TSF - Minoria Absoluta - Podcast: A despedida do Minoria Absoluta
TSF Radio Notícias 10/21/23 - Episode Page - 38m - PDF Transcript
Abrimos os microfones para o último minúrio absoluta, foram sete meses, pelos estúdios
da TSF passaram novos jovens com muito para contar, debater e refletir, deram voz aos
anseios de uma geração, uma geração que muitas vezes não tem palco para expor suas
ideias.
Ora, para terminar, é com chave de ouro, com o médico socialista Israel Parodia e também
com a bloquista festivaleira Maria Escaja e para o último episódio vamos olhar para
o presente, mas também para o futuro e ainda para o conflito no Médio Oriente, mas começando
pelo que se passa por cá e começando pelo Israel Parodia, o risco de pobreza tem subido,
os jovens são até dos mais vulneráveis, têm salários bastante baixos, saem da casa
dos pais aos 35 anos, para onde é que caminhamos.
Bem, antes de mais, olá Francisco, olá Maria, mais uma vez é um ouro estar aqui
debater e tenho pena que seja a última vez, mas de certeza que será o final de uma etapa
e o início da próxima, que será muito mais animadora com certeza para todos.
Portanto, relativamente ao risco de pobreza e para contextualizar um pouco os nossos
ouvintes, foi lançada esta semana a estratégia nacional de combate à pobreza até 2025,
quando pós próximos dois anos, e saíram também alguns dados, os quais tu já referiste
a alguns sobre a pobreza que existe no nosso país, de facto 1,7 milhões de pessoas no
nosso país estão no limiar de pobreza e se não existissem apoios sociais, seria quase
o dobro dessa população.
Portanto, é importante nós refletirmos um pouco sobre a pobreza que existe no nosso
país, mas também a diferença que estes apoios sociais fazem nas pessoas e na vida
das pessoas e na economia no geral.
E a pobreza é um assunto que deve ser debatido não apenas como nós estamos a tentar melhorar
as condições de um grupo pequeno, que não é assim tão pequeno como nós já vimos
de pessoas, mas que tentamos melhorar as condições de todos nós, porque se existir
menos pobreza no nosso país, a economia também vai desenvolver mais e todos nós saímos a
ganhar.
Portanto, é importante nós deixarmos de pensar na pobreza como proteger os coitadinhos que
não querem trabalhar, que isso não é verdade, porque aliás 10% dos trabalhadores, alas,
12% ainda mais do que um décimo dos trabalhadores estão a eliminar de pobreza, o que significa
que neste país...
E o limiar de pobreza, ou seja, as pessoas a eliminar de pobreza até têm subido ao longo
do tempo...
Exatamente, exatamente.
Atualmente encontra-se nos 551 euros por mês, o que significa que uma pessoa a trabalhar
não é sinónimo de sair da pobreza no nosso país, e isso é grave, e é necessário
nós continuarmos a refletir sobre isso.
Mas para nós eliminarmos esta pobreza, é necessário nós colocámos aqui dois conceitos,
que é o conceito da igualdade e o conceito da meritocracia, porque muitas vezes as
pessoas falam que, ah, eles são pobres porque não querem trabalhar ou não se esforçam,
e não têm mérito, e como não tiveram mérito, não estenderem-nos socialmente, há muitas
vezes esse discurso.
Mas a meritocracia, na verdade, é muito ilusória, e para ilustrar, dou-vos um exemplo de uma
história que aconteceu na Colômbia, em que dois gêmeos iguais, dois gêmeos monosingóticos
com a mesma genética, foram separados à nascença na Colômbia, e ao ser não separados à nascença,
o que é que nós vimos?
Vimos que um par de gêmeos foi criado uma família nos centros urbanos, na classe média,
enquanto que o outro par de gêmeos foi criado numa imagem mais rural, periférico, classe
baixa, numa habitação, com pouco acesso a eletricidade e sem condições de saneamento.
O que é que verificamos?
Que dois pares de pessoas com as mesmas condições genéticas, enquanto numa rural, os gêmeos
só acabaram por fazer só cinco anos de escola, porque tinham que andar um quilômetro
até ir à escola, e depois ficaram-se ao trabalho agrícola, sem informação, sem qualificação.
No outro lado, no centro da cidade, gêmeos com as mesmas características genéticas,
foram criados numa classe média, tiveram o acesso à minha educação, foram para a
universidade, não formou-se na área da gestão, ou na área da engenharia, e acabaram por
entrar num bom emprego, com um bom salário, e perpetuou-se a classe média, enquanto o
outro lado perpetuou-se a ciclo da pobreza.
