais, pronto, desapareceram ou morreram lá e não sei o que está a ser feito em relação

a isto, mas não ser continuar a alimentar limitações a pessoas que estão nesta situação.

Voltando ao Tita, o próprio Barack Obama já falou do assunto, a entrevista à CNN,

diz que as democracias não podem prosperar enquanto existirem estas desigualdades.

Confesso que estou só agora a saber da fala do Sr. Obama, mas quer dizer democracia

basta olharmos para o significado da palavra, é uma coisa que não pode existir quando

existe este tipo de tratamento, mas no fundo tudo o que envolve o mar e tudo o que envolve

fronteiras mesmo que muitas vezes não sejam físicas, continua a mostrar que o mundo globalizado

tem muitos desafios pela frente e porque a globalização financeira deu-se, mas obviamente

ainda não somos um só mundo a arrumar por mesmo lado e pelos que se têm visto nos

acontecimentos recentes, também não estamos próximos disso.

E aliás, sempre permite mesmo, em Portugal, embora Portugal seja um país obviamente multicultural

e com pessoas de várias origens, com pessoas com antepassados muito diferentes e mesmo

diferentes umas das outras, eu acho que nós ainda continuamos a ter um grande problema

em acolher culturas diferentes, porque normalmente e quanto normalmente, obviamente, a partir

da década de 80, da década de 90, quando Portugal começa a receber imigrantes, eles

efetivamente têm uma boa integração na sociedade, que acontece porque havia sempre

algum traço cultural alegado a Portugal, quanto mais não fosse a língua e cada vez

nós olhamos para algum imigrante que não tem qualquer contato com o português ou uma

cultura mínimamente semelhante, vemos que este é claramente por esta parte e que a

integração falha muito e isso é um desafio recente da parte de Portugal, mas que as

pessoas, se calhar, ainda não se aperceberam bem porque não é um fenómeno muito recente,

mas mesmo a própria forma como Portugal e aqui digo Portugal, como poderia dizer qualquer

outro país, porque honestamente não é um fenómeno nacional, não é uma exclusividade,

esta visão também, mesmo utilitária quase dos imigrantes, é algo que a mim me faz

muita confusão e é algo que não existe, por exemplo, obviamente que quando uma grande

empresa de turismo diz que Portugal devia acolher mais imigrantes, está à procura

de mão-de-obra, de pagar salários mais baixos e tudo mais, dá a aumentar a competitividade

entre os trabalhadores, não é? Essa coisa é tão saudável e por isso obviamente há

uma visão utilitária, mas mesmo muitas vezes, digamos, no espétero democrático, ou seja,

no centrão e mesmo à esquerda, há uma visão muito economicista que me faz alguma confusão

e que poderá fazer sentido para alguém que é direita e que quer convencer uma pessoa

direita a ser a favor da imigração, que é muitas vezes aquela coisa do, porque os

imigrantes permitem-nos aumentar o nosso produto, porque a economia cresce mais com

eles e porque eles são, têm um salto positivo para a segurança social, já ouvi isto, vindo

de pessoas insuspeitas, porque estão bastante à esquerda do PS. É uma coisa que me faz

sinceramente confusão, porque nós não podemos nunca usar como argumento de base os imigrantes

dão-nos um salto positivo economicamente, porque imaginamos, por exemplo, que daqui a

alguns anos esta vaga de imigração acaba, que Portugal deixa de acelerar imigrantes

e que, por acaso, a maioria dos imigrantes que há trabalharam durante estes anos, se

decidem reformar em Portugal. E depois, quando nós sustentamos toda a nossa base de defesa

dos imigrantes, eles aumentam o nosso produto, o nosso produto, o nosso per capita e dão

um salto positivo à segurança social, nesse momento o argumento cai por terra e vamos

ter um grande problema pela frente, por isso eu acho que pegarmos no humanismo e dizermos

que nós temos que acolhê-los, porque eles procuram uma vida melhor, no caso dos refugiados

têm a própria vida em risco, mas mesmo no caso dos imigrantes vivem mais condições

e procuram melhores, acho que nós, se sustentarmos o nosso argumentário nisto, é algo muito

mais eficiente e, a não ser que as pessoas sejam umas bestas, vão tendencialmente concordar

com este argumento.

Bianca, precisamos de rever, como diz o Daniel, a nossa política de imigração.

Sem dúvida, é uma vergonha, não é? Não só a nossa, mas a política da Europa como

um todo e até tinha aqui, por exemplo, que realmente, voltando à questão da Grécia,

que a União Europeia está a tomar isto como a maior tragédia que aconteceu no Mediterrâneo,

não é? Mas o que está a fazer para isto não se repetir cada vez mais? Porque não

há vontade política para resolver isto no fundo e continuar a não haver e a União

Europeia continua a manter pessoas migrantes durante anos em situações ilegais e a fazer

acordos para bloqueir flucos migratórios e continuar a vender armas, lá está, outra

vez a ponto para o primeiro assunto, mas continuar a vender armas a países que só

alimentam cada vez mais os conflitos, que depois não vamos aceitar os refugiados que

vêm daí, portanto é aqui um bocadinho uma bola de neve, não é? Alimentamos o conflito

lá e depois recusamos as pessoas que precisam de ir lá para um sítio seguro. E portanto

não só em Portugal, mas em toda a Europa e em muitos países, de facto é preciso

uma revisão enorme e porque isto, neste momento, acho que é um pouco o que o Daniel

estava a dizer, basta apelarmos um bocadinho a humanidade de cada um, acho que neste momento

fica um bocadinho esquecida.

E é com este apelo que terminamos o episódio de hoje do Minúrio Absoluta com a Bianca Castro

e o Daniel Ferreira. Hoje, com o apoio técnico do João Félix Pereira, o Minúrio Absoluta

está disponível nas plataformas habituais de podcast e a NTSF.pt.

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Edição de 24 de junho 2023