Isto é prova, que muitas vezes não depende um pouco da nossa genética e da nossa capacidade
intrínseca de atravessar os problemas, depende-se de um meio que nos envolve, e por isso é
que é importante haver condições, e custar dessas condições para que estas pessoas saiem
de pobreza, e da importância do estado social.
E o estado social, nós podemos ir um pouco à história e ver o impacto que o estado
social teve no nosso país.
Se nós falarmos na educação, antes e pós 25 de abril, existe uma diferença brutal.
O nível de analfabetismo diminui imenso, antes do 25 de abril, um em cada cinco homens
da analfabeta, nas mulheres, uma em cada três da analfabeta, o nível de qualificação
aumentou brutalmente, e também os rendimentos e consequentemente as condições de vida das
pessoas.
A saúde é a mesma coisa.
O nosso CNS é a prova viva do estado social e interventivo na saúde, que encarar a saúde
não como um bem comercial, mas como um direito.
E se nós compararmos um país que não tem um acesso a um saúde público e tem uma
saúde privada, como o caso dos Estados Unidos, e que tem 25% do PIB mundial e investe o dobro
daquilo que Portugal investe na saúde, em termos acessamentais, ou seja, eles investem
20% de 25% do PIB mundial, enquanto nós só investimos 10% do nosso pequeno orçamento,
comparado com os Estados Unidos.
Se nós compararmos os indicadores de saúde como a esperança média de vida, Portugal
tem a mesma esperança média, aliás, a mortalidade infantil, Portugal tem mesmo a mortalidade
infantil do que os Estados Unidos, e se falamos de mortalidade materna, Portugal acaba por
ter uma melhor mortalidade materna do que os próprios Estados Unidos.
E isto é a diferença que faz um sistema público de um sistema privado, e é muito importante
as pessoas terem noção do que representa um estado social.
No entanto, este estado social acaba por não chegar a todos, abril, não chegou a todos,
e é desses grupos mais vulneráveis que nós aqui temos que falar e debater sobre isso.
Por falar em grupos vulneráveis, desde logo, os mais jovens, que são a geração mais
qualificada de sempre, como diz muitas vezes o governo socialista de António Costa, mas
não é a geração mais realizada, o que te pergunto, Maria Escaja, é se há espaço
para que esses jovens, nossa geração, no caso, consiga realizar-se em Portugal?
No primeiro lugar, vou-te perguntar se este governo socialista, porque o partido que está
no governo tem socialista no nome, unica e apenas, unicamente e apenas, porque este
governo socialista tem muito pouco, este governo está a governar num centro que muitas vezes
pende para a direita.
Sobre o futuro dos jovens em Portugal, acho que há algumas coisas que estão neste momento
de impedir essa realização e essa possibilidade de sermos, efetivamente, não só a geração
mais qualificada de sempre, mas como podemos viver uma vida boa partindo dessa premissa.
Os jovens qualificados, como tal como os mais qualificados de sempre, como o Primeiro Ministro
gosta de dizer, merecem que a economia seja também uma economia qualificada e não baseada
em mão da obra barata e em muitos trabalhos sazonais no turismo.
Além disso, além da falta de perspetivas de trabalho, além das regras do trabalho
serem cada vez piores, as perspetivas de carreira cada vez menores e o salário mínimo, a ideia
de que se vai ganhar o salário mínimo durante muitos anos e eu agora fazendo aqui personalizando
um bocadinho, eu fiz 30 anos agora e tenho vários amigos que trabalham há 8, 9, 10 anos
e que ganham muito pouco e que não têm quaisquer progressões nas suas carreiras e isso são
tudo coisas que impedem que a perspetiva de futuro seja risonha, além disto, junta-se
o problema da habitação em que muitos jovens não conseguem ser de casa ou saindo de casa
têm que dividir durante muitos anos e eu acho que para uma pessoa iniciar a sua, ou
seja, obviamente não para iniciar a sua vida profissional, mas para iniciar a sua vida verdadeiramente
adulta um passo importante é conseguir sair de casa, é conseguir com o seu salário pagar
uma renda de uma casa e não de um quarto com 7 metros quadrados, numa casa com mais 7 pessoas.
Deberia haver um apoio à primeira habitação como defenda em alguns partidos.
Eu acho que a não temos numa altura de se fazer apoio à, eu acho que tem que haver
uma mudança estrutural ou então vamos sempre andar a fazer pequenos pensos rápidos e
nunca vamos sair daqui e vai sempre haver o impedimento, esta economia não está para
nós e acho muito engraçado e muito curioso que o governo nos atira as ideias do IRS jovem
quando a maior parte dos jovens não ganha mais de mil euros, ou seja, o que se poupa com
este projeto do IRS jovem, não resolve os problemas estruturais que põem em causa
a nossa qualidade de vida e nossa realização e eu pergunto-me, para quem é que são estas
medidas, se estas medidas estão, as tantas ideias que me dá, é que estas medidas estão
a ser pensadas a imagem dos filhos de quem está no governo e dos seus amigos que fazem
obviamente parte do milito privilegiada e que tem uma facilidade, que tem uma facilidade
muito maior de começar a sua vida e contra mim não, também sobre mim falo, eu venho
privilégio e tive muito mais facilidade em começar a minha vida adulta do que muitas
outras pessoas que eu conheço ou que eu me dou ou que não conheço, a realidade é que
é muito difícil iniciar-me a vida a semenhar-se do que fizeram os nossos pais ou os nossos
avós, numa altura em que a taxa de esforço para pagar uma casa não era metade de um
salário ou mais de metade e acho que não é com programas de apoio, isto é aquilo
que vamos conseguir resolver os problemas da nossa geração.
Israel, falaste a pouco da estratégia nacional de combate à pobreza, participaste também
nessa estratégia, fala-nos um pouco sobre essa tua participação.
Sim, te convidaram de ter essa honra para o evento de apresentação e tive a oportunidade
de dar algumas ideias também às ministras que, a amistade de trabalho, principalmente
que lá estava.
E é bom que o governo peça também esses contributos.
Sim, sem dúvida, eu acho que este governo, sendo o Partido Socialista, eu acho que tem
também feito muito trabalho que orgulha o socialismo no geral.
Socialismo, Maria Escada.
Eu ouvi, eu ouvi, eu estou ouvindo.
Uma dessas medidas foi precisamente para além do aumento da oferta, como a Maria Escada
estava a dizer, um dos grandes problemas, é essa falta de habitação acessível e uma
das grandes medidas para além do apoio à renda.
Nós sabemos que é uma boa medida, embora pegue por escassa.
Foi também a proposta de aumento de construções de residências universitárias, porque hoje
em dia o grande entravo dos estudantes universitários para além da propina é também o próprio
iologiamento estudantil, porque um aluno que seja deslocado e que vá, por exemplo, para
Lisboa nunca irá conseguir pagar um quarto a 500 a 170 euros, porque será impossível
para a grande parte da população e, portanto, é necessário nós intervirmos nesse aspecto
e o Estado Social não tem intervido na área da habitação e isso é um grave problema
que está a notar agora.
E, como eu estava a dizer anteriormente, existem alguns grupos que são mais vulneráveis.
Existe um dado que saiu no boletim económico de maio do Banco de Portugal em 2022, que
diz que apenas 10% dos filhos de famílias pobres e com a qualificação até o ano-no- ano
é que conseguem ingressar no ensino superior.
Nós somos o país em que a situação financeira da nossa família tem mais impacto depois
no percurso escolar dos jovens da OCD, apenas ultrapassados pela Itália.
E pais pôs terem uma ideia, comparando com, por exemplo, a Finlandia, um filho do finlandês
de uma família pobre até o ano-no- ano tem mais hipótese de chegar no ensino superior
do que um filho de uma família rica em Portugal.
Isto é a diferença que este Estado Social na área da habitação faz e só pais pôs
também perceber um pouco estes grupos mais vulneráveis, o que acontece é que estes 10%
quando nós começamos a falar de comunidades que são segregadas e que são marginalizadas
pela sociedade, como por exemplo a comunidade afrodescendente, de 10% passa para 4% os jovens
que conseguem ingressar no ensino superior.
E quando falamos, por exemplo, das comunidades higanas, de 4% passa para 2,5% os que não
conseguem entrar no ensino superior mas sim no ensino secundário, ou seja, apenas 2,5
que conseguem entrar no ensino secundário, no ensino superior será muito menos.
E é importante nós analisarmos estes dados e refletimos que sim, de facto, existem grupos
que são mais vulneráveis e é importante estes terem medidas também personalizadas
estes grupos.
Já que falas nisso, este ano, curiosamente, pela primeira vez, no acesso ao ensino superior
houve cotas para os mais carenciados, foi um projeto piloto do governo, não é certo,
mas teve a adesão de praticamente todas as universidades do país.
E faço a primeira pergunta à Maria Escaja, pergunte-se, é uma boa solução este regime
de cotas, como falava há pouco o Israel.
É, e o bloco defende este regime, mas com a salvaguarda deste regime de cotas não
demitir a Escola Pública de ultrapassar as diferenças, de permitir que os alunos ultrapassem
as diferenças com que começam a partida.
Não vou repetir o que o Israel disse, mas é sabido que alunos que vêm de famílias
com menos recursos têm a mais dificuldades em entrar no ensino superior.
Por várias razões, nomeadamente, o facto dos exames nacionais premiarem quem tem dinheiro
para pagar explicações.
E isso logo aí gera um fosso muito grande entre quem pode e quem não pode, para não
falar de todas as outras componentes sociais que têm influência como o ambiente familiar,
as condições em que vivem, o número de pessoas em casa, o número de refeições que podem
fazer, todas essas, tudo isso e bastantes mais coisas influenciam o desempenho escolar
de um aluno e os exames nacionais são uma forma de avaliação que não é justa para
toda a gente.
Por outro lado, acho, volto a dizer que acho importante que estas cotas existam, mas
que não substituam um investimento sério e corajoso na Escola Pública e uma bolsa
de propinas não será suficiente para que todos os alunos mais desfavorecidos possam
aceder à universidade.
Há questões de alimentação, alimentação está cada vez mais cara, os transportes
públicos.
Lisboa tem, por exemplo, Lisboa tem transportes públicos para jovens até aos 23, gratuitos
para jovens até aos 23 anos, mas para alunos deslocados não, tem que ter a morada fiscal
em Lisboa.
E isso logo aí corta uma data...
Mas vai mudar com novo orçamento do Estado, tendo que os alunos, os estudantes com 23
anos ou com menos de 23 anos vão ter passos gratuitos.
E bem, e bem, essa é uma medida bastante necessária.
A outra questão, e a última que eu vou referir, é a falta de residencias estudantistas
e o flagelo que a crise da habitação faz ao impedir que pessoas que entraram em universidades
em localidades que não a sua, como Lisboa ou Porto ou até Braga, que não possam frequentar
a universidade porque não têm dinheiro para viver perto dela e porque a deslocação
diária é insuportável.
Israel, este regime de cotas faz sentido desde logo no ensino superior, se foram 2% penso
ele de todos.
Sim, sim, foram 2% e eu creio que cerca de 1.200 vagas, como disseeste, foram aceitos
prontamente por todas as universidades e politécnicos.
Eu acho que o caminho passa também por aqui, sim.
Eu dou exemplo de Singapura, o líder de Singapura desde a década de 100 até 90, ali
quando eu era um líder político assim um pouco fora da caixa.
Uma das medidas que ele fez foi, por exemplo, aumentar o salário dos políticos porque
ele acreditava que aumentando o salário dos políticos iria diminuir a corrupção.
E no ano passado, há algumas décadas, Singapura é o país menos corrupto de Ásia.
E outra das medidas que ele fez, um pouco também devido ao contexto histórico do país,
porque teve a sua independência da Malásia, portanto é um país muito multicultural com
pessoas da Malásia, chineses e indianos, e ele tentava encarar essa multiculturalidade
como uma riqueza e uma razão de progresso para o próprio país.
E então, uma das medidas que ele fez foi as cotas parlamentares, para o Parlamento ser
representado proporcionalmente e reflectindo também a sociedade do país.
E outra das grandes medidas que ele fez foi cotas habitacionais, ou seja, em cada
quarteirão ele se estabelecia cotas para que existisse uma proporcionalidade desse
quarteirão e que esse quarteirão fosse no fundo um micro reflexo da sociedade no
geral, que é para não existir problemas como existe, por exemplo, em Londres em que
nós falamos de sociedades e de cidades multiculturales e são, são multiculturales, mas não são
interculturais porque, porque em Londres nós temos o espaço dos chineses, pois temos
o espaço dos indianos e um pouco aquilo que já está a acontecer também aqui em Lisboa.
E, portanto, quando nós analisamos um indicador que reflete também as igualdades que existem,
que é a esperança média de vida, em Londres, por exemplo, a diferença de esperança média
de vida é superior a 20 anos dependendo da região que nós estamos a estudar.
E isso, estamos, estou a falar da agitização, não é?
E acho que esse tipo de medidas também seriam importantes para acabar com esta segregação
espacial que afeta estes grupos.
E portanto, sim, acho que as quotas são importantes e as próprias bolsas de estudo.
E o bolsas de estudo, não apenas no ensino superior, primeiro, aumentar o limiar, porque
como a Maria disse e muito bem, muitos alunos ficam de fora e que não têm capacidade para
pensar no ensino superior, tenho muitos amigos que acabaram por ir trabalhar durante um ano
para juntar a nepa, depois ir na universidade, mas também essas bolsas muitas vezes começarem
até a um pouco mais cheia, na vez do ensino superior para grupos mais vulneráveis, poderem
começar a mais cheia.
E, portanto, nós falamos de importância dos apoios sociais, porque, por exemplo, falam
sobre muitas comunidades gigantes e aqueles chavões que são subsidios dependentes.
Nós fomos analisar o caso, primeiro, o rendimento social de inserção foi uma das principais
políticas públicas que Portugal desenvolveu nas últimas décadas, porque desenvolveu
bastante toda a população, nomeadamente, os grupos mais vulneráveis e permitiu que
a economia do país também se desenvolvesse.
E, se nós virmos apenas 1% do orçamento da Segurança Social é que vai para o rendimento
social de inserção, que são cerca de 300 milhões, tendo em conta que apenas 4% das
pessoas que recebem o RSI é da comunidade cigana, nós chegamos a um valor que ronda
os 12 milhões.
E, às vezes, fica um pouco estupo facto como é que certas pessoas de certas alas, nomeadamente
mais à direita, começam a dizer que o problema do país é por causa das comunidades ciganas
que contamos a falar de 12 milhões, onde investimos 3 mil milhões na TAP, 5 mil milhões
no novo banco, e depois são estes 12 milhões que são o caso do país estar na miséria.
E, às vezes, é importante nós analisarmos estes 6 exemplos.
E só para dar mais um exemplo, se nós analisarmos as pessoas que recebem o RSI, são cerca
de 200 mil em Portugal, um terço destas são jovens.
Se este apoio contribuir para estes jovens, entrar para a faculdade e tirar uma licenciatura,
eu fiz um análise simples.
O rendimento médio de um licenciado em Portugal anda por volta dos 2.400 euros brutos, que
anda por volta dos 1.500 euros líquidos, mas destes 1.500 líquidos que ele recebe, ele
vai dar 1.500 euros ao Estado.
Numa carreira de 40 anos, que é o que a maioria das pessoas acaba por fazer até se reformarem,
este jovem vai acabar por contrabio para o Estado só em salário, fora as despesas
que vai gastar, cerca de 1 milhão de euros na sua vida.
Portanto, destes 70 mil jovens, se o governo colocar apenas 300 jovens por ano no ensino
superior, é o suficiente para cometer estes 300 milhão que gastam anualmente no rendimento
social de inserção.
E nós, se nós comparamos estes 300 com os 70 mil, são apenas 0,4%.
E, portanto, existe muito mais margem.
E a mensagem que eu queria deixar aqui é que estes apoios sociais não são uma despesa
do Estado, mas sim um investimento, um investimento a longo prazo, não para uns, mas para todos
nós, porque todos nós temos a ganhar.
Passando de investimento, falamos de mensagens também, isto porque os jovens nos últimos
tempos têm ido para as ruas cada vez mais, desde logo por causa da habitação, como
já falámos aqui.
Há protestos também pelos ativistas pelo clima quase todos os dias, ainda na sexta-feira
atingiram com tinta verde o Ministro das Finanças, Fernanda Nundina, o que te pergunto
Maria Escaja, é se o Governo está a olhar de outra forma para aquilo que dizem os jovens?
Eu diria que não, se me perguntas assim de repente, não me parece.
Nada está a mudar.
Eu acho que não, daí continuarem a ser necessários os protestos e a ver cada vez mais jovens
amobilizarem-se e aliarem-se, tanto à luta do clima como à luta da habitação.
E eu já aqui disse que atirar tinta a Ministros não me parece uma forma eficaz de reivindicar
a mudança estrutural em relação à emergência climática, mas quando vemos estas manifestações,
tantas do clima como as da habitação e outras como as da vida justa que irá acontecer
este sábado, vemos muitos e muitos jovens que precisam e que querem que o Governo oiça
e que tomem medidas que realmente melhorem as suas perspectivas de futuro e não apenas
pequenos pensos rápidos, como o que falávamos ali em cima, porque estruturalmente não há
alterações e é isso que é necessário, é necessário haver um Governo corajoso,
que não me parece que seja o de António Costa, mas que haja um Governo corajoso capaz
de tomar medidas sérias e de ouvir as reivindicações do jovem e de não ser paternalista com eles
ou conosco.
Eu cada vez mais me sinto envergonhada de me incluírem jovens com 30 anos, mas acho
que ainda com a crise da habitação ainda são.
Portanto, eu acho que é preciso, é mesmo preciso acabar também com essa condescendência
com que se ouvo os jovens, coitadinhos ainda não sabem nada, são jovens, são maturos,
não tem nada na cabeça.
Quando dizem os ativistas do clima, isto aqui e lhe dizem, ah, eles nunca leram um
livro, não é verdade, não é verdade, não é verdade que quem está nestes movimentos
não saiba nada e acho que é preciso ouvi-los.
Desde logo tu, Israel Paródia, faz parte do grupo de reflexão sobre o futuro, o futuro
já começou, penso que é assim que se chama, que é da Presidência da República.
Pergunte-se, é importante, lá está que estes atores políticos, desde logo o Presidente
da República, se chama um grupo de jovens para os ouvir?
Sim, claro que sim.
Contextualizar um pouco a este grupo, portanto este é o segundo grupo do Sr. Presidente
da República, que ele reúne, o primeiro grupo rondava idades entre os 30 e 45 anos, mais
ou menos, e este segundo grupo que começou relativamente há pouco tempo, rondava idades
entre os 22 até aos 30 e poucos anos, portanto é um grupo relativamente jovem.
Em Deus Vos Jovem.
Exatamente, aqui a Maria ainda é sincero.
Mas você é o Sr. Marcelo, não é?
Não, Deus me liga, não tenho tempo.
Portanto, eu queria aqui deixar esta mensagem que é que a própria sociedade civil também
se inspire no exemplo que o nosso Presidente da República está a dar à sociedade, que
é ouvir os jovens, e de facto é uma pena que este seja o último episódio de um programa
tão bom e que reneu aqui vários jovens e que mostrou que de facto os jovens não são
só aquelas pessoas que passam a ver na Netflix e a jogar videogames e que de facto
leem, ou até lá nas redes sociais exatamente, e de facto dão opiniões, opiniões informadas
e que têm muito a contribuir para o futuro da sociedade.
Espero que a sociedade civil e a própria comunicação social também se inspire no
exemplo do nosso Presidente da República que houve os jovens e não é só ouvir, porque
ele também faz muita coisa e é importante que isso seja dito.
No fundo, o Sr. Marcelo está só a copiar ideias de Francisco Nascimento.
Exatamente, exatamente.
Era bom, mas não.
Vamos então falar sobre a guerra no Médio Oriente, isto porque as tropas israelitas
continuam a cercar a faixa de Gaza, no que algo que tudo indica será uma invasão terrestre
ao território, isto depois do ataque do Amash da semana passada.
Maria Escaja, o que Israel se prepara para fazer na faixa de Gaza são crimes de guerra?
O que Israel já está a fazer na faixa de Gaza?
É uma israel paródia.
Exato.
Exato.
Exato, de se lembrar.
Não é simpatico Israel que temos aqui, que é exatamente o oposto.
Este está de Israel que estamos a falar, neste caso está a matar as pessoas, o nosso
Israel paródia salva pessoas.
É o Israel bom.
Israel já está a cometer crimes de guerra na faixa de Gaza porque está a privar mais
dois milhões de pessoas, de água, de luz, de medicamentos e só isso já são crimes
de guerra juntando bombas de fósforo branco, de fósforo branco em zonas de muita densidade
populacional e o que acontece é que se prepara para aumentar a violência do que já está
a acontecer.
Nenhum bom exemplo disso é as imagens de hoje, sexta-feira, do António Coterres na fronteira
de Rafa às portas de Gaza com uma data de camiões que tinham ajudas de medicamentos,
mantimentos, etc. e as portas fechadas, mais de dois milhões de pessoas lá dentro, sem
excesso a uma data de cuidados básicos e camiões à porta sem poderem entrar para
distribuir esses bens de primeira necessidade e eu acho que isso é um bom retrato do que
se passa e não só o que se passa agora, do que se tem passado, que se passa há muito
tempo com o confinamento que Israel faz da faixa de Gaza há muitos anos, só deixar
aqui uma ressalva que não estou com isto a defender o ataque terrorista do Hamas, acho
que isso tem que ficar bem claro, mas também não posso, e apesar de ter perfeita consciência
que não é uma forma legítima de resistência, um ataque tão bárbaro, também não posso
deixar de condenar Israel por tudo o que tem feito e por todas as... o não cumprimento
de resoluções das Nações Unidas e de direitos humanos básicos que levaram a que
um povo se radicalizasse ao ponto de acontecer uma tragédia destas e só vai piorar.
Neste ponto tenho de fazer esta pergunta, falaste aí num ataque terrorista por parte
do Hamas, pergunte-se o Bloco de Esquerda, deveria ter condenado esse ataque de forma
mais aviamento desde a primeira hora? Houve uma grande polémica à volta desse assunto?
Vou-te dizer o que é que eu acho sobre a primeira hora, eu acho que ninguém deve
abrir a boca na primeira hora neste tópico, porque só esta semana já houve vários exemplos
de pessoas embandararem em Árcora, condenarem um lado ao outro sem verificarem sequer que
as fontes que estavam a ler eram fidedignas e que a informação que estava a ser transmitida
era verdadeira. Eu acho que é preciso muito cuidado neste caso específico com a resposta
rápida, é uma situação muito, muito, muito complexa. Exige compreender isto, existe compreender
um contexto histórico com muitos anos e portanto eu acho que o Bloco de Esquerda terá tida
a sensatez de perceber primeiro o que estava a acontecer, mas se quiserem, aqui referindo
outro órgão de comunicação social, mas se quiserem ter certeza que o Bloco condena
e que se refere ao ataque do Hamas como um ataque terrorista, basta verem que a Trinidad
Martins no linhas vermelhas na segunda-feira, que usou essa palavra mais do que uma vez.
Israel Paró de António Costa já acusou Israel de violar a lei na faixa de Gaza desde
logo com aquilo que falava há pouco a Maria Escaja, embora admita o primeiro ministro
que Israel tem, tem de se defender deste ataque do Hamas.
Sim, o direito inicial de Israel se defender acho que é extremamente legítimo e acho
que devemos todos condenar o ataque do Hamas, e como a Maria estava a dizer, isto é uma
guerra que é muito complexa e que já vendia há muitos anos atrás, e para o meu ponto
é necessário não começar logo a criticar e pego um pouco no exemplo do ataque que houve
do hospital em que Hamas condenou logo e disse que foi Israel que bombiou o hospital e depois
o Israel disse que foi o Hamas, e no fundo agora uma série de análises independentes
muito espelhistas.
Vocês dizem que foi o Hamas.
Ah, olha, os Estados Unidos agora iam não defender Israel também.
Estados Unidos acabou por dizer que sim, mas uma série de análises independentes que
estão a acontecer, as espelhistas não conseguem precisar, outros dizem que foram uns, outros
dizem que foram outros, e é extremamente importante nós termos essa cautela, mas no
fundo o que nós estamos aqui a assistir e que temos vindo a assistir é, como em todas
as guerras, é um conflito de interesses entre um meio e de pessoas, entre um pequeno
grupo de pessoas, onde quem paga por todas as consequências é a maioria da população,
e são civis que não têm nada a ver com essas guerras e com esse interesse e com esses
egos que estão à mistura.
E depois esta guerra ainda ganha outras proporções, porque estar numa religião que tem tido conflitos
há muito tempo, estar numa religião estratégica, e daí também a aliança dos Estados Unidos
com Israel, porque Israel é muito importante para os Estados Unidos em termos geopolíticos.
Isto recua tudo à Primeira Guerra Mundial, quando houve a derrota do Império Automânio
e houve a divisão daquele território por parte de França e do Império Britânico,
e depois foram fronteiras tal como a aconteceu em África, foram fronteiras que foram quase
feitas a régua e escuadro, e obviamente que tudo isso, pois este é um impacto que nós
ainda vemos atualmente nos dias dois com os conflitos que ainda continuam a existir.
E depois também toca na religião, nós temos o judaísmo versus o islamismo da maior parte
dos países do Médio Oriente, depois dentro dos próprios países da Árabe existem conflitos
e posições de poder, por exemplo, em todo o próprio Irão, que se diz que apoia o Amaz
e o próprio Esbolá, que é outro grupo terrorista libanês, existe esta oposição também com
a própria Árabe Saudita, porque são xíitas, outros são sonitas, isso é uma guerra muito
complexa e que envolve muitos agentes.
E há regiões que podem praticamente ser obrigadas a entrar na guerra, você pode destornar
uma guerra quase regional, há esse perigo, caso Israel entre pela fecha de gaja.
Não tu, tu não?
Sim, eu estava em Israel.
Sim, obviamente existe aqui muita coisa em jogo, e lá já tem uma das teorias, é que
por exemplo, este ataque foi agora, porque a Árabe Saudita estava, iria fazer um acordo
com Israel, e portanto, para o Irão até é bom que existe esta guerra agora e este
enfraquecimento de Israel, porque se a Árabe Saudita aceitasse esse acordo, seria como
se tivesse a legitimar na existência do Estado palestiniano.
E portanto, é aqui um jogo de xadrez, um jogo de xadrez internacional, que é muito interessante
em termos de análise política, mas que depois é chocante e é assustador, e é desumano,
é verdadeiramente desumano todas as imagens que nós estimos diariamente, e muito mais
que não nos é passado, e de facto é lamentável que utilizem a religião, a política ou qualquer
interesse para justificar a morte de sequer de uma pessoa, quanto mais de milhares e
milhares de pessoas.
Não entendo, faço-te a mesma pergunta que fiz há pouco com a Maria Escaja, cai em Portugal,
a esquerda exitou na condenação ao ataque do Amaz, isso na tua opinião.
Eu não posso falar nem na esquerda e na direita, eu acho que há pessoas sim que muitas vezes
colocam estas prioridades políticas à frente de vidas humanas e por isso é que hoje em
dia nós assistimos, não há uma mas há várias guerras no mundo todo, e acho que é importante
mudarmos um pouco este pensamento, e é frustrante para as vítimas mas também é frustrante
para nós, que assistimos a isto de fora e achamos que somos impotentes para fazer
alguma coisa.
Mas eu queria também deixar esta mensagem que é, nós todos somos a gente de mudança
porque, e pego um pouco no exemplo dos Estados Unidos, obviamente que existe uma ligação
e o porquê desta aliança também para além de interesse ou a política no território
de Israel, o próprio povo americano apoia Israel porque revê sem parte porque os judeus
na altura também acabaram por se reforjar no território que não era deles e acabaram
por fazer um território progressista, extremamente liberal, tal como os Estados Unidos, tal como
aconteceu nos Estados Unidos, mas um facto interessante é que as gerações mais jovens
dos Estados Unidos da América acabam por não apoiar tanto Israel, isso a curto prazo
não acaba por não fazer diferença mas é longo prazo daqui a uns anos e isso vai fazer
diferença na tomada da posição do governo dos Estados Unidos, e isto é importante que
é para as pessoas perceberem, nós não somos meros espectadores mas podemos fazer toda
a diferença porque os políticos são meros seguidores de todos nós e portanto o nosso
ativismo, a nossa opinião faz toda a diferença e a média e o longo prazo pode fazer a diferença
nas élites que nos governam no fundo e que têm um poder brutal para fazer a mudança.
Maria Escaja, só para fechar.
Para fechar e isto não tem nada a ver com o Médio Oriente, queria agradecer a oportunidade
de participar neste programa, quero agradecer a todas as pessoas com quem debatei e aos
dois com quem não tive a oportunidade de o fazer e um grupo que nunca mostrou menos
que respeite e solidariedade uns com os outros, queria também agradecer aos técnicos que
tornaram possível que estes nossos finais de tarde e sexta-feira fossem...
Gravação à sexta-feira mas depois...
Depois passa sim mas os nossos finais de tarde e sexta-feira fossem tão tranquilos e um
agradecimento especial ao Francisco por ter tido esta ideia, por me ter convidado e estou
a falar a ti como se não tivesse tido aqui já visto e por ter permitido um espaço onde
pudermos expressar livremente todas as nossas visões e opiniões sobre vários assuntos e
foi um grande privilégio fazer parte deste programa.
Obrigada, Fred.
Subscreve totalmente as palavras da Maria e acho que os dois falamos em nome de todo
o grupo...
Não confirmamos mas acho que as pessoas vão acordar com nós.
Falamos em nome de todo o grupo que infelizmente não poderão estar aqui presentes no último
episódio e deixar esta nota de agradecimento ao Francisco que ele é que idealizou mais
uma vez um jovem, um jovem, um jornalista brilhante, extremamente dicado e que tivesse
esta ideia brilhante de juntar as jovens para debater sobre os assuntos da atualidade e
que era desde já agradecer o convite e me obrigado por tudo aquilo que tens feito, Francisco.
Está assim concluído o 16º e último episódio do Menor e Aptoluta, resta-me também agradecer
aos novos jovens que fizeram esta viagem, ao André Abréu, a Bianca Castro, o Daniel
Ferreira, a Francesca Figueiredo, a Guadalupe Amaro, Israel Paródia, João Maria Jorné,
Maria Miguel Simões, Maria Escaja, todos com muita vontade de refletir sobre o país
e o mundo, uma vontade que continua intacta e eles vão andar por aí.
Este episódio e todos os outros estão disponíveis, em TSF.pt e nas plataformas habituais do podcast.
O trabalho técnico de hoje foi do João Félix Pereira.
Legendas pela comunidade de Amara.org
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Edição de 21 de outubro 2023